Touch, Feel, Use escrita por laah-way


Capítulo 9
Capítulo IX


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todo mundo s2



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Eu estava de pé, olhando pela brecha da cortina que tinha aberto, tentando impedir que o sol matinal entrasse pela janela e acordasse Richard. Não sei por quanto tempo fiquei ali, olhando pela janela, mas sem que eu pudesse perceber ao menos que ele tinha acordado, senti as mãos de Richard entrelaçarem minha cintura e seus lábios em meu pescoço.

- Bom dia, meu amor.

- Bom dia. – Respondi, sorrindo.

Richard beijou meu colo mais uma vez, e saiu em direção ao banheiro. Abri a cortina completamente, assim como a janela, coloquei minha cabeça para a fora e respirei fundo, inspirando o doce perfume das flores que ainda eram perceptíveis apesar da distância.

Acendi um cigarro e fiquei ali, apenas observando, quando, mais uma vez sem que eu percebesse, Richard se aproximou e retirou o cigarro de minha boca.

- Já disse várias vezes que você precisa parar de fumar.

Dei de ombros, virei-me de lado para ficar de frente para ele, peguei o cigarro de sua mão e o apaguei na janela.

- Parei.

Richard me olhou duramente, tentando mostrar a seriedade de suas palavras e que não estava com tempo para brincadeiras. Revirei os olhos.

- Tudo bem, vou tentar parar, prometo.

Richard sorriu, vitorioso.

- Mas sabe, eu estava notando... Desde que te conheci, tenho fumado menos.

Richard riu, e fui obrigada a rir junto.

- É sério! Não é uma coisa que eu controle ou algo assim, eu simplesmente acabei de perceber. – Levantei o maço de cigarros em minha mão e o balancei, fazendo-se ouvir o barulho dos poucos cigarros ali – Olha só, não faço idéia de quando comprei esse maço. Só sei que faz tempo.

- Bom... Nicotina dá prazer. Se desde que você me conhece, não precisa tanto assim da nicotina, eu te dou prazer?

- Acho que a pergunta seria... Você é minha nicotina ambulante?

Richard riu.

- Ou isso.

Passei meus braços em torno de seu pescoço e o beijei. Richard segurava minha cintura com força, depois separou nossos lábios e sorriu.

- Sabe, isso me lembra um livro que eu li.

- Qual?

- Um aí, que o cara compara a namorada com heroína.

Levantei as sobrancelhas.

- E isso devia ser um elogio?

- E é. Mas... Deixa pra lá, você não vai entender sem o contexto.

- Tudo bem, depois eu leio o livro então. – Richard olhou pela janela e estava com um olhar distante, até que suspirou. – O que há? – Inclinei a cabeça para o lado, olhando para ele.

- Não queria ir embora.

Suspirei também, e olhei pela janela. Conseguia ver o campo de flores.

- Nem eu. Mas temos que ir, não é?

- É. Iremos depois do almoço, sim?

- Tudo bem, então.

-x-

- Foi tão absurdamente, completamente, excepcionalmente, maravilhosamente bom!  - Meus olhos brilhavam e eu sabia disso, parecia uma criancinha que tinha acabado de ganhar uma bicicleta.

Leonard olhava para mim radiante também. Feliz por eu estar feliz. Num certo momento, eu gargalhava sem motivo aparente, apenas por estar absurdamente feliz e Leonard me abraçou forte e me beijou o rosto.

- Estou feliz por você, Carol.

Não respondi, apenas o abracei mais forte, e em seguida, desvencilhando-me de seus braços, larguei-me no sofá, olhando para o teto, repentinamente séria e pensativa. Leonard sentou perto de onde estava deitada e indagou:

- O que há, meu anjo?

Não respondi de imediato. Após alguns segundos de silêncio externo, mas milhões de pensamentos excessivamente barulhentos em minha mente, finalmente concluí:

- Eu o amo.

- Como? – Leonard perguntou, assustado.

Mas eu também estava surpresa com minha afirmação. Sentei-me num rompante e olhei para frente.

- É. Eu o amo.

- Carol, você sabe que o amor...

- Eu sei o que é o amor!  E tenho certeza disso, nunca senti por ninguém, e é tão forte, é tão... – Parei de súbito e fiquei ali, olhando para o nada, sentindo o peso de minhas palavras.

- Você pode estar entendo errado, Carol. Você nunca se apaixonou por ninguém, então, talvez esse sentimento forte que esteja sentindo seja só paixão, e você misturou as coisas. Amor é eterno, Carol. É muito forte.

- Por favor, Leonard. – Olhei para ele, séria. – Acredite em mim dessa vez.

- Eu acredito, querida. Não acho que esteja mentindo, só que esteja confusa, apenas. – Não mudei minha expressão, permaneci impassível encarando-o, esperando uma reação positiva. Leonard suspirou e desviou o olhar, dando-se por vencido. – Tudo bem, Carol. Tudo bem. Você o ama. Já disse isso a ele?

- Não! Acabei de descobrir. – Um leve sorriso estava se formando em meu rosto, quando de repente veio o medo.

- Então vai lá e conta pra ele. Sabe onde é a casa dele?

- Sei. Eu nunca fui lá, mas sei onde fica o prédio, eu só... E se ele não sentir o mesmo? E se for muito cedo?

- Bom, é um risco que você tem que correr. Acha que ele sente o mesmo?

Então flashes de lembranças surgiram em minha mente. De olhares ternos, de beijos apaixonados, de carícias, de declarações, de zelo... Sorri.

- Acho que sim.

- O que está esperando então, querida? – Leonard falou com um sorriso malicioso.

-x-

- Apartamento de Richard Clark, por favor.

Não sei se foi erro do homem da portaria, ou se ele realmente tinha ido com a minha cara. Ele simplesmente perguntou meu nome e me deixou entrar antes de avisar que eu estava subindo. Bom, eu não ia reclamar.

- Apartamento 302, senhorita Johnson.

- Obrigada.

No elevador, de braços cruzados e balançando meu corpo impacientemente, pensava como eu diria minha nova descoberta para ele, como prepararia o terreno, o que eu faria, como falaria. Cheguei ao terceiro andar e ainda não tinha pensado em nada. Hesitei por alguns segundos em frente à porta branca. Respirei fundo e toquei na campainha. Eu já estava sorrindo quando a porta abriu-se, mas minha surpresa foi maior quando uma mulher atendeu.

Sim, uma mulher. Ela era loira como eu, mas tinha cabelos muito ralos e um pouco mais claros. Ela era magra e mais alta que eu, aparentava ter algo em torno dos trinta e dois anos, mas talvez fosse bem mais nova, e o aspecto cansado a deixasse assim, mais velha. Admito que entrei em pânico e tenho certeza que a encarei por alguns segundos antes de finalmente perceber o mal entendido e sorrir, constrangida.

- Sinto muito, acho que bati na porta errada. – Certifiquei-me se era o apartamento 302. Era. Talvez o porteiro tivesse me dado o número errado.

- Desconfiei disso quando anunciaram uma Carolina Johnson. Mas, quem sabe não posso lhe ajudar? Quem está procurando? – Ela sorria, e falava docemente. Ela era... Amável.

- Hum... – Coloquei a mão na cabeça e olhei pra ela franzindo a testa. – Esse não é o apartamento de Richard, é?

- Richard Clark? Sim. Meu marido. Por quê? – Ela colocou uma mão na porta e pude ver a grossa aliança sobre seu dedo anelar. Ela não falou com um tom rude. Não, permanecia gentil e amável. E meu coração batia descompassado, uma dor e um vazio enorme atingindo meu peito, como se houvesse um abismo, e eu havia acabado de cair.

Só aí que percebi que tinha prendido a respiração, e lembrei que tinha que sair dessa, rápido. Inventar alguma desculpa, fugir dali. Mas quando eu menos espero, aparece uma criança. Sim, uma criança com, no máximo, quatro anos, de rosto angelical, escondendo-se atrás das pernas da mãe e colocando seu rostinho para satisfazer sua curiosidade de quem estava batendo à sua porta.

- Quem é essa, mamãe?

Ele era loiro como a mãe, mas aqueles olhos verdes, aqueles olhos eram de Richard. Eu não tinha dúvidas.

- Essa moça está procurando o papai, querido.

- Não! – O tom de urgência na minha voz a pegou de surpresa, e ela me encarou sem entender. Baixei o tom de voz e fiz o possível para manter a calma e o tom casual. – Eu realmente bati na porta errada. Procuro Richard Dalton. Não é aqui, é?

- Não, querida. Sinto muito. Também não o conheço, então não posso lhe ajudar.

- Tudo bem, não se preocupe. O erro foi meu. Acho que ao pedir o endereço de “Richard”, deram-me do Richard errado. Desculpe o incômodo, não quis tomar seu tempo, senhora...

- Diana. Diana Clark. – Ela voltou a sorrir amavelmente, e novamente senti aquele vazio no peito.

- Senhora Clark. Tchau. – Sorri, reprimindo as lágrimas que queriam aparecer, mas que entregariam toda a farsa se eu as permitisse.

Virei-me de costas e andei em direção ao elevador. Segurei minha bolsa com as duas mãos em frente ao corpo, esperando que ele chegasse até o andar. Olhei pela última vez para Diana, e ela fez um leve aceno com a cabeça e fechou a porta. Ali, sem ninguém me observando, senti a primeira lágrima rolar por meu rosto. Sem paciência para esperar o elevador, corri em direção às escadas e desci rápido, sem controlar mais as lágrimas e sem me importar se estava acabando com meus saltos altos. Eu só queria correr e chorar. E foi isso que fiz, tropeçando umas duas ou três vezes na escada, mas evitando alguma queda grave. Ao chegar à porta que dava para o andar térreo, sentei-me no último degrau e fiquei ali por algum tempo, tentando me recompor. Eu precisaria sair dali em bom estado. Quando finalmente enxuguei as lágrimas e recobrei a respiração, levantei-me e fui em direção à portaria. Queria que a dor parasse tão fácil como as lágrimas.  

Mas ao passar pelo porteiro, que acenou levemente com a cabeça assim que eu passei pela porta, lembrei-me de Diana. E as lágrimas voltaram. Eu teria acabado com seu casamento? Não queria causar nenhuma dor àquela mulher, não queria. Mas era inevitável. Será que ela chorava nas noites em que Richard passava comigo? Será que aquele mesmo homem nos fizera sofrer? Eu já não refreava as lágrimas novamente, e corri.

E eu não fazia idéia de como um amor poderia machucar. Até aquele dia.


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Notas finais do capítulo

Seus lindos, obrigada por terem lido.
E como sempre, reviews, né? ♥