Touch, Feel, Use escrita por laah-way


Capítulo 7
Capítulo VII




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- Você não vai parar, não é? – Disse, encarando aqueles olhos verdes que me fitavam preocupados, insistindo no mesmo assunto novamente.

- Não.

Eu estava com uma calça jeans preta, uma camiseta branca e um lenço de tecido fino e cores fortes no pescoço. A essa altura, já balançava as pernas de impaciência, batendo insistentemente o salto de minhas botas Jimmy Choo no pé da mesa. Olhei para o lado, onde, à minha direita, ficava a parede do restaurante que era composta apenas por uma janela de vidro que tomava quase toda a extensão da mesma. Olhei o vidro, olhei os carros, olhei o vendedor de flores do outro lado da rua. Suspirei, dando-me por vencida.

- Tudo bem, Richard. Mas não se assuste.

Por sua expressão, soube que ele ia sorrir mais uma vez vitorioso, mas talvez por meu aviso para que não se assustasse, comprimiu-o. Ele apenas acenou com a cabeça, para que eu continuasse.

- Há quatro dias que saímos e eu deveria me despedir de você nesse exato momento, é isso.

- Nossa. – Ele falou parecendo aliviado, como se esperasse algo pior.

- É mais complicado do que imagina...

- Olha, a culpa é minha.

- O quê?

- Eu... Tomei seu tempo, não sei explicar. Sempre soube de sua profissão e te atrapalhei dessa forma. Ok, sem mais rodeios: Eu gosto de você, Carolina. E não consigo sequer imaginar me despedir de você, não agora.  Mas desde que saí com você pela primeira vez, sabia que isso teria que acontecer e sempre fui ciente que você é uma prostituta. – Richard disse, decidido, tomando a precaução de abaixar o volume de sua voz na última palavra – Sem ofensas. Resumindo: Gosto de você, mas se você quer ir embora, eu aceito.

Não pude evitar o sorriso.

- Primeiro, não se preocupe, pois isso não é ofensa nenhuma. É a mesma coisa com os homossexuais, quando alguém os chama de “gays” se sentem discriminados. Mas afinal, não é isso que eles são? Então, não se preocupe em verbalizar que sou uma prostituta quantas vezes quiser. E em segundo lugar, você não me deixou terminar. Eu deveria me despedir de você hoje. Mas não vou.

E aquele sorriso lindo que me fazia pensar que estava no céu abriu-se.

- Por quê?

Senti meu rosto corar, mas continuei, ignorando, e disfarcei apoiando minha cabeça em uma das mãos, e com a outra colocando a mecha loira que caía sobre meus olhos atrás da orelha.

- Richard eu... Não preciso colocar em palavras que gosto de você. Gosto mais do que supus gostar. Mais do que deveria, na realidade. Resolvi me dar essa chance, até por que... Nunca senti isso por ninguém. Então seria muita loucura minha jogar isso fora. E já que isso é um desejo mútuo... – Sorri. – Resolvi dar essa chance. A nós.

O toque quente da mão de Richard segurando a minha me causou arrepios, e seu sorriso me fez delirar. Não foi preciso nenhuma palavra, apenas a troca de olhares sorridentes ali, foi necessária. Era incrível nossa sintonia, incrível como nossos olhares exprimiam a mesma coisa: satisfação.  Eu estava satisfeita por ter Richard ali, e ele poderia afirmar o mesmo sobre mim. Eu não queria mais nada nesse exato momento, só de saber que o motivo daquele sorriso era eu, bastava.

-x-

E semanas passaram assim, com corações batendo mais forte ao simples toque, com a troca de olhares e sorrisos apaixonados, com a troca de carícias e sussurros ao pé do ouvido. Saíamos, nos divertíamos, sorríamos sinceramente, nos beijávamos, dançávamos. Eu poderia colocar tudo isso com uma trilha sonora, passando todos os flashes de nossos momentos juntos, e definitivamente, ia ficar maravilhoso.

 - Topa uma aventura? – Richard falou com um sorriso malicioso no rosto, enquanto andávamos de bicicleta, um ao lado do outro, pelas ruas de Amsterdam.

- Sempre! Qual?

- Numa cidadezinha não muito longe daqui... Há um campo de flores. Por mais gay que isso possa parecer, eu simplesmente adoro aquele lugar e queria muito te levar lá. Vem comigo?

Fechei os olhos e sorri, apenas com a sensação maravilhosa que era imaginar o local, mas abri-os rapidamente, temendo um possível acidente se eu permanecesse de olhos fechados enquanto controlava uma bicicleta.

- Com certeza, Richard. Esse tipo de coisa, você nem precisaria pedir.

- Mas os planos vão além disso.

Levantei uma sobrancelha, instintivamente.

- E o que você planeja?

- Iríamos numa sexta-feira, dormiríamos lá em alguma pousada, e voltaríamos no sábado à tarde.

- Tudo bem, Richard. Tenho certeza que meu filho consegue ficar uma noite sem mim.

Richard me olhou, confuso.

- Foi uma alusão a Leonard.

- Ah. – Richard riu alto, mas continuou. – Certo, amanhã eu te busco às 4h00, tudo bem?

- Combinado.

-x-

Como eu imaginava, era esplendidamente maravilhoso. Eu olhava aquele tapete de flores coloridas se estendendo em minha frente e dava um sorriso bobo. Andando pelo meio daquele lindo quadro pintado pelo mais perfeccionista artista, sentindo aquele perfume maravilhoso que exalava daqueles lindos botões, eu me sentia leve, me sentia feliz. Olhava para Richard e me sentia duplamente feliz, por saber que alguém havia me aceitado do jeito que eu era, ignorando meu passado obscuro, aliás, que passado? Estar com Richard me fazia esquecer. Era como se aquilo fosse outra vida, outro mundo que não me pertencia mais. Eu me sentia... Pura. Insano e idiota, eu sei. Mas não conseguia evitar. Por alguma razão desconhecida a música Like a Virgin, da Madonna me veio à mente e eu ri sozinha. 

Eu parecia uma criança, rodando no meio das flores, sorrindo, até que ouvi Richard rir atrás de mim. Olhei para ele, ainda sorrindo e ele me olhava com ternura:

- Não sei dizer o que é mais belo aqui.

- Definitivamente, as flores.

- Você é uma mistura de todas elas, Carol. E ainda tem mais. Nenhuma dessas flores amarelas poderiam se aproximar do perfeito tom dourado de seus cabelos, e nenhuma dessas flores vermelhas poderiam se aproximar do rubor de seu rosto quando lhe digo essas coisas. Nenhum verde de todo esse campo se compara a seus olhos, e muito menos nenhuma flor branca se compara a sua pele, que apesar de toda alvura, há vida.

Andei em sua direção e toquei nossos lábios. Richard segurou minha cintura e me encarou. Ele me olhava de maneira tão... Terna, tão zelosa, com tanta paixão que me faltava o ar ficar encarando aqueles olhos verdes por muito tempo. Mordi o lábio.

- Sabe o que eu sempre tive vontade de fazer?

- O quê?

- Correr por um campo desses, como nos filmes, pelo meio das flores. Correr com você.

Richard olhou em volta.

- Ah querida, acho que você não pode... Correr pelo meio das flores, aqui.

Fiz um bico, como uma criança birrenta. Funcionou, ele sorriu e falou baixo:

- Mas deixa eu te contar uma coisa. – Ele se aproximou de meu ouvido e sussurrou. – Você pode fazer o que quiser. Porque você é especial, Carolina. Todos seus desejos serão concedidos.

Abri um sorriso largo, delicadamente tirei suas mãos que prendiam minha cintura e virei de costas, correndo como uma criança que o pai levava até o parquinho e dizia “Pode ir brincar com seus amiguinhos agora”, então parti para o meio das flores, rindo feito uma boba, até que ouvi passos atrás de mim, aproximando-se rapidamente. Olhei para trás e vi Richard, sorrindo também. Corri mais rápido ainda, aumentando a distância entre nós, mas em pouco tempo, senti sua mão tocando meu braço e puxando-me para trás. Voltei-me para ele, cedendo ao toque e nossos corpos se chocaram com impacto, graças a nossa velocidade. Sem dar importância, rapidamente passei meus braços em volta de seu pescoço e nos beijamos com paixão.

E eu não fazia idéia de que sentimento era aquele que estava experimentando.


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Notas finais do capítulo

O-B-R-I-G-A-D-A. por terem lido, pelas reviews e tudo o mais. ♥ Espero que gostem.