Entrei no apartamento com cara de poucos amigos, e como era de se esperar, Leonard estava acordado, sentado no sofá, assistindo televisão. -
- Oi amor. – Ele falou, desligando a TV.
- Oi, meu bem. Não precisa desligar.
Ele olhou no relógio: 3:00 AM.
- Chegou cedo.
- É, dispensei o cara cedo.
- Ih, ele te ofereceu um futuro brilhante? – Leonard falou brincando, enquanto passava a mão pelos longos fios dourados cuidadosamente tratados.
- Com essas mesmas palavras. – Deitei no sofá, colocando a bolsa no chão e as pernas no colo de meu melhor amigo, suspirando, exausta.
Leonard tirou meus sapatos e começou a fazer massagem nos meus pés.
- Ele era bom de cama, pelo menos?
Olhei para o teto, franzi as sobrancelhas e fiz cara de pensativa.
- Já tive melhores. – Eu falei, e Leonard riu. - Sério, ele ficava falando que me amava o tempo inteiro. Em francês.
- Que fofo.
- Fala sério. – Fiz cara de nojo.
Leonard riu novamente.
- Mas a noite acabou de começar, meu bem. Vai arranjar outro caso pro próximo fim de semana.
- Não estou tão desesperada, Leo. E estou exausta. Não estou com sono, estou cansada mesmo.
- Entendo. Mas e aí, cobrou quanto do francês? Aliás, como era o nome dele mesmo?
- Olivier. Mil e quinhentos.
- É, tá bom. Vai fazer o quê com esse dinheiro?
- Não sei. Amanhã quero sair, então provavelmente vou comprar uma roupa nova.
- Imaginei. Você tá tão cansada que dá até pena. Quer que eu arrume sua cama?
- Faria isso?
- O que eu não faria por você? – Ele falou, sorrindo.
Comecei a rir enquanto Leonard cuidadosamente tirou minhas pernas de seu colo, levantou-se e dirigiu-se ao quarto. Fiquei olhando para ele. Alto, magro, loiro, olhos cor de mel... A pele dele era tão linda que dava inveja a qualquer uma. E o cabelo, então? Era levemente ondulado, mas ele sempre estava os esticando com um secador ou uma chapinha. Leonard tinha mania de ficar passando a mão pelos cabelos, que ele sempre deixava grande e desarrumado. Quem via de fora, achava que ele era desleixado, que nem ao menos penteava. Mas só eu o via esticando aquela juba, penteando umas cem vezes e logo após bagunçando completamente com as mãos. Aquela juba sedosa, dourada...
- Pode vir, Carol. – Leonard tirou-me de meus devaneios e eu juntei toda a coragem do mundo para levantar-me do sofá e ir para o quarto. Já fui tirando a roupa enquanto estava no corredor, sem me importar se Leonard veria ou não. Ele era quase um irmão pra mim. E pra completar, ainda era gay. Cheguei ao quarto, coloquei uma camisola e deitei-me.
- Obrigada, Leo.
- Durma com os anjos. – Ele beijou minha testa, e saiu do quarto, apagando a luz.
-x-
Acordei e olhei em volta. As paredes tinham o tom areia, e eram completamente lisas, exceto a parede que ficava do lado oposto ao da porta, pois eu tinha comprado uns adesivos de estrelinhas e colado ali. Leonard odiou, mas era meu quarto e eu podia fazer o que quisesse nele. Como eu não tinha closet nesse apartamento, comprei dois guarda-roupas - que por sinal estavam lotados-, e eu ainda colocava coisas no guarda-roupa de Leo. Meu quarto só tinha isso: uma cama, uma mesa de cabeceira, e dois guarda-roupas gigantes tomando duas paredes do quarto. Na outra parede, os adesivos e a janela, com uma cortina de um tom um pouco mais escuro que a parede, e só. Eu poderia dormir em vários hotéis ou casas, mil vezes mais luxuosos do que isso, mas só aqui eu me sentia em casa.
Levantei-me e fui até o banheiro, tomei um longo banho quente, escovei os dentes e fui até a sala, e qual foi minha surpresa ao ver um incrível café da manhã me esperando.
- O que é isso?
- Café da manhã, conhece? As pessoas costumam comer isso quando acordam.
- Sério, Leonard.
- 14 de fevereiro, Carol. Dia dos namorados. – Ele disse, sorrindo.
- Ai meu Deus, eu esqueci! – Bati na testa e fiz cara de “droga!”
Era uma tradição minha e de Leonard trocar presentes de dia dos namorados. Fazíamos isso há cinco anos.
- Você é uma boa atriz. Eu sei que você comprou meu presente.
- Ah, seu chato. – Sorri e fui pegar o presente que eu tinha comprado há uma semana. Era o filme Marley & Eu em Blu-Ray. Eu sabia que era meio besta, mas Leonard era fissurado nesse filme, ele assista sempre que possível e chorava sempre que possível. Bom, ele surtou quando abriu o pacote, agarrou meu pescoço e começou a gritar, enquanto eu ria muito.
- Bom, e aqui está o seu. – Ele me entregou um presente envolto por um papel prata, cuidadosamente embalado, mas eu sabia que não tinha sido ele que havia feito o pacote. Abri sem me preocupar em rasgar o embrulho e lá estava um vestido estilo “tubinho”, preto, de alças.
- Ah, que lindo! – Leo sabia o quanto eu adorava ganhar e comprar roupas. Pulei no pescoço dele e dei um monte de beijos em seu rosto. – Obrigada, namorado.
- Por nada.
Fui até o quarto, fiquei de frente para um dos guarda-roupas que tinha duas portas com espelho e coloquei o vestido. Ficou perfeito em mim, delineava minhas curvas perfeitamente. Leonard entrou no quarto:
- Ficou bom?
- Ficou ótimo.
- É, ficou divino.
- Vou usá-lo hoje à noite.
- Arrase.
Ri alto.
- Com certeza.
-x-
Já passava das duas da manhã. Eu havia dançado bastante. Até tinha beijado um carinha ou outro, mas eu estava dispensando todos e qualquer um que chegasse perto de mim hoje. Eu realmente não estava a fim de companhia pra essa noite. Cansada, fui até o bar e me sentei. Pedi uma vodka com gelo ao barman enquanto olhava em volta. Adorava essas casas de festas da alta sociedade.
A vodka chegou, e quando eu comecei a beber, um cara sentou ao meu lado. Não me dei o trabalho de olhar, apenas tomava minha bebida calmamente. Mas, para minha surpresa, quem quer que tenha sentado ao meu lado, não tinha puxado assunto, apenas pediu uma bebida ao barman e ficou lá, calado.
Olhei para ele, e dois segundos depois, ele olhou pra mim. Ele era moreno, forte, bronzeado. Tinha olhos verdes, que contrastavam com a pele escura, e o cabelo liso, preto, na altura da boca. Então ele sorriu.
E eu não fazia idéia do quanto que aquele homem mudaria minha vida.