Touch, Feel, Use escrita por laah-way


Capítulo 17
Capítulo XVII


Notas iniciais do capítulo

último capítulo *------* espero que gostem, nos vemos nas notas finais.



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– Até quando você ia mentir pra mim, Jenny?

Olhei para ele assustada, sem saber exatamente sobre o que ele estava falando. Ou talvez eu soubesse.

– O que você...? Do que você está falando?

– Você realmente achou que ia sair impune disso tudo?

– Do que diabos você...

– MAS QUE MERDA, JENNIFER! – Richard explodiu, empurrando com toda a força o copo para longe da mesa, espatifando-o em mil pedacinhos. O silêncio reinou na sala e eu o encarei, com medo. Meus olhos continuavam arregalados e eu os senti marejarem de lágrimas.

– Richard, eu... Não entendo. Por favor, me fale o que está acontecendo aqui.

– Chega de mentiras, Jennifer. Chega. – Ele parecia ter se controlado, mas eu ainda podia sentir sua raiva em cada palavra.

– Apenas me fale. Quem esteve aqui?

– Leonard me contou tudo. – Não, não, por favor... Não ele, não isso. Dei uma risada forçada.

– Tudo o quê, Richard?

Richard estreitou os olhos e respirou fundo.

– Como você pode ser tão cínica?

– Richard. – Eu disse, em tom firme. – Eu não sei o que está acontecendo. Eu não sei o que Leonard te disse. Eu não sei do que você está me acusando. Sei que minha consciência está limpa e não vou ficar aqui recebendo elogios por algo que não fiz.

Levantei-me, dei as costas e me dirigia para a escada, tentando esconder minha tensão, tentando esconder minhas lágrimas e meus pensamentos, que só me falavam que tudo estava perdido. Leonard contara? Não, não era possível.

– Você matou minha família.

Parei no meio do caminho. Senti todos os meus membros congelarem, e sabia que eu tinha empalidecido.  Prendi a respiração e voltei-me para Richard, fingindo ultraje.

– Você tem noção do que está me acusando?

– Você matou minha família.

– Richard, o que diabos você está dizendo?!

– Você. Os. Matou.

– EU NÃO MATEI NINGUÉM, RICHARD! POR DEUS, ACREDITE EM MIM! EU NÃO PODERIA!

– Eu sei de tudo, Jennifer. – Ele disse, com uma calma surreal, enquanto uma lágrima escorria por seu rosto. – Como você pôde...?

– Richard, não importa o que Leonard te contou. Se Leonard realmente te contou alguma coisa. O que importa é... Não é verdade. E me ultraja saber que você acreditou nisso.

Dei as costas e subi as escadas correndo, sentindo as lágrimas molharem meu rosto. Leonard teria me traído? Por quê? Como ele pôde? Com que objetivo...?

Fui até o quarto e sentei na cama, afundando meu rosto em minhas mãos enquanto chorava desenfreadamente.  Como eu sairia dessa agora? Minha vida, minha felicidade, tudo o que eu penara tanto para construir teria se acabado? Ouvi os passos de Richard subindo as escadas e levantei-me, encostando minhas costas na parede, de frente para a porta, mas ficando o mais longe possível dela. Não me surpreenderia se Richard subisse com uma faca e tentasse me matar. Ele apareceu, então, na porta, mas sem faca.

– Vai se fazer de vítima agora, Jennifer? É essa a sua intenção?

Permaneci calada, não chorava mais e olhava pra ele com a respiração descompassada.

– A vítima nessa história toda sou eu. – Ele se aproximava, mas eu não tinha para onde recuar. – Ou melhor, a vítima nessa história toda foi a minha família! – Seus olhos encheram de lágrimas de novo. – Meu filho... – Então ele começou a chorar, e eu também. – Uma criança, Jennifer! UMA CRIANÇA. Não tinha nada a ver conosco... Como você pôde ser egoísta a esse ponto? Como?

Ele estava a três passos de mim e eu chorava descontroladamente, com cada parte de meu corpo tremendo de pavor.

– Eu não... Eu não fiz nada – Falei, entre soluços.

– CHEGA DE MENTIRAS, JENNIFER! BASTA! EU JÁ SEI DE TUDO, NÃO ADIANTA MAIS MENTIR!

– NÃO, RICHARD! Você não sabe! Então Leonard veio aqui, te contou uma história e isso é suficiente pra você acreditar? – Instintivamente, eu gritava também. – Você tem ao menos alguma prova pra me incriminar?

– Acontece, Jenny... Que a história se encaixa. Tudo o que ele me contou. Eu sei que quem arquitetou o plano foi ele, eu sei que você só concordou, sei que contrataram caras profissionais pra simular um acidente.  Sei também o quão aterrorizada você ficou quando eu te contei que a polícia considerou a possibilidade de um assassinato.

Meneei a cabeça negativamente, ainda chorando.

– Isso não basta, Richard. Ele está te manipulando. Jogando você contra mim. Foi um acidente, meu amor! Foi um maldito acidente! E você não tem nenhuma prova concreta. É a palavra dele contra a minha.

– Basta, Carolina! – Ele levantou a voz novamente, e não sei se foi proposital que me chamou assim. – Sei como você pode ser boa atriz, mas você não vai me enganar assim. Não de novo.  Você é uma assassina, e tirou todos aqueles que eu mais amava por puro egoísmo!

Richard gritava, e eu, por puro medo, fui escorregando na parede até sentar no chão, chorando, querendo sair dali e acima de tudo, temendo aquele homem, aquele ódio que emanava de seus poros.

– Eu só quero saber... – Ele chegou perto e eu afundei meu rosto em minhas mãos, incerta sobre o que aconteceria daqui pra frente. Eu o perderia? Ele me mataria? Richard curvou-se e segurou meus pulsos com força, fazendo-me encará-lo. – Por que? Só me responda isso, Carolina, por que fez isso?

– Eu não... – Supliquei, com a voz falhando.

Richard então apertou com mais força meus pulsos, ao ponto de machucar. Não reclamei. Era como se eu repetisse para mim mesma que eu merecia aquilo. Talvez até pior.

– Pela última vez, Carol... CHEGA. DE. MENTIRAS. Só me responda... – Seu rosto estava agora a centímetros do meu. – Por quê?

Olhei para ele intensamente por alguns segundos, bem no fundo de seus olhos e disse com firmeza.

– Porque eu te amo, Richard.

Ele então me soltou, decepcionado. Eu finalmente tinha admitido, e isso era tudo o que ele precisava.  Ele deu as costas e levou as duas mãos à cabeça, parando no meio do quarto. Ele então foi até a parede oposta a mim, encostou a cabeça lá, chorando, e começou a dar murros nela. Eu novamente comecei a soluçar e a tremer, apavorada. Temia que, mais cedo ou mais tarde, o alvo desses murros não fosse mais a parede.

Ele chegou perto de mim de novo, não chorava mais, mas a dor, a decepção e o ódio ainda eram perceptíveis em seu rosto.

– Não repita isso de novo.

– Mas eu te a... – Minha frase foi interrompida por sua mão que se levantava contra mim e eu me encolhia no chão, esperando que ele finalmente desferisse o golpe.

Ele abaixou a mão e a voz.

– Não vou te bater.  Não sou covarde a esse ponto. – Olhei para ele, ainda com medo. – Por mais que você mereça. – Ele se abaixou até seu rosto ficar na altura do meu. – Sabe o que eu deveria fazer agora? Deveria ligar pra polícia e te colocar atrás das grades.  É isso que você merece.

– NÃO! Por favor, Richard... Por favor. Eu te amo...

– VOCÊ NÃO ME AMA. – Suas palavras doíam mais do que se ele tivesse batido em mim. Eu sussurrava “amo...”, mas ele ignorava. – Isso não é amor. É doença, é obsessão, Carolina. Como você pôde matar duas pessoas inocentes por causa desse seu “amor”? – Eu não respondi, chorando. – Mas eu sim, Carol. Eu realmente te amo. E é por isso que vou te dar uma chance.

Um lampejo de esperança surgiu em mim. Ele ia me perdoar? Ia ficar tudo bem? Richard olhou o relógio.

– São cinco da tarde. Você tem doze horas pra arrumar suas coisas e ir embora. – Continuei calada, pensando que maldita chance era essa. – E quando eu digo “ir embora”, não quero dizer voltar para a casa de Leonard ou algo assim. Quero que você saia da cidade, do estado, Carolina, se possível do país. Eu não quero te ver nunca mais, está ouvindo?  Nunca. Se eu esbarrar com você na rua, te coloco atrás das grades. Não pense em me ligar, muito menos mandar cartas. Quando eu acordar amanhã, você vai ter morrido pra mim, entendeu?  – Continuei calada, enquanto ele ainda me encarava. – É isso. Espero que estejamos entendidos.

Ele saiu do quarto e eu continuei lá, no chão, sem saber o que fazer, sem saber o que seria da minha vida agora. Eu preferiria estar atrás das grades a ficar sem Richard. Eu não conseguia nem imaginar. Que perspectiva de vida era essa? Eu faria qualquer coisa... Mas agora não tinha mais volta. Quando Richard acordasse amanhã, eu estaria morta pra ele.

(...)

Olhei o relógio, eram três da manhã. Não fazia muito tempo que Richard tinha chegado, ignorando-me completamente. Não sei por quanto tempo fiquei ali, olhando o homem da minha vida dormindo. Eu sorria. Nunca tinha amado ninguém como ele, eu queria que ele soubesse que realmente tinha me feito feliz. Olhei seu peito subindo e descendo compassado. Seu corpo, por incrível que pareça, ainda parecia forte e rígido mesmo quando dormia... Seu cabelo negro e liso, na altura da boca... Deixei cair uma lágrima. Era uma pena que as coisas terminassem assim.

Fui até o banheiro, parei em frente ao espelho e, lentamente, penteei meu longo cabelo loiro, deixando cair mais algumas lágrimas. No mesmo ritmo, fui até a banheira que eu tinha enchido e deixei cair o vestido branco antes de entrar.

Ali, deitada naquela banheira, vendo a água ser tingida pela cor vermelha de meu sangue, eu não me arrependia do que estava fazendo. Sabia exatamente do que estava abrindo mão, mas eu não imaginava um mundo, uma vida sem Richard. Não tinha propósitos. Olhei pela última vez para meus pulsos abertos pela lâmina e sorri. Eu tinha tirado vidas por amor, e agora, em prova desse amor que Richard não acreditava que eu sentia, eu estava tirando a minha própria. Esperava que isso fosse suficiente...

Sentindo a visão ficar turva, sentindo minhas forças se esvaírem e ficar cada vez mais difícil de respirar, fechei os olhos, pela última vez. E, fazendo-o, sabia que haveria muitas coisas que eu não veria.

Não veria Richard se levantar pela manhã, escovar os dentes e não perceber meu corpo jazido na banheira. Não o veria perceber minutos depois e gritar, gritar descontroladamente e chorar. Não o veria levantar meu corpo da banheira e me abraçar, antes de perceber que era muito tarde. Não o veria ligar para a polícia, ainda soluçando. Não o veria contar toda a história – toda – para a polícia. Não veria a polícia interrogando Leonard, que falaria que só contou para Richard porque sempre fora apaixonado por mim, desde o início. Não veria Leonard ser preso. Não veria Richard afundar em depressão por puro sentimento de culpa. Eu simplesmente não veria...

E eu não fazia idéia de que aquele homem, que eu acidentalmente conhecera num bar, significaria a minha vida e a minha morte.

Carolina

Nos seus olhos fundos, guarda tanta dor

A dor de todo esse mundo

Eu já expliquei que não vai dar

Seu pranto não vai nada ajudar

Eu já convidei para dançar

É hora, já sei, de aproveitar

Lá fora, amor, uma rosa nasceu

Todo mundo sambou,

Uma estrela caiu,

Eu bem que mostrei sorrindo,

Pela janela, ah que lindo! Mas Carolina não viu.

Carolina,

Nos seus olhos tristes, guarda tanto amor

O amor que já não existe

Eu bem avisei, vai acabar

De tudo lhe dei para aceitar

Mil versos cantei pra lhe agradar,

Agora não sei como explicar,

Lá fora amor, uma rosa morreu

Uma festa acabou, nosso barco partiu,

Eu bem que mostrei a ela,

O tempo passou na janela e só Carolina não viu.

Carolina – Chico Buarque


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Notas finais do capítulo

Então, acaboooooooou-se o que era doce ): E como eu sempre digo, não dá pra agradar gregos e troianos, então... sei que alguns vão gostar, outros não, maaaas.. saibam que eu dei o meu melhor! E fico muito feliz por todas as pessoas que leram, acompanharam, deixaram reviews... você são DEMAIS! Sem vocês, a fic não teria chegado onde chegou, então, muito, MUITO obrigada. :D
Alguns estão perguntando quando eu vou escrever outra história, então... Eu ainda não tô com nenhuma ideia x_x Mas assim que tiver, mando mensagens pra vocês, ok?
Obrigada de verdade, a todos, inclusive a minha beta, Jenny! Vou sentir falta de todos vocês! Beijo grande.

Notas da Jenny, hehe:

N/B (JennyRocha): OH, MEU DEUS!

Tá, eu não posso falar que estou surpreendida porque eu fiz a Laís me contar a fic quando virei beta, hihi.

Mas, gente, quando ela me contou, fiquei surpreendida. E não esperava que fosse tão intenso até ler esse capítulo (uma semana antes de vocês, cof, cof) e quase cortar os pulsos junto com a Jennifer, que, por acaso, é minha xará (não que isso seja realmente bom, né, ela é uma prostituta, nem que seja realmente mau, afinal é a personagem principal)!

E agora acabou! D:

Nunca gosto quando as fics da Laís acabam, elas são viciantes. ♥

Enfim, espero que vocês tenham apreciado assim como eu.

Beijos. :*