The Swan Sisters Saga escrita por miaNKZW


Capítulo 77
Capítulo 25 - O Caminho de Volta




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Aquela noite foi longa. Não lembro muita coisa sobre ela. Só me lembro que caminhei por horas, em círculos, talvez. Eu não tinha idéia da direção que eu havia tomado, não sabia se estava no caminho de casa. Mas nada disso importava, eu simplesmente precisava continuar andando. Eu não podia parar, eu não queria pensar no que havia acontecido, no que eu havia feito. Eram tantas coisas para resolver, arrumar e esclarecer, mas eu me sentia tão cansada. Tudo que eu queria era tentar fugir da sensação de estar perdida, sem planos, sozinha. 

Minhas pernas adquiriram vida própria e continuaram com passos incertos em direção a floresta que agora se fazia visível bem a minha frente; os passos continuaram sem força, mas insistentes, pareciam mais barulhentos de o normal e ecoavam em meio a floresta vazia e escura... ou bem, talvez a floresta não estivesse tão vazia. Continuei a caminhar por entre as árvores, mais lentamente do que deseja. Barulhos, que em meus ouvidos pareciam maiores do que realmente eram, preenchiam minha mente de pavor. Pude chegar a um tronco, reconheci o lugar, era onde meu dia havia começado, era o local onde Dorian havia tirado minha vontade de viver. Abaixei-me e recostei-me nele, já não tinha mais energia para continuar, tampei os ouvidos com minhas mãos, escondendo a face nos joelhos e desejando profundamente que amanhecesse logo para que eu pudesse acordar deste pesadelo.

Mas eu não acordaria. Eu não estava sonhando. Era tudo real. Cada palavra, cada passo, cada gota de sangue que manchava meu vestido. Pude sentir as lágrimas que eu tentara prender outrora em meus olhos e escorrerem pela minha face, alheias a minha vontade.

“Ora, isso não é hora de chorar, pare Ivy, sua boba!” murmurei para mim mesma enquanto tentava secá-las e conter meus soluços, pois agora eu devia me manter no mais absoluto silêncio.

Fechei os olhos e o que pude ver era pura escuridão. Não podia ver nada. Senti o toque frio da chuva, senti cada gota d'água tocando minha pele. A dor era intensa. Respirei fundo e senti a dor se alastrando pelos meus músculos. O ar não mais entrava em meus pulmões, que se contraíam na esperança de conseguir oxigênio. Meu coração batia forte e rapidamente em meu peito, me dando a impressão de que a qualquer momento quebraria minha caixa torácica. Entreabri os lábios e um fraco suspiro escapou de minha boca. Sentia meu coração batendo, meu corpo se arqueou com a intensidade.

Um vento frio circulou ao meu redor e sobre minha pele senti o toque frio do gelo. “Gelo? Está nevando agora?”. Eu queria continuar ali, queria poder sentir a hipotermia chegando, clamando o que restava da minha vida. Mas é claro que isso não aconteceria, sou imortal, não? E ainda assim, a morte era o que eu almejava. A punição por meus crimes. “Seria tão rápido... tão fácil! Mas nem isso eu consigo fazer direito...”. Vi pequenos cristais de gelo passarem diante de meus olhos e serem soprados pelo vento. Eles foram levados pelo vento até uma figura escura parada a certa distância, parecia ser uma pessoa. Na distância em que me encontrava não pude discernir a feição, mas achei ser um homem, estava encostado numa grande moto preta. A neve, o vapor que saia da máquina não me deixava identificar seu rosto. Devagar, minha visão foi clareando e percebi que, de fato, era um homem de cabelos negros e pele tão clara quanto a neve. O cabelo molhado emoldurava feições tão delicadas que poderiam ter saído de uma moeda antiga ou de um medalhão romano. Maçãs proeminentes, um nariz clássico e direito… e uma boca capaz de me manter acordada à noite toda. Vestia uns jeans escuros que provavelmente teria dificuldade em despir à noite, uma camiseta preta justa e uma jaqueta de couro também preta e de corte pouco comum. E estava totalmente encharcado.

Então, a figura pareceu notar minha presença, pois virou o rosto em minha direção. Nesse momento senti meu coração disparar, ele se aproximou. Poucos momentos depois, estava ajoelhado ao meu lado, olhando-me consternado. Percebi sua pele pálida, acentuada pela escuridão de seu cabelo e de sua roupa. Os olhos, grandes e brilhantes, tinham íris pintadas de um tom de azul meio arroxeado, muito bonito. Os olhos dele passaram rapidamente pelo meu rosto e corpo e uma expressão preocupada se desenhou em sua face. Foi só então que eu o reconheci. Era Dorian.

_ Ivy? Você está bem? - ele perguntou tirando-me da divagação que sua beleza sempre me causava, e apesar de tentar disfarçar eu pude perceber que seu tom de voz mostrava preocupação.

Não respondi, nem quis tentar, para dizer a verdade. Não entendi o motivo da preocupação em seu rosto. Ele mesmo me dissera, há poucas horas atrás, que não sentia nada por mim. Nada além de pena...

_ O quê aconteceu? Onde você estava? – Dorian continuou me enchendo de perguntas, enquanto tateava meus ombros e braços, checando com os olhos o resto do meu corpo - Você está ferida! Oh, está sangrando! – afirmou, agora segurando minha perna marcada com arranhões e manchas de sangue, provavelmente pelos tombos e tropeços que devo ter levado. Da perna, subiu para as mãos, também sujas com cortes, sangue e lama.

Abaixei o olhar com vergonha e medo de encará-lo nos olhos, olhei para meu próprio corpo e vi o sangue que manchava meu vestido, escorria por entre minhas pernas. Então um suspiro de espanto chamou minha atenção, voltei o olhar para Dorian e me assustei com a expressão que agora dominava seu rosto. Os olhos estatelados fixos em mim, a boca entreaberta parecia prestes a gritar, Dorian estendeu a mão em direção ao meu rosto, mas o movimento parou no meio do caminho e se voltou contra sua própria boca segurando o choque eminente.

_ Oh, Meu Deus! – ele murmurou, mas o som saiu abafado e fraco. Dorian então começou a se afastar rastejando e só parou quando suas costas bateram em uma árvore - Não! Não! Não pode ser... o que... – ele dizia balançando a cabeça de um lado pra o outro. Seus olhos totalmente negros, entorpecidos pelo espanto ainda estavam fixos na mancha de sangue em meu vestido. Então, ele havia entendido... Dorian sabia o que eu tinha feito, e me senti ainda mais suja - O... o q... o que... – ele começou a gaguejar, parecia sufocar com suas próprias palavras – O que... o que fizeram com você? – ele finalmente perguntou num único soluço.

Os pequenos cristais de gelo voltaram a tirar minha atenção, eles subiam e formavam uma espécie de tira. Várias tiras, formadas por vários cristais, e eles me rodeavam. Era uma visão muito bonita. Uma visão que eu sabia que logo perderia. Podia sentir minha força se esvaindo, sendo levada pela dor. Era bom ver o gelo dançando, mas era estranho ver a preocupação estampada no olhar de Dorian. Ele não me ama, então por que se preocupava? Não que me importasse. Eu queria pedir que ele fosse embora, que me deixasse em paz para morrer sozinha sob a neve, de qualquer forma, a morte era a única coisa que me restava, mas não fui capaz de achar minha voz e nem quis tentar.

Dorian, por outro lado, parecia tentar se recuperar do choque, ainda respirava com dificuldade e murmurava palavras inaudíveis. Mas de repente ele parou, voltou o olhar para mim, perplexo e vermelho.

_ Quem fez isso com você? – Dorian gritou e eu balancei a cabeça, desviando o olhar – Quem foi o desgraçado que fez isso com você? – exigiu ainda distante – Só me diga o nome e ele estará morto antes que... que... – ele hesitou e eu achei ter visto lágrimas escorrendo em seu rosto – Oh, Ivy... o que aconteceu? – ele suplicou com a voz trêmula e, eu pude notar que Dorian estava abalado, realmente abalado. Seu olhar era de dor, e dessa vez, eu tinha certeza, havia lágrimas em seus olhos.

Então a angústia invadiu meu peito sem pedir permissão, destruiu minhas forças e me fez cair. Me arrependi de ter sido tão idiota, de ter aceito a proposta de Damon, me arrependi por não ter dado mais valor a mim mesma. Era incrível como tudo podia mudar em um único dia; há menos de doze horas atrás tudo que eu queria era ser a mulher que Dorian tanto queria, e achei que somente Damon me proporcionaria isso. Nem por um instante pensei nas conseqüências que essa decisão infantil e insana acarretaria em mim e em todos que me rodeiam. Fui uma boba, tola e idiota.

Mas e agora, como explicar para Dorian e todos os outros o que eu fiz?  

A tristeza apertou dentro de mim e o mundo pareceu diminuir. Pensei em colocar uma máscara em meu rosto e fingir que estava tudo bem, pensei em mentir, inventar alguma história sem sentido para anestesiar meus sentidos. Mas não adiantava, a dor era forte demais e eu fraca demais.

Inspirei fundo mais uma vez e engasguei com o ar gélido que invadiu meus pulmões, comecei a tossir e senti meu corpo convulsionar. No início, não entendi porque me corpo se contorcia tão violentamente, mas então, percebi que era o frio. Meu corpo inteiro tremia e eu não tinha controle algum sobre isso.

Ao ver que a tosse se tornava mais forte, Dorian se aproximou. Segurando-me pelo ombro e apoiando meu pescoço, ele me levantou e quando dei por mim, eu já estava em seu colo.

_ Vamos para casa agora... – ele disse e eu tentei protestar pressionando minhas mãos contra seu tórax e grunhindo entre os espasmos. Não queria que ninguém me visse assim. – Não se preocupe, Paul foi para Seattle com Ian buscar Dr. Theodore e Dr. Carlisle... e o menino já está dormindo. – "então, não tinha ninguém em casa? Ninguém para me ver nessa situação? Somente Dorian...", aos poucos, senti o calor que emanava de seu corpo me aquecendo. Os espasmos cessaram, mas logo foram substituídos por ruidosos soluços que pareciam explodir em meu peito – Shhh... não precisa me contar agora, se você não quiser... não precisa dizer nada... – os soluços continuavam e eu ainda não tinha nada para dizer – Shhh... vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, minha doce Ivy... não chore mais, agora eu vou cuidar de você. Vou cuidar de você para sempre...


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