The Swan Sisters Saga escrita por miaNKZW


Capítulo 69
Capítulo 17 - Sonhos




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Não me sinto bem, as coisas mudaram de lugar, como tudo mudou assim? Será que é um pesadelo?

Sozinha, trancada em meu quarto, vejo tudo se modificar e não posso fazer nada, estou ficando louca...

Escuto vozes, elas me atormentam não me deixam dormir, parece que tem algo aqui, não estou sozinha.

Sinto sua presença, sinto a força do mal. O que quer comigo? Quem é você?

Às vezes, me sinto possuída.

O que são esses vultos, essas vozes, quem está ai?

Estou ficando louca...

Deus, você existe? Por que não me escuta? Por que você não aparece aqui?Como posso acreditar se no momento mais difícil da minha vida, estou sozinha?

Quero uma resposta para tudo isso, alguém me escuta, por favor...

Eu grito, mas ninguém me ouve. Eu choro, mas ninguém vê...

Instinto de vingança e morte, pensamentos obscuros, o que está acontecendo comigo?  Eu não sou assim, não quero ser assim.

O que está acontecendo comigo?

Quem sou eu? Alguém pode me responder? POR FAVOR...

 

 

Ultimamente não estava me sentindo bem, minha cabeça doía com maior frequente e os analgésicos já não faziam efeito. Há dois dias, Paul sugeriu que eu procurasse um médico, mas os olhares de desaprovação de Ian me convenceram a esperar um pouco. Voltando para casa com os braços cheios de sacolas e compras, eu me acomodava num dos bancos da condução, dava preferência a lugares próximos a janelas com bancos altos, talvez minha baixa estatura ou a falta de auto estima influenciassem nessa escolha. Ao descer do ônibus avistei Paul sentado em frente da borracharia a espera de um novo cliente ou talvez torcendo, como eu, que esse dia tedioso e quente terminasse enfim; acenei e segui meu caminho. Estava escurecendo rápido naqueles dias de verão e eu precisava preparar o jantar antes que todos chegassem em casa. Então, a dor de cabeça voltou a me incomodar, um incômodo já rotineiro, para falar a verdade, mas dessa vez foi diferente, eu começava a escutar a voz cada vez mais alta e freqüente. “Com o dia cheio e esse calor infernal que não dá trégua, as pessoas tem todo o direito de ver e ouvir coisas...” pensei.

Sem dar muita importância entrei em casa e resolvi que precisava de um banho antes de continuar minha lida doméstica. Alcancei a toalha estendida na janela do meu quarto e segui para o banheiro. Limpa e com os cabelos ainda respingando água para apaziguar o calor intenso daquela tarde, pus-me a procurar algo para cozinhar. A velha geladeira vermelha de Paul não me animava muito, mas não precisávamos de muito e desde que eu começara a cuidar da casa, ninguém nunca havia reclamado das refeições, nem mesmo o chato do Ian.

Feita a refeição e com a cozinha arrumada, todos se despediram e rumaram para seus respectivos quartos. Já era tarde e ainda era quarta feira, havia metade da semana de tédio e solidão pela frente, mas eu não podia reclamar. Josh e Ian já dormiam quando Paul passou pela sala para dar boa noite e agradecer pelo jantar antes de também cair em sono profundo, o que não demorava mais do que cinco minutos; e a partir daí minhas noites eram recheadas de barulhentos roncos, imagens e algumas vezes vozes. 

As luzes da casa estavam todas apagadas, com exceção a da sala, onde eu mantinha a televisão ligada em um filme de terror, morria de medo, mas assistia mesmo assim. Apesar de exausta, insisti em terminar o filme, em meio a cochilos. Entre um intervalo e outro decidi ir ao banheiro, no meio do corredor ouvi um som alto como uma explosão e muitas luzes fortes. “Será uma aeronave? Não, não... não é comum passar aviões por essa região e nem tem um aeroporto por essas redondezas!” pensei. O que mais me estranhava era a paz em que os outros dormiam ninguém acordou. Olhei pela janela e todos da vizinhança ainda repousavam. “Só eu ouvi isso...”.

Sem saber o que poderia ser teimei em seguir até a porta de entrada, mas talvez pela angústia e pelas minhas mãos trêmulas, eu não consegui sequer segurar o trinco. As luzes faziam sombras na porta, o que me assustava ainda mais.  No desespero esbarrei na chave e ela caiu, me abaixei para alcançá-las e foi então que eu percebi uma movimentação, como passos de um lado para o outro na porta, e pela fresta pus-me a observar aqueles vultos. As sombras se moviam rápido demais e a claridade ofuscava meus olhos, impedindo-me de identificar alguém ou... algo. Neste exato momento, algo se aproxima numa velocidade incrível, eu podia sentir sua presença do outro lado da porta. Minha cabeça começou a latejar como se fosse explodir, o medo, o estresse me deixou atônita e paralisada. Ainda de joelhos sob o vão da porta, fechei os olhos e vi cores numa imensidão escura, feixes de luzes vermelhas, amarelas, azuis, eram como raios numa noite sem tempestade. Respirei fundo e consegui abrir meus olhos voltando o olhar curioso em direção a rua só para me apavorar ainda mais. Havia algo que eu não podia identificar nem como animal nem como humano, e aquilo me olhava. Instintivamente me levantei e conclui que uma pessoa sensata começaria a gritar e correr, porém eu não era sensata e na minha estupidez não pude evitar dar uma última espiada pela janela. E ele estava lá também, com seus dois enormes olhos negros. Olhos mais escuros do que a própria noite, imobilizada eu não pude sequer ver a parte branca deles, não pude identificar nenhum detalhe, talvez eu não quisesse realmente. Aquilo ainda olhava para mim, tentei me afastar, mas algo me chamava. A voz... a voz...

— Nosfetarus... – ainda estava longe e fraca – Nosferatus!

— O que... quem... quem é você? O que você quer de mim? Meu Deus, Meu Deus! O que está acontecendo? O que está acontecendo comigo? – eu me questionava se aquilo era real ou se não passava de mais uma de minhas alucinações – O que você quer? Por que você não me deixa em paz?

A porta começou a vibrar devagar, mas os tremores foram ficando cada vez mais fortes e altos como se a criatura tentasse derrubá-la.

— Socorro! Paul? Ian? Josh? Socorro! – meus esforços eram inúteis, ninguém naquela casa parecia me ouvir.

— Ora, garota estúpida! Pare com isso!

— Quem é você? Me deixe em paz! Vai embora!

— Antes eu pudesse... – aquilo retrucou sarcástico.

— Vai pro inferno!

Ele riu.

— Inferno? Eu já fui e voltei... Garota estúpida! – fez piada.

Ele riu de novo e a porta começou a tremer ainda mais forte, o barulho era extremamente alto, mas a casa continuava negligente ao que me acontecia. Era como se tudo estivesse acontecendo somente comigo, só eu vi, só eu ouvi, gritava e ninguém me atendia.

A porta veio abaixo, assustada gritei com a cena e esperei pelo pior. Olhei para trás e vi a porta destruída no chão da salinha, havia uma sombra que parecia humana, mas ele se movia devagar demais como se flutuasse pelo chão. Acho que entrei em choque, pois não conseguia me mover, a voz não saia. Nunca tinha sentido tanto medo em toda minha vida. Já ouvira muitas estórias de fantasmas e mitos, Josh adorava me assustar, mas nunca acreditei em nada e jamais pensei que essas coisas pudessem acontecer a mim.

Aquilo caminhou lentamente em minha direção, não sei como, mas tirei forças de algum lugar e consegui ao menos rastejar-me pelo corredor. Estava decidida a sobreviver. Eu era lenta demais, meu esforço não valeria muito. Senti a mão da criatura na minha perna esquerda, era fria e dura como pedra. Ele me segurou com força, tanta força que parecia que minha perna se partiria ao meio se eu não o detivesse. Senti medo, muito medo, mas não havia mais espaço para o medo, minha vida estava em jogo. Me voltei para a criatura e o encarei furiosa, com um único movimento avancei sobre ele estapeando-o e arranhando seu rosto ainda escondido nas sombras.

— Arrrrrr! – ele chiou – Sua... sua... – depois soltou uma gargalhada macabra – Nem tão estúpida assim, não é? – ele agarrou minhas pernas novamente, puxando para fora e esfolando minhas costas no concreto.

— Não me machuque, por favor! – supliquei.

Então se virou e como se estivesse comovido pelo meu pedido segurou minha cabeça em suas mãos.

— Não tema! – ele disse mudando o tom de sua voz repentinamente – Não vou te machucar, não conseguiria mesmo que quisesse. – murmurou e deixou que a fraca luz da lua finalmente iluminasse seu rosto.

— Você! – eu disse reconhecendo aquelas feições. Era ele, o homem negro que visitava meu quarto durante a noite – O que você quer de mim?

Ele hesitou por alguns segundos, depois suspirou balançando a cabeça em resignação.

— Oh, Ivy... se você soubesse como isso é difícil para mim...

“Difícil? Difícil para ele? Eu é que sou atacada no meio da noite, estou apavorada e toda machucada e é difícil para ele?”

— O que você quer dizer?

Ele se levantou e caminhou para a porta e, por um minuto eu pensei que ele havia desistido.

— Você sabe como é difícil para um ser como eu suplicar por ajuda? Ainda mais para uma criatura tão... tão... estúpida como você?

— Ajuda? Eu... eu não... eu não tenho nada a oferecer. Deixe-me em paz!

— Eu sei... eu sei que você não tem... – ele afirmou arrogante e esnobe – ainda...

— O que...

— Chegará o dia, minha cara Ivy... em que você será a mais poderosa criatura desta terra, cobiçada e invejada por tudo e todos e, será nesse dia em que eu precisarei de você.

— E... e... eu?

Ainda com o olhar perdido no horizonte, ele balançou a cabeça em afirmação.

— Mas eu não sou hipócrita, Ivy. Sei que nada é de graça. Portanto, estou aqui essa noite para lhe conceder um desejo.

“Desejo?” eu pensei. “Tipo... tipo... ele é tipo... um gênio da lâmpada ou algo assim?”

— Não seja estúpida! – ele gritou revirando os olhos – Será que você não pode parar de ser tão idiota por um minuto?

— Oh! Eu...

— Ora, cale-se! Não diga nada, ou melhor, não pense em nada. Isso só me irritaria ainda mais! – ele disse como se murmurasse para si mesmo. Sentou-se no sofá e cruzou as pernas casualmente enquanto me observava – Nem sei por que me dei o trabalho de perguntar quando já sei do que você precisa.

— Eu não preciso de nada! – respondi irritada com aquela indiferença.

— Ah! Você tem certeza? Ivy?

“Ivy?” pensei. “Ele disse Ivy?” uma torrente de imagens e rostos inundou minha mente, lembranças e memórias vieram à tona e tornaram-se tão claras como o dia. Era como se elas sempre estivessem ali, mas por algum motivo meu inconsciente as encobria com um véu, impedindo-me de acessá-las. “Ivy! Sim! Meu nome é Ivy!”.

— Você... você me conhece? Sabe quem eu sou? – ele balançou a cabeça com um “sim” entediado – O que aconteceu? O que aconteceu comigo? – por mais que eu pudesse me lembrar agora, a ordem dos recentes fatos ainda não estava nítida para mim – Como...

— Amanhã. – ele interrompeu – Amanhã tudo se esclarecerá.

— Mas...

— Paciência, Nosferatus! Paciência – me interrompeu novamente, se levantou e num piscar de olhos estava diante da porta totalmente refeita.

— Mas, como você fez isso? A porta...

Ele riu.

— Garota estúpida, era só um sonho!

— Mas... mas... quem é você? – eu quis saber, mas ele já havia desaparecido nas sombras da noite – Quem... quem é você?

“Salvatore...” eu ouvi em minha mente.

Acordei no sofá, ofegante e molhada de suor com a televisão fora do ar, eu me levantei e corri em direção ao quarto de Paul, ele ainda dormia profundamente, todos na casa ainda dormiam. Olhei para o relógio do corredor, eram cinco da manhã e, mais do que depressa corri e deitei na minha cama. Não conseguiria dormir muito, mas senti um alívio imenso de saber que tudo não passava de um sonho.

“Só mais um sonho maluco, nada mais.”


 

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