As cores do meu mundo escrita por Lice Tribuzy


Capítulo 17
Superações


Notas iniciais do capítulo

Geeeente, socorrrrooooooooooo! Desculpa meeeeeeeeeesmo a demora tremenda pra postar um novo capítulo e mais ainda estando já no fim da história! Mas bom, este é mais um dos capítulos e, confesso, um dos ultimos... :(



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Um ano depois do acidente...

–Hoje seria nosso aniversário de um ano – digo sentada na mesa do shopping ao lado da janela e em frente à Clarisse e Tomás.

–É realmente lamentável – diz Clarisse.

–Pode ser, mas acho que Will não ia querer ver você desse jeito, Elena – diz Tomás.

–Acho que ele não ia querer me ver aqui, segurando vela para vocês – digo rindo.

–Bem vinda à vingança – diz Clarisse.

–Vingança? –pergunto sem entender, fazendo careta.

–Qual é, aturei você apaixonada por muito tempo e segurei muitas velas para você, por isso estamos quites e esta é a minha vingança.

–Espere um pouco, eu fui usado para você se vingar da sua amiga? –pergunta Tomás indignado.

–Você percebeu isso só agora, amor?

Tomás afasta-se dela e abre a boca. Olho para Clarisse. Gargalhamos.

–Será que eu perdi alguma coisa? –pergunta ele.

–Amor, é brincadeira. Só te aturo porque te amo mesmo.

–Obrigado – diz ele sorrindo com orgulho.

–Infelizmente... –completa Clarisse.

–Ei! –exclama ele.

Clarisse ri e eu esboço um sorriso. Apesar de não ser eu e Will, apesar de não estar vivenciando o que eles vivem, estou feliz por vê-los apaixonados. Vejo neles o amor que existia entre eu e Will... ah, quantas saudades dele, dos seus beijos, abraços, meu modo de falar, seu jeito amável de agir, saudades do passado, mesmo não devendo estar com saudade do que passou. Viro-me para a janela e começo então a pensar sobre mim, sobre ele, sobre nós. Quando me dou conta, estou longe.

–Elena? –ouço uma voz. Pisco os olhos algumas vezes, retiro a cara de paisagem e volto ao mundo real.

–Pois não? –digo. Olho ao redor e não vejo ninguém.

–Elena... aqui. –ouço a voz novamente.

Viro-me para o lado. Com os olhos semicerrados e pergunto:

–Conheço você?

Ele ri.

–Acho que não. Eu me chamo Daniel.

O olho com cara de dúvida. O que esse cara quer? De onde diabos ele me conhece?

–Ah, me desculpe, que grosseria a minha, eu sou amigo do Tomás. –diz ele sorrindo.

–Bom... parece que temos algo em comum. Muito um prazer.

A conversa para. Continuo com cara estranha, sem saber onde isto levará. Daniel, meio sem graça continua:

–Posso? –pergunta ele segurando a cadeira a minha frente.

Sinto um deja-vu. A ultima vez que ouvi essas palavras foi quando conheci Will.

–Elena?

–Ah sim... é... hm... claro. Sente-se. –digo apontando para a cadeira.

–Olha, tudo bem eu posso ir embora. Tomás me pediu que eu viesse aqui, mas eu posso vir em outro momento.

–Ah não, por favor, foi só que...

–Não, não, eu vou indo. Tenho umas coisas a fazer mesmo.

–Não, por favor, eu insisto. Sente-se.

Daniel se senta.

–Tem mesmo coisas a fazer? –pergunto.

–Não –ele ri –disso isso para lhe deixar mais a vontade. Realmente não queria incomodá-la.

–Claro que não... Tomás lhe ensinou muito bem.

–O que?

–Quanto ele te pagou por isso?

–Desculpe-me, mas... não estou entendendo.

–Ah qual é, um garoto alto, de cabelo liso e loiro dos olhos castanhos claros e corpo atraente não falaria assim comigo. Principalmente amigo do Tomás. Ambos sabemos onde isso vai dar. Diz ai, o que ele fez para convencer você a vir falar com uma cadeirante solteira?

–Obrigado pelos elogios, mas eu não...

–Olha, não precisa desfaçar mais. Eu já sei a verdade.

–O que?

–Elena! –exclama Tomás – Vejo que já se conheceram.

–Ela quer saber quanto me pagou para estar aqui. Devo saber de algo que não sei? – questiona Daniel.

–Você por acaso ficou louca? Eu só o convidei para cá. Não é um pretendente!

–Pretendente? –pergunta Daniel.

–Ah... –respondo – eu não sabia.

–Bem, de qualquer forma, Clarisse está me aguardando. Eu já volto. Daniel, boa sorte. E quanto a você, Elena, comporte-se.

Olho para Daniel que ainda me olha querendo respostas. Sorrio e faço cara de quem não sabe de nada.

–Explique-se. –diz ele.

–O que foi?

–“O que foi”? Isso é tudo que você tem a me dizer?

–Bom... é uma longa história, se quer saber.

–Acredite, eu quero saber. Conte-me.

Respiro fundo.

–Quer mesmo saber? É um incomodo para mim.

–Sinto muito, mas sim, eu quero saber. Desculpe por incomodá-la, mas será meu ultimo incomodo.

–Tudo bem... sabe, há um ano, eu perdi não apenas o movimento das minhas pernas, mas também meu namorado, Will, em um acidente de carro. Hoje faríamos um ano juntos e há meses que não interesso-me por ninguém para namorar, apaixonar ou até mesmo sair. Estou, desde que ele partiu, com o coração trancado, e Tomás namora com uma das minhas melhores amigas e eles estão tentando desde então fazer com que eu ao menos saia com alguém. E há meses que eles me convidam para sair, me deixam sozinha e depois aparece um garoto que diz ser amigo dele e conversa comigo, mas no final percebo que o garoto foi pago, chantageado, ou apenas treinado para dizer aquilo e ele nem conhece o garoto, porque ele encontrou o cara em um site de relacionamento qualquer da internet. Mas de vez em quando eles inovam e realmente me falam que vou sair com alguém, só para eu andar com uma aparência mais atraente, então achei que você fosse algum desses. Achei que tivesse sido pago para estar aqui ou chantageado de alguma forma por ele.

–E quanto a ter me achado na internet?

–Não... você é bonito demais para estar na internet e para ter aceitado sair com uma garota como eu e ainda por cima cadeirante.

Ele ri.

–Cinquenta reais. –diz ele.

–O que?

–É quanto ele vai me pagar se ficar até o final.

–Imaginei. Nada adiantado?

–Dez.

–É uma boa quantia. Se você quiser posso dizer a ele que gostei de você e aposto que ele te paga mais, quer? Mas cinquenta por cento da quantia a mais é minha.

Ele gargalha.

–Enlouqueceu Elena?

–Tudo bem então... vinte por cento é meu.

–Elena!

–Sim?

–Não fui pago para estar aqui.

–Então foi chanta...

–Não. –ele ri – estou aqui por um simples convite feito por ele.

–É uma pena. Perdeu a chance de ganhar uma boa grana...

–Você é engraçada, Elena. Você não é o que descreve ser.

–Deve ser porque ainda não me conhece. E quanto a você? Onde está sua supermodelo britânica rica?

–Sou gay, Elena.

–Ah... –digo – me desculpe, eu não sabia. Achava que você era... hm... você sabe.

Ele continua calado olhando para mim.

–O que foi? Você não é hétero, mas isso não é uma questão para mim se quer saber. Olha, eu não tenho nada...

Ele gargalha novamente.

–Estava apenas brincando. Não sou gay. Gosto de garotas.

Estou boquiaberta.

–Sério? Por que se for tudo bem e...

–Elena, eu estou dizendo a verdade. Sou hétero.

Esboço um sorriso.

–Bom, então onde está sua namorada sarada e rica?

–Não tenho.

–O que? –exclamo – não creio. Mas você é, com todo respeito, muito bonito.

–Digamos que eu entendo sua perda mais do que ninguém.

–Como assim? –pergunto.

–Há dois anos e três meses, eu perdi minha namorada. Perdi o amor da minha vida para o câncer. Atacou-a do nada e a quimioterapia não servia mais. A doença já estava agravada demais para ajudar. Desde então, venho vivendo preso ao passado. Trancado meu coração desde a perda, como um sinal de honra a ela. E, assim como Tomás fez com você, ele vem tentando me “ajudar a encontrar alguém” porque eu “já sou crescido e devo seguir em frente”, mas acho que você, mais do que ninguém, sabe que é difícil seguir.

–Sim, eu sei exatamente o que você passou. Mas sabe, ele está certo, devemos mesmo seguir em frente. Eu costumava viver me perguntando por que ele havia ido embora, por que o destino o tirou de mim, mas agora percebi que ele se foi e há uma razão de ele ter ido –pela qual não sei- e de a vida tê-lo tirado de mim. Devemos, por mais difícil que seja seguir sempre em frente, manter a cabeça erguida e cheia de esperanças, esforçando-se para o melhor. Digo isso não apenas por causa da perda, mas para a vida. Eu, por exemplo, tive de manter sempre viva a esperança para que pudesse fazer fisioterapia e crer que um dia voltaria a andar. E antes que diga qualquer coisa, já estou começando a andar. Não perfeitamente como andava, mas já é um começo. Assim como um bebê aprende a andar, eu estou reaprendendo a andar e controlar meus movimentos. E apesar de ter perdido meu namorado, venho me esforçando ao máximo para me abrir novamente para o mundo, para que ele possa, mais uma vez, me mostrar suas belas cores e novas misturas.


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Notas finais do capítulo

As vezes, a gente só precisa sentar e aceitar as coisas e não se questionar a razão delas, afinal, o passado está atrás e não há nada que possa ser feito a não ser ações futuras, portanto, quanto mais rápido aceitar os fatos, mais feliz você será.



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