A Melhor Parte de Mim. escrita por conexaocobrina


Capítulo 2
Me deixa te ajudar?


Notas iniciais do capítulo

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Havia se passado 12 horas desde que Cobra tinha encontrado Karina na praça. Ele tinha dormido muito mal.

Cobreloa ainda não havia levantado de sua cama, que ficava atrás do QG. Ele ajeitou os braços atrás da cabeça e pensou no maldito peso que estava em seu peito, parecia um fardo. As escolhas tomadas daqui pra frente, mudariam muita coisa...

Já estava na hora de abrir o QG e Cobra precisou levantar, sabendo que logo clientes iriam aparecer e alunos da Ribalta que faziam pesquisas de ultima hora. Mas tinha uma aluna em especial.

O lutador lavou o rosto na pia do pequeno banheiro e o olhou seu rosto refletido no espelho. Com um rugido de raiva, ele socou o reflexo. Sua imagem no espelho se repartiu em vários pedaços.

Sentiu ódio de si mesmo, por ter confiado tanto em Jade, e ainda mais, por ter perdido a amizade de Karina. E com tantas coisas pesando em sua consciência, era impossível não lembrar do seu passado. Parecia que ele não dava uma dentro.

– Droga! – exclamou Cobra percebendo que sua mão sangrava nos nós dos dedos.

Cobra enfiou a mão debaixo da torneira, deixando a água limpar o sangue e os cacos de vidro do ferimento. Seu mau humor estava pior pela noite mal dormida.

O sol que entrou pelas vitrines quando Cobra a abriu a loja, fez sua cabeça doer. Ele se afastou da luz e se pôs atrás do balcão, encarando a porta da loja. Uma hora ela apareceria, viria atrás de consolo....

Alguns minutos depois, Jade entrou. Sua aparência estava impecável, como sempre. As pernas de fora, assim como Cobra gostava, parte da barriga amostra pela blusa. A única coisa errada era sua expressão, não era nada triunfante.

– Cobra... – começou a garota entrando na loja. – Deu tudo errado! O plano de trancar a Bianca no camarim foi um fracasso total.

Cobra ignorou as histórias egocêntricas da garota e foi direto ao assunto:

– Você contou Jade, contou o segredo do Pedro. E a Karina escutou – disse Cobra com os olhos fixos na garota.

Jade paralisou, sua expressão desmoronando.

– Cobra, eu to te contando que perdi meu papel para Bianca ontem, levei uma baita bronca da minha mãe e você ta preocupado com essa maria-macho?! – exclamou Jade, indignada.

Cobra olhou para a garota revoltado e deu a volta no balcão para ficar frente a frente com ela.

– Eu confiei em você, Jade! Tranquei a Bianca no Camarim, me arrisquei a entrar na Ribalta em troca de você ficar de bico fechado e olha o que você fez – acusou Cobra. – Se eu soubesse nem tinha ido embora.

– Eu não sei como, mas a Bianca conseguiu sair do camarim. E aquela garota me acusou de ter trancado ela na frente da minha mãe! Eu me dei muito mal também, eu pedi o papel, Cobra! Você não liga pra isso?

Cobra bufou de raiva e sentiu vontade de socar algo. Seria uma longa conversa...

A alguns metros dali, Karina não imaginava que um casal brigava por sua causa. Acordou com o corpo todo dolorido pela noite dormida no sofá, os olhos inchados pelo choro. Acordar foi como voltar à superfície.

A garota encarava o teto, pensando nos sonhos. Ela tinha tido ótimo sonhos enquanto dormia, o que foi ruim. Quando você tem pesadelos e acorda, sabe que está tudo bem na realidade. Mas o que se faz quando você acorda de ótimos sonhos e percebe que é a realidade que ta ruim?

– Pensando na vida? – perguntou a voz do pai.

Karina levou um susto e se sentou no sofá. Nem tinha o notado ali.

– Ai, pai! Que susto! – exclamou.

– Não vai treinar hoje? Já era pra você ta de pé – perguntou o pai com a voz autoritária de mestre Gael.

– Não vou hoje. Não quero tombar com o Pedro. Nem sei com que cara vou aparecer naquela academia. Todo mundo deve ta rindo de mim – respondeu Karina, cabisbaixa.

– Para com isso, para! – reclamou Gael e se levantou para sentar ao lado da filha. – Eu já te disse Karina. Você é uma garota incrível. Não tem porque sentir vergonha. Quem tem que se envergonhar é sua irmã. Ela que errou.

Gael acolheu a filha em um abraço. Karina entendia a brutalidade do pai, era sua forma única de demonstrar que se importava.

– Eu concordo com o pai – a voz de Bianca soou pelo cômodo. Devagar, a garota foi surgindo na sala. – Sou eu que devo me envergonhar.

Karina revirou os olhos e bufou.

– Olha Bianca, não começa com seu teatrinho de quem se arrepende, ta? Deixa isso para o palco – antecipou, Karina.

– Não tem teatro nenhum, Karina! – negou Bianca colocando uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha.

Karina se levantou, já estressada.

– Não? Vai me dizer que não pagou o Pedro para me namorar para seu beneficio? Você só pensou em você! Queria me afastar do Duca! – alegou Karina, já aos gritos.

– Mas foi tudo na intenção da sua felici...

– Já chega, da pra parar?! As duas! – Gritou Gael se pondo entre elas. – Nós somos uma família! Vocês vão deixar isso desmoronar?!

– A Bianca mentiu pra mim, pai. Isso é coisa que se faça com a Família? – rebateu Karina, olhando para o pai.

– Eu sei Karina, mas é injusto você descontar a sua raiva nos outros e não perdoar as pessoas por erros que foram minha culpa – disse Bianca.

– Olha, Bianca, se você ta falando do Pedro...

– Não to falando de ninguém! – interrompeu a atriz. – Eu sei que você não quer me escutar. Nem me ver mais... Então eu vou pagar minha sentença, começando de hoje. Eu durmo no sofá, já que você não quer ficar no mesmo quarto que eu.

Karina pegou seus travesseiros e cobertas.

– Não se esquece de adicionar a sentença não falar mais comigo. Porque você pode comprar muita coisa, menos o meu perdão.

Karina saiu pisando duro para o quarto, não antes de escutar o pai trovejar “Meu Deus, quando vocês vão parar de brigar?”.

Karina ficou no quarto ate ter certeza de que estava sozinha em casa. Com o pai na academia e a irmã na Ribalta, podia evitar mais brigas e procurar algo para comer.

Karina odiava ter que ficar em casa sem fazer nada, odiava o fato de ter quase esconder. Queria estar treinando, aliviando sua raiva.

Quando chegou a cozinha, encontrou Bete, a empregada da casa, tirando a mesa do café da manhã.

– Karina? – perguntou a mulher, levando as mãos à cintura. – Ué, não foi pra academia hoje?

– Decidi ficar em casa – respondeu Karina, meio sem jeito de encontrar alguma desculpa.

Percebendo a expressão abatida de Karina, Bete olhou para a garota com pena.

– Olha, a Sol me contou o que aconteceu antes da peça ontem. Eu sinto muito. Você e aquele guitarrista maluco formavam um casal tão bonito... – lamentou Bete.

Só com a lembrança de Pedro, o coração de Karina doeu.

– Agora ta tudo bem, Bete. Já aconteceu – Karina deu os ombros tentando parecer indiferente. – Você já guardou tudo do café da manhã?

– Você ainda não tinha comido? – Karina balançou a cabeça. – Eu pensei que sim, achei que não tinha ninguém em casa. Mas olha, se quiser, ponho a mesa de volta.

Bete colocou um prato na mesa e começou a distribuir algumas coisas.

– Não tem problema, Bete – disse Ka. – Não quero atrapalhar seu serviço. Eu desço e compro alguma coisa.

A verdade é que Karina estava doida para dar uma volta e sair de casa. Depois de pegar dinheiro, ela desceu em busca de alguma padaria.

Atravessando a praça, a alguns metros dali, Karina achou que não ia mais encontrar ninguém que conhecia. Estavam todos na Ribalta ou na academia. Porém, precisou parar no meio da praça quando viu Jade sair do QG.

A lutadora queria evitar mais humilhações e pensou em se esconder, mas Jade pareceu não ter a notado ali. Saiu de cabeça baixa, parecendo que chorava.

Karina olhou com curiosidade para o QG. Não conseguiu ver Cobra dali e imaginou o que teria acontecido. Será que foi algo relacionado a ele? Será que ele estava bem?

Sem conseguiu controlar a própria vontade, Karina atravessou a rua até o QG. Estava com raiva de Cobra, mas ele ainda era seu único amigo. Se ele tivesse mesmo feito todo na intenção de proteger ela, poderia se explicar agora que estava de cabeça fria. E quem sabe depois, dar uns socos no saco de pancada que Cobra tinha ali...

O QG estava vazio. O único barulho era o das maquinas funcionando.

– Cobra? – chamou Karina andando pelo QG.

De repente, viu gotas de sangue que faziam uma trilha para o lugar que Karina sabia que Cobra dormia. Karina escutou um rugido vindo do outro cômodo.

Curiosa e assustada, Karina passou pelas correntes que separava a loja do quarto de Cobra. Então viu um Cobra furioso, dando vários golpes em um saco de pancadas. Entre um soco e outro, Karina viu que uma das mãos de Cobra sangrava muito.

– Meu Deus, Cobra! Para! Para! – pediu Karina se colocando entre ele e o saco de pancada.

– Sai, Karina. Me deixa aliviar minha raiva. – pediu Cobra ofegante e furioso.

– Não! Você ta machucado, seu maluco! – resistiu Karina.

– Você não ta entendendo, Karina! – exclamou Cobra.

Karina parou por um momento e pela expressão angustiada de Cobra, ela sabia muito bem.

– Se for o que eu to pensando eu entendo muito bem – disse Karina, com calma. – Me deixa te ajudar com essa mão?


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