A Cor Púrpura De Teus Cabelos escrita por Letícia


Capítulo 72
Encontros Repentinos




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Lola chegou em casa furiosa com o que tinha acontecido na festa.
Lúcio estava na sala, conversando ao telefone com sua namorada Michele quando viu sua filha entrar em casa com lágrimas nos olhos, mas antes dele poder perguntar para ela sobre seu estado emocional, a menina não deu tempo para isso e correu para o quarto em prantos.
 O pai dela tentou fazer algum contato. Bateu na porta, mas como ela sempre fazia, o ignorou.
 Dentro do quarto, Lola tirou sua  sandália, jogou para o lado junto com sua bolsa e trocou de roupa colocando um pijama confortável no lugar.
 Apagou as luzes e entre as trevas e a solidão, a menina deitou-se na cama e caiu em prantos.
Seu ex melhor amigo havia se mostrado, mais uma vez, uma pessoa interesseira e aproveitadora. Ela até queria ter feito as pazes com ele naquela festa mas depois dele ter avançado o sinal e ter roubado um beijo dela, essa chance já estaria indo por água à baixo.
Só de pensar em Erick seu estômago se embrulhava. Ao lembrar que aquelas mãos haviam as tocado a deixou com ânsia. Ao relembrar o beijo que tiveram e a sensação da língua quente do garoto em sua boca a fez sentir um asco dele e de si mesma. Então, nem ao menos tentou segurar seu choro e pegou no sono enquanto soluçava e seu peito arfava e desejava que apenas uma pessoa estivesse ao seu lado naquela noite, e essa pessoa era Miranda.

**************

 Não tão longe da casa de Dolores, outra pessoa também não estava bem e essa pessoa era Miranda.
  Deitada em sua cama, que agora sem ninguém ao seu lado parecia ser maior do que era, a mulher estava soluçando e chorando de tristeza e aparava uma lágrima no canto de um dos olhos com um de seus dedos. Dentro do peito de Miranda a dor de estar sozinha e desamparada a invadia por inteiro. Depois que se casara com Henrique, ela raras vezes havia passado noites sozinhas ao dormir. Sempre tinha a companhia de alguém ao seu lado, mas nesta noite foi diferente. Miranda sentia falta não somente de um corpo ao seu lado lhe fazendo companhia como de alguém que lhe amasse verdadeiramente. Naquele momento, ela não desejou que seu marido Henrique estivesse ao seu lado, pelo contrário, ela sentia falta era de sua pequena Lola.
 Miranda passou a mão no colchão no lugar onde noites atrás Lola ocupava e sentiu uma dor no peito e um anseio de tê-la por perto naquele exato momento. Naquele instante ela soube que não estava mais apaixonada pela garota. Agora ela estava realmente a amando.


********

NARRAÇÃO DE MIRANDA

Na manhã de um domingo ensolarado, os pássaros cantando ao longe me despertam.
Me espreguiço e verifico que horas são no relógio em minha cabeceira.
Percebo que são oito da manhã e me levanto da cama e pego meu roupão para tomar um banho. Já no banheiro, tiro minha roupa e giro a torneira do chuveiro para verificar a temperatura da água, quando o barulho de alguém abrindo a porta me espanta. Então me cubro meu roupão, amarro a corda em volta de minha cintura e me dirijo à sala.
  Meu coração se acelera naquele exato momento quando me deparo com o regresso de Henrique. E sem dizer uma só palavra, fico estática, apenas o observando.
  - Olá, amor! Voltei e agora é para ficar.
  Percebendo a minha surpresa e incredulidade, ele pergunta:
— O que houve? Não está feliz com a minha volta?
  Engulo em seco antes de tentar pronunciar uma só palavra. Eu esperava por tudo, menos pela volta dele em nosso apartamento.

*********

— Lola, só vamos almoçar todos juntos por algumas horas, minha filha. Você não pode fazer este pequeno sacrifício?
— Mas pai, eu não quero sair de casa. Não hoje.
 Lola relutava aceitar o convite para almoçar em um restaurante com Michele e alguns de seus familiares.
— Mas posso saber o motivo? O que houve naquela festa que a fez ficar triste? – perguntou Lúcio enquanto soltava um muxoxo.
— Eu não quero falar sobre isso... Apenas saiba que estou assim por ter me decepcionada com alguém.
— Filha, querida... – o pai se aproxima de sua filha e senta ao seu lado no sofá- Você pode me contar tudo pois irei lhe ouvir, entendeu?
— Eu sei pai... – Lola soltou um sorriso forçado.
— Mas também não quero pressioná-la a me contar se você não quer.
— Obrigada por compreender, pai. – Lola solta, dessa vez, um sorriso verdadeiro para ele.
— Mas então... Você vai poder ir almoçar comigo? Por favor, venha comigo pois sua presença é muito importante para mim. Quero lhe apresentar para a família de Michele.
 Lola hesitou por uns instantes mas no fim resolveu aceitar e ir ao tal almoço com seu pai. Levou em consideração a felicidade que ele estava sentindo ultimamente, e apesar dela querer se trancar no quarto e ficar sozinha o dia inteiro, achou que se relacionar com outras pessoas a faria esquecer, mesmo que por algumas horas, tudo aquilo que havia acontecido na noite passada.
— Tudo bem. Eu irei com você,pai!
 Lúcio vibrou de felicidade e logo os dois se arrumaram para irem ao restaurante juntos.

***********

 - Então é isso? Você resolveu me perdoar e voltou para a nossa casa?
— Isso meu amor...
Henrique se aproximou de Miranda e a puxou para mais perto.
— Enxerguei que quem estava errada e sendo incompreensível era eu na história toda. Naqueles dias em que passei sozinho, só pensava em você. Sentia falta da sua companhia, dos seus beijos, do seu toque, do seu corpo...
  Henrique beijou o pescoço da professora e ela fechou os olhos enquanto sentia a presença dele. Os lábios dele encostaram nos lábios dela e enquanto eles se beijavam a mão de Henrique desfazia o nó do roupão macio e branco que envolvia o corpo da esposa. Após revelar seu colo e seus seios, Henrique a beijou bem em cima da clavícula fazendo com que Miranda se arrepiasse.
— Eu... eu preciso tomar um banho pois estou confusa com sua presença repentina.
 Miranda se afastou dele mas antes de partir para o banheiro, foi surpreendida pelo convite de Henrique.
— Amor, gostaria de almoçar comigo e com a minha família hoje? – disse sorrindo.
   Miranda não sabia o que dizer e não tinha motivos para recusar, então assentiu com a cabeça e respondeu que iria com ele ao tal almoço.


********

 NARRAÇÃO DE LOLA

    Vesti minha calça preta toda rasgada com tachinhas, coloquei meu coturno preto e uma blusa branca de alça fina e por cima joguei um camisetão xadrez com vermelho e preto. Nos lábios ousei e passei batom preto e fiz meu famoso delineado gatinho.
    Quando sai do carro do meu pai, após ele ter estacionado na entrada do restaurante, fomos para a entrada e eu fiquei apreensiva.
    O restaurante era grande e sua estrutura externa imitava um castelo medieval. Havia uma imitação de torres e algumas bandeiras em azul com a letra dourada escrito nelas o nome do restaurante: ‘’Taberna Medieval’’.
    Quando entrei com meu pai, ele foi atendido por uma moça em uma bancada e ela logo nos disse onde era a nossa mesa, que já estava agendada.
    O local era incrível. Havia abóbodas no teto e lustres penduradas. Nas paredes, tinha bandeiras com brazões desenhados e escudos com espadas pendurados. No lugar de janelas comuns, havia mosaicos de vidros com desenhos de batalhas medievais entre cavaleiros e dragões e princesas em apuros. O chão era de madeira mas um tapete vermelho dava um charme no local. O restaurante tinha dois andares, mas nós ficamos no local principal, na parte de baixo.
  Quando meu pai nos encaminhou para a mesa, eu fiquei apreensiva e pela primeira vez, depois de ser criança, segurei a mão do meu pai e quando fiz isto ele sorriu para mim e me acalmou. No momento em que finalmente cheguei em nossa mesa, que era redonda e feita de madeira rústica e suas cadeiras também eram feitas de madeira com desenhos barrocos entalhados e o encosto confortável era da cor vermelha. Antes de nos sentarmos, avistei as pessoas que estavam ali sentadas. Havia um casal de senhores que julguei serem os pais de Michele. A própria namorada do meu pai estava sentada na mesa também; com um belo vestido vermelho e nos lábios um tom de vermelho sangue; ao seu lado havia um menino adolescente, deveria ter a minha idade e lembrava muito os traços do rosto de Michele. Ainda atrás dos ombros de meu pai, ouvi Michele me cumprimentar e levantar da mesa para ir em nosso encontro. Logo meu pai me apresentou para as pessoas do lugar e eu os cumprimentei ainda tímida. Nunca fui tão tímida quanto estou sendo agora. Não sei explicar, mas ter que ligar com uma outra família desconhecida me deu nos nervos. Sorri, quando meu pai me apresentou.
 - Esta é a minha filha querida, Dolores. Mas podem chamá-la de Lola.
— Lola... Apelido diferente, não é mesmo? – sorriu para mim a senhora de cabelos grisalhos com uma flor na cabeça-  Mas é um belíssimo nome.
— Obrigada. – agradeci ainda sem jeito.
— Bom, estes são meus pais e meu irmão mais novo. – apresentou Michele.
 Todos se cumprimentaram e depois nos sentamos mas percebi que ainda havia dois lugares que não foram ocupados.
— Estamos esperando mais alguém ou podemos pedir o cardápio? – perguntou meu pai.
 - Estou esperando meu primo e sua esposa, mas podemos ir escolhendo e lendo o cardápio. – disse Michele.
 Enquanto eles olhavam o cardápio, eu tirei meu celular do bolso e comecei a usá-lo, vendo as novidades em minhas redes sociais e percebi que o jovem na mesa, o menino que era irmão de Michele fez o mesmo que eu.

***********

 NARRAÇÃO DE MIRANDA

   A verdade era que eu não queria sair de casa de jeito algum, mas sair para esfriar a cabeça e não ter que lidar com a presença de Henrique à sós me serviu como uma válvula de escape. É claro que me surpreendi ao vê-lo novamente em nosso apartamento e ele estava bastante mudado mas aquilo não muda o fato de que ainda estava magoada com ele.
  Coloquei um vestido verde esmeralda que realçava a cor dos meus olhos e Henrique chegou de surpresa por trás e colocou o colar que ele havia me dado, em meu pescoço.
  - Você é a mulher mais linda do mundo. – senti seus lábios beijando meu pescoço- Eu te amo muito!
   Ao invés de respondê-lo, abri a tampa de meu batom vermelho e passei em meus lábios.

***********

    Eu ainda estava encantada com a beleza do restaurante quando de longe percebi algo que chamou muita a minha atenção. Em minha visão, vi um borrão cor de violeta ao longe e assim que fomos nos aproximando mais e mais da mesa, confirmei o que havia sentido. O ‘’borrão’’ que vi ao longe não era violeta e sim púrpura, e meu coração acelerou quando me deparei com a imagem de Lola de costas sentada na mesa com a família da prima do meu esposo.
  Me segurei para não soltar uma onomatopeia em espanto e logo coloquei minha mão em minha boca.
   - Boa noite e nos desculpem pelo atraso! – disse meu marido.
— Boa noite, primo querido! Que bom que você veio! Quero lhe apresentar meu futuro marido.
    Lúcio e Lola me olharam no mesmo momento e pude sentir o ritmo das batidas do coração dela ao longe, ou pelo menos achei que os pudesse ouvir. Seus olhos se arregalaram e no mesmo momento falamos os nomes uma da outra.
— Lola!?
— Miranda!?
 Os outros convidados ficaram surpresos e se entreolharam.
— Então vocês já se conhecem? – perguntou Michele.
  Mas nenhuma de nós duas atrevemos  a responder pois ainda estávamos perplexas com o momento.
   A vida era mesmo surpreendente e o mundo, naquele momento, parecia ser muito pequeno para caber tantas coincidências.


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