A Cor Púrpura De Teus Cabelos escrita por Letícia


Capítulo 62
Uma Nova Família




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Ainda no mesmo dia, quando Lola chegou em casa, após ter tido uma tarde proveitosa com Miranda e de ter sido uma confidente para ela e por ter se aberto também, a menina chegou em casa feliz, apesar de que o que iria ver não lhe agradaria muito.
A porta de sua casa estava aberta, então ela seguiu caminho e foi entrando. Seguiu um rastro de poeira que a levava até seu quarto, ouvindo barulho de vozes familiares, o coração da menina se acelerou ao perceber que Michele estava no mesmo local.
Lola deu seis passos e tomou fôlego antes de abrir a porta e se deparou com uma cena inusitada. A patricinha Michele, estava de joelhos, montando o berço de seu bebê e seu pai estava ao seu lado, todo sorridente, vestindo um macacão de pintor enquanto segurava um pinel e o molhava em um balde que continha uma tinta azul bebê. Antes mesmo de anunciar sua chegada, Lúcio percebeu a presença da filha e ainda com um sorriso no rosto a cumprimentou.
– Lola... Como foi a aula?

NARRAÇÃO DE LOLA

Quando cheguei em casa, nunca pensei que me depararia com aquela cena inusitada. Na verdade, se me perguntassem, tempos atrás, sobre essa cena e se ela poderia torna-se realidade eu me acabaria de rir da cara da pessoa pois para mim, meu pai encontrar um novo amor era algo impossível pois ele havia falhado em todas as tentativas anteriores desde que perdera minha tão amada mãe.
No momento em que me deparei com o meu quarto todo bagunçado, minha cama coberta por um plástico transparente para possivelmente, não sujar de tinta e algumas coisas minhas estavam em uma caixa de papelão, pois teria que retirar alguns objetos para que tivesse lugar para colocar o berço.
Confesso que quando conheci Michele pela primeira vez, eu a detestei de cara. Discutimos e depois de derramar comida italiana no vestido e no cabelo dela pensei que ela ficaria tão brava que não fosse querer nunca mais olhar na cara do meu pai, mas eles se entenderam - para o meu desagrado- e acabaram voltando a se relacionar. Quando eu a vi de cócoras montando o berço com certo esforço, pensei que não era ela , pois ela havia se mostrado ser uma pessoa esnobe, mesquinha e metida, mas senão fossem pelos cabelos loiros e pelo macacão azul marinho chique, eu jamais teria a reconhecido.
O sangue ferveu em minha cabeça e eu cerrei os dentes ao me deparar com aquilo. Mas quando vi o sorriso nos lábios de meu pai, baixei a guarda e percebi que não o via tão feliz assim desde a morte de minha mãe. Engoli em seco e lembrei dos conselhos de Miranda, e lembrei de mim mesma e sabia o quanto era ruim ter que amar alguém sem ter apoio. No meu caso, eu guardava em segredo e não pretendia contar tão cedo mas no caso do meu pai, o único obstáculo seria eu. A filha durona, rebelde, revoltada e incompreensível, mas naquele momento, percebi que estava crescendo e mudando, pois ao invés de virar a cara e dar um ataque adolescente, apenas respondi a pergunta de meu pai e lhe devolvi o sorriso que havia me dado. Ver meu pai feliz foi o que me impediu de fazer alguma besteira e acabar com sua felicidade. De triste naquela casa, já bastava eu.

**************

– Foi ótima a aula, pai. - Lola sorriu sem graça ainda não estava familiarizada com a presença de Michele.
– Lola, lembra de Michele, não é?
Michele se virou e levantou do chão segurando um pedaço de pau que pertencia ao berço do bebê.
– Claro que sim, como vai?
Lola percebeu que a loira arregalou os olhos e trocou olhares com Lúcio, possivelmente surpresa com o comportamento pacífico de Lola.
– Estou ótima! Apenas confusa tentando montar esse berço. - riu a mulher.
Lola sorriu de volta e olhou para o chão tímida. Então Lúcio disse:
– Bom, quem está com sede? Vou fazer uma limonada para gente. Já volto. - e a deixou-as sozinhas no quarto.
Lola não sabia se deixava a mulher sozinha ou permanecia no quarto, foi quando Michele, confusa com a montagem do berço e falando alto a chamou atenção.
– Meu Deus, eu não faço ideia de onde essa peça pertence. Será que estou vendo do lado certo? Céus, estava de cabeça para baixo. - ela riu.
– Quer ajuda?
– Quero sim, por favor.
Lola se aproximou dela e tentou desvendar onde aquela peça pertencia e acabou descobrindo.
– Lola, você é muito esperta.
– O-Obrigada. - disse a menina sem jeito colocando uma das mechas de cabelo por trás da orelha.
– Você foi bastante compreensível ao deixar que meu bebê durma com você neste quarto. Eu me surpreendi de verdade...
– Não foi nada, imagina...
– Sério, sei que nos damos nada bem no início mas, depois desse ato, percebi que você é uma menina de ouro.
As bochechas de Lola ficaram coradas pois ela nunca havia escutado um elogio desses antes.
– Obrigada. Sei que não nos damos bem, como você disse, mas do mesmo jeito que eu a surpreendi, você também me surpreendeu quando a vi sentada no chão montando o berço.
A mulher riu e exibiu seus dentes brancos e bem tratados.
– Eu também me surpreendi com isto, se fosse em outros tempos eu pagaria alguém para fazer este serviço, mas como seu pai me disse, montar as coisas por nós mesmas, ainda mais algo tão pessoal e especial, é bem mais divertido e marcante. E, sabe Lola, acho que meu filho terá a melhor irmãzinha do mundo - ela passou a mão pela barriga -. Seu pai meu deu o melhor presente, que nenhuma loja do mundo poderia me proporcionar. Nunca pensei que seria mãe, mas quando se torna uma, você deixa de ser egoísta e nada mais importa do que a vida que você está gerando. É um amor único. Quando você se tornar mãe, compreenderá.
Lola franziu o cenho pois ela não pensava em ser mãe nem tão cedo, diferente da maioria das garotas de sua idade, ela não pensava em casamento ou ser mãe. Ela, ultimamente, tinha pensado em ser independente financeiramente, mas as palavras de Michele a acertaram em cheio.
– Meninas, voltei. E trouxe refrescos para nós.
Lúcio estava todo sujo por causa da tinta e nas mãos trazia uma bandeja com três copos de limonada frescos. Ofereceu para Michele e ela aceitou e deu o segundo copo para Lola e a menina por sua vez, também aceitou. E por fim, ele se deliciou com o seu próprio refresco. Após tomarem, Lúcio voltou para o trabalho e quando Lola iria se despedir dele, o convite de seu pai a fez mudar de planos ao invés de ver televisão da sala.
– Filha, quer me ajudar na pintura?
Lola hesitou por um momento mas ao ver a cena novamente que estavam diante de seus olhos, a fez aceitar o convite e pegou um pincel e começou a ajudar o seu pai na pintura. E algo dentro dela se acendeu e a fez ficar feliz, enquanto dava cada pincelada e dava gargalhadas quando seu pai a sujou no nariz de propósito. Naquela tarde, ela se sentiu viva novamente e depois de todos aqueles anos, viu que era aquilo que fazia a vida valer a pena: momentos únicos e simples como aquele. E ela sentiu que pertencia a uma família, algo que não sentia a anos. Entre cheiro de tinta, risadas e limonadas, havia algo a mais na atmosfera e ela percebeu o que era: amor.


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