A Cor Púrpura De Teus Cabelos escrita por Letícia


Capítulo 51
Refúgio




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Lúcio permanecia calado e surpreso com a atitude de sua filha.
– Vai me responder ou contar mais uma mentira? - disse Lola.
– Filha, tente entender... - Lúcio abaixou-se e recolheu a foto no chão e o papel que comprovava que ele havia viajado com a namorada ao invés de ter ido ao trabalho.
– Tentar entender? Entender que você é um grande mentiroso e que não tem moral nenhuma comigo? É isso que você quer que eu entenda? - ela não se conteve e começou a chorar.
– Eu não quis lhe dizer pois sabia que você se zangaria e tornaria as coisas mais difíceis como estão. Você precisa entender, querida, que eu quero me estabilizar e arrumar um novo amor, estou apaixonado por Michele mas sei que fiz errado em mentir para você mas não havia outro jeito.
– Apaixonado por Michele? Você mal conhece esta mulher direito, pai! E olha só o que ela já fez com você! Fez você mentir para a sua própria filha, a qual você diz que ama mais que tudo nesse mundo.
– Mas eu te amo, Dolores. Você sabe disse...
– Pois não parece que me ama.
As palavras de Lola feriram Lúcio e ele permaneceu calado e abaixou a cabeça.

– Além de ser ausente em minha vida você não passa de um mentiroso, que impõe regras mas no fundo não tem moral alguma para eu seguir como exemplo.
– Olha como fala comigo, menina!
– Ainda acha que está certo? - Lola soltou uma risada abafada em desespero.
– Posso estar errado em ter mentido mas quero respeito! Exijo respeito!
Lola se aproximou do pai e ficou cara a cara com ele e tomou fôlego e disse:
– Você não tem que exigir nada! Eu te odeio! - Lola gritou.
Lúcio agarrou o braço da filha pois ela deu meia volta e foi em direção à porta de entrada da casa e ele já sabia, por conhecer as atitudes da filha, que ela iria fugir dele se refugiando na casa de alguém.
– Volte aqui, Dolores! Preciso lhe contar algo...
Lola, antes de partir, virou para o seu pai e disse sem nenhum pesar na consciência:
– Vai me contar mais um de seus segredinhos? - debochou a menina.
– Não sei se esta é uma boa hora para lhe contar mas... Michele está grávida e o filho é meu.
Lola parou de andar e abriu a boca incrédula no que tinha acabado de ouvir. Seu coração acelerou e seu cérebro demorou para registrar e entender toda a situação.
– Você está me dizendo que ela está grávida e o filho é seu?
– Sim. Você vai ter um irmãozinho ou irmãzinha.
– Não acredito nisso! Eu te odeio! - Lola começou a chorar desesperadamente.
– Filha, você precisa entender e amadurecer! As coisas não são como você pensa que é.
– No lugar da minha mãe eu preferia que você estivesse morrido naquele acidente de carro! Eu te odeio!
Lola disse ao prantos e bateu a porta enquanto saía correndo em direção a entrada de casa.
Aquelas palavras atingiram Lúcio como um soco e o fez estremecer por dentro.
– O que eu fiz para merecer isto, meu Deus? - disse suspirando.

**********


Do lado de fora, Lola ainda estava chorando e o sangue fervia de raiva dentro dela pois não suportava a ideia de ter que aceitar uma nova mulher na vida de seu pai e o pior de tudo, ele havia mentido para ela.
A menina ficou perdida por uns instantes, sem saber o que fazer, então colocou a mão no bolso e viu que havia guardado o dinheiro que sobrou na compra da pizza que ela nem havia comido. Algo iluminou-se em sua mente então ela foi para o ponto de ônibus correndo e foi para a casa de uma pessoa que ela sabia que a compreenderia. A única pessoa que vinha em sua mente quando estava aflita. Lola foi para casa de Miranda.

*********

NARRAÇÃO DE LOLA

Dentro do ônibus, algumas pessoas me olhavam pois eu ainda estava chorando, não conseguia controlar, meu coração doía só de lembrar da imagem daquela fotografia.
Como meu pai pôde mentir para mim? Para a sua única filha pela qual ele dizia que amava mais que tudo neste mundo. Era assim que ele demonstrava todo o seu amor? Mentindo para mim e me fazendo sentir triste? Na época em que ele havia me deixado sozinha em casa e tinha dito que foi para viagem de trabalho eu havia compreendido e já estava acostumada com isso, é claro que errei ao mentir para ele e ter ido naquela festa sem lhe contar nada e a gota d'água para transbordar o balde de paciência do meu pai foi ter me visto na cama com meu amigo Erick, mas... caramba! Ele não sabia que entre mim e Erick só rolava amizade? Tudo bem, que já nos beijamos uma vez mas não sinto nada por ele além de irmandade apesar de saber que ele nutri um sentimento maior por mim. Meu pai ficou furioso ao nos pegar no flagra e eu por partes o entendi mas não dava chance para ele mentir para mim. Ele sabe que eu não me dou bem com Michele, desde a primeira vez que a conheci naquele restaurante italiano, já vi que ela não era uma boa pessoa. Na verdade, acho que ela não tem nada a ver com o meu pai que é um homem simples, calmo e discreto, pelo contrário, a personalidade desta mulher é bastante diferente do meu pai; ela é esnobe, espaçosa, mandona e fútil. Não sei o que meu pai viu nela, a não ser é claro, a sua beleza, devo confessar que ela era bonita mas não adianta ser bela por fora e cruel por dentro. Não a conhecia por completo mas o pouco que tive de contato já pude perceber que ela não era flor que se cheirasse pois até chegou a zombar da morte de minha mãe e isto eu não admitia de maneira alguma! E para completar o desastre a notícia que ela estava grávida do meu pai e que eu teria um irmão ou irmã havia me devastado. Eu queria sumir do mapa, desaparecer desse mundo. Só de pensar em meu pai dando amor e carinho para esta criança que viria ao mundo meu estômago se embrulhou. Eu só queria a minha mãe ao meu lado neste momento mas isso era impossível e só de saber que ela poderia estar ao meu lado meu peito doía mais ainda e eu chorava mais ainda por tamanha dor e desespero.
Então eu cheguei em meu destino e dei sinal para que o motorista parasse no ponto em que ficava perto do apartamento de Miranda.
Desci do ônibus e segui caminho, andando pelas ruas em direção à casa.
Na portaria, o porteiro chamado Zé já me conhecia pelas aulas particulares e visitas que fiz à Miranda. Ele estava ocupado falando com um entregador do correio então quando me viu deu acenou com a cabeça me dando permissão para subir sem ser anunciada pelo interfone.
Apertei o botão do elevador e esperei a chegada dele. Quando a porta se abriu eu adentrei e apertei o botão correspondente ao andar em que minha professora morava. Alguns poucos minutos a porta se abriu e revelou o corredor que já era familiar para mim. Segui caminho até à porta do apartamento de Miranda e antes de bater na porta, respirei profundamente.
Bati na porta duas vezes e enquanto enxugava as lágrimas de minha face com as costas de minha mão a porta foi aberta mas não por quem eu esperava.
– Boa noite. Olá, Lola! - cumprimentou Henrique, marido de Miranda.
E eu engoli em seco pois havia esquecido completamente que pelo horário ele supostamente deveria estar em casa mas estava atordoada e perdida que não queria voltar para casa e quando o vi não consegui disfarçar meu desespero.
– Quer falar com Miranda? - perguntou ele.
– Eu... - mal consegui completar a frase e me debulhei em lágrimas na frente dele.
Henrique percebeu e foi para dentro chamar Miranda.
Ela apareceu e se surpreendeu com meu pranto, então colocou as mãos em meu ombro e me conduziu para dentro de seu apartamento.
– O que houve? Não chore! Venha. Vamos para dentro...
E assim eu fui conduzida para sentar no sofá da sala enquanto Henrique pegava um copo d'água para mim na cozinha.
– O que houve? - perguntou Miranda, enquanto eu estava sentada ela estava ajoelhada na minha frente e limpou minhas lágrimas.
Eu chorava como uma criança de doze anos indefesa e por meio de lágrimas e soluços consegui dizer:
– Não sei como começar a dizer...
– Calma, respire e me conte tudo o que houve. - disse Miranda com sua voz sedosa e calma me tranquilizando enquanto esfregava a mão em meu ombro.


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Notas finais do capítulo

Leitores e leitoras, estou na semana de provas em minha faculdade e peço a compreensão de vocês pois ficarei ausente por um tempo mas reforço que não os deixarei na mão e que concluirei a história. Obrigada pelo apoio de sempre e até breve! ;)



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