O rio de flores brancas (A viagem de chihiro) escrita por Spring001


Capítulo 9
A casa de banhos e Kamaji




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— Tudo bem? – Harumi perguntou, ela mesma não parecia muito feliz em ir para a casa de banho. Chihiro estava visivelmente nervosa mas assentiu.

Se Yubaba a encontrasse seria seu fim, não sabia o que estavam fazendo ali, mas imaginava que tinha alguma relação com Haku, se Harumi estava atrás dele a garota não devia ter permitido que ela chegasse até ali, mas permitiu, além da curiosidade de retornar ao mundo dos espíritos e do aperto no coração que sentia quando falavam de Haku para ela, ela sentia uma confiança curiosa em Harumi, mas não deixaria que fizessem mal a Haku e por isso, ficaria ao lado de Harumi, independente de confiar ou não nela.

Quando a feiticeira se sentiu pronta e sentiu que Chihiro também estava, empurrou a porta de entrada para as caldeiras. Estava quente como de costume e o corredor que dava acesso a sala de Kamaji cheirava a carvão e pólvora, Chihiro sentiu um estranho aconchego. Notou que as caldeiras pareciam ter sido trocadas, pois estavam limpas e pareciam folhadas em cobre. Em poucos instantes elas avistaram as bolinhas de ferrugem trabalhando, levando os pesados carvões as caldeiras, pareciam sofrer, mas Chihiro sabia que faziam drama, o feitiço de Kamaji as ajudava com o peso das pedras.

Poucos passos depois Kamaji estava em seu lugar de costume, com os braços se esticando de um lado para o outro a procura das ervas corretas para fazer os banhos perfeitos.

— KAMAJI! – Harumi gritou de repente, assustando tanto Chihiro que pensou que só iriam observá-lo até ele decidir se virar quanto o homem de seis braços que se virou para elas de sopetão.

Mesmo com seus óculos era possível ver que ele estava sobressaltado com a presença de Harumi, devagar o seu olhar se desprendeu da feiticeira e se fixou em Chihiro, ele pareceu demorar um pouco para reconhecê-la, mas em instantes ele e todas as fuligens se viraram para ela, como se fossem uma só mente.

— Chihiro...? – Ele perguntou com a voz um pouco falha.

Ela ficou sem reação, não entendeu muito bem a entonação da voz dele, era de surpresa com toda a certeza, mas não era exatamente felicidade, ficaram ali por mais um tempo, só esperando uma outra frase,que não demorou a chegar.

— MENINA! POR QUE VOLTOU? ENLOUQUECEU? – Gritou Kamaji, agora sim expressava um sentimento.

— Eu... – Chihiro começou, mas não terminou, por falta de palavras.

— Ela veio comigo – Harumi terminou para a garota – preciso da ajuda dela para encontrar meu irmão...

Chihiro olhou atentamente para a feiticeira, o irmão nunca fora citado. Chihiro entendera que Harumi estava atrás de Kohaku, mas agora estava em uma missão de salvamento. Isso de certa forma tranquilizou Chihiro, pois o objetivo de Harumi não era matar Haku e sim encontrar seu irmão.

— Harumi! – Kamaji gritou – Não vê como isso pode dar errado?! Você sequer sabe onde seu irmão está!

— Eu sei disso – Ela respondeu se aproximando dele e ultrapassando as fuligens que observavam a discussão – Mas, eu tenho que encontrá-lo! Nosso mundo está em perigo...

Ele a observou com o rosto nervoso, o gigantesco bigode que tinha subia com o seu humor, ele não queria fazê-la desistir mas, não via como podia ajudá-la, era como um beco sem saída. Um longo tempo se passou até que ele se acalmasse novamente, nesse tempo Chihiro também tinha atravessado a sala e se sentado na beirada de madeira, esperando algum movimento.

— E o que a faz pensar – Kamaji, finalmente, falou – Que eu sou a solução?

— Não acho que seja a solução – Ela disse – Não estou aqui por causa disso...

A voz de Harumi foi se acabando com essa frase e as sobrancelhas de Kamaji se arquearam.

— O que aconteceu? – Ele falou, pareceu finalmente ter notado a estranheza da situação – Como conheceu Chihiro?! Por que está aqui?

— Eu estava no mundo humano – Ela falou – E perdi parte dos meus poderes...

Kamaji não parecia nem um pouco feliz com aquilo, estalou todos os seus dedos e tanto sua sobrancelha quanto bigodes ficaram franzidos, ele parou todo o trabalho da caldeira e gritou para todos ouvirem que era hora do intervalo, as fuligens não se demoraram a fugir de volta para suas toquinhas e Kamaji se posicionou para gritar, com as mãos presas no seu balcão, segura com suas garras.

— COMO VOCÊ PODE! – Ele gritou e Harumi teve de afastar o rosto do dele – SEU PAI ME DEIXOU COM SUA PROTEÇÃO E VOCÊ SOME! REAPARECE HÁ DUAS SEMANAS EM BUSCA DE SEU IRMÃO! QUE TAMBÉM SUMIU, AI SOME OUTRA VEZ, APARECE COM UMA GAROTA HUMANA DO LADO E ME DIZ QUE PERDEU OS PODERES!

Harumi parecia extremamente constrangida, ouvia tudo o que Kamaji disse com os olhos fechados e com uma expressão de tristeza. Ela sabia o que vinha para ela, mas esperava um pouco mais de compreensão por parte de Kamaji.

— COMO VOU EXPLICAR ISSO PARA SEUS PAIS?!

— Pare de gritar! – Harumi de repente disse, elevando a voz, assustando Chihiro, mas Kamaji e ela entraram em um tipo de batalha de olhares – Eu não fiz de propósito! Fui atacada por um dragão, Chihiro me encontrou e me salvou, não pense que eu queria estar sem meus poderes agora que estou embaixo do nariz de Yubaba.

Kamaji fitou a garota de cima a baixo, Chihiro se estremeceu com o seu olhar, ficara surpresa por ter sida reconhecida, mas se ele havia a reconhecido, Yubaba também o faria.

— Terá que ir até ela...- Kamaji falou de repente

Arqueando as sobrancelhas Harumi soltou um riso irônico.

— Enlouqueceu? – Ela disse – Irá nos matar em dois palmos!

Chihiro concordou silenciosamente ao lado da garota, estava quieta a todo tempo porque não sabia muito bem que movimento tomar.

— O que pretende fazer? – Kamaji perguntou – Não pode ficar aqui pra sempre sem ela perceber, seu feitiço durara pouco tempo, ainda mais agora que entrou em um lugar mágico.

— Consegue me arrumar uma passagem de trem para a ilha do portal?

Kamaji, coçou o bigode e ficou pensando por um longo tempo, nesse tempo Chihiro observava Harumi e via que ela estava muito aflita. Enquanto ela esperava uma resposta, uma mulher entrou no recinto, vestia-se como os servos da casa de banho, a roupa rosa, cabelos presos e descalça. No momento que ela entrou Chihiro congelou, imaginou-se sendo levada para Yubaba e sendo transformada em carvão, mas a mulher simplesmente pegou a tigela vazia de Kamaji o cumprimentou e foi embora. O feitiço só deixava de funcionar com quem Harumi queria que as visse. Era impressionante.

— Não para hoje – Kamaji finalmente respondeu – Se esperar um ou dois dias eu talvez consiga.

As sobrancelhas de Harumi se arquearam e sua boca entreabriu.

— DOIS DIAS?! – Ela disse – E onde quer que eu fique enquanto isso?

— Peça à Yubaba para ficar aqui – Kamaji olhou para Chihiro rapidamente – E a ela também...

Uma risada irônica saiu da boca de Harumi e esta deu uma volta no lugar para demonstrar sua descrença.

— Yubaba?! – Falou – Acabei de dizer que ela vai me matar...

— Diga que está a procura do aprendiz dela! – Kamaji falou – Você tem tanta certeza de que ele sabe sobre seu irmão! Ou melhor, cobre aquele favor dela...

Harumi não disse nada apenas fez uma reverencia em sinal de respeito a Kamaji e seguiu para o elevador que dava para as áreas internas da casa de banho. Chihiro agradeceu a Kamaji e sorriu para ele, então seguiu Harumi até o elevador e juntas fizeram o mesmo trajeto que havia feito com Lin na primeira vez.

Chihiro estava um pouco zonza por conta da situação toda, olhar o lugar não lhe causava desespero nem nada sequer parecido, mas reencontrar Yubaba era diferente. Enquanto passavam pelos recintos podia perceber que nada havia mudado, a variedade de deuses e espíritos ainda era curiosa e isso a levava a sorrir, sentia-se protegida ali dentro, mesmo com medo.

— Chegamos – Era a voz de Harumi, mas em sua cabeça, surgiu a voz de Kohaku – Vamos...

— Está bem? – Chihiro perguntou de repente e Harumi pareceu se surpreender.

— Sim – Ela falou – Estou cansada...

Continuaram andando e em poucos segundos estavam frente a frente com a gigantesca porta do escritório de Yubaba, com todos os mínimos detalhes coloridos e arabescos, os vasos ao lado da porta e a maçaneta que falava. Chihiro respirou fundo e demorou para soltar o ar, Harumi também não parecia muito confiante, mas antes que pudessem sequer pensar a porta de abriu para elas, revelando o cômodo que tanto assustara Chihiro seis anos antes.


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