O rio de flores brancas (A viagem de chihiro) escrita por Spring001


Capítulo 10
Yubaba




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— COMO OUSA APARECER AQUI! – O grito de Yubaba era como sempre estridente e incomodo aos ouvidos – E SEM SER CONVIDADA E AINDA POR CIMA, COM UMA HUMANA.

— Entendo que esteja brava, mas você me deve um favor – Harumi disse enquanto eu me mantinha meio escondida atrás dela, por alguma razão desconhecida, Yubaba não havia me reconhecido – E eu vim cobrar.

Yubaba a olhou com fúria e ódio, esgueirou os olhos pela feiticeira a trucidando mentalmente, já ela parecia nem sequer perceber isso, em algum momento ficaram cara a cara e entraram em um tipo de batalha interior, para alguém que não soubesse da existência de magia elas estavam apenas se encarando, mas Chihiro tinha quase certeza de que mentalmente elas estavam falando uma com a outra, e a certeza absoluta veio quando em algum momento elas pararam de se olhar e Yubaba deu um olhar arrogante junto com um som que era dessa mesma descrição.

— O que tem a falar com meu aprendiz? – Yubaba falou em um tom engraçado, o olhar de Chihiro se fixou em Harumi, estariam falando de Haku.

— Eu tenho quase certeza de que ele sabe algo sobre meu irmão – ela disse – preciso encontrá-lo, se você não sabe onde ele está, talvez ele saiba, mas não é isso que preciso de você, preciso de um quarto por dois dias.

Uma risada forte, aguda e apavorante saiu da garganta de Yubaba, fazendo Chihiro se sobressaltar e até Harumi deu um pequeno passo para trás, mesmo que mantendo a postura de seriedade.

— Bom, eu queria poder ajudar, pode ficar aqui quanto tempo precisar se não me incomodar, mas no momento que partir, meu favor está pago! quanto ao aprendiz, ele já se foi – Yubaba falou - Ele partiu quando uma estúpida humana fez com que ele recordasse seu nome.

— Qual era o nome dele? - Harumi falou inocentemente.

— Por que quer saber? – Yubaba perguntou – E melhor, por que eu te diria?

— Não precisa me dizer o nome real – Ela respondeu – Apenas o que ele usava aqui, será mais fácil de encontra-lo.

— O nome dele era Haku – Yubaba respondeu.

Chihiro respirou fundo e tentou segurar a reação, mas sentiu os olhos se abrindo mais do que deveria, tentou fixar em sua mente que era mais provável que Harumi não estivesse procurando Haku para matá-lo e sim por uma boa razão. Pensou que se Haku tinha partido ele provavelmente não usava mais esse nome, logo não seria tão fácil encontrá-lo. Ela olhou de canto para Harumi e percebeu que a feiticeira parecia pouco intrigada com algo.

— Não acho que vá ajudar muito – Yubaba completou.

Harumi assentiu enquanto observava a feiticeira mais velha.

— E quem é a garota? – Yubaba perguntou.

Ela olhou para Chihiro e Harumi fez o mesmo, parecia ter levado um susto com a pergunta a garota gaguejou na tentativa de responder, mas apenas ruídos saíram de sua boca.

— Minha aprendiz – Ela falou – Ensinarei a ela quando retornar para meu mundo.

Yubaba arqueou as sobrancelhas e se aproximou de Chihiro, ficou quase colada ao rosto dela e depois retornou a sua posição e mandou que fossemos embora. Quando saíram do quarto de Yubaba Chihiro pensou em Boh, olhou para a porta de seu quarto, mas estava fechada, então seguiu Harumi. Ela seguiu por um caminho completamente diferente do que Lin fizera, não foi para o alojamento dos servos e sim para um andar acima.

— Aonde vamos? – Perguntei.

— Para o quarto dos aprendizes – Ela respondeu, mas parecia estar com a mente em outro lugar.

O quarto dos aprendizes, Kohaku deve ter vivido ali, o pensamento lhe tirou completamente daquele lugar, imaginou Haku, imaginou o sonho que tivera há pouco tempo, no momento que as sombras lhe tomaram e tudo ficara tão belo, ele estava com ela a todo momento, mesmo quando ela estava perto de morrer Haku apareceu em sua mente.

— No que está pensando? – Harumi falou, sua voz estava um pouco triste.

— Em nada – Mentiu Chihiro – Só estou cansada.

Harumi sorriu levemente, um sorriso de gentileza, Chihiro queria ter coragem de perguntar a ela por que procurava Haku, como ele poderia saber onde seu irmão estava, se ele sequer tinha encontrado Chihiro.

— Harumi? – A garota falou impulsivamente, e depois de começar não ia parar – Feiticeiros cumprem suas promessas?

— O que? - Ela respondeu com um risinho.

— Quando eu vim aqui – Chihiro continuou – Uma pessoa me fez uma promessa, um feiticeiro, e até hoje ele não cumpriu...

— Chihiro – Harumi disse – Tenha fé nas pessoas, um feiticeiro pode demorar uma vida para cumprir uma promessa, mas se ela for feita de coração, será cumprida.

A garota olhou atentamente para feiticeira, ela olhava apenas para frente, para a escada que subiam lentamente, sorria tristemente, mas fez com que Chihiro retomasse um pouco da alegria que sentiu quando Haku fez a promessa de que se veriam novamente, então ela sorriu, quase de orelha a orelha, como não fazia há muito tempo.

Era uma longa escadaria até o quarto do aprendiz, mas quando chegaram lá podia-se ver o porquê, era um quarto gigantesco com áreas como uma pequena cozinha, o quarto e um tipo de escritório, talvez para trabalhar com os estudos, Chihiro se surpreendera, mas para Harumi parecia comum, então ela foi dormir enquanto Chihiro observava os cantos do quarto.

Era realmente grande, a cozinha estava vazia por exceção de um Onigiri em cima do balcão, deviam estar encantados, não desmontavam, pareciam estar lá a pouco tempo. Próximo a parede havia um relógio cuco, duas da manhã, Chihiro não sentia os olhos pesados ou qualquer sintoma de sono, Harumi já estava dormindo profundamente.

A garota andou até o escritório, haviam muitos livros, tanto nas prateleiras quanto em cima da mesa no centro, um armário de madeira na parede foi o que chamou sua atenção, era encantador, um espelho ficava na porta e quando se aproximou, jurou que podia ver uma paisagem, semelhante a de sua ilusão com as sombras.

“Não pode ser” – Pensou sacudindo a cabeça.

Continuou andando pelo quarto, nele havia uma varanda, se lembrou quando passou a noite observando a paisagem noturna de um grande mar, com Lin ao seu lado, não havia chovido naquele dia, então tudo estava seco, o trem passava deixando apenas os pontos de luz de suas janelas visíveis na escuridão além da cidade onde esteve, em direção á sexta parada e sabia-se lá mais aonde ele iria.

Chihiro fechou os olhos e se lembrou, de cada parada, de cada paisagem que vira naquele trem, tinha entrado nele na esperança de encontrar a salvação para Haku e encontrou muito mais, encontrou um lar, não a casa de Zeniba, mas Kohaku, com seu verdadeiro nome era seu lar.

A garota se sentou na ponta da varanda, com as pernas balançando na altura que estava, sentia como se pudesse voar se pulasse dali, mas ela não era um dragão como Kohaku. Não podia voar.

— Eu queria que você estivesse aqui – Disse a menina em voz alta, sem se recordar que Harumi estava atrás dela, olhou para a guardiã e ela parecia estar dormindo profundamente, então voltou a observar a paisagem e ali ficou, sem pensar em nenhum momento em alguém além de Kohaku.

***

Quando Chihiro acordou, Harumi não estava mais ali, mas tinha deixado uma troca de roupa, algo semelhante a que usara quando trabalhou na casa de banho, mas branca e com faixas verdes. A garota se trocou lentamente, de vez em quando olhando em volta a procura da feiticeira, mas nada. Andou em volta do quarto e pensou em sair e andar pela casa de banhos, mas não podia deixar que os outros a reconhecessem, afinal ela estava salva de Yubaba por isso. Decidiu esperar que Harumi chegasse, foi para cozinha na intenção de preparar algo para comer, mas no balcão havia um onigiri, não o mesmo da noite passada, parecia ter sido preparado há pouco e do lado havia um bilhete e um feitiço como o de antes, que a fazia desaparecer.

“Chihiro, me encontre na ponte. Harumi”

Logo depois de comer o onigiri, pegou o feitiço e saiu com cuidado do recinto, após a longa escadaria, os andares da casa de banho estavam lotados com seus funcionários, apesar do feitiço a garota se sentiu um pouco nervosa, mas lentamente desceu as escadas e os elevadores necessários para chegar a seu destino, a caldeira ainda não estava funcionando, logo Kamaji não devia estar acordado. Foi o mais devagar possível para a sala das caldeiras e Kamaji dormindo serenamente, assim como as fuligens.

Os seus sapatos estavam ao lado da escadinha que levava ao banco de Kamaji, pegou-os e os calçou rapidamente, então devagar ultrapassou a sala e chegou a escadaria externa, percorreu todo o caminho até a ponte, mas Harumi não estava ali. Se manteve, no entanto, parada na ponte por algum tempo, sentido a brisa tocar-lhe a bochecha e lembrando que estivera ali uma vez, a procura de Haku. A cena se repetia de modo um pouco melancólico.

Ao abrir os olhos, olhou o caminho de flores que ultrapassara uma vez, e por algum motivo que não sabia explicar, seguiu este caminho, na esperança de encontrar Harumi. E ela encontrou, estava parada em um tipo de círculo que se formava em meio as flores, estava extremamente concentrada no que fazia, parada no centro do círculo com as mãos em posição, como se estivesse rezando, lentamente ela elevou as mãos nessa mesma posição a cima da cabeça e quando chegou no máximo que podia esticar os braços, abriu-as devagar até chegar com os braços abertos na altura dos ombros e cochichar algo, um feitiço, quando o fez um vento muito forte veio e flores começaram a girar em volta dela, era encantador e mágico, e ela, como se estivesse dançando se posicionava devagar, cada hora de um jeito diferente, girou completamente uma hora e finalizou se sentando de pernas cruzadas, virada de frente para Chihiro, com os olhos fechados. A menina encantada, estava de boca aberta e não conseguiu dizer nada, mas Harumi disse.

— Eu disse a Yubaba que você era minha aprendiz – ela falou suavemente – e gostaria de lhe ensinar o que sei sobre magia, mesmo com os meus poderes fracos agora, há muito que pode aprender. Aceita ser minha aprendiz, Chihiro?


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