Nós estamos juntos escrita por Joana Guerra


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esta é a minha primeira experiência na escrita de fanfiction. Sou portuguesa, por isso peço desde já desculpa se as diferenças na forma de escrita causarem problemas na leitura.

Apenas arrisco esta fanfiction porque Geração Brasil foi um trem tão desgovernado que creio que pior que a trama original não consigo fazer.

A novela não foi emitida em Portugal, mas acompanhei pela internet.



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São Francisco, primavera de 2002

Sandra corria o máximo que os seus saltos de grife permitiam. Nada a deteria. Pelo menos por uma vez, talvez pela primeira e única vez na sua vida, ela corria não por si, mas por uma outra pessoa. O seu filho. Estranho para ela que não se considerava mãe. E no entanto era mãe de um garoto. Vinícius. Não, na realidade ela nunca tinha conseguido ser uma verdadeira mãe para Vinícius. Mas talvez conseguisse naquele momento ser uma mãe para Davi Reis.

Só isso justificava o comportamento dela nesse momento. Ela, Sandra, socialite casada em segundas núpcias com um magnata do petróleo texano. Claro que no Texas ninguém conhecia o seu passado. Como explicar para o seu marido ultraconservador que ela tinha sido casada anteriormente com um homem que tinha sido preso sob a acusação de contrabando? Muito pior, como explicar que ela tinha tido um caso com o sócio do primeiro marido e que desse caso tinha resultado um filho ilegítimo que ela tinha abandonado? A história já era suficientemente decadente mesmo se ela ocultasse que o pai do filho dela era ninguém menos do que o grande poderoso Jonas Marra.

A maior parte da vida Sandra tinha comido o pão que o diabo amassou. Depois da prisão de LED descobriu que estava grávida e viu-se sozinha. Sentia-se culpada quando pensou ser a culpada pela morte de LED. Jonas não a queria ver. Sem dinheiro e sem ter a quem recorrer, não viu outra solução senão entregar o filho a um orfanato da Taquara. Quando voltou para o buscar ele já tinha sido adoptado. A vida de Sandra tinha sido uma sucessão de histórias de horror durante vários anos. Só que ela era uma sobrevivente. Por isso conseguiu ir para os Estados Unidos, onde finalmente teve o seu golpe de sorte um ano antes quando, num restaurante perdido no meio do Texas, conheceu John-John Simmons, poderoso empresário, que, perdendo a sua habitual lucidez, se perdeu de tal forma de amores pela brasileira que rapidamente a tornou na poderosa Mrs Simmons.

Foi como a rica Mrs Simmons que Sandra Schmidt regressou num descargo de consciência ao Brasil e contratou um detective particular para descobrir o que tinha acontecido ao seu filho. Claro que Mr Simmons não podia estar ao corrente da situação. E tinha sido assim que no mês anterior Sandra tinha apanhado o susto da vida dela ao descobrir não só que o seu ex-marido LED afinal estava vivo, mas também que era ele ou o capeta por ele o mentor do seu Vinícius. Que afinal já não se chamava Vinícius, mas sim Davi Reis. Ela achou o seu menino lindo. Como tinha medo de LED (agora chamado Herval) não teve coragem de se aproximar do seu filho, mas visitou a Gambiarra em várias ocasiões e ficou de longe observando Davi.

Davi tinha agora 10 anos. Era pequeno e magro para a idade, com uma juba de cabelo que lhe caía sobre os olhos. Parecia que carregava o peso do mundo sobre os ombros e por detrás dos seus óculos de grau era difícil ver algum brilho nos olhos. Numa das ocasiões em que Sandra o estava observando, Davi estava isolado sentado num murete, tentando furiosamente resolver um cubo de rubik. Mais adiante, um grupo de garotos jogava uma pelada. Um dos garotos mais velhos, um ruivo chamado Vander, jogou a bola na direção de Davi que nem levantou os olhos. Nem um pouco surpreendido com Davi, Vander encolheu os ombros, pegou a bola e continuou a pelada. Passado um momento surgiu Herval, chamando por Davi para o levar para o edifício recém- inaugurado da sua ong: a Plugar.

Sandra sentiu um arrepio a descer pela sua espinha. Quando tinha descoberto que LED era Herval havia pedido ao seu detetive privado para descobrir mais coisas sobre ele. E o que descobriu a deixou sem chão. Aparentemente, Herval perseguia tudo quanto eram informações sobre Jonas Marra, a sua família e a sua empresa. Somando isso ao fato dele procurar ter um papel preponderante na vida de Davi, Sandra não tinha dúvida: Herval queria vingança contra Jonas, o homem que ele considerava culpado por tudo de mal que tinha ocorrido na sua vida e não hesitaria em sacrificar Davi na sua vingança.

Naquele momento Sandra percebeu que acima de tudo teria que proteger Davi e a única pessoa que a poderia ajudar era a mesma pessoa que lhe tinha virado as costas anos antes: Jonas Marra.

Se o seu marido, Mr Simmons, sequer sonhasse com a história dela, ela tinha a certeza de que lhe daria um pé na bunda e a deixaria com uma mão na frente e outra atrás. Marcada por anos de miséria, ela tinha consciência que, pelo menos num primeiro momento, não teria coragem de assumir Davi e o levar com ela. Sabendo que o garoto era bem cuidado pelos tios Rita e Dante, também não se sentia com coragem para os afastar de Davi. Mas acima de tudo tinha que o afastar de Herval antes que fosse tarde demais.

Depois de tomar uma decisão, Sandra regressou aos Estados Unidos e, acobertada pelo nome de Mrs Simmons, conseguiu entrar no edifício da sede da Marra. Claro que conseguir chegar à fala com o grande Jonas Marra era outra questão. Por isso, ela havia fintado os seguranças e corria como se a vida dela dependesse disso pelos corredores secundários do edifício até encontrar a porta que procurava.

E quando finalmente conseguiu encontrar a porta desejada e colocou a mão na maçaneta, respirou fundo e se preparou para encontrar o seu passado.

Jonas ficou sem reacção quando a viu, o que era atípico nele. Ainda que num primeiro momento a quisesse expulsar, num misto de curiosidade e saudosismo a deixou ficar. E foi assim que Sandra contou toda a verdade a Jonas. Ele teve dificuldade em digerir as noticias, principalmente a de que ele, que sempre se considerara estéril era afinal pai de um garoto de 10 anos que nunca tinha visto. Instintivamente, olhou para o porta-fotografias que tinha em cima da secretária. Na foto, uma Pamela sorridente segurava uma Megan Lily de 7 anos que olhava para o fotógrafo com um sorriso sapeca. A sua mulher e a sua filha. Ainda que não fosse sua filha de sangue, a única filha que pensou vir a ter.

Jonas suspirou e combinou com Sandra que, caso comprovasse que a história dela era verdadeira, não fugiria às suas responsabilidades. De momento apenas lhe pedia que mantivesse segredo sobre tudo, condição que ela estava mais do que disposta a cumprir.

Quando ela saiu, Jonas pegou no telefone para ligar para Brian Benson, o seu guru, amigo e por vezes grilo falante. Com os seus contatos não foi difícil a Jonas comprovar toda a história de Sandra em tempo record. Difícil foi, dias depois, contar toda a história a sua esposa Pamela e ao temível Jack, pai de Pamela e patriarca dos Parker. Ainda que Pamela tenha aceitado bem a situação, se mostrando disposta a acolher Davi de braços abertos naquela família pouco usual, Jack colocava entraves por considerar que a opinião pública se poderia voltar conta a Marra se se descobrissem os podres do passado de Jonas.

Jonas concordou em parte, mas não estava disposto a abdicar do filho. O que ele não sabia era se o desejo de ficar com o garoto era altruísta ou uma questão de ego por saber que nele poderia ter um sucessor do seu sangue. A única coisa com que todos concordavam era que Herval deveria ser parado e as crianças preservadas. Sim, porque a nenhum dos adultos tinha passado pela cabeça contar à pequena Megan Lily o que se estava a passar.

Megan Lily Parker Marra era uma criança marrenta, fazendo juz ao sobrenome que o seu pai adoptivo lhe havia dado. Com apenas 7 anos, alta e esguia, estava habituada a ver todos os seus caprichos de princesinha satisfeitos. Todos, excepto o de ter uma família que lhe desse atenção. Talvez por isso fosse tão revoltada e tão pronta a fazer tudo o que fosse preciso para chamar a atenção dos pais, mesmo que isso a tornasse numa possível criminosa em potência.

Escondida atrás da porta, Megan havia escutado toda a conversa dos adultos e, mesmo com o seu conhecimento limitado de português, conseguiu perceber o mais importante: Jonas tinha um filho. Não, ela não tinha um irmão; Jonas é que tinha um filho, um garoto para ocupar o lugar dela. E nesse mesmo instante decidiu que nunca, jamais, em tempo algum gostaria daquele garoto. O que Megan desconhecia aos 7 anos é que a vida dá muitas voltas.

Algumas semanas depois Jonas, acompanhado por Sandra e por uma Pamela que estava sempre atenta ao olho do seu marido que se podia facilmente desviar por um rabo de saia (principalmente se essa saia vinha do seu passado), finalizavam os preparativos para a viagem ao Brasil para conhecerem Davi. Haviam acordado que para Sandra seria a última viagem ao Brasil, porque ela não podia assumir o filho perante o marido. Jonas também o pretendia manter em segredo para a imprensa o máximo de tempo que conseguisse, mas já havia passado da hora de Davi saber quem realmente era. Sentados confortavelmente no jato privado dos Marra, os três olhavam pela janela em silêncio, pensando no quanto a vida deles iria mudar nos próximos dias.

Naquela noite especialmente quente na Gambiarra, Davi estava com dificuldade em adormecer. Irrequieto, virava sem parar na parte superior do beliche, e já tinha levado com uma almofada na cara, atirada por seu primo Matias que tentava conciliar sem sucesso o sono na parte inferior do beliche, por conta dos movimentos absurdos de Davi. Não conseguindo explicar porquê, o pequeno Davi tinha a sensação de que uma tempestade se aproximava.

Algumas horas depois era a vez de uma Megan Lily adormecida ser levada ao colo pelo velho Jack Parker para a sua cama de dossel. Em poucos minutos Megan já havia chegado à terra dos sonhos. Ela estava num prado verdejante num dia de sol e de céu azul. À volta dela voavam borboletas de várias cores e ela esticava os braços para tocar nelas e ria. Ria muito. De repente, ela se encontrou nas margens de um rio largo. Do outro lado, uma figura de um garotinho de olhos apertados que ela não conhecia, mas que lhe parecia familiar. Ela não lhe conseguia distinguir bem as feições, mas se permitiu sorrir e acenar para o garoto que fez o mesmo. E foi assim que Megan dormiu abraçada ao seu peluche favorito, com um sorriso nos lábios.

O que Megan e Davi não sabiam naquele momento é que a roda do destino já tinha começado a rodar e eles estavam destinados a encontrar-se de uma maneira ou de outra.


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Notas finais do capítulo

O fato desse capítulo não ter diálogo foi uma opção para condensar e acelerar esta parte da história. O diálogo irá começar a surgir no momento oportuno. Este capítulo funcionou como forma de introduzir a história, as personagens e tentar redimir uma das 30000 personagens secundárias da novela que teve pouca ou nenhuma função: a Sandra. E aí? Fui muito mal?

Saliento apenas que em nenhum momento desta história Megan e Davi se vão considerar verdadeiramente irmãos, até porque objectivamente eles não o são. (esse drama eu deixo para a novela mais recente de Isabelle)

Ainda não tenho bem definida a forma como quero conduzir esta história, pelo que todos os comentários e sugestões serão muito bem-vindos. Viúvas de Humbelle, é favor manifestarem-se!