2 horas e meia. Esse era o tempo que eu tinha até Heitor bater na minha porta de novo.

Seria bom senhorita Jessie? O que aconteceu com "não nutra nenhum sentimento por ele?" An? Vai se arrepender. Burra! Burra! Burra!

Esse era o meu cérebro brigando comigo. Mas o que é que poderia sair errado? Quer dizer, eu não estava me apaixonando por ele de qualquer jeito.

Olhei em volta e lá estava ele: o sofá! Acho que não posso reclamar muito, por mais que não estivesse conformada com a situação, o maluco do raio sabia como agradar um filho.

Joguei minha bolsa no chão e o som metálico das armas lá dentro soou mais tenebroso do que o normal. Estirei-me no sofá como um boneco de pano, em cima da mesa de centro um bilhete dourado reluzia.

– É - comentei sozinha - Parece mesmo que eu ganhei na loteria.

Estiquei-me o máximo que pude pra pegar o bilhete (eu não ia levantar daquele sofá nem por 300 daqueles bilhetes).

Pequeno presente para a filha do deus grande. Aproveite.

Zeus.

– Obrigado Zeus - disse em voz alta - Obrigado mesmo.

Eu não sabia até que ponto esse lugar estava protegido, mas julgando que ninguém nunca o havia encontrado nem mesmo no mapa eu estaria, até certo ponto, segura.

Mas velhos hábitos nunca morrem. Coloquei sal em todas as brechas que encontrei; arrastei um tapete até a entrada para cobrir a minha mais nova armadilha do diabo desenhada com spray no chão; entalhei alguns símbolos de proteção na pedra da porta. Acho que é suficiente por enquanto.

Nessa brincadeira perdi uma hora. Quais os planos para agora? Ah sim, banho! E deixar de parecer uma mendiga.

O banheiro era tão divino quanto o resto do chalé. Demorei meia hora no banho (aquela banheira era demais), quando parei em frente ao espelho entrei em crise de identidade.

– Tempo novo na sua vida Jessie - encorajei-me - Hora de mudanças.

Com uma navalha que encontrei no banheiro desfiei todo o meu cabelo, em poucas navalhadas eu tinha um cabelo com movimento e uma franja lateral.

Eu odiava franjas, mas mudanças são mudanças não é?

Com o secador pude ver o resultado final da navalha. Não estava tão ruim, os fios estavam mais macios e vivos, o loiro escuro seguia perfeitamente o degrade até encontrar com as pontas acinzentadas do cabelo, o cumprimento não passava de muito mais que a altura dos ombros.

O corte na maçã direita do rosto provinda do meu último feito agora não passava de uma leve marca. Olha! Eu já parecia saudável.

Fui até o quarto procurar o que vestir, sorri quando encontrei uma cama box gigantesca e em cima dela uma camiseta laranja e um jeans perfeitamente dobrados.

O jeans caiu como uma luva, mas estava certinha demais. Com a mesma navalha que consertou meu cabelo desgastei a calça até rasgar em alguns pontos.

– Perfeito.

A camisa laranja com o emblema do acampamento ( Meio Sangue, só descobri isso agora) ficou mais larga, perfeita pra esconder uma arma em baixo dela.

Minhas armas, certo! Preciso de um... Ah, exatamente isso. Um baú. Escondi minha adaga angelical num lado da calça e no outro minha arma acomodou-se. O resto dos equipamentos ficaram guardados dentro do baú, onde (claro) entalhei um pentagrama. Empurrei o baú (cara como ficou pesado) até encaixa-lo dentro do armário no corredor.

Checando a lista:

Proteção do chalé v

Banho v

Cabelo v

Roupas v

Armas v

Sapatos...

Claro, sapatos. Minhas botas coturno ainda estavam em bom estado, a não ser pelos desgastes na lateral e pelo zíper faltando... Acho que nem tudo pode mudar não é?

Dei uma última checada no espelho.

– Diva do Nilo - sorri pra mim.

Lembrete : criar piadinhas gregas.

Estirei-me no sofá novamente, deuses como ele era gostoso. Olhei para o teto infinito e a sensação de que ele estava esperando para ser preenchido encontrou-me novamente.

– O céu obedece aos filhos de Zeus.