A Arma do Olimpo escrita por Ane Caroline


Capítulo 5
Capítulo 5




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Ah que dor de cabeça terrível. E que sonho mais estranho.

Era o bar do Jhon, eu estava tomando meu whisky de sempre e haviam outros caçadores por lá. Era a minha família.

Eu me tornei caçadora por necessidade, ninguém me deu opção. A vida não me olhou nos olhos e disse: “Olha, se você for caçadora vai perder a maior parte da sua vida, nunca mais vai ver sua família, vai ficar sabendo de coisas que não vão te deixar dormir. Então, agora você pode escolher: você quer ou não esse caminho?”. Foi mais pra tipo: “Ei, vou tirar a sua família de você, vou te deixar sem dinheiro, ninguém da tua família vai ficar contigo, você vai ser criada num orfanato horrível, os Millers (caçadores) vão te adotar e ensinar o oficio da família, vai sofrer tudo e não terá direito de reclamar falou?”. E foi assim, eu apenas acatei e pronto. O que mais eu poderia fazer?

A visão que eu tinha era doce, linda... Era uma boa lembrança. Íamos ao bar do Jhon para comemorar o sucesso de nossas caçadas. Eu adorava isso porque era um dos poucos momentos em que se poderia dizer que estava tudo bem. A lembrança era tão real que o gosto de whisky me acendia o paladar.

As coisas para mim não poderiam ser completamente boas. Essa doce lembrança se dissolveu na pior das memórias. Havia muito sangue, gritos e tiros por toda parte. Foi o dia em que um ninho de vampiros nos acharam... Vi meus pais morrem pela segunda vez. Perdi mais amigos morrendo em um minuto do que eu já vira em toda a minha vida. Eu estava lutando, matando cada vampiro com tanta vingança nos olhos que mal podia me reconhecer; a sensação era tão real, a adrenalina corria por minhas veias e carregava toda raiva com ela.

Minha faca escorria sangue em minhas mãos. Eu grite. Queria que olhassem para mim enquanto separava suas cabeças de seus corpos, eu acabaria com cada um deles.

– Aaaaaaaaaaaaah – levantei gritando.

Respirei tão rápido que meus pulmões doíam.

– Ei ei ei, calma... Está tudo bem – disse-me uma voz familiar.

Olhei em volta e reparei que estava em uma espécie de ala hospitalar.

– É só a enfermaria – explicou-me a voz. Pude reconhecer, era Heitor.

– Eu... Eu... – passei as mãos sobre o rosto para me recompor.

Encolhi-me ao passar a mão pela maçã do rosto. Doía muito. Ah sim, o jogo, a luta, minha vitória/acesso de dor.

– Como está se sentindo? – perguntou-me ele. Vi a preocupação em seus olhos azuis como o céu.

– Acho que... Até que bem na verdade – forcei um sorriso ao sentar-me na maca (pelo menos eu achava que era uma maca).

– Quem é Jhon?

– Como? – perguntei confusa.

– Me desculpe, é que você fala enquanto dorme e falou nesse tal de Jhon e um bar – ele ficou vermelho – Me desculpe, eu não deveria ter perguntado.

– Não, tá tudo bem. Sério – sorri solidária – É só um bar aonde meus pais iam comigo pra comemorar ca... Coisas boas.

– Ah sim. Mas você pareceu preocupada. Começou a gritar e espernear... Eu tentei te acordar, mas você parecia tão envolvida com tudo...

– Foi só um sonho ruim – o interrompi – Eu juro.

– Eu acredito em você– ele sorriu – Grande luta.

– Obrigada, mas não sei não. No final eu fui parar no chão e...

– Você não se lembra, não é?

– Não de verdade.

– Você foi reclamada – ele segurou minha mão – Quer dizer, não é comum o que aconteceu com você, mas... Foi incrível.

Minha expressão continuou confusa do mesmo jeito. Senti meu rosto queimar quando ele segurou a minha mão, eu estava MUITO vermelha.

Ele girou minha mão – Muito bem filha do deus grande – passou a mão sobre meu pulso e surpresa! Havia um raio tatuado nele – Zeus te reclamou, e mais do que isso ele te marcou. Como os romanos.

Puxei minha mão e segurei contra o meu corpo. Encolhi-me de novo.

– Não, não... Está errado. Muito errado. Tudo isso é um engano – levantei atordoada – Não. Eu nem deveria estar aqui, eu preciso – fiquei fraca. Meu corpo não aguentou e eu caí.

Quase caí. Heitor estava do meu lado e me segurou, com aqueles braços...

– Vai com calma campeã– disse ele me colocando sobre a maca de novo – Você ainda está fraca. Eu sei que é coisa demais para processar, mas você tem que manter a razão.

– Você não entende...

– Então me explique! – disse ele me segurando pelos braços.

Eu o encarei por um instante. Os olhos azuis tão preocupados, era como se ele me conhecesse há muito tempo.

– O que há com os seus olhos? – perguntou-me ele.

– Nada, eu acho.

– Como assim? Há dois segundos eles estavam azuis e agora estão... Pretos?!

– Não, isso é...

Um raio me interrompeu e me fez pular de susto.

– Parece que seu pai não esta muito feliz – Heitor revirou os olhos.

– Escuta aqui – me alterei – Esse cara, deus ou seja lá o que for, NÃO é meu pai. Meu pai chamava-se Peter Millers e morreu há três anos.

– Sinto muito – ele abaixou a cabeça.

– Não, não sente. Não quero a sua piedade! Meu pai viveu e morreu como um herói.

– O que há de errado com você garota? - seus olhos me fuzilaram.

– O que tem de errado comigo? – ri histérica – Vocês são a liga da justiça do Olimpo e tem algo de errado comigo?

– Muito cuidado com o que você diz – disse ele ficando claramente irritado – Acha que pode vir aqui, se colocar sobre um pedestal e exigir que todos nos calemos diante de vossa excelentíssima senhoria? – ele riu irônico –“A liga da justiça” aqui te salvou duas vezes. DUAS vezes. Então acho bom você entender que isso aqui não é uma brincadeira do jardim de infância.

Fiquei estática. 30 segundos sem reação apenas observando as veias que saltavam desde os seus braços até a extensão do seu pescoço. Encarávamo-nos em lados opostos do quarto.

Pude sentir o fervor nas suas palavras, ele estava defendendo seu lar com unhas e dentes, como eu costumava fazer.

O silêncio foi irrompido por “Welcome To The Jungle” vindo do meu celular. Minha bolsa estava ao lado da maca – pequenos segundos de alívio.


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