A Arma do Olimpo escrita por Ane Caroline


Capítulo 2
Capítulo 2




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Quando entramos na casa havia adolescentes lá dentro, em volta de uma mesa redonda, quase como aqueles conselhos de guerra que se vê em filmes antigos. Alguns vestiam armaduras gregas, como o filme Sparta, e o restante deles vestiam uma camisa laranjada com a logo do acampamento estampada. (ao menos a história sobre o acampamento não era mentira).

– O conselho eu presumo – disse eu.

– Isso mesmo – sorriu Quíron– Bem, você apenas apareceu aqui, ninguém sabe de onde e ainda não foi reclamada, então...

– Precisam saber se eu não sou uma ameaça – eu completei.

– Precisamos saber quem você é, apenas isso querida.

A voz dele era tranquilizadora, harmoniosa e pacífica. Perguntei-me porque ele me parecia tão familiar.

– Sente-se ali – ele me indicou uma cadeira vazia na mesa redonda – Não se preocupe, são apenas algumas perguntinhas.

Fitei o lugar e pensei na situação por alguns instantes. Eu chegara até ali e não havia volta. Sentei-me na cadeira indicada. A minha direita o tal do Percy, a minha esquerda um menino de pele cara e cabelos escuros como a noite, mais tarde fui saber que seu nome era Nico.

– É a cadeira de Zeus, o lugar de Thalia – reclamou Annabeth.

– Se acalme filha de Atena – esbravejou um menino dos olhos verdes – É apenas por agora.

– Ótimo – ela revirou os olhos.

– Alguém aqui esta com ciúmes– disse uma menina com armadura e olhos vermelhos.

– Já chega – disse Quíron– Vamos voltar a nossa não reclamada. Conheçam a semideusa Jessie, an... – ele olhou para mim.

– Millers – completei.

– Millers – ele repetiu – Jessie Millers. Ela apareceu aqui hoje e ninguém sabe de onde veio, então só posso presumir que seja um presente dos deuses. Uma heroína!

– Ainda não reclamada – disse um homem ao entrar na sala.

Tinha o cabelo encaracolado, loiro e parecia bem despreocupado.

– Olá pirralhos – ele cumprimentou os jovens na mesa – Este presente dos deuses ainda não foi reclamado, espero que não esteja aqui com outros objetivos senhorita – ele me fitou – Ou com toda certeza do Olimpo você não sairá nem viva deste acampamento.

Se era medo que ele queria me causar, bem, o cacho de uva em seu cabelo acabou com todas as suas expectativas.

– Vamos esperar a caça bandeira de hoje à noite – disse Percy– Ela provavelmente será reclamada. Os deuses juraram pelo Rio Estige.

– Então ela será do seu time Jackson Perdedor – disse a menina de armadura e olhos vermelhos – Bom jogo – ela riu.

– Voltem para as suas atividades garotos, e preparem-se! – o cara do cacho de uva sorriu – Ela é responsabilidade sua Annabeth.

– O quê?

– Ande garota, tenho que ter uma conversa com Quíron.

– Isso não é justo! – disse Annabeth cruzando os braços – Não é mais meu dever.

– Vamos Annabeth, não vai ser tão ruim – Percy sorriu solidário.

– Tudo bem – ela finalmente assentiu – Vamos logo garota – acenou pra mim.

– E ah, faça aquelas perguntas a ela e me traga um relatório –cachos de uva quase cuspiu as palavras – Precisamos saber de onde ela veio e o que faz aqui.

Annabeth apenas concordou, ela não estava feliz por ser minha babá. Argh, garota insuportável, quantos anos ela tinha? 4? Por favor.

O conselho se desfez e cada um foi para um canto, a garota de olhos de fogo saiu sarcástica, feliz pelo final. Algo me dizia que ela não era muito fã desse tal de Percy.

Annabeth me puxou pelo braço e eu tirei as mãos dela de cima de mim na mesma hora – Desculpe – me apressei – Apenas reflexos.

Fomos dar uma volta pelo acampamento, eles estavam me mostrando todas as alas e o que se faziam ali, com uma propaganda positiva atrás da outra, tive a impressão de que eles queriam que eu me juntasse à ordem deles ou algo do tipo. Annabeth foi melhorando seu humor durante o passeio. Paramos a beira de um lago interessante, havia umas meninas no fundo do lago... Espíritos vingativos de um afogamento! Uma corrente de adrenalina percorreu minha espinha. Mais tarde fui saber que eram apenas Náiades.

– Então, Jessie não é? – disse Percy

Apenas concordei em silêncio.

– E o que você faz? – ele disse franzindo o cenho.

– Eu caço – droga, falei demais.

– Caça? – perguntou Annabeth. Era a primeira vez que ela abrira a boca pra falar comigo – Tipo matar animais, atirar em pratos e coisas assim?

– É – menti – Animais, para colecionadores.

– É uma caçadora? – perguntou Percy.

– De certa forma – sorri de lado lembrando-me do que realmente faço.

– Ártemis – eles disseram juntos.

– Desculpa, o quê? – perguntei sem jeito.

– Sua mãe. É que estamos tentando descobrir de quem você é filha – disse Annabeth um pouco mais carinhosa.

– Minha mãe? Ah sinto em acabar com as suas expectativas, mas meus pais morreram há um bom tempo – disse eu num tom até natural.

– Eu sinto muito... – começou Percy.

– Olha, só tem dois motivos pra você poder ultrapassar as fronteiras do acampamento– interrompeu Annabeth como a minha professora do 1º grau – Ou você é um monstro ou uma semideusa. Monstro nós já sabemos que você não é, então...

– Tenho que ter um pai olimpiano – eu completei pasma.

Com assim? Eu, filha de um deus? Isso não é natural... Então agora eu sou aquilo que eu caço? Como...

– Isso – assentiu Percy– Eu sou filho de Poseidon – ele sorriu.

– E eu sou filha de Atena, irmã de Dédalo.

– Isso não pode ser verdade, quero dizer, eu não sei... Talvez seja um engano e eu tenha dado sorte de cair aqui.

Annabeth deu de ombros – Quem sabe não é? Mas de uma coisa pode ter certeza, você tem sangue olimpiano. Conseguiu colocar uma faca no pescoço do Percy, nosso melhor espadachim – disse ela quase como uma risadinha. Ela estava zombando do Percy.

Não me contive, um sorriso aguado saiu de mim, no canto, muito tímido.

– Obrigada, eu acho – disse eu.

Os dois riram.

– Você luta bem, só pode ser Ártemis – disse Annabeth– E além do mais é uma caçadora.

– De onde você é? – perguntou-me Percy realmente interessado.

– De lugar nenhum – disse eu, me senti na obrigação de ser sincera com eles –Na verdade eu não sei direito, passei minha vida toda, desde que posso me lembrar, caçando.

– Agora você tem um lar – sorriu-me ele solidário.

– Como você veio parar aqui? – perguntou Annabeth.

– Desde que fiz um check-in num hotel no Kansas, não me lembro de mais nada.

– Bom – disse Percy– E enquanto essa sua faca? Ela tem umas gravuras estranhas.

Olhei para a minha faca e todos os símbolos nela marcados. Armadilhas do diabo, símbolos enoquianos, eu a havia “ganho” de outro caçador.

– É apenas uma faca que eu ganhei de presente, de um outro caçador – disse eu – Escute, por um acaso não tem uma mochila minha por aqui? Eu me lembro de estar com ela e...

– Nós a colocamos na Casa Grande – disse-me Annabeth - Bem, não a abrimos, mas o fato de você ser uma caçadora explica o barulho metálico que ela tinha. Arco e flecha eu presumo.

– Arco e flecha – menti aliviada –Sim, para... Caça.

– Jessie, nós temos que nos arrumar tudo para a caça à bandeira, se você quiser vir conosco...

– Se não se importam – interrompi – Gostaria de voltar a Casa Grande para pegar minhas coisas.

– Acho que não tem problema – disse Annabeth – Sabe voltar a casa?

– Sim, sei sim.

– Tudo bem então – disse Percy – E ah, não se preocupe com Dionísio, ele é assim com todo mundo.

– O cara do cacho de uva? – disse eu atônita –É o deus do vinho?

– Sim, e diretor deste acampamento – disse Annabeth – Ele não gostou muito de você, mas não ligue, ele não gosta de ninguém.

– An, obrigada por avisar... Eu acho.

– Não tem de quê. Agora nós realmente precisamos ir arrumar as coisas – completou Annabeth – Encontre-nos no refeitório daqui uma hora, assim jantamos e te damos algumas dicas.

Apenas assenti, ela acenou pra mim, segurou a mão do Percy carinhosamente e saíram andando para o campo de esgrimistas como o casal mais feliz da novela das seis. Quase vomitei de tanta fofura, alguém pode, por favor, contar pra eles que toda essa coisa de amor e casalzinho é uma história para crianças iludidas?

Dei de ombros, o problema não era meu mesmo. Caminhei de volta a Casa Grande, pelo caminho encontrei aqueles chalés estranhos, e agora sabia que eram chalés separados e dedicados para cada deus diferente, e que o chalé de Zeus era o único “abandonado”. Percy me disse que era por causa de um pacto entre os três grandes e falou sobre uma história de um roubo de raio, retorno de Cronos e toda uma baboseira que mais parecia ter saído do livro de Alice no País das Maravilhas. CHA-TO . A cada passo observava o máximo de detalhes possível, procurava alguma coisa que me explicasse toda essa loucura de acampamento, quer dizer, eu filha de um deus? Muita piada pra um dia só.

Quando cheguei à casa grande ouvi alguns gritos que pareciam uma discussão, duas vozes me eram familiares: Quíron e Dioníso. Havia outras vozes, tanto femininas quanto masculinas, elas discutiam muito; andei sorrateiramente até a sala com a mesa redonda em que eu havia visto “o conselho” mais cedo, lá encontrei Quíron e Dionísio discutindo com uma... Nuvem? Essa nuvem refletia um lugar grande... Uma sala grande! Haviam cadeiras dispostas como tronos e algumas pessoas sentadas neles. Eles discutiam sobre alguma arma imortal ou coisa assim, o cara de cabelos grisalhos que se sentava ao meio parecia ser o “atacado”, presumi que os outros estavam querendo que ele fizesse alguma coisa que ele não queria.

– Você jurou ao menino pelo Rio Estige – disse uma mulher assustadoramente parecida com Annabeth.

– Vai ter que fazer isso – riu o cara de camisa havaiana. Ele tinha os olhos como os de... Percy?

– Tudo bem – disse o cara de cabelos grisalhos – Eu reclamarei a arma esta noite, depois da caça a bandeira. Quero uma reclamação triunfal a minha, an... Filha – completou quase cuspindo a palavra “filha”.

Quíron abafou um riso.

– Então será assim – disse Dionísio revirando os olhos –O Olimpo vai mesmo reclamar aquela aberração? Ah pelo amor dos deuses, vocês estão loucos.

– Cuidado com as palavras deus do vinho – disse o cara com olhos de Percy – Você deverá respeito a ela.

– Já entendi Oh Poderoso rei dos Mares, vou jantar logo, não quero perder nenhuma parte do show triunfal de hoje à noite – disse Dionísio sarcástico.

– Eu cuidarei dela – completou Quíron –Me certificarei pessoalmente de que ela receberá orientações adequadas dentro do acampamento.

O cara de cabelos grisalhos assentiu e passou a mão pela nuvem para... Dissolve-la? OK, tudo nesse lugar é assustadoramente estranho demais. Dionísio e Quíron estavam para sair da sala, dei alguns passos para trás como se estivesse entrando na casa e topei “sem querer” com eles.

– Bessie! – cumprimentou-me Dionísio.

Levei dois segundos para processar – Jessie – o corrigi.

– Tanto faz – disse-me ele – O que faz aqui Jessica?

– Vim buscar minha bolsa – respondi de prontidão – Percy e Annabeth me disseram que a trouxeram para cá e... Bem, eles tinham que organizar a caça a bandeira, então não quis incomodá-los.

– Esta no 2º quarto a esquerda querida – sorriu-me Quíron – Íamos hospedá-la lá, mas acho que não precisaremos.

– An, tudo bem... Eu acho. Posso pegá-la?

– Claro que pode menina – disse Quíron me abrindo caminho – O jantar será servido em 30 min. Por favor, não se atrase ou terá que lavar os pratos. Regras do acampamento.

Apenas assenti e me dirigi ao quarto. Pude escutar alguns cochichos entre Dionísio e Quíron, algo com: “os deuses estão loucos”. Abri a porta e avistei minha mochila em cima da cama, respirei aliviada, corri para abri-la e conferir minhas coisas. Winchesters, água benta, sal, rituais, saquinhos de bruxa, sprays, óleo sagrado, espada angelical... Tudo aqui! Sorri como uma menina que acaba de entrar na Disneylândia pela primeira vez. Coloquei minha mochila nas costas, olhei o quarto a minha volta... Uma cama simples com lençóis que combinavam com a parede cor de pastel, um pequeno criado mudo, um armário menor ainda... Nada de extraordinário.


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