One Night Stand escrita por Madame Bjorgman


Capítulo 1
Waiting for something...


Notas iniciais do capítulo

Oláá a todas(os) as(os) Frozen Lovers!!!! ♥ :3
Meu Deus! Quantas saudades eu tinha de todas(os) vocês! *---*
Eu peço um milhão de desculpas por todo este tempo em que me encontrei ausente... o karma andou a perseguir-me durante uns bons meses, levando consigo todas as minhas ideias para continuar a "Amar-te em Segredo", foi um tempo bastante doloroso... :(
Mas felizmente recuperei a minha bendita inspiração e voltei a escrever! Para vos compensar de todo este tempo sem capítulo algum eu decidi desenvolver duas Oneshots, uma de Kristanna e outra de Helsa ♥
Decidi publicar primeiro a de Kristanna porque é a mais simples em termos de conteúdo, a de Helsa virá a seguir, que requer algum cuidado no seu desenvolvimento, dado que envolve acontecimentos históricos e aborda um ambiente bem mais complexo.
No que toca à Kristanna eu tinha a intenção de fazer dela uma Oneshot, mas o capítulo ficou tão longo que eu tive medo de que se tornasse demasiado tedioso para vocês, provocando desinteresse. Por isso eu dividi o capítulo em 2, passando a ser uma Twoshot. Espero que vocês não se importem... ^-^
Bem, não vos irei deter mais my dears :3

Espero que gostem e desejo-vos uma boa leitura ♥ ^_^



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~ Londres - 18:25h - Blue Velvet Bar ~

Com alguma incredulidade espontânea, Anna tentava compreender a verdadeira razão que a levava a estar ali, à espera de algo desconhecido naquela noite.

Assim que chegou não hesitou em pedir a sua mesa predileta, a número 9, que jazia no espaço mais acolhedor e discreto do bar. Quem a escolhe-se era presenteado pela visão de uma janela simples e ampla do lado esquerdo, de onde se vislumbrava silhuetas apressadas ao ritmo da chuva insistente que caía sob a rua. Para além disso, tinha a vantagem de possibilitar a quem se sentasse nela de ter uma perspectiva completa de todas as outras mesas, do pequeno palco ao fundo e de ver quem saía ou entrava no bar.

Apesar das suas boas condições era uma mesa pouco solicitada, já que a maioria dos clientes preferia ficar mesmo junto ao palco ou do balcão. Mas para Anna era a mesa perfeita, isolada de grande parte dos olhares alheios.

Num deslize vagaroso levou o copo meio cheio ao lábios, não conseguindo evitar que uma leve careta lhe levasse a contorcer as feições do rosto assim que o álcool passou através da sua garganta, claramente pouco habituada à bebida, e os seus olhos lacrimejassem. Por alguma razão inexplicável a vida de Anna tinha-se convertido numa rotina viciante, que com o tempo foi-se tornando soturna e sufocante.

No entanto, a sua consciência dizia-lhe que não havia motivos realmente plausíveis para se sentir desta forma depressiva. Sabia que tinha conseguido conquistar a sua independência, sentia-se bem sucedida profissionalmente, ocupando um cargo de merecido destaque numa das redações da Vogue inglesa, tinha conseguido comprar o seu próprio apartamento no centro de Londres, muito dinheiro para gastar nas suas vontades e um gato Scottish Fold de nome Louis que era a luz dos seus olhos.

Mas como seria possível sentir-se tão vazia? Porque dava por si a suspirar com uma tremenda sensação de se sentir incompleta?!

Era exactamente isto que se desenrolava na vida de Anna, uma monotonia sem precedentes que a aborrecia de morte e que a conduzia a verdadeiros anseios de

viver, experienciar algo completamente novo e inesperado, só para que todo aquele vazio acabasse e a sensação desconfortável de algo faltar desaparece-se...

Deve-se dizer que não seriam especialmente necessários meios estrondosos para conseguir alcançar este fim, bastaria apenas uma boa dose de coragem e a indiferença de deixar o conforto da rotina... infelizmente, era precisamente esse o problema de Anna.

Por mais que lamentasse a inércia destes dias, era-lhe praticamente impossível libertar-se daquela regra rígida a que se tinha submetido: "De sempre colocar em primeiro lugar o Dever.", embora quisesse ignorar, a sua mente dizia-lhe que o grande responsável por isto era efectivamente o seu trabalho. Um cargo importante tinha as suas consequências, Anna via o tempo em que se poderia dedicar a si própria bastante reduzido. Quantas vezes não tinha sacrificado madrugadas pelo bem de artigos indispensáveis?

Estes deveriam ficar prontos a tempo de serem colocados na última página de cada edição, onde lhe era reservado um espaço inteiro. Expunha naquelas linhas aquilo em que acreditava, pensamentos livres e feministas, empanturrados de dicas e conselhos que poderiam inspirar a vida de milhares de mulheres de todo o país, levando-as a transformar as suas vidas para algo melhor... ironicamente, a autora era a única que não seguia os seus próprios conselhos.

Mas ali estava ela, sozinha e sentada na mesa de um bar, desafiando esta mesma regra a que se tinha subjugado durante tanto tempo, decidindo ignora-la deliberadamente e por se permitir, finalmente, a algo que estava completamente fora dos seus hábitos...

~ 11h antes... ~

Anna levantou-se da cama mais do que aborrecida, estava tremendamente mortificada e por isso sucumbiu a uma queixa efémera que lhe escapou involuntáriamente dos lábios.

- Por favor... que não sejam já 8 horas.

Mas o despertador, terrível na sua pontualidade, não se comoveu.

Quantas manhãs como aquela iriam acontecer? Anna levou de encontro ao rosto os lençóis e suspirou ruidosamente, como se sentia crónicamente entediada com a sua vida... Percebendo que faltavam as forças suficientes para a fazer erguer-se sob o leito deixou-se ficar, completamente imóvel, apreciando com deleite como lhe sabiam bem aqueles segundos em que nada fazia.

Subitamente o corpo felpudo de Louis invadiu-lhe a cama. Talvez fosse a sua forma de se mostrar solidário com a dona e ofereceu-lhe, à sua maneira, um consolo breve. Por uns minutos Anna conseguiu esquecer a sua condição, mas a má vontade

era persistente. Esta manifestou-se assim que se viu entregue às tarefas matinais, enquanto a sua consciência a despertava para as obrigações que a esperavam. O Dever, sempre o Dever... era necessário preparar-se para enfrentar mais um dia estafante na redação.

Sabia que hoje o esforço para sorrir teria que ser muito maior, de alguma forma tentar passar aquela imagem falsa de se encontrar bem disposta quando na realidade era o oposto, o dia hoje iria ser dificil de passar...

Anna mordiscou com pouca vontade uma das torradas que tinha feito para o seu pequeno-almoço e apenas deu dois goles no chá de frutos silvestres que tinha acabado de preparar. O seu olhar voltou-se a prender na silhueta gorducha de Louis em cima de um banco, que a encarava com os seus olhos azuis grandes e expressivos. Nem aquela ternura felina nem o odor convidativo da efusão fumegante poderia aplacar por inteiro a sensação de a sua vida estar terrívelmente vazia e chata... Subitamente, uma música repentina e muito alta irrompeu pela cozinha, arrancando-a dos seus pensamentos. A princípio sentiu-se confusa mas rapidamente apercebeu-se de que se tratava do seu smartphone. Com alguma irritação mal disfarçada olhou na direcção do aparelho e questionou-se quem seria que tinha tido aquela ideia brilhante de lhe telefonar tão cedo.

Incorreu-lhe pelo espírito a tentação de ignorar, mas após alguns segundos não conseguiu deter a sua curiosidade. Com um longo suspiro atravessou a pequena distância que a separava do smartphone e assim que conseguiu alcançá-lo, ao vislumbrar o nome no ecrã, não se admirou por ver quem lhe ligava.

- Neste momento pergunto-me qual será a grande razão de te dares ao trabalho de ligar tão cedo. - Resmungou Anna. - Espero que não tenhas caído da cama e batido com a cabeça em algum lugar que para outras pessoas seria improvável...

- Bom dia também para ti, Anna! - Respondeu uma voz feminina do outro lado. - É bom saber que te encontro tão bem disposta pela manhã.

A voz feminina não esperou que Anna respondesse a esta ironia intensionalmente simulada. Depois de pigarrear um pouco, tomou um tom mais sério.

- Eu peço desculpa por estar a ligar-te tão cedo, mas achei que seria melhor interromper o teu sono para te contar isto, em vez de descobrires por ti própria quando chegasses hoje à redação...

O espírito de Anna sofreu um forte estremecimento assim que ouviu o tom com que estas palavras tinham sido pronunciadas. Era demasiado óbvio de que se poderia tratar de algo que não iria cair nas suas boas graças.

- O que queres dizer com isso? Antes que eu descubra por mim própria?!

- Bem, - hesitou a voz. - parece que a nossa chefe quer que desenvolvas um artigo exclusivo, um artigo que tenha a magia de chamar a atenção de todas as nossas leitoras e as faça correr aos quiosques como loucas.

A impaciência nasceu e começou a crescer no interior de Anna, detestava com grande sinceridade aquela forma de rodear qualquer assunto com meias palavras.

- Vamos lá Victoria, diz de uma vez o que queres que eu deva saber...

Victoria, o nome a quem pertencia esta voz, tinha-se tornado com o tempo na melhor amiga de Anna. Conheceu-a na redação, numa época em que ainda começava a dar os primeiros passos na sua carreira profissional.

Era dois anos mais velha, de estatura média, magra e elegante, sempre orgulhosa dos seus cabelos avermelhados, mas com um temperamento afectuoso e alegre. Foi Victoria quem orientou e ensinou Anna naquilo que era esperado que ela soubesse fazer com a melhor das competências na redação e esse gesto foi talvez o suficiente para que se lançasse a base para uma boa e profunda amizade entre as duas, que depressa se desenvolveu...

A hesitação de Victoria finalmente quebrou-se e de um só fôlego disse-lhe tudo o que havia para dizer, sem ocultar nada.

- O artigo é sobre relacionamentos. Ela quer que escrevas sobre todos os possíveis segredos que existem para uma relação funcionar, um certo número de conselhos, algumas dicas...

- Resumindo, - interrompeu Anna, sentindo um nó formar-se na garganta. - tenho que falar sobre... o amor.

Anna fechou os olhos com força e deixou-se ficar assim. Apoiou-se com uma das mãos sob a superfície de mármore rosado do balcão da cozinha e tentou regular a respiração. Uma náusea súbita tomou conta de si em segundos.
O vazio que vinha sentido a já bastante tempo agravou-se abruptamente, o seu peso pareceu-lhe muito maior, mais fundo, aumentando vertiginosamente, deixando-a tonta e angústiada. Por momentos não foi capaz de responder, nem mesmo para protestar contra esta ideia da sua superiora.

- Estás bem? - Perguntou Victoria do outro lado da linha.

- Sim... eu estou bem. Não te preocupes. - Respondeu, tentando ocultar a forma como a sua voz parecia agora alterada.

- Tens a certeza? - Hesitou Victoria. Tinha-lhe parecido que Anna não lhe dizia a verdade.

- Sim, tenho. - Insistiu. - Depois falamos no trabalho, até já.

Anna desligou.

Agitada, com mãos trémulas e muito pálida largou o smartphone com brusquidão. Como poderia escrever um artigo sobre relacionamentos? Isso era algo que estava muito para além das suas capacidades, não intelectuais mas sim sentimentais.

Depois de tudo o que já tinha vivido sabia admitir que o amor para ela tinha-se convertido, da pior maneira, no seu principal e único ponto fraco...

No entanto, este poderia ser um artigo crucial que lhe permitiria dar uma maior consistência no que tocava à sua posição na redação, talvez maior credibilidade ao seu trabalho. Mas as suas memórias do passado, aquelas recordações infelizes... ao sentir-se invadida por elas Anna perdia toda aquela linha racional das vantagens profissionais que poderia ter e deixava-se vencer pela negação convicta a que a sua sensibilidade sentimental a subjugava.
Anna levou as mãos ao rosto e suspirou ruidosamente, não o iria fazer.
Mas como conseguiria explicar à sua chefe que não ia aceitar aquele artigo?

Anna ainda não tinha saído de casa e já se tinha convencido plenamente de que este seria um dos seus piores dias de sempre.

~ 1h mais tarde... ~

Victoria observou com um olhar discreto, mas visivelmente preocupado. A expressão do seu rosto mostrava que procurava encontrar as palavras certas para dizer, assim que a oportunidade certa surgisse, mas até agora ainda não tinha sido bem sucedida. Sabia algumas pequenas partes da história que tornara Anna tão sensível a questões como o amor e relacionamentos felizes... nunca lhe tinha contado a história na sua totalidade.
Após algum tempo, aquela preocupação sincera por parte de Victoria cresceu consideravelmente assim que viu a presença da sua amiga e colega ser solicitada pela Chefe da redação. É natural que ela não pôde ignorar a palidez sombria que atingiu o rosto de Anna de uma só vez.

Victoria esperou com ansiedade, mas também com uma grande curiosidade o regresso de Anna do gabinete principal. Como gostaria que tudo culminasse na desistência daquele artigo extraordinário... Mas assim que a viu ressurgir às portas do gabinete principal, Victoria teve logo a certeza de que as coisas não tinham decorrido como tanto desejara minutos antes. Abandonando o trabalho, Victoria levantou-se do seu lugar e em passo apressado seguiu Anna na direcção das casas de banho.

- Então, como correu? - Perguntou Victoria, hesitante, fechando a porta atrás de si.
- Como é que achas que correu?! - Respondeu Anna, mantendo-se de costas para Victoria, prendendo o olhar nos seus próprios sapatos. - Não a consegui dissuadir. Ela está convicta do que quer...
- Então... quer dizer que... - continuou Victoria, hesitante.
- Sim, ela insiste para que eu escreva aquele artigo estúpido, sim. - Interrompeu Anna, sentindo uma onda de revolta dentro de si. - Nenhum argumento foi suficientemente convincente para ela desistir... disse que eu sou a pessoa certa para o desenvolver! Eu!

Anna soltou uma risada recheada de ironia e olhou para si mesma no espelho que tinha à sua frente, mantendo-se de costas para Victoria que permaneceu muda, contemplando-a com um longo olhar.

- Eu sei que... eu sei que isto já aconteceu à tempo suficiente. Mas por alguma razão ainda não o consegui ultrapassar.

A sua voz saiu-lhe dos lábios meio abafada, rouca e húmida. Não foi difícil para Victoria adivinhar que os olhos de Anna tinham rompido as suas barreiras e as lágrimas deslizavam pelo rosto pálido.

- Sabes o que é que eu acho, Anna? - Murmurou Victoria, aproximando-se. - Tu devias tentar sair da rotina. Há quase 3 anos que não há mais nada para além do teu emprego. E essa história...
- Esta história foi em tempos uma outra vida que eu tinha antes. - Interrompeu novamente Anna, levando as mãos à cabeça, como se tentasse arrancar aquelas visões que a atormentavam como fantasmas do passado, que nunca a deixavam em paz. - E é esse o meu problema, ainda estou demasiado ligada a essa vida, uma vida que agora está morta mas ainda persiste dentro de mim, percebes?!

Com gentileza Victoria colocou as mãos nos ombros agitados de Anna e atreveu-se em esboçar um sorriso.

- A solução é tentares esquecer. Porque não tentar algo novo? Sai à noite, usa o teu melhor vestido, calça aqueles sapatos vermelhos de 15 cm maravilhosos que eu te ofereci e vai até ao Blue Velvet Bar. Quem sabe o que pode acontecer?

Anna ergueu o rosto manchado de lágrimas e observou através do espelho o rosto sorridente de Victoria. Seria realmente aquilo a solução infalível para toda o vazio e a inércia da sua vida? A derradeira solução que a faria esquecer permanentemente aquelas memórias inconvenientes e dolorosas? Anna desejou ardentemente acreditar que sim, que bastaria um vestido e um par de sapatos para conseguir conquistar o mundo, derrubar barreiras, destruir memórias de um passado triste.

- Achas mesmo? - Murmurou Anna.
- Claro! - Reafirmou Victoria, animando-se por ver que aquela sua ideia era levada em conta e entusiasmando-se com a receptividade de Anna, atreveu-se a prosseguir. - Pede permissão para saíres mais cedo do trabalho, dás a desculpa de que precisas de infectuar as pesquisas necessárias para o artigo. E vais para casa, tomas um bom banho, quente e perfumado, escolhe um vestido e vai até ao Blue Velvet Bar. Hoje mesmo.

Aquela visão breve tomou os contornos de uma solução convidativa aos seus olhos. Ao permitir considerar aquelas palavras, sentiu-se persuadida em aceitar com agrado a sujestão de Victoria. Era uma sujestão simples, no entanto, tinha conseguido penetrar no espírito de Anna fazendo-a finalmente sentir que poderia talvez ser mesmo esta a solução que tanto procurava.

- Eu acho... eu acho que tens razão. - Concluiu Anna, esboçando um pequeno sorriso.


~ 18:30h - Blue Velvet Bar ~

Enquanto o calor forte do álcool ia perdendo a sua eficácia na garganta, Anna deslizou mais uma vez o olhar atento na direcção da rua húmida. Não conseguiu resistir em sorrir para si mesma ao meditar em como fora extremamente fácil convencer a chefe da redação ao deixar a sua secretária mais cedo em favor de um suposto benefício que resultaria em vantagem para o artigo. Era evidente de que Anna lhe tinha ocultado deliberadamente as suas intenções originais... não lhe parecera particularmente excitante partilhar com alguém a ideia de expectativa que nutria em relação a uma espécie de loucura alheia à rotina.
Foi com um olhar cúmplice na direcção de uma Victoria satisfeita que Anna abandonou os estabelecimentos da redação. E assim que se encontrou no exterior, esforçou-se por canalizar todos os seus pensamentos naquela oportunidade que oferecia a si mesma.

O seu sorriso suavizou-se, enquanto estas memórias recentes esbatiam-se aos poucos na sua mente. De forma inconsciente, fez uma das mãos nervosas alisar as pregas do vestido de tafetá e ceda preta que escolhera usar. Anna continuava à espera, sozinha na mesma mesa número 9, esperando por algo... mas nada acontecia.
Foi com facilidade que perdeu o vivo interesse de tomar pequenos goles da sua bebida, limitando-se em apenas tocar ocasionalmente com a ponta dos dedos o rebordo do copo, enquanto observava com grande atenção a complexidade de formas indefinidas que as gotas de chuva formavam contra o vidro das janelas.
O fluxo de pessoas no interior do Blue Velvet aumentou com rapidez e a sua atenção transferiu-se para o rumor de vozes que invadiam o espaço com alegria e entusiasmo... ao ver alguns preparativos vagarosos no palco, não demorou em aperceber-se de que a noite seria dedicada a uma sessão de karaoke.

Deixou escapar um pequeno suspiro e pela primeira vez, após ter decidido aceder à sugestão de Victoria, deu por si a questionar se teria sido realmente uma boa ideia.
Não era uma noite solitária no Blue Velvet, assistindo a uma sessão de karaoke, o que tinha imaginado para si como sendo algo impulgante e completamente fora da rotina... a imaginação fértil de Anna alimentara algo muito mais superior, mais fascinante. Colocara em consideração a hipótese de cruzar o seu caminho com alguém com quem pudesse conversar e passar uma noite simples e agradável, furjar uma boa e inesperada amizade talvez. Mas ela continuava sozinha na mesa número 9, tendo como única companhia um copo meio cheio de álcool por entre as mãos impacientes...
Esta solidão fê-la sentir-se deslocada, estupidamente ridícula naquele vestido negro deslumbrante e os pés apertados e doloridos nos sapatos vermelhos oferecidos pela Victoria. Talvez não fosse sensato forçar algo que não teria hipóteses de acontecer naquela noite... e ao concluir isto, sentiu-se cair pesadamente na desilusão.
Alcançou a cluch vermelha que trouxera consigo e preparou-se para se ir embora, quando de forma repentina, uma silhueta surgiu em frente da sua mesa.

Anna não pôde deixar de se surpreender ao tomar consciência desta presença inesperada, no exacto momento em que se preparava para desistir daquela tentativa de viver algo diferente. O seu olhar acabou por se deter num jovem homem, certamente muito mais alto que ela, possuidor de cabelos loiros e olhos cor de mel.
A surpresa aumentou ao sentir uma onda inexplicável de agitação no seu interior, e por momentos, não soube exactamente o que fazer. Acabou por se limitar à simplicidade de olhar fixamente na direcção do rosto deste homem, que lhe exibia com os seus lábios finos um sorriso afável e recheado de simpatia, um gesto simples mas que foi o suficiente para que a deixasse estranhamente embaraçada.

- Desculpe, mas vejo que está sozinha nesta mesa... - Iniciou o homem. - Importa-se que eu me sente aqui? Todas as outras mesas já estão completamente ocupadas...

Ao ouvir tais palavras Anna deslizou um olhar rápido em todas as direcções, como se o crescente burburinho animado não fosse a prova suficiente e ela precisa-se de averiguar aquela afirmação com os seus próprios olhos. Naturalmente que o homem falara a verdade, todas as outras mesas estavam efectivamente ocupadas e numa das que estavam dispostas em frente do palco conseguiu vislumbrar um grupo de quatro elementos, duas raparigas e dois rapazes, a acenarem com sorrisos divertidos na direcção do homem junto a si.

- São o meu grupo de amigos. - Respondeu-lhe o desconhecido, seguindo o olhar de Anna e retribuindo os acenos com um gesto rápido de mão. - Esqueceram-se de reservar uma mesa onde houvesse uma quinta cadeira... não se importa de que me instale neste lugar?
- Não, com certeza que não! - Apressou-se Anna a dizer com simpatia, mas no entanto, mantendo-se reservada. - Pode sentar-se.
- Obrigado.

O jovem sentou-se com visivel satisfação na cadeira que repousava na frente de Anna. Era curioso ver como, subitamente, a mesa número 9 transformara-se e agora parecia muito mais pequena e menos reservada. Pela primeira vez, após tanto tempo, Anna partilhava um espaço com alguém que não fosse a pessoa que amara loucamente outrora, um facto que a deixou pouco à vontade e terrívelmente reprimida no seu lugar.

- Também gosta de karaoke? - Questionou-lhe o homem de olhos cor de mel, continuando a exibir o seu sorriso, no entanto, muito mais contido e discreto.
- Não propriamente... - Respondeu Anna, sentindo-se a tropeçar nas próprias palavras. - Bem, na verdade... quero dizer, eu não sabia que era hoje noite de karaoke no Blue Velvet...
- Então foi apanhada de surpresa, tal como eu. O meu grupo de amigos, que acabou de ver numa das mesas em frente do palco convidou-me para sair esta noite... quase que me arrancaram de casa... não sou muito de frequentar lugares como este.

O homem deixou as palavras morrerem-lhe nos lábios, acabando por se deixar levar pela curiosidade de observar discretamente Anna, que se mantinha ocupada em amarfanhar a sua clush e observava com desinteresse natural o palco do bar, onde decorriam os preparativos para a noite. A necessidade imperiosa de quebrar aquele silêncio insistente que pairava sobre a mesa mais discreta do bar foi tomando a sua forma, era evidente que ambos sentiam o seu peso mas nenhum dos dois sabia exactamente como o quebrar.

- Ainda não fomos devidamente apresentados... - Disse o desconhecido, inclinando-se ligeiramente sobre a superfície da mesa, tentando encontrar algum contacto visual que lhe desse o sincero e expresso sinal de que ela estaria disposta em contribuir para aquele processo.

Ao ouvir esta expressão convidativa, a atenção de Anna desviou-se novamente, prendendo-se no olhar de quem lhe oferecia precisamente aquilo que ela tanto desejara que acontecesse: uma noite agradável, preenchida pelo calor convidativo de uma conversa produtiva e entusiasmante. No seu espírito formaram-se inúmeros agradecimentos a este sujeito desconhecido, que num único gesto misericordioso, a libertava dos grilhões da tristeza e da frustração de uma noite vazia a que se julgava subjugada. Uma reviravolta inesperada, para quem já se tinha convencido plenamente da sua sorte infeliz.
Anna decidiu por isso em antecipar-se diante deste homem, antes que ele próprio tivesse a oportunidade conveniente de se apresentar conforme a ocasião proporcionava.

- Anna. - Respondeu-lhe, com um sorriso tímido, o primeiro de todos desde que aquele homem se tinha sentado na sua mesa. - O meu nome é Anna.

Aquela mesma expressão afável voltou a manifestar-se nos lábios do homem assim que lhe foi revelado o nome da sua companhia feminina. Esta demonstração rápida de confiança fê-lo deter-se demoradamente no olhar expressivo de Anna, que o encarava em igual simpatia e afabilidade. Sem que realmente se apercebesse de como a sua fisionomia sofria naquele momento uma derradeira e expressiva metamorfose, os seus lábios denunciaram um sorriso ainda mais amplo e uma inexplicável aproximação imaterial, que o fez murmurar a meia voz o seu próprio nome.

- Eu chamo-me Kristoff.

A pronunciação deste nome pareceu a Anna extraordinariamente melodioso, indiscritivelmente agradável aos seus próprios ouvidos. Sentiu as suas bochechas tinjirem-se em rubro carmim e embaraçada, desviou novamente os olhos na direcção dos preparativos no palco. Este cenário não lhe trazia qualquer entusiasmo mas poderia considerar como sendo um meio útil de tentar camuflar a sua reacção claramente manifesta e fora de controlo perante o olhar que a atingia.
A perspicácia de Kristoff revelou que fora em vão esta tentativa embaraçada de Anna, pois este apercebeu-se de como aquele corpo feminio estremecera diante da descoberta da sua própria identidade... e por alguma razão incompreensível, isso agradou-lhe.
Anna sabia que tinha falhado, mas mesmo com essa resolução diante de si, preferiu manter aquela simulação a que se submetera para se livrar do embaraço.
Era claro que perdera com o passar do tempo a sua agilidade acrobática com que lidava com o sexo oposto, numa outra realidade jamais teria sucumbido a este embaraço, produzido pela aparição de uma determinada reacção da sua parte. Mas essa realidade era agora uma recordação morta bastante longínqua, impossível de ser recuperada. Essa mulher que antes conhecera tão bem tinha desaparecido, para dar lugar a uma com quem já vivia à quase 3 anos, mas ao contrário do que se poderia esperar, esta permanecia desconhecida para si...

Com um leve pigarrear sentiu-se ser arrastada de volta à realidade, quebrando assim com aquela encenação a que tanto Anna insistia em agarrar-se como se fosse uma rocha. E sem aviso sentiu-se conduzida por uma estranha força magnética que a impelia a encarar tímidamente o homem que tinha diante de si com maior atenção.

- Eu sei que posso parecer intimidante... mas não se deixe enganar pelas aparências, menina Anna. - Atreveu-se Kristoff em pronunciar com amável simpatia. - Eu não sou daqueles homens que mordem.

Ao denotar esta pequena nuance de bom humor, Anna deixou-se render pela sua própria gargalhada, levando instintivamente a mão esquerda aos lábios como se pretendesse camuflar aquela sua expressão sonora diante de Kristoff. Era notório de que o jovem de olhos doces tentava criar uma possível empatia entre os dois.

- Estou a falar a sério! - Assegurou Kristoff, fazendo-se parecer sério, mesmo que a sombra de um sorriso no cantos dos lábios denuncia-se o seu verdadeiro estado de espírito. - Deveria ter visto a sua cara quando me viu aproximar da mesa...
- Eu não me senti intimidada, Sr. Kristoff - interrompeu Anna, remetendo a clush vermelha ao esquecimento, colocando-a num canto encoberto pelas sombras. - Pelo contrário, apenas fui apanhada de surpresa. Por isso suponho que o que encontrou no meu rosto foi alguém que ficou surpreendido pelo imprevisto.
- Então eu acho que deve ser esta a altura apropriada para admitir que eu já não sou bom em avaliar um carácter ou um comportamento ao primeiro olhar. - Respondeu Kristoff, deixando-se render pela sensação contagiante em que se sentia mergulhar naquele momento. Talvez a razão para isso fosse a simplicidade de ter conseguido arrebatar para si toda a ousadia do mundo, num dia que parecia destinado a nada acontecer. Quando menos esperava, as forças da providência fizeram-no cruzar o seu caminho com o de uma mulher desconhecida. - Ahhmm... e eu gostaria que me tratasse apenas por Kristoff...
- Muito bem. - Concordou Anna, num aceno elegante de cabeça, sorrindo - Assim seja, Kristoff.

Novamente, a sensação agradável que a pronunciação daquele nome lhe provocava... era algo que se tornava seriamente desconcertante para Anna.
Em nenhum e qualquer instante conseguiria imaginar que nesta noite se deixaria embalar por esta espécie de sentimento inesperado, estimulado pela pronunciação de um simples nome masculino.
Agitou levemente os cabelos em camuflada negação, descartando algo tão supostamente incompreensível como aquela sensação confusa de bem-estar que a presença de Kristoff lhe proporcionava.

- Então, diz-me... o que te fez vir hoje a um lugar como este? - Questionou Kristoff.
- Eu gosto do Blue Velvet. - Disse Anna, continuando a encarar o seu interlocutor com desvanecida timidez. - Em tempos atrás era meu costume vir quase todas as semanas, mas depois perdi o hábito e.... já passou muito tempo desde a última vez que aqui vim.

Ao ouvir as últimas palavras, Kristoff não pode ignorar a existência manifesta de uma tristeza reprimida, e para sua confusão, o instinto conduziu-o à derradeira vontade de consolar Anna com palavras carinhosas, protegendo-a e afastando-a da tristeza evidente que lhe assombrava o azul respladescente do seu olhar.
Era uma manifestação sentimental de tal forma súbita que foi praticamente impossível para Kristoff não se deixar levar por esta forte torrente de sentimentos estranhos a que o seu espírito estava agora subjugado e parecia nutrir pela presença feminina à sua frente. Mas apesar de tudo isto, Kristoff ainda foi capaz de racionalizar e acabou por concluir de que não seria prudente tocar directamente num ponto que poderia ser ainda demasiado sensível.

Não deixava de ser interessante observar a forma subtil mas engenhosa que o destino,
na sua sábia astúcia, modelava os seus planos, tanto para Anna como para o Kristoff, envolvendo-os habilmente neste carrossel sensorial de inesperadas surpresas.
Era inegável que entre ambos parecia existir um forte pólo de atracção inexplicada,
mas os dois encontravam-se convictos de que esse conceito não era o mais racional... Era importante e necessário levar em conta que os dois nunca se tinham encontrado em qualquer circunstância... então, como seria possível que aquele sentimento mútuo fosse manifesto em ambos, tendo como base apenas alguns minutos de conversa?!
Nenhuma explicação fácil seria dada esta noite para uma questão tão simples, o destino assegurou-se de que apenas caberia aos dois desvendar por si mesmos a fonte desta atracção...

- Sabes, nem sempre os lugares que mais gostamos podem ser o nosso refúgio. - Continuou Anna, mal se apercebendo de que o seu coração a impelia a falar do que a tornava infeliz e insatisfeita, mesmo que fosse para alguém a quem ainda conhecia tão pouco. - Em vez de nos proporcionarem conforto ou algum consolo, podem produzir um efeito totalmente contrário ao que procuramos...

Kristoff compreendeu a conotação osbcura que acompanhava este comentário.
Foi fácil para si aperceber-se da forma como Anna rodeava cautelosamente um assunto que tinha a capacidade de transfigurar aquele rosto fino numa máscara leve de perturbação, mas nunca tocando realmente nele.
Por segundos Kristoff ponderou se esta era a sua forma mais discreta de lamentar uma sorte que nunca tinha desejado. Essa resolução fê-lo concluir que sim, afinal, Anna ainda não tinha tomado a liberdade de lhe dizer de um só fôlego o que lhe pesava na alma... embora a sua curiosidade aguardasse com expectativa essa acção.
Para ele a perspectiva de que Anna poderia estar a passar por um mal maior que a sua própria vontade era motivo suficiente para lhe causar uma ansiedade estranha dentro do peito para a qual não conseguia achar explicação.

- Suponho que as tuas últimas recordações deste lugar não... te agradem?! - Murmurou
na direcção de Anna, voltando a inclinar-se um pouco sob a mesa. A consciência de Kristoff alertou-o de que arriscava ficar completamente sozinho na mesa 9 do Blue Velvet ao ousar colocar esta pergunta, mas a curiosidade crescente acabou por tomar as rédeas da sua língua imprudente, e quando se apercebeu disto já os seus lábios tinham articulado a questão.

Esperou sinceramente encontrar hostilidade no olhar de Anna, mas quando os seus olhos se encontraram com os dela, não encontrou qualquer rasto de indignada ofensa.
Em oposição disso apercebeu-se de que esta assimilava vivamente a questão, acabando por revelar um sorriso de triste cansaço.

- Não... de facto as últimas recordações que tenho do Blue Velvet não são as melhores. - Respondeu Anna, levando uma das mãos aos cabelos soltos, sentindo que a insistência do seu coração ainda frágil tinha aumentado, empurrando-a para uma vontade insana de falar daquele passado ainda tão vivo na sua memória.

Permitiu interromper-se e olhar com assentuada curiosidade para Kristoff.
Não conhecia nada deste homem na verdade, apenas sabia o seu nome e nada mais. Mas dentro de si uma voz dizia-lhe que poderia confiar nele cegamente... até que ponto se poderia considerar louca perante o bem estar que sentia só de se imaginar a falar de tudo o que a magoava e a deixava reprimida na sua vida com Kristoff?!
Lembrou-se das incontáveis vezes em que Victoria se mostrou disposta a dispensar noites inteiras em seu favor, pronta para amparar-lhe aquela dor aguda que lhe atravessava o peito de cada vez que recaía nas velhas recordações. Mas Anna nunca se sentira inclinada a contar até aos mais ínfimos pormenores o declínio da sua história aparentemente perfeita. Em vez disso, tinha por hábito remeter-se a uma oscilação constante entre o silêncio total e a revelação de pequenos vislumbres do que lhe tinha acontecido. Estes facilmente se derretiam nos lábios de Anna, deixando para trás um desvanecimento amargo e lágrimas discretas que lhe manchavam o rosto sardento... sempre se sentindo envergonhada por ter sido tão ingénua e demasiado sonhadora, nunca foi capaz de relatar a sua própria história por inteiro.
Mas nesta noite sentia-se estranhamente atraída pela ideia de o fazer com Kristoff.
Perante esta vontade, eclodiu uma curta mas intensa batalha entre os lados racional e sentimental, cada um deles lutando arduamente pela credibilidade... e o lado sentimental acabou por obter a sua vitória.

Kristoff acompanhou com igual curiosidade cada movimento agitado de Anna, tentando descobrir por si mesmo o que se passaria naquele instante de silêncio imposto, mas acabou por franzir o sombrolho ao descobrir a dificuldade diante dos desígnios de uma alma feminina que ponderava em profundos pensamentos.

- O que foi? - Perguntou Kristoff, vendo que o olhar dela trespassava o seu corpo de uma forma tão intensa e séria que não pôde evitar a sensação de nudez e transparência que se abatia sobre ele.
- Eu não sei ao certo... - iniciou Anna, adensando um pouco mais o seu olhar depositado sob a silhueta nervosa em frente de si. - Nunca cruzámos os nossos caminhos, mas de cada vez que eu olho para ti... é como se nos conhecessemos à anos.

Kristoff sentiu que um tumultuoso frenesim tomava conta de si, fazendo estremecer cada parte de si ao reconhecer de que padecia do mesmo. Esta confissão poderia simplificar um pouco todas aquelas sensações que o assaltavam, mas não as esclarecia na sua totalidade... Tomado por um espírito de rendição completa, Kristoff deixou-se prender no olhar que o detinha em tão intensa observação, imaginando-se mergulhar naquele azul feminio, e por alguma razão, perder-se neles.
Após tanto tempo, esta seria a primeira vez que a sua desconfiança generalizada em relação às mulheres caíria por terra, deixando entrar no coração uma torrente de poderosos sentimentos que o deixavam ébrio, desejoso por mais.

- Eu sei que pode parecer uma tolice... - Disse Anna, deixando-se enterrar num profundo embaraço ao se dar conta do silêncio involuntário de Kristoff, levando-a a tentar imaginar o que poderia estar a germinar na mente do homem de cabelos loiros, em reacção às suas palavras sinceras.

*O mais provável é ele pensar que eu sou uma louca solitária...*

Mas em oposição desta auto-censura os pensamentos de Kristoff navegavam por ideias completamente diferentes do que ela poderia imaginar.

- Não. - Respondeu-lhe, abanando a cabeça em negada convicção. - Não acho que seja uma tolice Anna.... eu ahmm... eu também sinto o mesmo.

Estando segundos antes convencida do oposto, nunca poderia supor que seria compreendida por Kristoff, e isso surpreendeu-a deveras. A sua compreensão tinha-a preparado para uma resposta diferente... uma vez sendo manifesta e Anna sabia como teria agido. Este era o seu raciocínio: ao encontrar a mínima descrença da parte do seu interlocutor, bastaria deixar que se forma-se nos seus próprios lábios uma desculpa conveniente, ganhando o bilhete dourado que a levaria até casa, para se juntar à sua velha solidão e ao gorducho Louis. Teria sido uma boa solução, mas agora era um plano nulo.
Anna sorriu abertamente para Kristoff. Para si era a única forma mais profunda que tinha para demonstrar o quanto se sentia feliz por finalmente descobrir um ser humano que a olhava com grande compreensão após tanto tempo emersa na constante sensação de descrença... mesmo desconhecendo as bases que levava a uma manifestação de forma tão complacente e sensível à sua condição frágil.

A descoberta de uma resposta a este desconhecimento de Anna não se fez prolongar por muito mais tempo... Inconscientemente, tomado por um forte impulso que nem mesmo a sua consciência teria prevenido, Kristoff não conseguiu resistir em tocar levemente na mão de Anna com a sua, provocando em ambos um estremecimento, como um choque eléctrico súbito, acompanhando as borboletas no estômago que nasciam ao ritmo do bater acelerado dos dois corações... aqui estava a sua resposta.
Anna não lhe pediu para que retirá-se a sua mão, gostava da sensação calorosa e cúmplice que aquele gesto impulsivo de Kristoff lhe oferecia.
Era uma forma de amável doçura que ele lhe devolvia a sua alegria, exibindo um sorriso ainda maior que o de Anna...

O som estridente e desafinado de um microfone imperou por todo o espaço do Blue Velvet, quebrando com aquela troca silênciosa de palavras que só os olhares de ambos sabiam falar, enquanto aquela mão máscula se entregava a uma dança secreta de discretas e doces carícias sob a mão feminia delicada, visívelmente trémula sob a superfície da mesa.

*Este som maldito... Odeio o karaoke.*

Era tudo o que Kristoff poderia pensar.
Aquela interrupção parecera inofensiva, mas foi o suficiente para que Anna recolhesse a sua própria mão para o aconchego do regaço, espelhando nas íris e nas bochechas ardentes um embaraço que fazia Kristoff dar por si a lamentar profundamente.

- A sessão de karaoke vai começar agora... - Murmurou o loiro, tentando camuflar a insatisfação amarga que sentia ao deslizar a sua atenção por breves instantes na direcção do palco, onde já estava com grande satisfação um dos seus amigos, pronto para cantar algum êxito dos anos 80.

Do outro lado da mesa não veio nenhuma resposta, apenas um leve som gutural de concordância. Anna retorcia as suas mãos com vivacidade debaixo da mesa, ainda sentindo o toque masculino sob a sua mão, a agitação no seu estômago e a névoa ébria na sua cabeça que girava num turbilhão de sensações confusas, mas agradáveis.
Com o coração a pulsar desenfreadamente, apercebia-se de como aquele toque fora revolucionário para si, a forma como lhe tinha despertado os mais intensos desejos de prosseguir com aquela troca de carícias e olhares intensos.
Estaria louca?! Não, Anna nunca se sentira tão tremendamente lúcida em toda a sua existência, e isso assustava-a...
Sentiu novamente o peso daqueles olhos cor de mel sob si, ele observava-a mais uma vez, como uma borboleta nocturna que não consegue resistir ao caloroso encanto da luz. Anna não teve coragem para lhe devolver a atenção depositada em si, ainda se sentia demasiado perturbada pela avalanche de sentimentos em bruto que lhe envadiam o coração agitado. Em vez disso, procurava algo lá fora, na noite chuvosa...

Um relâmpago rasgou o véu do firmamento, num clarão súbito e rápido, definindo os contornos da rua meio deserta, sendo esbatidos em seguida pelo regresso da escuridão nocturna. O grito do trovão chegou, colossal e firme, fazendo Anna saltar na cadeira.
Não gostava particularmente de tempestades, muito menos de trovoadas a meio da noite. Era tudo o que podia encontrar longe das atenções de Kristoff, escuro e trovoada.

- Vou fazer-te um convite... - Disse Kristoff, procurando encontrar novamente o olhar azul feminino.

A atenção de Anna prendeu-se novamente nos contornos da máscula presença à sua frente, num olhar curioso, inquirindo o convite a que Kristoff se referia.

- Eu proponho que saiamos daqui. - Prosseguiu. - Vamos para um outro lugar, mais confortável e calmo...
- Para onde? - Interrompeu Anna com um pequeno sorriso a despontar nos lábios. - Para outro bar? Que tenha melhores sessões de karaoke?!

Kristoff não conseguiu evitar uma pequena gargalhada.

- Asseguro-te, para onde vamos não há sessões de karaoke chatas. Vamos?

Na sua frente estendeu-se uma mão convidativa, sugerindo-lhe uma atraente fuga daquela noite mergulhada em desafinação musical. Encarou mais uma vez os olhos cor de mel e não viu qualquer obstáculo que a impedisse de sair dali.
Pegou na sua clush vermelha e discretamente, saiu do Blue Velvet com Kristoff...


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Notas finais do capítulo

Então, o que é que vocês acharam deste capítulo?! :3
A vossa opinião é com toda a certeza muito importante para mim ♥ ♥
Conseguem imaginar para onde o Kristoff levará Anna? Como é que esta noite irá acabar?!
Irei aguardar com grande ansiedade os vossos comentários minhas queridas!! ♥
Um beijo enorme para vocês :* :* :*



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