Olhos de Cobra escrita por Laura Salmon


Capítulo 4
Capítulo 4 - Cobra


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por estarem acompanhando! Achei que não teria inspiração. É a minha primeira fanfic na vida! Por favor, se quiserem opinar com críticas ou dar sugestões, fiquem à vontade.



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― E aí, qual vai ser? ― Ergui as duas camisetas quando Karina girou a cadeira. Ela revirou os olhos, fitando o computador ao seu lado. Evitando contato. Isso me fazia sorrir sem querer. Arredia.

― Por que ficam me perguntando isso? Qual a blusa é melhor? Com qual cabelo eu vou? Eu sei lá, Cobra. Você pode ir pelado se você quiser. Eu não ligo.

― Ok.

Soltei as camisetas, levando a mão no zíper da calça.

― Era só uma expressão! ― Karina se levantou. ― Se vai ficar de gracinha, esquece.

― Ei! ― Ergui as mãos. ― Só estava descontraindo. ― Peguei a camiseta vermelha. ― Vou com essa. Já que você já tá de preto. Ah. ― Eu não sabia como dizer aquilo sem magoá-la ou afastá-la. Dizer que ela estava fantástica. ― Você...

Karina cruzou os braços, erguendo as sobrancelhas. Ela estava muito bonita naquela noite. Na verdade eu gostava de ver o seu rosto limpo, sem maquiagem. Seus olhos livres de qualquer traço artificial. O sorriso que se iluminava sem precisar de batom. Mas ela parecia ainda mais incrível. Balancei a cabeça, tentando afastar aquele tipo de pensamento ridículo. Porque era ridículo. Porque não fazia sentido algum.

― Fala Cobra.

― Você vai querer que a gente fique por muito tempo? ― Desconversei.

― Só até o parabéns. A Bianca disse que vai ser rápido. Porque o Detonautas tem mais o que fazer depois de sair da Ribalta.

― Você tá ligada que esse é um favor imenso não é? ― Peguei as chaves, sorrindo ao olhar para ela por cima do ombro. ― E que eu vou cobrar com juros.

― Você nunca me cobra coisas ruins, Cobra. ― Ela me empurrou pra fora. ― É por isso que eu gosto de você.

Parei. O cenho franzido. Karina ficou paralisada, fingindo olhar para a pracinha.

Queria perguntar o que ela queria dizer com aquilo. Mas ela ia ficar irritada. Ia fechar os pulsos, retesar os ombros e sair andando depressa. Fechei a porta e interpretei da forma correta: ela só podia contar comigo depois de tudo.

― Ka. ― A alcancei. ― Porque você ficou longe por uns tempos?

― Como assim?

― Depois que você saiu da Khan nunca mais falou comigo. Achei que estivesse com raiva. ― Karina balançou a cabeça. ― Mas aí achei que você só estivesse se adaptando.

― Cobra eu quero ir embora, sabe? Eu vou tentar um intercâmbio. Eu acho que consigo.

― Eu também não duro aqui por muito tempo. ― Balancei os ombros. ― Não tem nada aqui pra mim.

Karina riu.

― Qual a graça?

― Você entende. Não é graça. É gratidão.

― Não entendi dessa vez.

Karina parou subitamente, virando-se rápido demais enquanto eu ainda caminhava atrás dela. Nós nos chocamos. Seu equilíbrio de lutadora não foi suficiente naquele momento para mantê-la de pé. Antes que ela caísse, porém, meus reflexos me levaram a segurar seus braços. Os reflexos dela também eram bons. Ela girou os braços, batendo o osso com força em minhas mãos e segurando a minha camiseta. Karina ficou tão perto que o nariz dela quase bateu no meu queixo.

Uma de suas sobrancelhas subiu enquanto seus lábios se entreabriram. Expressão de confusão, medo e expectativa. Eu me sentia exatamente igual. Sorri, abaixando os olhos para as mãos dela prendendo a minha camiseta.

― Eu acabei de desamarrotar.

Seus dedos se afrouxaram. Ela deu dois passos para trás.

― Desculpa. Foi um reflexo. Eu não consigo lidar com contato que não seja de luta. ― Franzi o cenho quando ela disse aquilo. ― Eu estava agradecendo por você me entender. Não diga que não entende só para contrariar.

― Relaxa. ― Abaixei seus pulsos na defensiva. Ela parecia nem ter notado que estava em posição de lutar.

― Não vou conseguir fazer isso. ― Karina deu uma olhada para a entrada da Ribalta. A música já estava tocando lá dentro. Galera da Ribalta. Voz da Sol. Mas o pior: guitarra do Pedro. ― Não dá.

Ela simplesmente estava voltando para casa. Passei o braço ao redor de sua cintura e a arrastei de volta. Karina protestou, mas ela ainda não era mais forte que eu. Nem mais sábia. Porque eu sabia que ela podia fazer aquilo e provar para todo mundo que ela era tão forte por dentro quanto por fora.

― Encare como uma luta. ― Parei no meio da escadaria, colocando-a no chão. ― Seu adversário está ali em cima. Vai deixar ele te nocautear?

Suas narinas se mexeram rapidamente como um roedor. O ar saindo e entrando empurrado pela adrenalina que jorrava em seu corpo pequeno. Segurando os pulsos dela, eu podia sentir seus batimentos acelerados. Karina estava com medo. Ela já havia reencontrado todo mundo. Conversado e aparentemente perdoado tudo que acontecera. Mas ela simplesmente não podia encarar todos de uma vez. E ela passou um mês fugindo, se isolando. Ninguém ouvia uma só palavra dela. Eu não podia deixar que ela recuasse naquele momento.

― Ka. Confia em mim. Se você recuar agora vai recuar todas as vezes que a vida encurralar você no octógono. Eu sei o que estou dizendo. ― Apertei os olhos, engolindo em seco. ― Por experiência própria.

Eu não podia me dar ao luxo de perder o controle. Tinha que incentivá-la. Fui soltando seus pulsos devagar. O peito dela subia e descia cada vez menos veloz. Estava se acalmando.

― Você consegue. Você sabe que sim. Porque se não soubesse nem teria cogitado a ideia de aparecer aqui. De se arrumar para a noite da tua irmã. De ir no QG me convidar para um encontro.

― Não é um encontro! ― Ela me empurrou. Finalmente consegui ver um vislumbre de sorriso quando me permiti sorrir junto.

― Essa é a Karina que eu conheço. ― Abri os braços. ― E aí, vai encarar?

Além dos degraus da escada o show do Detonautas havia começado. Ainda vou te levar pra outro lugar. Além do sol, do mar. Onde eu possa te ver...

Ela se virou rapidamente para sua batalha, deixando a frase seguinte no ar enquanto sumia na escuridão das escadas.

Te amar...


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