Kairi no País das Maravilhas escrita por Verdana


Capítulo 1
Embaixo da Toca do Coelho




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  - Estou atrasado, estou atrasado! - foi o que disse aquele que despertou Kairi de seu sono.
  A garota estava em um vasto e belo campo, encostada em uma frondosa árvore. Tinha ido lá com a intenção de descansar e esquecer um pouco da escola, que a estava lotando de trabalhos, provas e tarefas. A ruivinha se decepcionou um pouco ao ver que o local estava deserto, mas ao menos dava para descansar.
  E agora, havia aquele garoto! Se estava atrasado, por que não simplesmente saía correndo em vez de gastar fôlego para falar de seu estado e acordá-la!? Kairi não havia se dado o trabalho de abrir os olhos, mas estava agora tão irritada que iria abrí-los apenas para poder dar uma bronca nele!
  Mas foi abrindo os olhos que ela descobriu que seu objeto de ódio não era um garoto, mas um coelho! Ou uma mistura dos dois, melhor dizendo, visto que de coelho só tinha as orelhas e o rabo. Ele não estava muito longe, parecia ser um pouco lento para quem estava no desespero de estar atrasado. A garota se levantou o mais rápido que pôde e, sem parar nem ao menos para pensar, desatou a correr atrás do jovem. Mas não teve muito tempo assim, pois o garoto-coelho tropeçara e caíra. Se ajoelhando ao seu lado, ela perguntou:
  - Está tudo bem? Não se machucou?
  - Oh, não, não! Estou melhor, agora! - ele respondeu, se sentando - Mas obrigado por se preocupar, senhorita!
  - Qual seu nome?
  - Sora, e... Oh, Discórdia! - puxou seu relógio e soltou um fino grito - Já estou atrasado, e ainda perco tempo caindo! Vão acabar comigo! - e levantou-se, voltando à sua corrida. Kairi não parou nem para pensar em como esse garoto-coelho não tinha modos quando estava atrasado, apenas foi atrás dele.
  Dessa vez o desespero batera mais forte e Sora corria tão rápido quanto uma lebre, talvez até mais! Nossa garota dos cabelos vermelhos bem tentava seguí-lo de perto, mas sem sucesso. Ao menos, pensava, dava para seguir-lhe o rastro. E ao dar uma curva, se deparou com uma toca de coelho. Era grande o suficiente para que alguém de seu tamanho - ou do tamanho de Sora - pudesse entrar. Tão sem hesitar quanto quando começou sua corrida com o garoto-coelho, Kairi entrou na toca.

  Ao entrar por completo, Kairi começou a cair. Ficou por um tempo assim, apenas caindo na escuridão. "E se não acabar nunca?", pensou, "E se eu ficar assim, caindo, para o resto da minha vida?". Mas seu desalento não foi mais longo do que isso, pois a claridade se viu por perto, e Kairi pôde notar que iria cair em uma sala.
  Dito e feito, a garota caiu sentada em uma poltrona cor de vinho. Após dar uma exclamação de dor, olhou para os lados e percebeu que não via Sora em lugar nenhum. A sala era pequena e não tinha nenhuma porta. Onde poderia o garoto-coelho ter se escondido ou fugido? E foi então que ela ouviu, bem baixinho no começo, uma voz conhecida. Olhou para baixo e viu Sora, tão pequeno quanto um chaveiro, correndo e dando um jeito para todos no local saberem que estava atrasado. Kairi lhe acompanhou com os olhos e o viu entrar em uma diminuta porta.
  Se agachou, para olhar a porta melhor. Era tão pequena, como poderia ela passar? Olhou para cima em busca do lugar por onde caíra tão demoradamente, mas este também sumira. Pobre garota, presa naquela sala sem saída! O que faria?
  Sem saber com clareza o que fazer, Kairi voltou sua atenção novamente para a porta. Talvez se ela tentasse abrí-la encontraria Sora ou qualquer outra pessoa que a pudesse ajudar. Quando estava aproximando sua mão da maçaneta, ouviu alguém falar.
  - Ei! O que pensa que está fazendo!?
  A ruiva olhou para os lados, procurando por alguém, mas não havia uma única viva alma em seu campo de visão.
  - Aqui, garota! Aqui embaixo!
  Kairi olhou para baixo e percebeu, então, que era a própria maçaneta quem falava! E tinha olhos! Se agachou o máximo que pôde, sem tirar os olhos da obra que era aquela maçaneta falante.
  - Será que ninguém mais pode dormir em paz!? - exclamou a Maçaneta - Primeiro vem aquele coelho louco, que nem se dá o trabalho de pedir licença, e agora uma forasteira! Eu ainda vou pedir para me trocarem de lugar!
  - Desculpe, senhor - falou timidamente Kairi -, mas eu estou perdida e não sei como sair daqui.
  - Como não sabe!? E em primeiro lugar, como pode vir para um lugar que não conhece? Não sabe que é perigoso, menina!?
  - Eu estava seguindo o coelho que o senhor falou... Não pensei que poderia acabar nisso.
  - Bem, agora sabe! São com essas idéias não bem pensadas que pessoas se metem em problemas!
  - Desculpe, não vai acontecer novamente... Pode me ajudar a sair daqui?
  - Oras, eu não sei onde é a saída! Sou apenas uma maçaneta que não pode sair de sua porta! - e deu um suspiro - Deve ter alguma aqui dentro. Você não sabe como entrar, certo? Claro que não sabe, nunca esteve aqui!
  - O senhor pode me ensinar? Prometo não vir mais perturbar o seu sono!
  - Certo, certo. Está vendo aquela mesa? Lá tem dois potes. Pegue o que tem a tampa azul e beba.
  Kairi se virou para a mesa, fez o que a Maçaneta havia dito e logo se viu diminuindo de tamanho.
  "Então foi assim que o Sora ficou daquele jeito?", pensou, "É bem esperto. Mas... Estou diminuindo tanto! Será que vou ficar do tamanho que o Sora ficou?". E já estava quase do tamanho da mesa quando lhe bateu um desespero provavelmente maior do que o do garoto-coelho em seu atraso. "E se eu diminuir até não ser possível me ver a olho nu!? Como vou passar pela porta e encontrar a saída? Minha família, meus amigos... Todos vão ficar preocupados!" e seus olhos encheram-se de lágrimas. Fechou os olhos, cansada de olhar para o mundo a sua volta crescendo, e ficou assim até sentir que nada mais lhe acontecia.
  De olhos abertos, Kairi olhou para o lado onde outrora estivera a pequena porta com uma maçaneta falante e teve um momento de espanto: a porta estava bem maior! E a Maçaneta... estava maior também, e dormindo. Devia ser realmente entediante a vida de uma maçaneta naquele lugar, para ela conseguir dormir com tamanha facilidade.
  - Se-senhor...? - e sorriu ao rever os olhos da Maçaneta abertos - Consegui! O senhor pode abrir a porta para mim, agora?
  - Oh, claro... - e bocejou. Fechou os olhos, com uma expressão de quem estava fazendo muita força.

  E a porta abriu.


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