E o episódio de sexta se repetiu.

Quinn ligou, tentou ir a casa dos Berry, e nada.

Aparentemente, Rachel ia mesmo terminar sem ao menos lhe dar um motivo.

O sábado Quinn conseguiu levar, pensando que Rachel entraria em contato em algum momento. Apostava que aquilo tinha sido apenas uma atitude impulsiva por seja lá o que tivesse acontecido com ela na sexta. Até se divertiu um pouco com Frannie.

Mas a judia não deu notícias. Nem sábado, nem domingo, nem mesmo quando Quinn foi atrás dela.

Porém, Quinn ainda tinha esperança de intercepta-la na segunda.

Mas já estava sentada na sala do coral, ouvindo Will falar há vinte minutos, e nem mesmo havia visto a ex.

— Com licença, senhor Schue. – Finn entrou na sala sorrindo, com Rachel logo atrás de si.

— Estão atrasados. – Will disse.

— Nós sabemos, mas... Temos uma notícia para dar.

— Espero que seja algo bom. – Will sorriu indo sentar, enquanto os dois, de mãos dadas, paravam em frente ao grupo.

— Você conta ou eu conto? – o rapaz perguntou e Rachel revirou os olhos – Tudo bem, eu falo. Rachel e eu vamos nos casar.

Assim que as palavras saíram da boca de Finn, Quinn pegou suas coisas e saiu da sala.

***

A campainha da casa dos Berry tocava incansavelmente.

Leroy abriu a porta respirando fundo. Já estava irritado o suficiente por um dia, não precisava de alguém quebrando sua campainha também.

— Quinn. Aconteceu alguma coisa?

— Rachel está? – Quinn perguntou, e o seu tom de voz fez o homem mais velho dar um passo para trás.

— Você está bêbada?

— Cadê a Rachel?

— Ela está no quarto, mas...

Quinn não esperou que ele terminasse.

Subiu correndo, ouvindo Leroy segui-la e gritar o marido que, até onde Quinn se lembrava, deveria estar trabalhando aquela tarde.

A loira praticamente derrubou a porta do quarto da judia e Rachel pulou da cama, a encarando.

— Quinn?

A loira deu três passos para dentro do quarto, enquanto Hiram e Leroy pararam na porta, prontos para segurar a garota se fosse preciso.

— Era verdade? – apesar da postura firme da garota, sua voz falhou, e Rachel sentiu um nó se formar em sua garganta.

— Quinn...

— Só me diz, Berry. Sim ou não? Eu preciso ouvir de você.

— É verdade. – a judia murmurou e Quinn balançou a cabeça positivamente.

— Boa sorte com a sua vida, Berry. – a loira resmungou.

Quinn saiu do quarto sem dizer mais nada, e Rachel se jogou na cama, chorando.

— Eu vou falar com ela. – Hiram disse indo atrás de Quinn, enquanto Leroy tentava consolar sua filha.

E ambos tentavam entender o que havia acabado de acontecer.

Quando Hiram saiu da casa, viu Quinn tentando abrir a porta do carro e respirou fundo.

— Fabray! – chamou.

Quinn parou por um segundo antes de voltar a fazer o que fazia antes.

— Quinn. – Hiram tentou, colocando a mão no ombro da garota.

— Desculpe ter entrado na sua casa desse jeito. Não vai acontecer de novo.

— Eu percebi isso no segundo em que você saiu daquele quarto. O que aconteceu?

— Não sou eu quem tenho que te contar isso. – Quinn finalmente conseguiu abrir o carro e Hiram tirou a chave das mãos da loira, que finalmente virou para ele – Me devolve isso.

— Não até entender o que está acontecendo.

— Eu sou uma namorada de merda e não fui o suficiente pra sua filha. É isso que está acontecendo! – a loira gritou, assustando o homem – Agora me devolve a chave.

— O quanto você bebeu?

— Só o suficiente. – Quinn resmungou e estendeu a mão para Hiram – A chave.

— Não. Entra no carro. Quero te levar em um lugar.

— É meu carro e eu só vou pra minha casa.

— Quinn, você não vai dirigir nesse estado.

— Mas eu to bem.

— Você mal conseguiu abrir a porta!

— E daí?

Hiram perdeu os quinze minutos seguintes convencendo Quinn a entrar no carro.

Não demorou muito para Hiram parar o carro depois disso – ou Quinn tinha dormido, ela não sabia dizer.

— Onde estamos?

— Metade do caminho para o acampamento que você e Rach foram. Vem. Quero te mostrar uma coisa.

Quinn não tinha mais forças para discutir, então simplesmente se deixou guiar. Quanto mais rápido aquilo acabasse, mais rápido ela poderia ir para casa e chorar em paz.

Mas Quinn não esperava acabar no que ela deduziu que seria o começo do rio que passava no acampamento.

O espaço aberto a fez fechar os olhos.

— Parece o acampamento.

— Eu deduzi que sim. – Hiram respirou fundo e sorriu – Eu pedi Leroy em casamento aqui. A gente ainda vem aqui em todos os nossos aniversários. Mas, sabe, foi difícil chegarmos até esse pedido.

— Eu nunca soube a história de vocês dois.

— E provavelmente não vai se lembrar dela depois, mas vou contar mesmo assim. – Hiram sentou próximo ao lago e Quinn o acompanhou – Quando eu conheci Leroy, ele tinha sido expulso de casa havia apenas algumas semanas. Vivia bebendo, e eu o peguei drogado uma vez.

— Leroy?

— Eu sei, parece loucura. A questão é que... Ele estava em uma fase terrível, e eu ainda estava em negação. Hiram estava dando uma de galinha na época e... Bom, meu marido é realmente provocante quando quer. O que importa é que... Os dois tiveram a ideia de sair antes do outro, na manhã seguinte. Passamos quase um mês sem nos ver. Eu estava louco da vida com ele. Jurava que ia mata-lo se o visse de novo. Mas, quando o vi... – suspirou – Ele estava horrível. Acabei ficando com pena dele e o ajudando. Nos aproximamos e viramos amigos. Mas eu me apaixonei por ele em pouco tempo. E fiquei louco com isso. Eu jurava ser hetero. Eu tinha que ser.

— O que você fez?

— Me afastei. Ele vinha atrás de mim e eu o tratava mal. Mas, quando chegava em casa, eu chorava por isso, por que doía demais. Até que minha mãe veio falar comigo. Ela sabia que eu sou gay e... Minha família me aceitou antes de mim mesmo. Mas quando eu me aceitei e fui atrás... Hiram estava namorando. E definitivamente me odiava.

— O que você fez?

— Não desisti.

— E?

— E o resto não importa. Eu o amava e lutei por ele. Valeu a pena. Agora eu te pergunto, Quinn: vale a pena lutar por Rachel?

— Ela já fez a escolha dela, Hiram. – Quinn suspirou – E eu a amo o suficiente para aceitar.

— E qual foi a escolha dela?

— Também a amo o suficiente para deixa-la contar isso a você.

***

Quando chegou depois de deixar Quinn em casa, e convencer Frannie de não matar a garota, Hiram só queria deitar um pouco antes de tentar falar com Rachel, mas quando chegou a sala, encontrou o marido andando de um lado para o outro.

— Leroy?

O homem virou para ele e respirou fundo.

— O que houve?

— É melhor você sentar, Hiram.

***

No dia seguinte, quando acordou, Quinn queria morrer de tanta dor de cabeça. E Frannie sentada ao seu lado a encarando daquele jeito não ajuda em nada.

— Bom dia, Lucy.

— Frannie, eu não sei o que fiz, mas sinto muito.

— Esse é o problema! Você nem sabe o que fez!

— Eu...

— Eu te digo o que você fez, Lucy. Você praticamente invadiu a casa dos Berry, entrou no quarto da sua ex e... – Frannie passou a mão pelo rosto e Quinn sentou rapidamente, a encarando.

— O que eu fiz? Eu machuquei ela? Oh, meu Deus!

— Não. Você só... Perguntou se era verdade.

Aos poucos a mente de Quinn foi clareando, e ela se encolheu contra si mesma, abraçando os joelhos e respirando fundo.

— O que aconteceu, Quinn?

— Ela vai casar, Frannie. Rachel vai se casar com o Hudson.

— Casar?

— Pois é. – Quinn engoliu em seco, segurando as lagrimas – Ela simplesmente decidiu casar com outro. Sem nem ao menos me dar uma explicação.

Frannie sentou ao lado da irmã e a abraçou.

— Eu sinto muito, Quinn. Mas você ainda vai ficar de castigo.

Quinn pouco se importou com o que Frannie falou, apenas se permitiu fazer o que vinha fazendo com muita frequência: chorar nos braços da irmã mais velha.

— Eu sou tão ruim assim, Frannie?

— O que? Quinn! Você é uma ótima pessoa.

— Mas devo ser uma péssima namorada, por que... Caramba, ela escolheu o babaca do Hudson! – soluçou.

— Sabe quem é mais babaca ainda? Ela por te deixar.

— Eu a amo tanto. – Quinn murmurou.

— Infelizmente, eu sei.

***

— San, posso falar com você? – Quinn pediu parando a latina no meio do corredor.

— Poder pode, mas depois de anteontem não sei se deve.

— Por que?

— Por que sei que não vem algo bom daí.

Quinn suspirou e cruzou os braços.

— Não posso ficar no coral vendo eles dois sendo o casalzinho perfeito.

— Não precisa! Quinn, Rachel nem mesmo deixa Finn relar nela direito.

— Então por que vai casar com ele?

— Por que não pergunta pra ela?

— Por que eu não quero mais ver a cara dela, Santana. – Quinn respirou fundo – Eu amo a Rachel, ok? E se ela prefere o Finn, bom, só me resta aceitar.

— Ela te ama!

— Meu relacionamento ou o fim dele não são da sua conta, Santana. O que eu vim falar com você é referente ao clube do coral, e não a eles.

— Tudo bem, Quinn. Sobre o que a senhorita quer falar? – debochou.

— Não vou mais cantar com você.

— O que?

— Olha, San...

— Não vem com essa, Fabray. Eu tentei ter uma parte em uma música desde que eu entrei nesse clube, e quando eu consigo você vai estragar tudo? Não vai mesmo!

— San...

— San é uma ova!

— Santana, então! Eu não vou me obrigar a entrar naquela sala todo dia e ver Rachel com outra pessoa só por que você quer cantar.

— Ok. Não vá.

— San, por favor. – Quinn suspirou – Eu... Olha, eu sinto muito, mas não consigo fazer isso.

— Tenta se entender com ela, Q.

— Não. Não vou mais correr atrás. Então... Desculpa te deixar na mão, mas...

— Pensa melhor. Se não vale a pena correr atrás, vale deixar alguma coisa de lado por ela? – Santana falou e saiu sem dar chance da loira responder.

***

— Frannie, quero falar com você. – Quinn disse assim que a mais velha entrou em casa.

— Oi pra você também, Quinn. Não se meteu em confusão, certo?

— Não. – Quinn suspirou – Eu... Preciso ir viajar. Esse fim de semana.

— Até onde eu sei você está de castigo.

— Eu sei, mas... Marquei meu teste para sábado a tarde.

— Teste?

— Para Julliard.

— Eu pensei que você ia pra Columbia.

— Eu nem mesmo tinha pensado em Julliard antes, mas é uma boa faculdade. O que eu tenho a perder?

— O que te fez mudar de ideia?

— Nada. Só... Eu não tenho mais nada que me prenda a Columbia. Posso... Me abrir para novas opções.

— E Russel?

— Ele não precisa saber o que eu faço.

— Tá bem. – Frannie suspirou – Eu vou com você. Vamos a esse teste, e de lá para casa. Você ainda está de castigo.

— Eu sei. – Quinn suspirou – E sinto muito pelo que fiz.

Quinn deu um sorriso fraco e foi para o seu quarto, fazendo Frannie revirar os olhos e se jogar no sofá.

Ela definitivamente odiava manter Quinn presa dentro de casa.

***

— Cinco, seis, sete, oito. – Will gritou, indicando que o grupo deveria começar a ensaiar a coreografia novamente.

Quinn se concentrou em seus próprios pés, desviando de cada um enquanto os contornava, andando até a frente do palco, enquanto Santana fazia a mesma coisa, vindo do outro lado.

— Gira e... Perfeito! – Will elogiou, quando o grupo parou em um determinado passo ao mesmo tempo em que ela e a latina paravam de frente para os bancos vazios – Cinco minutos, pessoal!

O grupo foi, aos poucos, se jogando nas poltronas e pelo canto do olho Quinn viu Rachel correr para a coxia.

— Obrigada por não ter saído. – Santana disse parando ao lado da loira, e Quinn suspirou.

— Você tinha razão. Não vale a pena. – a loira deu um tapa no ombro da latina e foi em direção a Puck, deitado no meio do palco de olhos fechados – Hey, cabelo de esquilo morto. – provocou sentando ao lado dele.

— E aí, loira?

— Eu estava pensando, essa semana eu não posso sair, mas você tem a próxima sexta livre?

— Hum... Vamos ver... Minha mãe tá em casa, nenhum jogador marcou festa até agora... Ah! Eu tava pretendendo virar a noite com aquela ex-líder gostosa que fala de mais. Qual é mesmo o nome dela?

— A Bree?

— Isso! Essa aí.

— Bom, eu tenho planos melhores pra você.

— Manda.

— Aquela boate de estripes abre que horas?

Alguns minutos depois o grupo voltou a ensaiar. Dessa vez, Quinn e Santana cantavam, e a loira teve que engolir o choro pelo menos duas vezes. Por que tinham escolhido logo uma música que lembrava o namoro das duas, mesmo?

— Muito bem, gente. Esse ensaio foi bastante produtivo! Vamos acabar por aqui. – Will gritou quarenta minutos depois.

O grupo foi se dispersando e Quinn respirou fundo antes de se aproximar de Finn e Rachel.

— Olá. – cumprimentou.

— Q. – Rachel sorriu como se apenas o fato da garota estar ali melhorasse seu dia.

— Fabray. – Finn a encarou.

— Eu... Queria me desculpar pelo modo como agi quando soube sobre o casamento de vocês. – Quinn falou e Rachel voltou a ficar seria – Foi imaturo da minha parte.

— Tudo bem. Nós entendemos. – Finn deu um sorriso malicioso e Quinn quis arranca-lo do rosto do rapaz a força, mas apenas respirou fundo.

— Será que eu... Poderia conversar com Rachel, em particular?

— Minha noiva não me esconde nada.

— Eu aposto que não. Só não me sinto confortável tendo está conversa com você por perto, Finn. Não é nada pessoal, só... Assuntos pendentes.

— Olha aqui, Fabray...

— Prometo que é só uma conversa. Não vamos demorar.

— Tudo bem, Finn. É só uma conversa.

O garoto olhou de uma para a outra várias vezes antes de revirar os olhos e sair dali.

— Q...

— Eu só queria dizer que... Eu sinto muito se fiz algo de errado, Rachel, e desejo tudo de bom para vocês dois.

— Quinn...

— Eu... Sinto ter invadido a sua casa daquele jeito no outro dia, e gostaria de pedir que, se você puder, por favor, não me mande um convite para o seu casamento.

Quinn saiu do auditório enquanto Rachel ainda tentava processar o que havia acontecido, e foi para o vestiário das cherrios, onde encontrou Santana sentada em um dos bancos entre os armários.

— Cadê as outras?

— Britt já começou o treino com elas.

— Então vamos.

Quinn passou por Santana e a latina levantou e a puxou pelo ombro, a abraçando.

No segundo seguinte, Quinn derramava o que ela esperava que fossem as últimas lagrimas por Rachel.