1 de março de 2015. Entrevista de Isabella a revista de fofoca local.

"Cidade pequena é uma merda. Quanto drama por causa de Lucas e Estrela! Tá, eles se suicidaram, isso não foi legal, mas temos que superar." Comentou Isabella, amiga de Lucas, que acompanhou o relacionamento desde o princípio. Durante a entrevista, ela fumou vários cigarros, e falava sobre o suicídio dos amigos com naturalidade. Isso me faz pensar sobre os tipos de amigos Lucas tinha quando vivo.
"Olha, tipo, depois da morte dos pais, ele virou outra pessoa, e depois de conhecer Estrela então... nem te conto." Perguntei mais sobre isso. O rosto dela se tornou sombrio.
"Sabe o que acho? Acho que Lucas sempre quis morrer, só não tinha um motivo para isso, então, ele usou o amor de Estrela para realizar seus planos. É isso que acho. Sinto muito por ele, mas já estava bem claro pra mim que Lucas teria um final trágico. Que filho da puta!" Indaguei sobre os rumores de ela ter fornecido o veneno, mas ela acedeu outro cigarro e quis mudar de assunto.

3 de Março de 2015. Trecho retirado do jornal.

A policia revelou hoje que a irmã de Lucas, Lana, foi um elemento importante para desvendar o caso. Lana revelou que viu o irmão brigar com Estrela. "Foi a primeira vez que vi os dois bravos." Disse a menina. Falou ainda que, pelo buraco da fechadura, ela viu Lucas tentar beijar Estrela a força. "Ele a segurou com força e a jogou na cama; Estrela se debatia, eu não estava entendendo nada." Assustada, Lana falou que resolveu parar de ver a cena. "Depois disso só escutei Estrela gritar que estava cansada da vida do meu irmão, das bebidas, do ciúmes e da distância dos pais. E ela falou sobre pedir um tempo...Escutei alguma coisa quebrar, e ouvi meu irmão chorar e gritar. Estrela saiu correndo de lá, e meu irmão ficou trancado no quarto por muito tempo." Pra comoção geral, Lana terminou o depoimento falando que sente falta do irmão.

E-mail salvo (mas não enviado) para Priscila, na caixa de rascunho de Estrela.

Querida amiga, sinto que preciso de ajuda. Ando tão cansada, quase não durmo, e quando pego no sono sem querer, tenho pesadelos horríveis com Lucas e a criança que carrego. Também não tenho fome, a comida parece tão sem gosto. Aliás, tudo parece difícil de ser feito.

Me sinto tão culpada em esconder esta gravidez, e me sinto ainda pior em saber que não amo essa criança, e que por outro lado, amo tanto o pai, que sinto até nojo de mim. Muito nojo de mim. Nojo dos meus sentimentos. Nojo de estar me entregando a tristeza profunda que surge cada vez mais forte. Será que isso é causado por tudo que tenho feito de errado? Será um castigo divino?

Estou indo agora mesmo terminar com Lucas. Não aguento mais esse romance químico. E logo depois, darei um jeito de terminar com essa criança.

Data desconhecida. Diário de Lucas.

"Ela tentou se livrar de mim. Olha que irônico: achei que eu iria machucá-la, mas está sendo o inverso. Hoje foi ela quem me machucou. Não faziam ideia que doía tanto assim. Mandei várias mensagens e liguei milhares de vezes, implorei para que ela voltasse, no fim, resolvi ir até sua casa. Mas claro que bebi muito antes disso.

Já era por volta da meia noite, todas as luzes da casa estavam apagadas a não ser a do quarto de Estrela. Não pensei duas vezes antes de fazer aquela velha cena de pegar uma pedra do chão e jogar em sua janela. Como se já soubesse que eu faria isso, ela abriu. Seus olhos estavam vermelhos, mas ela sorriu. Meu Deus, como aquilo parecia doentio!

Sem falar nada, ela saiu da janela e abriu a porta da frente. Saiu apenas de pijama, linda e tão...frágil. A única coisa que pude fazer foi jogá-la em direção a parede da garagem da entrada da casa, e a beijar. Ergui o vestido de seu pijama e mergulhei minhas mãos em suas partes íntimas. Pouco me importava se alguém resolvesse aparecer na rua. Ela também não se importou com a possibilidade dos pais aparecerem. Isso só me fez ficar ainda mais exitado. Acho que tudo isso vai acabar me matando."

E-mail salvo (mas não enviado) para Priscila, na caixa de rascunho de Estrela.

Obs: Não consegui; fui fraca novamente. Vou partir para o plano B, a pior - e última - coisa que farei na vida. Quero que saiba que sinto muito por toda a preocupação que causei a você e a meus pais. E sinto muito por toda a dor que ainda causarei.