iNever Lose The Madness escrita por Aline


Capítulo 1
Eu Nunca Perderei a Loucura


Notas iniciais do capítulo

Heeeey ♥
Talvez vocês achem fofo...



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Se havia algo que eu havia tentado reprimir mais do que tudo, era aquilo. Qualquer um que me conhecesse bem o suficiente quatro anos atrás, diria que eu havia perdido a noção do pensar. E Deus sabe o quanto tentei frear isso. Às vezes, quando me via pensando no Freddie, e na sua beleza, e na sua inteligência, e em todo o seu ser... puxava os meus cabelos com força e revirava os olhos para o meu próprio coração, pensando em quando tinha me tornado idiota, gastando tempo o admirando ou imaginando um futuro onde existia um “nós” diferente, quase sem pancadas; com as brigas pouco razoáveis que sempre tínhamos desde a sexta série, mas que acabariam de maneira nada singular; e com beijos, e com tudo de mais romântico e clichê que poderia existir no universo. E era justamente nesses momentos, quando eu me via suspirar distraidamente, que passei a perceber o quão absurdos estavam sendo os meus ideais. Afinal, o Freddie amava a Carly, e entre ele e eu só havia a nossa típica relação ódio/jogo/amizade/inimizade. Não haveria espaço para um amor ali dentro nem que eu conseguisse falar com ele a respeito disso. Em primeiro lugar porque isso era patético, em segundo lugar porque não estava disposta a passar a humilhação de vê-lo rir de mim caso me atravesse a declarar. Porque evidentemente quando eu falasse que me apaixonara, ele iria rir e falar em seu tom bem-humorado “não brinca, Sam!”. Então eu teria de rir conjuntamente e concordar que não havia conseguido pregar uma peça nele. E depois ficaria remoendo a minha estupidez absoluta.

Mas não foi assim. Eu nunca achei que estaria pronta para lhe contar algo assim porque simplesmente, e realmente, nunca estive. Na noite do Lock In, quando o desgraçado do aplicativo que havíamos criado indicou que eu estava apaixonada, a única coisa que eu mais poderia desejar era que houvéssemos criado algo capaz de me fazer regressar no tempo, e jamais ter servido de cobaia. Então a Carly me veio com conselhos amorosos sobre a pessoa que não era a dona dos meus devaneios e da minha boa vontade atual. Uma parte de mim queria que ela tivesse decifrado corretamente, e chegasse solidária para dizer aos sussurros “eu sei como você se sente, amiga”. E a outra parte... Ela estava infeliz demais pra qualquer conclusão.

E eu não havia ficado contente quando o Freddie veio ao meu encontro, com mais conselhos desnecessários, principalmente porque ele havia colaborado em me trancar junto com o Brad. Aquilo me fez ter certezas dolorosas, e ainda mais depois dele falar sobre a Carly estar certa. No começo, desejava que ele fosse embora e me deixasse pagar o papel de coitadista-apaixonada-platonicamente sozinha. Mas quando Freddie continuou com seu discurso, sem perceber o que significou eu ter dito que não o odiava mesmo sabendo que tinha lhe dito isto várias vezes, comecei realmente a cogitar seguir o que ele próprio estava dizendo. E num ato de puro impulso, raiva e amor, eu segurei seus ombros largos e o beijei. Enquanto meus lábios massageavam os seus, podia jurar que aquilo era apenas um sonho babaca, e que quando acordasse estaria babando no travesseiro. Mas havia um ar natural que balançava os meus cabelos, o vento, e como eu sempre me certifico de fechar as janelas, já que a minha mãe nem pra isso se responsabiliza, eu percebi o que realmente estava fazendo. Diabos, eu estava beijando o Freddie! Ele acabara de descobrir que a minha paixão era por ele. Certamente eu estava contente por ele não ter me afastado, porém também senti um constrangimento enorme, já que ele não correspondera. Quando nos separamos, vi que seus olhos estavam abertos, curiosos, confusos e um tanto apavorados. Me desculpei informalmente, na minha forma desleixada, e ele só disse “Tudo bem”. Alguns segundos depois eu fui embora, deixando-o lá, completamente sem o que pensar. Afinal, o que o Benson estaria pensando de mim? Mas... desde quando eu me importava com o que ele pensava a meu respeito?

E no dia seguinte eu me via no Águas Turbulentas, cercada de loucos, pessoas como... eu? Tomar a iniciativa de me internar em um hospital psiquiátrico não fora tão difícil, e eles me aceitaram quase sem burocracia alguma, provavelmente eu parecia uma doida, sem precedentes. No dia em que chegara, conversei por meio minuto com alguns dos malucos. E depois pedi à balconista que não permitisse visitas. Ela havia afirmado muito duramente, tratava assim a todos os pacientes, e eu tentava compreender que fazia parte do seu trabalho, mas isso não diminuiu em nada minha vontade de socar o seu rosto e o de outros funcionários, exceto os que me traziam as refeições. Às vezes os loucos, porque eu me recusava a gravar os nomes deles e depois esquecer (era exatamente isso que acontecia com todos ali), me convidavam a “brincar” lá fora. Quando cheguei, havia pensado que as brincadeiras se refletiam em aprontar com os seguranças ou amarrar os cadarços das enfermeiras enquanto elas tentavam nos sedar, mas não... na realidade eram só... brincadeiras. Bonecas, cordas de pular, balanços, e lama deixada propositalmente. Não demorei nada a perceber que as brincadeiras eram um escape, para que os loucos se cansassem mais depressa e não precisasem de tranquilizantes durante a noite. E eu aprendi a detestar as noites naquele lugar. Os loucos dos meus quartos vizinhos, assim como a maioria, sentiam pavor de nuvens negras, estrelas e lua. Nas madrugadas da minha estadia por lá, não poderia odiar mais os meus companheiros de insanidade. Eles e seus surtos psicóticos me faziam ter noites maldormidas, e algumas vontades contraditórias... Em certos momentos, eu desejava que o meu amor pelo Freddie não existisse, para que eu pudesse voltar e olhá-lo com sarcasmo novamente, acertando-lhe objetos pesados no corpo e lhe ofendendo verbalmente. E em outras ocasiões, as mais raras e quando eu realmente achava que fazia sentido estar no Águas Turbulentas, esperava que ele viesse até mim e me dissesse que tudo estava sinceramente bem, em um sentido que só eu imaginava.

Mas então ele veio realmente. Quando Carly entrou no meu quarto, não fiquei tão perplexa, afinal ela é minha melhor amiga e eu não lhe dera satisfações quando simplesmente sumi por... Ok, eu havia perdido a noção dos dias, estar ali talvez me infectasse com uma dose de personalidade lunática. Ela começou a falar sobre o que ocorrera entre Freddie e eu, e não podia me sentir mais perdida naquilo tudo. Carly me apoiando e me constrangendo ao mesmo tempo. E a situação se tornou ainda mais constrangedora quando Freddie nos encontrou, e a morena exigiu que conversássemos. E foi só depois que eu percebi como ele havia me convencido a sair do sanatório com um diálogo simples e insignificante, que mal durou três minutos. Com aquela conversa instantânea, eu havia interpretado que Freddie não estava disposto a me pressionar a falar sobre o beijo, e muito menos cogitar uma relação comigo além da que já mantínhamos. Numa conclusão conformista, o meu cérebro remoído de loucura processou que já chegara a hora de encarar aquilo. Com o que os funcionários do Águas Turbulentas não entraram em acordo, alegando que eu precisava da permissão da minha responsável, ou melhor, da minha irresponsável mãe. E como a figura estava em Tijuana, fazendo depilação a laser, eu só podia contar com os meus amigos.

Simplesmente foi inevitável não achar hilário ver Spencer vestido como Pam. Eu poderia ter ficado grata, mas acreditei que me ajudar era a obrigação deles. E as coisas deram errado... E o segurança foi convencido a nos deixar fazer o iCarly por lá... E a minha melhor amiga teve a brilhante ideia de incluir os nossos fãs na turbulência dos meus pensamentos em relação ao Freddie. Ah, e aquele garoto me causou um pânico gigante quando disse que exporia o que estava sentindo no web show. Eu não podia acreditar que aquilo aconteceria. Imaginava que, por vingança por tudo o que eu havia lhe feito durante anos, ele me humilharia publicamente. E mesmo dizendo que não me importava, provavelmente eu nunca liguei tanto para algo quanto para aqueles minutos que antecederam tamanha ação inesperada. Ele havia me beijado. E aquilo era tudo que eu menos pressentia. E quem sabe, tudo o que eu mais queria também. Freddie havia simplesmente me feito sentir que a loucura valia a pena quando disse que nós dois éramos loucos. As palavras nós e loucos se encaixavam bem, do modo que eu precisava. Então eu passei a me perguntar nos minutos seguintes se ele havia feito aquilo pra não causar o pior clima que já surgiu nas nossas vidas, estava inquieta, me questionando se caso a Carly não houvesse tido a ideia de nos conectar com os fãs, ele ainda teria tomado aquela atitude. Mas os meus pensamentos se acalmaram, e o meu coração se aqueceu quando Freddie ficou no hospital psiquiátrico mesmo depois de já termos gravado o iCarly. E quando ele voltou no dia seguinte, e nós conversamos, e nos beijamos, e ele me deixou reclamar do barulho insuportável que os doentes mentais faziam à noite, e me permitia adormecer no seu colo e só acordar duas horas depois, e eu o deixava falar sobre seu clube A.V e o de modelo de trem, e nós reclamávamos conjuntamente das nossas mães, e às vezes até falávamos sobre a relação que começamos a manter. E eu podia sentir que estava me tornando doce com ele, pelo simples fato de não mais insultá-lo, nem mesmo nas nossas brigas –que por sinal eram frequentes-, chegava a lhe maltratar com a mínima semelhança de antigamente. Eu tinha certeza de que a Sam de 4 anos atrás me olharia barbarizada, esbofetearia meu rosto e gritaria palavras de asco. Em nenhum momento ela morreu, só passou a dividir o lugar com a minha outra parte, a bestificante apaixonada pelo nerd com quem implicou toda a adolescência. Eu ainda amava presunto, bacon, almôndegas e frango frito de maneira incondicional. Eles não se tornaram menos importantes, só que- como as minhas duas personalidades- aprenderam a compartilhar o amor que eu lhes dedicava.

Eu estava há uma semana no Águas Turbulentas, sem dúvidas teria enlouquecido de verdade se não recebesse visitas de pessoas normais (ou quase isso). Mas a minha mãe retornaria no dia seguinte e eu ainda tinha 0,1% de paciência. Carly vinha sempre à tarde, depois da escola, e era a ela quem eu pedia para trazer as comidas que ali não serviam. Spencer lhe acompanhou algumas vezes e teve o privilégio de ser reconhecido pelos pacientes como o cara que se vestiu de mulher. Gibby chegou a retornar diariamente, sem horário definido, mas em suas visitas costumava passar mais tempo com Caleb, ouvindo as barbaridades sobre o “futuro” e rindo junto a ele, enquanto assistiam a televisão desligada. E o Freddie... Nossa, eu passei a me imaginar suspirando falando seu nome, mas já parei. Certa vez eu perguntei o que ele dizia à sua mãe para poder sair de casa e voltar naquele horário, e ele disse que inventou uma história sobre reuniões de garotos a favor da higiene diária. Ela ficou empolgada e disse que gostaria de participar, mas o Freddie alegou que era apenas para garotos, e que devia ser um segredo, pois eles estavam preparando uma apresentação surpresa para os jovens da cidade. Marissa ficou orgulhosa. Enfim, essa mentira era porque ele sempre me visitava à noite, e ficava até as onze horas, quando o segurança do segredo vergonhoso enxotava todas as visitas dos doentes mentais. Na verdade, ele enxotava só a minha visita, porque os outros loucos não recebiam ninguém. Eu poderia até sentir compaixão por eles, mas isso nunca foi do meu feitio, e não era só porque eu estava apaixonada que começaria a ter sentimentos solidários por todo mundo. Além disso, eu gostava de pensar no Freddie como a única visita à noite. Como a minha única visita à noite. Como meu. Revivendo tudo aquilo, devaneando quase como uma verdadeira louca, vi a noite chegar, e com ela o Freddie. Sorrimos um para o outro, de uma maneira meiga que nunca teríamos feito anos atrás e que desdobraria a Sam da sexta série em uma revolta irredutível.

-Como foi seu dia?- Ele perguntou, sentando ao meu lado na mesa em que os pacientes costumavam ficar para assistir televisão, e passando um de seus braços envolta dos meus ombros.

-Normal.- Respondi, mirando seus olhos encantadores... Opa, tenho de usar menos essa palavra.

-Sério? Você sempre diz péssimo.- Freddie parecia surpreendido, porque na verdade aquilo era uma realidade. Ele chegava, sentava ao meu lado, perguntava sobre o meu dia, eu perguntava sobre o seu, e só depois o assunto mudava para coisas interessantes, ou... Beijos interessantes. Mas a resposta que eu dava sobre como fora o meu dia sem dúvida não variava de péssimo, afinal era inacreditável quem eu ainda tivesse de ficar por lá. Mas por alguma razão daquela vez eu disse normal, porque não queria aborrecê-lo com o tema de sempre. Não sei se havia dito aquilo por me preocupar com o que iria pensar, ou porque o brilho nos seus olhos parecia acentuado, ou porque seus lábios me atraíam mais, ou porque eu havia passado as últimas horas pensando em dias atrás, no que me levara ao relacionamento com Freddie. Relacionamento esse que eu ainda não nomeava. Talvez estivéssemos em um “lance”, uma “amizade colorida”, ou até mesmo um namoro... Aquilo não importava tanto quando estávamos juntos.

-É, eu me sinto melhor porque a minha mãe vai voltar amanhã, e finalmente vou poder sair daqui.- Criei uma resposta qualquer, já que me recusava a iniciar um diálogo sobre as preocupações de uma garota apaixonada.- E o seu?

-Um pouco balançado...- Ele disse, parecendo pensativo.- Acho que o professor de História não gosta muito que eu saiba coisas que nem ele aprendeu, e tá tentando me diminuir de alguma forma.

-Ah... Essa vai ser a parte ruim de sair daqui: voltar pra escola.- Falei, revirando os olhos.- Mas então, quer que eu dê um jeito nele?- Sugeri, tentando animá-lo.

-Não, valeu.- Freddie disse, rindo.- O que é isso no seu cabelo?

-O quê?- Perguntei, tocando minha cabeça, não lembrava de ter posto nada nessa cabeleira loira que ultimamente tem sido lavado obrigatoriamente todos os dias, já que as enfermeiras não estavam dispostas a cuidar de possíveis piolhos nos pacientes. Freddie arrancou delicadamente um pequeno broche que estava enroscado entre a minha franja.-Argh! Foi a Layla, uma maluca que acha que trabalha num salão e sai por aí colocando acessórios no cabelo de todo mundo, enquanto a gente dorme.- Lamentei, fazendo uma nota mental para dar uma lição àquela louca quando Freddie fosse embora.

-É um broxe bonito. Deixa eu pôr em você direito.- Ele opinou.

-Não me diz o que fazer! Eu não quero isso.- Falei, levando a sua mão e o broxe para longe da minha cabeça.

-Por que você sempre fica com raiva do nada?- Freddie questionou, parecendo indignado.

-Você está tentando me mudar me impondo coisas que eu não quero.- Reclamei, afastando-me para que ele mirasse meus olhos e encontrasse neles a raiva que aquilo me causava.

-O quê? Isso não faz sentido!- Ele exclamou, atônito.

-Então você acha que eu não tenho sentido? Acha que eu deveria estar aqui?- Perguntei, cada vez mais irritada. E lá começava mais uma das dezenas de brigas que tivemos... No Águas Turbulentas, tínhamos de aprender a discutir em voz razoável, para não assustar os doentes. Em diversas ocasiões fomos repreendidos por brigar em tons elevados e, em certa ocorrência, o segurança havia ameaçado em escoltar Freddie, e aquela foi a única vez em que eu me desculpei primeiro -geralmente, Freddie tinha de ser o nosso ponto pacifista-, mas naquele dia eu tive de engolir todas as toneladas grossas de orgulho e pedir perdão antes dele. Simplesmente porque o queria perto.

Retornando à nossa briga atual, alguns minutos depois, ele percebera que já estávamos falando alto demais, e em respeito aos poucos loucos que desejavam dormir cedo, e acredito também que em consideração a mim, jogou no chão o broche desgraçado que causara nossa discussão.

-Foi mal.- Freddie disse, quase gritando para calar a última frase que eu diria.- Você não precisa disso nem de mais nada. Você é linda.- Ele murmurou, e eu proibi meu rosto de corar com o elogio.

-Desculpa.- Falei, a voz extremamente baixa, e os olhos mirando o teto.

-Quer que eu penteie seu cabelo agora? Acabei bagunçando ele um pouco.- Ele sugeriu, sorrindo levemente.

-Quem sabe outro dia...- Disse, lhe sorrindo de volta. Me debrucei sobre ele e senti o seu abraço. Nos pusemos a conversar novamente, e meia hora depois ele deve ter percebido que eu desejava dormir, observando meus olhos piscarem por mais tempo, já que me deixou deitar em seu peito, falando cada vez com a voz mais baixa, tocando meu cabelo bagunçado com um carinho sonífero, passando seus dedos pelo meu rosto.

E ali, sentindo seu coração bater em minha bochecha, e idealizando para nós mais momentos assim... Talvez eu estivesse mesmo louca, mas se ele dizia também ser, não havia motivo para tentar deixar tudo isso que estava sentindo. Entretanto ainda tinham coisas erradas, ou talvez só confusas... Que felizmente não se referiam ao amor, o único que nos dava certeza e nos tomava a razão.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?