Prendo minha respiração, meus olhos se enchem de lágrimas e meu corpo fica imóvel.

–Espera, você está falando... – digo gaguejando.

–Sim, da família do seu namoradinho.

Coloco minha mão na boca, começo a andar de um lado para o outro, não consigo conter minhas lágrimas e elas descem disparadamente. Não posso acreditar nisso, os Donavan são como minha família, os conheço desde pequena, não posso acreditar que eles fariam uma coisa dessas, deve ter algum engano. Paro de andar e olho para Stefan, ele está me olhando e tentando segurar suas lágrimas.

–Deve ter algum engano – digo para ele.

–Não! Não tem engano nenhum! – ele grita – será que você não entendeu? Essa família que você tanto ama, teve coragem de matar uma inocente! – ele abaixa a cabeça e se deixa chorar.

Respiro fundo.

–Como isso aconteceu? – pergunto.

Ele olha para mim.

–Fazia quase duas semanas que minha mãe foi trabalhar de empregada para eles, e teve um dia que a senhora Donavan disse que uma joia muito importante e cara tinha sumido...

–O colar que ela ganhou no noivado dela – digo para mim mesma.

–Exatamente – diz ele – e não tinha nenhum indicio de nenhum ladrão de fora, só podia ser alguém dentro da casa, então deduziram que minha mãe tivesse roubado por ela estar há pouco tempo, afinal os outros empregados estavam lá há mais de três anos. E eles a pegaram e a torturaram, e ela dizia que não tinha roubado nada, só que eles tinham certeza disso, a torturaram por dias – sua voz treme - até que ela não aguentou mais e – lágrimas voltam a rolar pelo o seu rosto – ela morreu.

–Não, não – digo negando com a cabeça – isso é horrível!

–Você nem imagina quando eu soube disso, eu preferia mil vezes que ela tivesse morrido por causa de um maldito câncer!

Me aproximo dele, ponho minhas mãos em seu rosto e seco suas lágrimas.

–Eu sinto muito, muito mesmo – digo.

–Tudo bem, não adianta chorar, ela nunca voltará.

–Por que não me contou a verdade?

–Preferi te poupar tudo isso.

Ainda não consigo acreditar, as pessoas que te viram crescer, que foram como pais para você, mataram uma mulher inocente.

Abaixo a cabeça e tiro minhas mãos de seu rosto, me afasto e deixo algumas lágrimas descerem.

–Não acredito que eles possam ter feito isso, isso não pode ter acontecido.

–As vezes as pessoas que mais amamos, não são exatamente quem nós pensamos que são.

–O que quer dizer com isso? – pergunto.

–O Matt.

–Não, ele nem deve saber dessa barbaridade.

Ele me encara.

–Sério?! Acredita que ele seja inocente? – pergunta indignado.

–Eu o conheço, ele não seria capaz de fazer isso!

–Não acredito que você está defendendo ele!

–Não estou defendendo, só estou dizendo que...

–Cala boca! – ele grita e me assusto – não quero mais escutar nada! Eu te contei a verdade, se você acredita ou não, pouco me importa!

–Stefan, não é isso – me aproximo e toco em seu braço, ele se esquiva, começo a chorar.

–Você é igual a eles, sempre pensei que você fosse diferente, mas não – diz magoado e com raiva.

–Stefan, por favor...

–Não! Elena vá se ferrar e me deixa em paz! – ele me dá as costas e vai em direção ao seu quarto.

–Stefan! – grito indo atrás dele.

–Me deixa em paz! – ele abre a porta de seu quarto e entra, ele a empurra para fechar, mas a seguro.

–Me escute, por favor!

–Não quero falar com você, vai atrás do Matt o garoto inocente – ele bate a porta e a tranca.

–Stefan! – grito batendo na porta – por favor, abre! Stefan! – me encosto na porta e vou descendo lentamente até o chão, sento e deixo as lágrimas descerem – Stefan, por favor – digo para mim mesma.

Dói tanto ver ele desse jeito, principalmente por minha causa. Não queria magoa-lo, ou desconfiar do que ele disse, mas pensar que o Matt sabia de tudo isso, ou se envolveu com isso, não posso, me nego a acreditar! Eu preciso saber por ele, preciso que ele me fale se ele sabia de tudo.

Fico muito tempo encostada e sentada na porta de Stefan, chorando e chamando pelo o seu nome, esperando que ele abrisse, porém ele não disse nada e muito menos abriu a porta. Resolvo ir para o meu quarto e ligar para o Matt, irei chama-lo para vir amanhã aqui em casa, afinal já anoiteceu e a única coisa que eu quero fazer é dormir.

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Estou jogada no sofá, mudando os canais tentando achar algum programa bom ou filme, e ainda estou me permitindo chorar. Já encharquei a minha blusa, não consigo acreditar até agora, é uma coisa horrível que vai demorar um tempo para eu processar tudo isso. Sem contar que dormi no máximo 2 horas essa noite, fiquei chorando e pensando nisso a noite toda, não consigo tirar isso da minha cabeça.

–Oi – escuto uma voz masculina.

Sento-me no sofá e olho para a porta, vejo Matt.

–Desculpe, eu me atrasei, é que meu pai...

–Tudo bem – digo – vamos lá no jardim?

–Tá.

Me levanto e vou até a porta, ele me puxa pela cintura e me dá um beijo, porém eu corto o beijo. Ele me olha confuso. Dou as costas para ele e sigo até o jardim. Sento em um banco e ele senta ao meu lado.

–Tá, agora eu estou preocupado, o que está acontecendo? – ele pergunta.

Respiro fundo. Olho para ele.

–É que ontem eu descobri uma coisa, e isso está me matando, a única coisa que eu quero saber é a verdade, só isso – digo.

Ele concorda com a cabeça e continua a me escutar atentamente.

–Bom – eu olho para o gramado – o Stefan me contou como a mãe dele foi morta... Ela foi assassinada – olho para ele e vejo que ficou espantado.

–Nossa, que tragédia.

–O problema é como ela foi e quem a matou.

Ele continua a me olhar, esperando eu terminar de falar.

–Foi seu pai.

–O que? – ele pergunta assustado.

–Ela trabalhou na sua casa , por quase duas semanas e o colar de noivado da sua mãe sumiu, e eles a acusaram por ser nova empregada na casa, a torturaram até assumir, só que ela não tinha roubado nada e – abaixo a cabeça – continuaram a tortura-la, até que ela acabou morrendo – algumas lágrimas caem sobre a minha calça, olho para ele e vejo que está espantado e confuso – eu sei é horrível...

–Como meu pai pode ter coragem de fazer uma coisa dessas? Não consigo acreditar que ele foi capaz de fazer isso!

–Eu também não consigo acreditar, é muito chocante e.... – suspiro – Matt – ele olha para mim, com os olhos cheios de lágrimas – você sabia disso? Alguma vez alguém te contou, ou algo do tipo?

–Não! Claro que não! Se eu soubesse de uma atrocidade dessas, eu teria denunciado meu pai, não eu nunca soube!

Fico olhando-o e meus olhos se enchem de lágrimas novamente.

–O que foi? – ele pergunta.

–É que depois de todos esses anos que eu te conheço, nunca imaginei que você seria capaz de mentir para mim, e muito menos fazer uma coisa dessas!

–O que?! Do que está falando?! – pergunta confuso.

–Você está mentindo para mim! Eu sei quando você está mentindo e você acabou de fazer isso! Você já sabia de tudo! – tantas lágrimas rolam pelo o meu rosto e tanta dor que estou sentindo, que a única coisa que eu queria era esquecer de tudo isso.

–Eu não sabia, eu juro.

–Para de mentir para mim! – grito – para! – levanto-me e começo a andar de um lado para o outro. Estou desesperada, o meu primeiro verdadeiro amor é um monstro! O primeiro homem por quem eu fui apaixonada de verdade, é um monstro, é como se eu não o conhecesse mais!

–Ei – ele segura meu rosto.

–Me solta! – tiro suas mãos de meu rosto – nunca mais me toque! Nunca mais olhe na minha cara!

–Elena, me escute...

–Não! Eu não quero te ouvir, não quero te ver! A única coisa que eu quero é que você suma da minha frente!

–Calma, me escuta!

Paro de falar e só deixo minhas lágrimas tomarem conta de mim.

–Eu sabia. E eu achei o certo.

–O que? – ah não! Não, não! Deus quanta dor, quanta decepção, quanta mágoa, quanta desilusão, eu não vou aguentar!

–Pensa, se ponha no lugar dos meus pais, você contrata uma nova empregada, e depois de uma semana de trabalho, a joia mais preciosa some, e percebe que foi alguém que vive na sua casa, quem você culparia?

–Isso não é desculpa! Eu poderia desconfiar dela, mas nunca a torturaria!

–E como conseguiríamos a confissão?

–Não era ela! Vocês mataram uma mulher inocente!

–Elena, foi o jeito.

–O que? Meu Deus, eu te odeio! Vá embora daqui, agora!

–Amor se acalma- ele toca em meu braço e eu me esquivo.

–Não me chame assim! Saia, daqui! Agora! – grito – Agora!

Ele fica me olhando.

–Vai embora! – grito.

Ele abaixa a cabeça e vai embora. Caio de joelhos e me afundo em minhas lágrimas. Depois de alguns minutos, escuto os passos de alguém, levanto a cabeça e vejo Jeremy, ele se ajoelha em minha frente.

–Lena? O que aconteceu? – pergunta ele preocupado.

Me jogo em seus braços e ele me acolhe com um abraço.

–O que foi? – pergunta acariciando minha cabeça.

–Eu terminei com o Matt – digo gaguejando.

–Mais uma briga de vocês? Não precisa chorar, vocês sempre voltam.

Me afasto de seu abraço, seco minhas lágrimas e olho em seus olhos.

–Não tem mais volta, dessa vez ele fez uma coisa imperdoável, uma coisa que eu nunca pensei que ele fizesse.

–Ele te traiu?

–Não, bem pior que isso – meus olhos se enchem de lágrimas.

–Então o que?

–Esquece, eu não quero falar sobre isso.

–Tá, se você prefere – ele se levanta e me ajuda a me levantar.

–Eu só preciso tomar um banho e deitar – digo.

–Você vai ficar bem?

Concordo com a cabeça e dou um sorriso.

–Obrigada.

–Eu vou sempre estar aqui – abraço-o e vou para o meu quarto.

Eu não estou chorando e sofrendo pelo fato de eu e Matt ter terminado, afinal eu já estava me preparando para isso, não estava mais apaixonada por ele e eu iria terminar com ele, mas estou chorando por uma pessoa que eu amo tanto ter feito uma coisa dessas. Matt é uma das pessoas com quem eu mais me importo e uma das que eu mais amo, e ele foi cumplice de um assassinato de uma inocente, e achou certo. Eu não consigo me adaptar a isso, pensar que uma pessoa que eu realmente gosto poderia ter feito algo desse tipo, dói muito. Só que mesmo que eu o ame, não quero mais ter contato com ele, mesmo que eu ainda o considere bastante.