Nossas estrelas, nossas vitórias escrita por May Campbel


Capítulo 10
10. Fração de segundo


Notas iniciais do capítulo

Hey, gente! Tudo bom? Espero que sim. Obrigada pelo apoio nos comentários daquele "aviso", sério, meu coração dá um pulo toda vez em que vejo esse carinho. Eu estava bem sem ideia para o nome do capítulo, então achei "fração de segundo" um nome bacana. E, ah, o capítulo está cheio de referências!
Sem mais enrolações, uma boa leitura e até as notas finais!



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Seus pensamentos não a levavam a nada. Sabendo disso, ela pegou uma pequena chave do bolso da calça. Meio enferrujada, se quer saber, e desceu as escadas. Foi para a cozinha, entrou um pouco mais, num cômodo vazio da casa, aos fundos. Desceu as escadas dos fundos, para um quarto bem embaixo, e abriu sua porta com sua antiga chave, que havia pegado do quarto de seu pai no dia do ataque dos exilados, há cinco anos. Aquele cômodo ali era o canto secreto de seu pai, e com o tempo, passara a ser o seu também. Ali, seu pai, que tinha o dom de desenhista (o próprio fizera a planta da casa em que moravam), guardava todo tipo de coisa, e com o tempo, a mesma também começou a guardar livros que lia e textos que já escreveu. Folhas, canetas e papéis. Tudo ali, intacto, como se ela ainda tivesse quinze anos, e nada tivesse mudado. Por uma fração de segundo, viu-se lá, novamente, na noite do ataque, e enquanto todos ainda dormiam, ela estava naquela espécie de porão, guardando o seu livro favorito, cujo tinha acabado de reler. Ali, cinco anos depois, aqueles papéis e histórias interminados escondiam Astrid Hofferson. E assim virara a madrugada.

ASTRID P.O.V.

E finalmente, o dia havia amanhecido. Bem, só no sentido climatológico da coisa, por que para mim, era como se a noite nem tivesse passado, afinal, eu não havia descansado. Ontem á noite, por uma fração de segundo, eu sentia como se aqueles cinco anos não tivessem se passado. Agora, voltei à realidade, ainda tentando me guiar. Eu estou completamente no meio de uma enrascada. Sempre estive.

Dirijo-me a arena. Partiríamos dali a meia-hora.

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Chegamos. Ainda que sobrevoando, mas estávamos ali. E, ah como eu detestava me lembrar daquele lugar. As celas, os gritos. Eu ainda tinha muitas memórias daquele lugar que eu iria visitar hoje. E eu acabei me dando um luxo de acabar voltando no tempo novamente.

~Flashback~

Eu corria tentando alcançar a saída da prisão dos Exilados, onde Tempestade me esperava. Não fazia idéia que iria ser traída daquele jeito descarado, por que tudo o que me passava pela cabeça é que eu estava a dez segundos de me libertar.

—Ali está ela! –Gritaram por trás. Eu conhecia essa voz.

—Connor? Por quê? –Eu gritava desesperada. Connor era a garota que tinha me ajudado o tempo todo, e agora estava me entregando.

Todo mundo pode trair todo mundo. Frase de um livro, lição para a vida.

—Ao contrario de você, Astrid, Connor sabe o potencial dela. E sabe que pode ajudar o lado mais forte. Você podia ser assim também, mas decidiu ser apenas uma menininha bancada a corajosa, tentando vencer os mais fortes. Junte-se á nós, Astrid, e verá que você tem muito mais valor do que qualquer pessoa poderia te dar.

—Astrid, não os escute! Corre logo! –Hugo gritava para mim, já do lado de fora com Ananda.

—Vai em frente, Astrid. Tente seguir com essa idiotice, mas depois não diga que eu não avisei que você sairia machucada.

—Eu prometi que iria fugir! E não é agora que vou desistir por causa do seu discursozinho idiota qualquer! –Corro para Tempestade, e monto nela. Meu corpo inteiro estava ardendo, mas eu me via livre. Só isso era o suficiente para me manter firme. Assim, tomamos altitude, e eu não olhei para trás. E daí a tempestade veio, os ventos nos levaram, e fomos arrastadas.

Como eu detesto lembrar esse dia, e da bela lição que eu tomei. Mal espero para por as mãos na Connor.

—Está tudo tão estranho. — Perna-de-Peixe. Volto à realidade. A ilha estava mais bem elaborada, mas com bem menos soldados, e alguns ajudavam a levar caixas para um navio, cujo homem gritava “Andem, a nova remessa precisa estar lá antes do meio dia”. Alguns homens pareciam se despedir de outros soldados, como se estivessem numa transferência. Algo errado tem aí, e provavelmente vai muito além do que Kiara ou Hugo pode causar.

—Vamos pousar perto daquela floresta. Parece ser seguro. –Eu.

—Só uma pergunta: alguma vez alguma coisa relacionada ao Dagur foi segura? –Melequento.

—Então vamos fazer assim: você pousa naquela caverna e vê o que tem lá e a gente vai para o lugar que parece seguro. –Soluço.

—Estava só analisando as opções, esquentado!

—Estranho... Esse lugar nunca foi muito de calmaria. E, aquelas remessas... Alguma coisa muito errada tem aí.

—Então... –Soluço pergunta, assim que pousamos. – Como você sugere que a gente entre?

— A questão não é e nem nunca foi entrar na base. A questão é não ser pego, e pra isso, precisamos nos dividir. Soluço e Perna-de-Peixe entram pela porta dos fundos. Normalmente ninguém vigia aquele lado. Haverá vários corredores, e vocês vão entrar no primeiro à esquerda, e vão em frente. – Eles assentem. – Melequento e Gêmeos: a destruição é com vocês. Destruam todas as celas dessa base, e apenas desse lado. Vocês quatro se encontrarão no final.  

— E quanto a você? 

— Ah, não se preocupe comigo. Fui presa várias vezes. Sei o que estou te dizendo. Agora, quando eu assobiar, vou distraí-los. Vocês entram. Cuidado. – Digo, já assobiando alto, e jogando um graveto do outro lado, soando como se alguém houvesse pisado em falso num graveto.

Agi rápido, e adentrei no primeiro local possível. O corredor onde ficava a antiga sala de Dagur. Pelo que escuto da voz, o cômodo ainda parece ser a sala de alguém.

Três, dois, um. Conto mentalmente, e escuto a primeira explosão. Soldados se alertam, gritando ordens. Estava tudo dando certo. Até a voz de Dagur soar no corredor. Escondo-me atrás de uma parede tão rápido que acho que pareci um vulto. Os passos deles parecem cessar, e rezo para que não tenham notado.

— [...] mais que isso! Nosso plano está genial! Os dragões estão vivos, e sem atacar. E vamos tomar ainda mais de Berk quando atacarmos aquela ilha. Imagina só, Mestre Estilhaço! — Diz ele para algo que se parece um Gronkel.

— E a sua irmã? Sabe que a Heather não se viraria fácil contra aquela ilhazinha. Não desde a morte de Viggo.

— Ah, minha irmã é um problema para outra hora. Além do mais, aqueles cavaleiros de dragões já estiveram em paz comigo, lutamos juntos, Imundo. O que os impede de confiar de novo? Principalmente, se eu salvá-los. Genial! Não é genial, Imundo? –Ele fala para o soldado, que gagueja sem saber o que dizer.

— Tem razão senhor. O plano entre você e Drago é genial. –O soldado diz, gaguejando, mas diz.

Oi?  Dagur e Heather irmãos? Paz? Realmente, eu sabia de alguma informação antes de vir até aqui? O pior: se eu não tivesse vindo até aqui, será que eu continuaria sem saber de nada?

Sem tempo, Astrid. Foco.

— Senhor, a nova remessa no navio já se dirige a Drago Sangue-Bravo. –Uma terceira voz entra no assunto. – Alguns dos soldados também estão sendo levados para a base.

— Antes de mandar a remessa para Drago, eu e Ryker gostaríamos de ter um papinho com aquele garoto que está preso. – Hugo.

Todo mundo pode trair todo mundo.

Não. Repreendo-me. Hugo não. Ryker?  

— Onde preciso ir buscá-lo? – Pergunta a terceira voz.

— Numa das celas do segundo corredor.  – Ele solta mais informações, sobre outras celas, mas eu saio dali. Já tinha a informação que eu precisava. Eu não precisava ouvir mais nada.

De repente, me vi sem tempo. Aquilo ali ia muito mais além do que eu tinha em mente. A “guerra”, que era muito mais elaborada do que pensei, nem sequer havia começado.

—--------------

— Todos bem? – Ouço Soluço perguntando. Ouço vários sim. E logo depois, eu entro. Eles ainda teriam muito a me explicar. Eu nem tinha o que pensar.

— Estou aqui. Todos encontraram o caminho? – Digo, sem olhar para nenhum deles.

— Pelo jeito que você disse, sim.  

— Ótimo. Não temos tempo. Kiara está para lá. – Digo, dobrando o corredor. – Me sigam, e escondam-se de guardas. – “Apesar de a segurança ser lamentável” senti vontade de completar. Passamos pelos corredores sem intervenções, chegando até a apagar um ou dois guardas.

— Me larga! – Ouvi uma voz. Uma garota. Já deveria imaginar quem era.

— Hey, seu rato. – Falo por trás. O soldado vira-se. – Larga ela. – Digo, com um leve sorriso, lhe depositando um soco no rosto. Os outros dois foram pegos pelos gêmeos, uma cena bem divertida de se ver.

— Astrid! – Ela esboçou um sorriso em minha direção. - Como sabia que eu estava aqui?

— Você sumiu, junto com dois irmãos e vários dragões. Tínhamos nossas suspeitas.

— Ananda e Hugo. Aqueles dois sumiram aqui. Nos separamos. Depois, só ouvi dois soldados cochichando que iriam levar um dos dois. É encrenca.

— Ah, deuses. As pessoas não cansam de me surpreender nunca. – Falo, como quem está precisando de alguns esclarecimentos.

— Olhem lá! – Um soldado aponta, e me dou conta do nosso descuido. – Peguem! – Nesse momento eu corro, desejando não me separar deles novamente. E não sair de lá sem Ananda ou Hugo. Os dois, se a vida quisesse ser boa comigo. Deixo qualquer instinto me guiar. Eu não ia me distrair agora.

— Olá. – Diz Dagur, me derrubando de lado. Covarde. – Você vem comigo. – Ele me segura, juntamente com dois soldados, e me levam para o salão dos exilados. Me sentam numa cadeira a frente de Dagur, e me cercam.

— Então, o que você tem a dizer agora, Dagur? Mais ameaças? Mais segredinhos?

— Está se sentindo tão impotente assim? – Ele ri.

— Nem um pouco. –Solto um sorriso irônico, que o faz ficar perdido, como se não soubesse o que dizer. – O que te leva a achar que você precisaria de dois soldados e uma arma para manter uma menina impotente na linha?  - Devolvo a provocação.

— Ah, nada demais. –Ele tenta disfarçar. –Estou com um novo plano, sabe? Novos aliados, uma nova luta. –Ele sorri.

— Drago Sangue-Bravo? – Disparo.

— Um caçador nato.

— Um caçador? Está se aliando a aquela laia? O quão grande é a sua burrice?

— Burrice seria se eu achasse que conseguiria vencer isso sem aliados. Mas essa esperança eu deixo para você, Astrid.

— Você realmente acha que vai passar a perna neles, Dagur? Que eles vão acreditar em você, entregarem tudo em suas mãos e quando vocês vencerem, eles vão se render e você vai dominar tudo? Você está comprando mais uma guerra? Mais longa? Você realmente é tão idiota quanto eu penso? – Disparo.

— Garotinha, entenda: ali, eu quem mando. E se alguém me desobedece, paga por isso. Ali, eles me respeitam. Essa é a hierarquia da vida. Você acha que esses caçadores também não dependem de mim? Ah, qual é! Isso é uma aliança boa demais para se recusar.

— Eles não vão honrar essa aliança. Não vão cumpri-la. Nunca. Deveria saber com quem se mistura.

— Sei melhor que você. Adeus. – Ele diz, saindo de lá. Cerca de cinco minutos depois, os soldados me seguram, prontos a me levar para algum outro lugar. Eles acharam mesmo que eu iria ficar presa hoje? Me debato, chutando um dos soldados, fazendo-o soltar meu braço esquerdo, o qual uso para dar um soco no outro. Eles tentam me agarrar, mas acabam se batendo. Reviro os olhos, e sigo em frente, torcendo para que ainda consiga sair de lá.

— Peguem-na! – Ouço o grito de um soldado. Uma voz grossa. Eu estava correndo o mais rápido que poderia.

— Não me mantiveram presa durante dois anos, acham mesmo que vão conseguir agora? – Sorrio, já fugindo. Via que todos os outros já estavam lá fora, e nas mãos de Perna-de-Peixe, tinha um mapa. Pelo menos uma parte do dia deu certo.

— Astrid! –Soluço grita, sobre mim, sobrevoando com Banguela. – Me dá a mão! – Estendo meu braço para ele, subindo em Banguela. Não levo muito tempo até tomarmos altitude e eu pular para Tempestade.

— Alguém? – Grito para ele, que voava ao meu lado. Ele entende o recado, e vira para trás. Estava perguntando se ainda havia alguém ali, antes de partirmos definitivamente, deixando aquela ilha um caos.

— Ali! – Ele aponta. Hugo.— Não, não faz isso! – Ele se refere ao momento em que eu fico numa altitude baixa suficiente para que ele possa montar atrás de mim. Sou rápida o suficiente para que não nos alcancem.

Na minha cabeça, eu ainda tinha milhares de perguntas a serem respondidas. Sobre Viggo, esse tal de Ryker, sobre Heather, e ainda tinha bastante para tentar descobrir.

Como se eu voltasse no tempo, em fração de segundo, eu entendo. Eu entendo que essa luta não é uma batalha superficial. Essa luta é um jogo. Está no topo quem consegue jogar certo. E está na hora de tirar Dagur do topo.


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Notas finais do capítulo

Oi! E então? Bem, esse capítulo foi complicado, eu não conseguia ter uma linha de raciocínio, e no fim, deu esse capítulo, que eu considerei bem grande, comparando com os outros. Espero de coração que vocês tenham gostado/se surpreendido/se divertido, e entendido algumas referências!
Sobre outra coisa: a série "Dragons, race to the edge" que lançou a quarta temporada recentemente. Estou tentando alinhar minha linha de raciocínio a série. Se você já assistiu, acho que conseguiu notar, e se você não assistiu, fique tranquilo, pois não vai interferir em muita coisa.
Sintam-se a vontade para se expressarem nos comentários.
Beijos, e até o próximo capítulo!



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