A Little Lie that Never Comes escrita por Phil King


Capítulo 1
Prólogo




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Nikolay ficou parado, a olhar estupefato para Dmitri. O que aquele demônio imundo fazia ali? Não tinha como saber. Depois de um tempo, o maldito deu um passo na direção do grande senhor das Trevas. Pisou numa poça de água que havia ali e o barulho das gotas d'água a se tornarem gelo tomou conta do silêncio que se estabeleceu ali. Deu um sorriso maléfico e murmurou:

Olá, gospodin Nikolay. — ajoelhou-se e beijou a mão do senhor das Trevas.

Sentiu o lábio rasgado dele passar por sua mão, já velha. Assim que ele se levantou, o demônio não perdeu tempo e deu um tapa violento no rosto daquele imundo, de um modo onde seus cinco dedos ficaram gravados na pele suja de Dmitri.

O que você faz aqui? Alguém falou que você pudesse pisar com seus pés em meu domínio?! — berrou, furioso. — É bom que tenha algum bom motivo para eu não te lançar uma terrível maldição.

Para que tal grosseria? Não estamos em guerra, estamos? Vim em nome de Aleksandr, mestre do Tempo… — falou, com um tom de voz macabro.

Aquele velho burro ainda não se tocou que você está o matando? — indagou. — Ainda não sei que motivo ele tem para lhe deixar encarregado das comunicações.

Por que eu estaria? Tolo… Ele não acredita em suas calúnias e, por mentir para ele, jogou em você uma pequena “maldição”, ou, se preferir, uma sanção.

Sanção? — riu. — Estamos no mundo dos demônios, que lei governaria aqui? Não há como vivermos sob regras… É algo impossível. Continuo a querer um motivo para não te lançar uma maldição agora.

Isso? Fácil! — deu uma maldosa gargalhada. — Ele confiscou seus poderes!

Aquele velho podre fez o quê?! — berrou, o estresse a deixar sua cara vermelha. — Vá se foder, Dmitri! Saia daqui! Fora!

O demônio sorriu de canto, deu a volta e saiu lentamente dos aposentos do senhor das Trevas. Quando finalmente deixou o local, virou-se e criou uma grossa camada de gelo que confinava Nikolay em seu terraço. Sorriu para si mesmo, a imaginar como fora fácil conseguir tal vitória. Antes, quem imaginaria que ele, o hediondo, seria capaz de absorver os poderes do próprio mestre das Trevas e trancá-lo? Ninguém! Mas as coisas haviam mudado. Dmitri conseguira poder, posição e a confiança do onipotente Aleksandr. Ninguém mais poderia mais questioná-lo. Ele estava dando um tipo de golpe que aquele mundo jamais vira. Era algo novo, com potencial. Estava apenas começando e os demônios sabiam disso. Menos aquele estúpido senhor do Tempo. Ele governava, era todo-poderoso, ninguém podia negar. Do mesmo jeito, era estúpido.

Uma guerra se travava debaixo do seu nariz, mas ele não percebia. E contribuía para ela sem sequer notar. Em termos de inteligência, um mero humano ria na cara dele. Dmitri ainda estava interdito com Aleksandr, porque concordara em sugar o poder de Nikolay e manter sua esfera de poder no cofre do quarto do mestre do Frio — ele ousava se autointitular assim.

Realmente, sou horrível, pensou para si mesmo. Mas, ainda assim, posso dar na cara de quem quiser.

Em pouco tempo, já se encontrava na Krasnaya ploshchad — sim, aquele mundo era espelhado no mundo dos vivos — diante da Catedral de São Basílio. O local era praticamente vazio ali — principalmente de madrugada —, só estavam ali ele e Mikhail, assim como planejado. O demônio da Morte trajava um sobretudo negro, uma camiseta marrom, uma calça e tênis, como sempre. Ele cumprimentou Dmitri com um aceno de cabeça e se aproximou deste.

Chegou mais cedo. — murmurou.

Sou rápido, não perco tempo.

Claro, o tempo do seu precioso senhor… — riu.

Eu o serei novamente: tenho o poder das Trevas retido no meu cofre e prendi Nikolay. Alguma observação a fazer?

Ficou a encarar o belo rosto da Morte. Não, ele não era feio como as pessoas imaginavam. Seus olhos eram azuis-claros — ou qualquer outra cor, dependia de seu humor —, seu nariz era pequeno e bonito, suas maçãs levemente arrendondadas. A boca era um tanto carnuda, mas não chamava muita atenção. Seus cabelos eram negros e lisos, sempre penteados. A barba e o bigode estavam sempre feitos, sem nenhum vestígio de que estiveram ali.

Sim, aquela provavelmente seria sua última visão. Triste, não?

Seu suverennoye Aleksandr, como está? Tudo bem com ele? — Mikhail perguntou.

Tudo péssimo. Nunca esteve mais cego, ou mesmo morto. Quer dizer, espero que também esteja fazendo sua parte. Está?

Sim… Não duvide de mim, Dmitri. — fez uma maldosa pausa. — Lembre-se, que mesmo depois de tudo, sem mim você ainda é um demônio insignificante, imundo e hediondo.

Ainda te mato.

Me matar? Matar a própria Morte? Vejo que está delirando. — riu.

Estou apenas brincando.

Pôs-se a andar de um lado para o outro, de volta a seus devaneios. Via uma situação completa e absolutamente favorável a ele e assim, de um certo modo, também favorecia Mikhail — não conseguiria fazer nada, a não ser que estivesse com ajuda da Morte. Isso fazia com que o demônio tivesse tudo a palma da sua mão. Se ele quisesse, poderia simplesmente mudar de lado e Dmitri estaria morto, banido.

Mudou de ideia: definitivamente, tinha um demônio que podia questioná-lo, confrontá-lo. Estava diante deste naquele momento.

Então, o que pretende fazer? — a voz funcionou como um choque para o mestre do Gelo, a sair de seus pensamentos.

Bem… Preciso de um tempo para conseguir absorver as Trevas completamente sem que Aleksandr perceba e dominá-las. Uma semana, no mínimo.

Tudo bem. Mas saiba que nem sempre respeito prazos.

Estou ciente.

Ótimo. Como você se garante que Nikolay não vai pular daquilo?

É simples. Suas asas são parte de seus poderes sobre as Trevas. Eu os tenho no meu cofre, não tem como ele voar. As asas continuam com ele, porém ele não tem mais controle algum delas. Ele sabe disso.

Aleksandr sabe que você prendeu um dos mais importantes demônios?

Ah, claro que não! Seria muita coisa para aquele velho podre, morreria antes da hora.

E se eu não deixasse ele morrer?

Você é poderoso, mas ele continua sendo onipotente, acima de qualquer um. É todo-poderoso, o mais próximo que temos de deus. O Tempo pode engolir, encobrir, descobrir, criar, matar qualquer um. Você não é diferente. Mesmo com toda a sua esfera de poder completa, o Tempo o devoraria, não deixaria sequer uma gota de sangue. Você pode não ser morto, ao menos é o que eu penso, mas pode, com certeza, ser neutralizado… Além de tudo, ele pode confiscar a sua esfera assim como ele fez com Nikolay. Até que aquele velho esteja completamente fora do jogo, estamos presos em um sistema horrível.

Ainda te mato.

Boa sorte — Dmitri sorriu de canto.

O sol começava a surgir, fraco, como sempre. Desde a morte de Kira, ele estava sem dono. Sem destino. Ficava como uma eterna alvorada, oito horas por dia. Depois, o sol se punha e o céu ficava vazio, sem lua ou estrelas. Mas, mesmo assim, todos sabiam que Aleksandr extraíra uma pequena parte da esfera de Kira, para que pudesse observar tudo o que acontecia durante o dia. Pena que ele não sobreviveria para ver o que aconteceria com tão desejados poderes!

Preciso ir — despediu-se Mikhail.

Até mais.

• • •

O palácio do grande e soberano senhor do Tempo era enorme. Não existia na cidade real, era algo místico, construído ali mesmo. Haviam cinco torres — três ao redor e duas centrais —, todas elas com detalhes folheados a ouro que remetiam à arquitetura barroca. Porém, fora os detalhes, o prédio lembrava o estilo neoclássico e neogótico. Sua decoração por dentro seguia os mesmos padrões, uma mistura de estilos. Era algo lindo, porém que não poderia ser descrito, já que estava em constante modificação. A todo tempo, a magia atuava ali, a modificar detalhes, trocar pinturas, etc.

O demônio adentrou o local e seguiu as escadas que davam diretamente aos aposentos de seu suverennoye — a porta não era mostrada a qualquer um, apenas as pessoas de confiança dele deveriam saber a localização exata da porta oculta, mas, era o mundo dos demônios, nunca se sabia — e girou a maçaneta. Aleksandr estava sentado em seu sofá branco, pensativo. Encarava fixamente o tapete de seu quarto — deferia fazer isso há horas, como costumava. Os quartos eram os únicos cômodos que não sofriam modificações a cada minuto.

Bom dia, meu suverennoye. — Dmitri ajoelhou-se diante do mestre do Tempo, como era ordenado a fazer.

Bom dia, Dmitri. — respondeu, frio, e continuou a encarar o tapete.

Já avisei Nikolay sobre a maldição, como deveria.

Sua reação?

Ele está, digamos… Em choque.

Seja mais específico, por favor.

Ele está bem revoltado, não me assustaria se tentasse fazer alguma coisa contra o senhor no momento. Mas, como o senhor é todo-poderoso, ele não lhe fará mal algum, sequer arrancará um pedaço de sua unha.

Ah! Aquele demônio até sem sua esfera está!

Como disse, não lhe fará mal algum. Enfim, Nikolay, literalmente, enlouqueceu.

Aleksandr, finalmente, desviou o olhar de seu carpete e fitou o mestre do Frio, ainda ajoelhado a sua frente. Sua barba estava a fazer, o que mostrava a preocupação do senhor dos demônios com uma situação em particular que acontecia por ali: um pequeno grupo, de três ou quatro, estava se preparando para dar um golpe e tomar a esfera de Kira, a falecida esposa do soberano, o que daria a eles um poder absurdo, que nunca tinham visto antes — mais um motivo para que ninguém desconfiasse dos planos de Mikhail e Dmitri. De qualquer modo, ele estava realmente preocupado com o que poderia acontecer.

Louco, ele já estava. Se sua loucura está pior agora, também não acharia nenhuma surpresa uma tentativa de atentado a mim. — suspirou o senhor do Tempo. — O que aquele troço tem na cabeça? Mentir para mim? O soberano de todos?! Ele deveria ser é executado, com a cabeça arrancada na frente de todos os outros demônios!

Mas é minha função lembrá-lo, que o senhor decidiu assim não fazer para não agitar o grupo do “pequeno movimento” que está por vir.

Até parece que você ainda se importa com Nikolay.

Ah… Não me importo com ele, sim com que ele representa…”, pensou o demônio.

Longe disso. Importo-me com a segurança do senhor, se aqueles outros sonhassem que você tem a cabeça de Nikolay, vão querer não apenas a esfera de Kira, mas também te matar. E, seremos realistas, você sabe muito bem que isso é possível para quem retém tal poder.

É… O poder de remover esferas num passe de mágica, em uma fração de segundo. Isso me mataria rapidamente e isso seria terrível para esse mundo, seja lá quem governasse depois.

Dmitri levantou-se, a sair do campo de visão dos olhos vermelhos de seu suverennoye. Deu uma pequena volta pelo cômodo, rapidamente, a deixar um breve silêncio.

Estou certo disso. Você não gostaria disso, gostaria?

Com certeza não. Só de pensar em cair nas mãos podres de Mikhail…

Ninguém queria estar naquelas mãos sujas, não… Ou sequer perto delas. — deu uma pausa um tanto demorada. — Gostaria de uma bebida?

Sim, por favor.

Vou descer para preparar.

Enquanto descia as escadas, o hediondo ria sem parar da estupidez de seu senhor. Como ele conseguia?


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Notas finais do capítulo

Se gostarem, avisem :D



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