Outro dia — A confissão escrita por WIND Flower


Capítulo 1
Tarde Demais


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas~
Essa é a minha segunda one-shot. Mais uma vez ela foi inspirada em uma música (já postei nos avisos). Acabei criando ela ontem a noite e gostei bastante. Espero que vocês curtam e apreciem.
Desejos a vocês uma boa leitura ♥



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Ele suspirou. Castiel estava sentado na beira da cama pronto para começar mais um dia em sua vida. Todas as manhãs era a mesma coisa, ou melhor, todos os seus dias passaram a ser desta forma.

Seus olhos acinzentados percorreram pelo quarto. Precisava acostuma-los com a claridade adentrando pela janela. O único som que dominara o quarto era da gota caindo da torneira e batendo sobre a pia. O pequeno cômodo estava amontanhado de roupas jogadas pelo chão, copos descartáveis, cigarros velhos e latas de cervejas. Uma bagunça envolvia o ambiente. Antes, aquilo não era daquela maneira.

O ruivo levantou-se e caminhou até a porta do banheiro próxima de sua cama. Era uma residência pequena. O apartamento continha um quarto, uma cozinha e um banheiro. Todos os quartos era de alcance em cinco passos. Uma casa digna de alguém que está começando a vida.

Castiel fazia sua higiene matinal. Escovava os dentes se olhando ao espelho. As fundas orelhas ao redor de seus olhos denunciavam suas noites em claro, mas naquele dia, junto às olheiras, seus olhos estavam avermelhados e inchados. Na noite passada se relembrou de cada detalhe, cada lembrança lhe tirou uma lágrima e o sono. Aquelas memórias para sempre existirão.

Sua vida passara a ser um roteiro, seguia tudo da mesma forma: acordar, higiene matinal, trabalhar, beber e dormir. Entretanto, naquele dia o rapaz não ia fazer isto. Aquelas lembranças o motivaram a fazer algo que ainda não tinha sido feito, porém sabia que era necessário fazer, caso o contrário não conseguiria seguir em frente.

Vestiu uma blusa preta sem detalhe, uma calça jeans acompanhado de seu all star preto desgastado. Olhou-se mais uma vez no espelho ajeitando seu cabelo, tirando os fios vermelhos de seu rosto. Agora, tinha em vista da sua face exausta. Sequer tinha feito à barba, mas não ligou para isso.

Pegou as chaves sobre a escrivaninha e seu celular. Após, desligou o aparelho e o jogou sobre a cama, não queria ser incomodado por ninguém. Antes de sair, lembrou-se que esquecia algo. Pegou sua carteira de cigarro e o isqueiro. Era necessário. Desta forma, partiu-se deixando seu aposento na escuridão.

Eu sempre precisei ficar um pouco sozinho

Eu nunca pensei que eu precisaria de você quando chorasse

E os dias parecem anos quando eu estou sozinho

E a cama aonde você dorme

Está arrumada do seu lado

Uma caminhonete preta passou pelos portões brancos adentrando no lugar silencioso. Havia uma placa escrito: “Campo Esperança”. Ao estacionar o veiculo próximo ao seu destino, Castiel saiu do automóvel e ao bater a porta do carro escutou um trovão a distância. Logo, o ruivo resmungou por não ter trazido um casaco. O céu estava cheio de nuvens, mais tarde choveria.

O jovem colocou as mãos dentro dos bolsos de sua calça e caminhou ladeira acima. Ele avistou familiares reunidos, outros sozinhos, mas todos tinham algo em comum: a dor. As pessoas em seus momentos frágeis. Aquele era o ambiente para suas mãos ficarem gélidas e seu coração apertar. Ali, era o cemitério onde a garota que ama estava enterrada.

O rapaz parou, hesitou. Estaria preparado? Há quanto tempo não pisava o pé ali? Seus punhos fortemente fechados podia-se notar o branqueamento em seus dedos. Seus lábios tremiam, mas era tarde demais. Nessa hesitação, Castiel já estava em pé diante ao túmulo.

1994 — 2015, Patrícia. Na sepultura do túmulo ainda continha a foto da jovem sorrindo. Uma menina de cabelo castanho escuro encaracolado e os olhos esverdeados. A pele clara realçava o batom preto e usava uma maquiagem forte, dando-lhe a aparência de mais velha, apesar de Patrícia ter morrido aos vinte e um anos.

A respiração de Castiel estava alta. Paralisado observou a foto de sua amada. Piscava descontroladamente para espantar a mágoa exposta em seus olhos. Aquele nó na garganta estava surgindo. Antes que suas lágrimas brotassem, ele virou-se de costas e pensou em voltar para seu carro, mas a voz conduziu sua mente:

— Você nunca me amou?

Era a voz fina e aguda de Patrícia. Foi um questionamento em uma de suas conversas com Castiel. Contudo, aquela tinha sido uma das últimas palavras dela para o ruivo. Naquele tempo, ele sequer imaginava e acabou negando aos sentimentos de sua melhor amiga. O grande arrependimento de sua vida.

A resposta que Castiel entregou para Patrícia não era verdade. Dizer “não” friamente não fora uma de suas ações sensata. Entretanto, a jovem era o amor de seu melhor amigo, Lysandre. O rapaz sempre falava da morena para o ruivo de uma forma ingênua. Ele nunca conseguiu contar a verdade tanto para seu amigo como para Patrícia. Agiu como uma covarde.

Inquieto e ainda relutante para enfrentar, o ruivo afastou-se um pouco do túmulo e observou o céu. Novamente lá de cima ouviu-se um trovão.

— Você deve estar zangada. — Castiel murmurou ainda com os olhos voltados para o céu.

Patrícia fez parte de sua vida desde a infância. Ela que mantinha o ruivo na linha, em alguns termos. O acordava para seus compromissos, ajudava a compor algumas melodias e ainda cantava para ele as letras de música feitas por ela. “Nunca seja um chorão!” Era uma das frases que a menina mais dizia a Castiel. Mesmo ele aparentando ser forte, ela sabia de sua fraqueza emocional.

Quando você vai embora eu conto os passos que você dá

Você percebe o quanto eu preciso de você agora?

Quando o coração do ruivo se acalmou, voltou-se ao túmulo. Não poderia fugir daquilo para sempre. Ele precisava esvaziar-se, precisava eliminar a sua dor. Ele sentou-se ao lado do túmulo e contou até três mentalmente. Esbofeteou seu próprio rosto, na esperança de espantar as lágrimas ali acumuladas, ainda não as deixariam cair.

Castiel pegou a carteira de cigarro em seu bolso e tirou dois recursos desta. Acendeu o primeiro e o levou até sua boca. Tragou lentamente, deixando a fumaça aquecer seus pulmões. Aquilo lhe aliviava. Depois, acendeu o segundo cigarro e colocou em cima do túmulo de Patrícia.

Ele respirou fundo e disse:

— Eu sei o quanto isto te alivia também. — Observou a foto dela e tragou mais uma vez seu cigarro. Olhou para o além do cemitério. Apenas, avistando túmulos e mais túmulos. E com eles flores e o gramado verde. Castiel pensava em suas palavras, mas junto a elas recordou-se daquele momento.

Patrícia correu para seus braços depois de um longo dia de trabalho. Ela estava feliz por descobrir que estava na mesma turma de música em que Castiel iria cursar na faculdade. Seus olhos brilhavam sem conseguir-se conter sua alegria.

— Castiel, vamos ficar juntos!

Os dois estavam sentados em uma praça enquanto tragavam seus cigarros observando o luar. Havia um silêncio entre eles após a última frase. O motivo tinha sido por Patrícia insistir na conversa que Castiel tanto fugia. Ele estava encurralado e nunca sabia o que responder.

— Por que não assume logo? — Perguntou entristecida.

— Assume o quê? — Castiel respondera com outra pergunta fazendo-se de desentendido.

— Você é um covarde!

O ruivo arregalou os olhos, mas tentou manter-se sereno. Porém, seu coração estava dizendo para assumir de vez. Entretanto, acabou não fazendo o que devia.

— Fique calma, Patrícia. Você não pode ficar nervosa. — Alertou ele lembrando que a jovem tinha um coração fraco.

— Você que me deixa assim, droga! Por que você é tão complicado? — Ficou de pé em frente ao ruivo e continuou dispersando as palavras: — Você me deseja que eu sei! Sempre te pego me observando. Percebo seu olhar quando Lysandre tenta se aproximar de mim. Você o empurra, mas na verdade quer estar no lugar dele.

Castiel desviou o olhar e tentou não pensar naquelas palavras. Ou melhor, tentou ignorar. Mas Patrícia estava cansada daquilo tudo. Ela precisava de uma resposta. E a resposta teria que ser algo certo. Não aguentava mais ficar naquela incerteza sem saber os sentimentos do rapaz.

Indignada por ele não lhe dar atenção, Patrícia se abaixou e sentou-se entre as pernas do ruivo. Castiel percebeu o ato da jovem, mas continuou olhando para o outro lado. A morena coloca as mãos no rosto do mesmo guiando para que ele a olhe nos olhos.

— Você nunca me amou? — Ela pergunta com os olhos cheios de lágrimas.

Castiel se perde naquele olhar intenso. Os olhos esmeraldas lhe suplicavam por uma resposta. E que ela fosse sim! Mas ele relutou contra si, lembrando-se de Lysandre. Cerrou os dentes, mas teria que ser assim. Ele não trairia seu melhor amigo, essa era a sua decisão.

O ruivo colocou as mãos sobre os ombros da garota e a empurrou, afastando-a dele. Castiel tragou a última faísca de seu cigarro e levantou, deixando Patrícia sentada no chão, ansiosa por uma resposta. Ele não conseguiria olhar nos olhos. Então, virou-se de costas e disse:

— Não sonhe demais, menina. Nunca que meu coração seria laçado por alguém como você. — Disse ríspido. Aquele tom rude de sempre. Aliás, sua encenação mais perfeita.

— Seu mentiroso! — Grita Patrícia levantando-se e dando socos no peito do rapaz.

Sua respiração estava descontrolada. A menina estava nervosa, indignada, enfurecida por Castiel mentir para si mesmo. Ela o conhecida, sabia que aquilo era mentira. Porém, não podia arrancar as palavras que queria. Aquilo foi o motivo de seu coração acelerar e sua dificuldade de respirar vier à tona.

— Patrícia! Calma, fique calma!

Ele começou a socorrer a menina que logo caiu em seus braços. Os olhos da morena se reviraram. Neste instante ela colocou a mão no rosto do rapaz e tentou dizer alguma coisa, mas suas forças não estavam mais lá. Seu coração a cada batida se tornava lento.

— Por favor, Patrícia! Não, pelo amor de deus... — Berrava Castiel sem acreditar que aquilo estava acontecendo. — Não me deixe! Não, meu amor...

Fora tarde demais. A jovem já estava com os olhos fechados e sua respiração não se tinha mais. Os olhos cor de esmeraldas nunca mais seriam vistos com vida. Fora tarde demais para dizer...

Eu nunca me senti assim antes

Tudo o que faço

Me lembra você

E as roupas que você deixou estão jogadas no chão

E elas tem o seu cheiro

Eu adoro as coisas que você faz

Começou a chover e o cigarro sobre o túmulo de Patrícia se apagou, assim, como o de Castiel. Ele jogou o recurso para longe e olhou novamente para a fotografia da menina.

Era a hora de colocar aquelas palavras para fora. Sua voz se conduziu tremula.

— Patrícia, eu queria te ter ao meu lado, mas não é possível. Todas as noites quando fecho meus olhos, a sua imagem aparece. Por quê? — Sorriu entristecido. — Porque você é a nanica que faz muita falta. Sua voz irritada, sua voz birrenta e sua bela voz ao cantar. Sinto falta de tudo isto, mas o que mais sinto falta é de poder lhe tocar. Poder me sentir bem por ter-lhe ao meu lado. Essa saudade me consome todos os dias. — Ergueu seu braço para alcançar a foto da garota e prosseguiu acariciando a moldura:

— O que eu faria para te ter aqui. Ou melhor, o que faria para beijar-lhe, acariciar-te e dizer-te o quanto te amo. Ontem, hoje e amanhã. Você conseguiu laçar meu coração e nele você irá permanecer eternamente. Até... Até o dia em que poderei me encontrar novamente com você no sono eterno. Eu te amo para sempre, Patrícia.

A voz grossa de Castiel começou a falhar. O nó na garganta surgira. Seus olhos estavam vermelhos e cada vez mais enchendo-se de lágrimas, ele não teria forças para continuar. Não, aquilo era mais forte. A dor em seu peito lhe pressionava. Era preciso, era necessário dispersar aqueles sentimentos guardados desde a morta de sua amada. As lágrimas transpareceram junto com um grito agudo. Seus sentimentos foram expostos. Naquele dia, o ruivo chorou como nunca havia chorado.

As palavras foram liberadas tarde demais. Pois, nunca poderia ver qual reação àquela única confirmação teria sobre Patrícia.

Outro dia iria renascer e Castiel por mais uma vez erguer-se para seguir em frente. Mas aquelas palavras sempre em sua mente. Outro dia, vivendo com aquela dor que torceria que ao passar dos anos se tornasse menor. Entretanto, seu coração que fora laçado por uma bela jovem. Talvez, permaneceria fechado.

Quando você vai embora

Os pedaços do meu coração sentem a sua falta

Quando você vai embora

O rosto que eu conheci também me faz falta

Quando você vai embora

As palavras que eu preciso ouvir para conseguir passar o dia

E fazer tudo ficar bem

Eu sinto a sua falta

As pessoas costumam compreender as coisas tarde demais.


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Notas finais do capítulo

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