— Ainda não consigo acreditar que você vai casar.

Enquanto esperava a pizza ficar pronta, Susie e eu nos sentamos na mesa junto com Ronaldo.

— Eu sei, estou deixando muitas garotas tristes mas chega uma hora na vida de um homem que ele tem que parar de farrear e se casar. — Ele fez uma pausa dramática e continuou — Me desculpem garotas! Mas eu encontrei o amor da minha vida.

Por mais que eu quisesse não rir do Ronaldo naquela hora, era uma coisa involuntária, maior do que eu.

— Coitada das garotas.

Falei olhando para Susie que me olhou e fez sinal falando que Ronaldo era louco, ela dava pequenas risadinhas.

— Falando em garotas... não fale nada para a kiki, mas vou ter uma despedida de solteiro na semana que vem vai ser em um clube na cidade vizinha, aparece lá você pode ir com o Lars.

Ele sussurrava para evitar que Susie ou qualquer outra pessoa ouvisse, mas como ele vai casar é obvio que ele vai ter um despedida de solteiro, não entendi a surpresa.

— Vou falar com ele, mas não tem problema por causa do seu irmão?

— Não, a festa é minha e eu estou te convidando!

— Que festa?

Olhei para trás e vi Kiki ela estava com minha pizza na mão, voltei a olhar para o Ronaldo e ele estava congelado, não queria estar na pele dele agora.

— Quem falou em festa?

— Você.

— Ah claro... estava falando da nossa festa de casamento.

Ronaldo era um péssimo mentiroso.

— Sei... Aqui está sua pizza Steven.

— Obrigado, até mais pessoal.

Peguei a pizza e puxei Susie para sairmos logo dali.

— Ele está muito ferrado.

— Porque?

— Ela olhou pra ele do mesmo jeito que minha mãe olha pro papai quando tá irritada.

Eu e Susie rimos e fomos para o templo, chegando lá vi que ele estava vazio, nenhum sinal de Pérola, Ametista e Garnet elas podem estar trancadas nos seus quartos ou saído em missão.

— Pérola! Ametista! Garnet! – Gritei na porta esperando algum dos quartos se abrir, mas não aconteceu nada. É, elas oficialmente não estão em casa, bom que sobra mais pizza para mim.

— Tio Steven, eu to com fome!

Susie falou me seguindo para a cozinha.

— Mas você acabou de tomar um sorvete gigante, como pode está com fome?!

Perguntei olhando Susie que levantou os braços.

— Não sei.

— Está bom então, vamos comer!

Peguei dois pratos no armário e coloquei na bancada, Susie escalou um dos bancos para se sentar com um pouco de dificuldade, mas quando teve sucesso em sua missão ela sorriu em triunfo. Coloquei um pedaço da pizza em cada.

— Ketchup?

— Sim, por favor.

Coloquei um pouco de ketchup na pizza dela e ela deu uma mordida sujando a boca toda.

— Está boa né.

— Tio Steven, o que você sente pela moça lá do parque?

Engasguei com aquele pequeno pedaço da pizza, como é que ela sabe da Connie?

— Quem?

— Aquela moça que você estava vigiando atrás das folhas.

— Eu não estava vigiando ninguém...

Ela me encarou um pouco.

— Você conhece ela?

Ela assentiu enquanto dava mais uma mordidinha na pizza.

— Sim, ela cuidou de mim quando cai da arvore e me machuquei.

— Entendi.
Ficamos em silêncio por um curto período de tempo.

— Tio Steven, você gosta dela?

— O que?

— Voce gosta da tia Connie?

Olhei para os olhos de Susie que brilhavam de expectativa.

— Não, claro que não. Dá onde você tirou isso?

— Mas você estava olhando ela lá no parque.

— Eu não estava olhando e se tivesse olhando não significa que eu gosto dela...
— Porque?

— Ora, porque...porquê…porquê.... Ah não sei...
— Voce gosta dela sim.

— Porque você acha isso?

— Seus olhos brilham ao falar o nome dela.

Não acredito que uma criança está dando conselhos amorosos para mim e o pior eles estão fazendo muito sentido.

— Tio Steven, podemos brincar de zoológico?

Olhei para Susie e ela estava descendo da banqueta, pegou a bolsa que estava perto do sofá e se sentou no chão.

— Como se brinca disso?

Me sentei ao lado dela.

— É simples, você tem que pegar um bichinho — ela abriu uma sacola e espalhou os bichinhos, pegou um leão — esse aqui é um leão, ele é o rei do zoológico, todo mundo respeita ele.
Eu também pensava que leões eram assim, aí conheci o Leão e mudei totalmente de Ideia.

— Leões são preguiçosos, sabia? E não ouvem o que você fala.
Falei procurando algum bichinho. Susie me olhou com uma cara de dúvida.

— Como é que você sabe?

— Porque eu tive um leão.

— O que? Meu papai disse que ninguém pode ganhar um leão de natal, ele falou que papai Noel pode se machucar, por isso que ganhei um de pelúcia.
Não consegui conter minha risada, acabei rindo alto demais, Susie me olhou com cara de dúvida.

— Mas eu tenho, o meu era rosa.
Ela ficou um pouco quieta olhando para o leão e para mim, possivelmente estava imaginando como um leão poderia ser rosa.

— Isso não vale, eu queria um leão! E você tem e é rosa! — Susie estava começando a chorar.

— Ei, não precisa chorar. Eu te mostro ele.

Ela engoliu o choro, enxugou as poucas lagrimas que tinha nos olhos e se levantou, ele andava de um lado para o outro procurando alguma coisa.
— O que você tá fazendo?
— Procurando seu leão.
— Ele não está aqui.
Ela se virou para olhar para mim.
— Então tá onde?
— Ah em um lugar chato... uma ilha mágica, com águas cristalinas, animais incríveis e diferentes, uma praia linda com as mais diversas conchas coloridas e de formatos diferentes...mas acho que você não está afim de ir lá agora. — Olhei para Susie e seus olhos estavam brilhando, ela também estava com um sorriso radiante. — Você quer ir lá?

Ela correu para perto de mim, pulando e com os braços levantados ela cantarolava.

— Eu vou ver um leão! Eu vou ver um leão! Eu vou ver um leão.

— Ei ei calma. - Ela parou de pular e olhou para mim — Nós vamos usar o transportador e você precisa me prometer que vai se comportar.
Ela me olhou séria, a posse que ela estava lembrava eu mesmo perfeitamente na vez que prometi a Garnet que iria ser muito sério em uma missão.

— Prometo!

Fomos para o transportador, Susie sorria sem parar e eu ficava olhando e lembrando como eu era quando criança, agora sei como as gems se sentiam. Quando chegamos a ilha, ela olhou admirada.

— Aqui é lindo! Obrigada por me trazer tio Steven. — Ela abraçou minhas pernas.

— Que isso baixinha, eu gosto de vir aqui.

— Leão! Leão!

Chamei o Leão enquanto andava para fora do transportador, Susie andava na minha frente. Fazia muito tempo desde que não vinha aqui.
A ilha estava quieta, não ouvia nada. Continuei andando até que senti algo pulando em cima de mim, cai no chão e logo ativei meu escudo, o sol batia fortemente nos meus olhos, o que estava em cima de mim eu não conseguia enxergar direito foi aí que senti uma lambida no meu rosto. Leão.

— Leão! Que saudade de você.
Abracei o pescoço de Leão e o joguei no chão, ele continuava a me lamber. Susie me olhava admirada, para mim não, ela olhava para o Leão.

— Você tem um leão!

Susie correu para abraçar o leão, mas ele se levantou e andou para o lado, fazendo com que ela abraçasse o ar. Leão era tão malvado as vezes.

— Leão, ela só quer brincar com você.

Ele me deu uma olhada irônica, Susie estava olhando o Leão impaciente, talvez estivesse pensando como pegar ele, mas ele apenas ignorava o fato dela estar ali com a gente.

— Eu quero abraçar você.

Susie falava olhando para o Leão, mas ele deu as costas para ela de novo, ela tentava pegar o rabo dele e ele o balançava para fazer ela correr atrás.

— Você adora fazer isso com crianças.

Ele se moveu para o meu lado deixando Susie no vácuo, me sentei no chão e ele se sentou do meu lado.

— Tio Steven, como que você ganhou um leão?

Susie se sentou do meu lado contrário, mas sem retirar os olhos de Leão.

— Porque seu leão ta aqui e não na sua casa?

— É porque ele gosta de ficar aqui, ele fica sossegado.

Ela olhava pensativa para ele.

— Posso brincar com ele?

Olhei para o Leão e ele estava de olhos fechados, fiz sinal para que Susie levantasse em silêncio, peguei uma das mãos dela e passei pela juba do leão, ele não se mexeu. Ela continuou a passar a mão pela juba dele, depois ela se aproximou mais e deu um abraço nele, no mesmo segundo ele abriu os olhos e se afastou.

— Ah qual é, para de ser insensível! — Fui para perto dele. — Ela só quer brincar um pouco com você, para de ser tão chato.

Leão olhou meio desconfiado para Susie e depois olhou para mim de novo, ele caminhou para perto dela ela não conteve a felicidade e o abraçou, ela realmente gosta muito de leões.

— Tio Steven, ele gostou de mim! — Susie falou com a cabeça enterrada no meio da juba do Leão.

— Eu sabia que no fundo, você tinha um bom coração. — Fui para perto do Leão para o abraçar também, mas ele como todo felino malvado levantou a pata dianteira e me empurrou para o lado. — Ah qual é! Agora o problema sou eu?

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Enquanto Susie dava algumas voltas com Leão pela praia, eu aproveitei para me sentar na praia para pensar um pouco. Desde criança sempre amei a Connie, ela foi o meu primeiro amor, ela é o tipo de pessoa que todo mundo quer ter ao lado, inteligente, determinada, carinhosa, animada. Ela tem um sorriso que me chamou atenção, um olhar que mesmo ficando escondido atrás daqueles óculos antigos iluminava qualquer escuridão, ela tem uma beleza própria, ainda me lembro das vezes que ela chorava escondida no quarto por ser sentir só, ela não tinha amigos, todos a julgavam antes mesmo de a conhecer. Ela se fechou em seu próprio mundo e o único que ela deixou entrar foi eu.

— Promete que nunca vai me deixar?

— Eu não seria louco de fazer isso, você é o amor da minha vida.

Ela riu, as bochechas ficaram coradas, ela se aproximou de mim e vencendo uma possível batalha interna contra sua timidez ela me beijou, sabe aquelas vezes que só de você ver a pessoa de quem gosta seu coração começa a ficar com batidas irregulares? Então, quando ela me beijou eu senti como se tivesse ficado sem ar, senti como se estivesse derretendo, o mundo poderia acabar após aquele beijo que eu não ligaria.

— Porque você tá com essa cara de bobo? — Ela me empurrou e desviou o olhar.

— Isso foi incrível.

Coloquei a mão no seu queixo e a fiz olhar para mim, me aproximei e a beijei de volta.

É horrível sentir saudade de uma pessoa que você tem certeza que nunca mais vai voltar para você, como eu pude deixa-la? Lembro da nossa última noite juntos.

Estávamos abraçados no sofá, mal conversamos, só queríamos ficar perto um do outro

— Você tem mesmo que ir? — Ela estava com um olhar triste.

— Tenho, você sabe que preciso ir, as coisas estão ficando complicadas as gems acham melhor nós irmos verificar alguns dos lugares usados para fazer experiências pela terra natal.

— Mas e se vocês não voltarem?

Ficamos em silêncio por algum tempo, só era possível ouvir o fogo queimando a madeira na lareira.

— Não pense em coisas ruins, vai ser por pouco tempo logo estarei de volta e ficará tudo bem.

— Eu te amo.

— Também amo você, querida.

Beijei a testa dela e alisei seus cabelos, nós dois sabíamos que eu não ficaria pouco tempo fora e muito menos que eu estava isento de coisas ruins, mas por hora algumas mentiras e omissão de fatos era o melhor que podíamos fazer por nós.

Porque o amor tem que ser algo tão difícil? Olhei para a praia e vi Susie correndo feliz atrás do Leão, ela estava se divertindo tanto.

— Susie! — Ela parou de correr e olhou para mim.

— Nós temos que ir.

Ela veio para perto de mim com o olhar triste.

— Porque Tio Steven?

— Já está na hora, daqui a pouco seus pais vão passar lá em casa para te buscar. — Ela ficou triste e olhou para mim com um olhar típico de cachorrinho perdido. — Não faz essa carinha, eu prometo que trago você aqui outras vezes.

Leão que havia chegado perto da gente, apoiou o queixo na cabeça de Susie.

— O Leão não quer que eu vá.

— Se você concordar em ir agora, eu mostro uma coisa muito legal que o Leão sabe fazer.

Susie ficou pensativa por um tempo.

— Tá bom.

— Leão, leva a gente para casa?

O Leão se aproximou de mim, se abaixou para que eu pudesse subir nele, peguei Susie e a coloquei em cima do Leão e logo depois subi. Leão começou correr e rugiu fazendo aparecer um portal na nossa frente, ele ganhou mais velocidade e entrou dentro do portal, aparecemos na praia em frente de casa.

— Chegamos!

— Mas já? Queria que tivesse demorado mais... — Susie falou decepcionada cruzando os braços.

— Não fica assim, prometo deixar você vê o Leão outras vezes.

Descemos do Leão e ele correu abrindo outra portal, ele nem quis se despedir de mim, nunca vou entender ele. Peguei Susie e a levei para dentro de casa.

— Susie, você tem que me prometer que não vai contar para ninguém que fomos para aquela ilha.

— Mas porquê?

— É um segredo nosso e do Leão, e seus pais já foram lá uma vez há muito tempo, eles iriam surtar se soubessem que você foi lá. — Susie concordou com a cabeça e se sentou no sofá. — Tá com fome? Acho que vou esquentar aquela pizza de mais cedo.

Olhei para o sofá e vi Susie dormindo, ela devia estar bem cansada de tanto que ficou correndo de um lado para o outro com o Leão.

Um pouco mais tarde Lars e Sadie apareceram.

— Ei Steven, passamos aqui para buscar a Susie.

Sadie estava sorrindo.

— Pensei que só fossem vir mais tarde.

— A Sadie não conseguiu ficar sem falar na Susie um minuto.

Dei passagem para que eles pudessem entrar dentro de casa, ao entrar eles a viram deitada no sofá.

— Ela já tá dormindo?

— Ela brincou bastante. — Falei.

Lars se aproximou e a colocou no colo, ela continuava dormindo.

— Muito obrigada, Steven.

Os dois foram embora, desabei exausto no sofá, crianças eram muito difícil de cuidar, mas até que gostei de passar o dia como babá.