Retirando-se da competição escrita por Lou


Capítulo 3
Capítulo 2 - Um pouco de você, um pouco de mim


Notas iniciais do capítulo

Oi, amigos! É a Lou. Como vocês devem ter percebido, nossos personagens são bem diferentes dos da história original, mas - anyway - espero que gostem da fic (bem, se vocês estão aqui, é porque devem estar gostando). Aqui vai mais um capítulo. Não deixem de comentar. Abraço xo
Ps. no nosso "cast", a Georgiana é a Emília Clarke rs
O restante está nas notas finais dos capítulos anteriores.



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— Que horas são? – a voz carregada de sono de Bingley soou do quarto. Era, provavelmente, uma retórica, porque ele sabia que estava na hora de levantar, independente de qual fosse a tal. Mesmo assim, como um bom amigo e uma pessoa prestativa, respondi.

— São... – chequei o relógio de pulso – 7h54. A hora do espanto – abri um sorriso jocoso, esperando a explosão.

— PUTA MERDA! Por que não me acordou, seu maldito?! – menos de trinta segundos depois, ele estava no banheiro enfiando desleixadamente a camisa dentro da calça.

— Porque você parecia tão feliz no seu sonho com uma garota loira cujo nome rima com epiglote – terminei de ajeitar a gravata em frente ao espelho embaciado, indiferente à sua agitação.

— Se eu não estivesse atrasado, faria um comentário sobre você estar finalmente aprendendo a ter senso de humor, mas vou me contentar em te escorraçar daqui – Bingley retorquiu e me empurrou para o quarto, trancando a porta do banheiro logo em seguida.

— 7h56, Chuck! Não dá tempo de você... – comecei maliciosamente e fui interrompido.

— VAI LOGO!

...

Eu também chegaria atrasado, mas dentro da tolerância. A primeira aula era de Programa Avançado da Literatura Europeia, e o professor – Sr. Majid – gostava de bancar o John Keating, por isso não me surpreenderia se fôssemos bombardeados por declamações em latim.

Eu estava atravessando o pátio que separava o prédio dos dormitórios masculinos do prédio das salas de aula, imerso em pensamentos sobre o time de lacrosse do ano e de como manter a capitania, quando esbarrei em algo que arrancou a pasta do meu braço.

— Meu Deus, como sou distraída! – algo não. Alguém.

— Caroline – cumprimentei com frieza e fiz menção de recolher meu material do chão. Aparentemente, ela teve a mesma ideia, e nossas mãos se tocaram, por conveniência, ao agarrarem a mesma parte da longa alça. Agradeci e tentei continuar meu caminho, mas Caroline quis prolongar o momento.

— Você não estava no desjejum hoje, Darcy.

— É, eu sei – obrigado pela constatação óbvia.

— Achei que te veria, assim poderíamos dividir a mesa. Sem você, tive que me sentar com as garotas de Expressão e Comunicação, e elas eram muito... comunicativas, para o meu gosto.

— Engraçado dizer isso, te acho extremamente comunicativa – mesmo quando a situação pede o contrário. — Se me der licença, estou atrasado para aula.

Dei um passo para sair dali, no entanto, ela se colocou na minha frente.

— Agora é que me dei conta: onde está o meu irmão?

— Não faço a menor ideia – respondi, tentando me esquivar da sua presença, mas Caroline, que conseguia ser insuportavelmente insistente na maioria das vezes, continuava bloqueando minha passagem, ainda que aquilo fosse de certa forma humilhante para ela.

— É uma piada? Vocês são colegas de quarto!

Respirei fundo para não destratá-la e segurei seus ombros, passando-a para trás de mim. Caroline Bingley era uma garota linda e irmã gêmea do meu melhor amigo, mas tinha o defeito de gostar muito mais de mim do que eu dela. Quando eu enfim saísse dali, tinha a certeza de que um coral de anjos entoaria aleluias.

— Não. Não tenho senso de humor. Você queria o seu irmão, ali vem ele – apontei na direção do dormitório e recomecei meu trajeto.

— DARCY!

— Não! Estou atrasado! – gritei em resposta a Bingley, que vinha correndo, e apressei o passo, deixando os dois para trás.

...

Atrasei-me por apenas alguns segundos e fui advertido por isso, o que contribuiu bastante para o meu mau-humor. Mas eu me sentia aliviado por estar, finalmente, na sala de aula sem mais inconveniências.

Depois que me sentei, pude reparar que Charlotte Lucas, a parceira do Bingley para o baile, e a amiga da noite anterior estavam na classe. Elas também haviam me notado, e a primeira olhava para mim com ar de troça antes de confidenciar algo à segunda, o que me fez desviar o olhar. Não queria que as duas pensassem que eu me importava com a opinião ou as piadinhas que faziam de mim.

O professor, como presumi, começou com um discurso exagerado de enaltecimento a Shakespeare. Virei o rosto para janela, prestando só meia atenção. Ele até se esforçava para que ficássemos interessados, mas a maioria estava como eu.

O assunto era Romeu & Julieta, e o Sr. Majid falava sobre como Romeu devia escrever versos à Rosalina, o primeiro objeto da sua adoração. Apenas uma pessoa havia se pronunciado desde o início da aula, e era alguém a quem ninguém dava o menor valor e quem sempre tinha algo desinteressante a dizer sobre tudo – William Collins.

Contudo, outra pessoa se manifestou e fez com que todos olhassem para ela, repentinamente despertos da sua distração.

— E assim acabaram os seus sentimentos.

— Como, senhorita...? – perguntou o professor, surpreso com a interrupção.

— Elizabeth Bennet, senhor. O que eu quis dizer é que, para mim, a poesia é muito eficaz em espantar o amor.

Antes que o Sr. Majid pudesse dizer algo e que eu pensasse melhor, estava respondendo a amiga da Lucas, que agora tinha nome para mim.

— Sempre pensei que a poesia fosse o alimento do amor – falei, intrigado por alguém discordar.

— Talvez de um amor forte e saudável. Tudo alimenta o que já é forte. Mas se é apenas uma leve atração, um soneto é suficiente para acabar com ela.

— Mas Romeu estava perdidamente apaixonado por Rosalina e igualmente arrasado por não ter seu amor correspondido.

— Estou convencida de que não, já que bastou olhar para Julieta para ele mudar de ideia – os olhos dela eram afiados e risonhos, dando sempre a impressão de rirem de mim. Fiquei sem resposta.

— E o que você recomenda, Srta. Bennet, para fortalecer uma relação? – o professor perguntou, desesperado por manter a participação.

— Dançar, – era possível sentir ela me mirando de soslaio – mesmo que o par em questão seja apenas bonitinho.

Não deu para evitar o constrangimento que me subiu à face, especialmente quando Charlotte soltou uma sonora gargalhada que deixou todos confusos, menos a nós três. Touché.

...

Só para constar: eu não estava nervoso com o teste para o time de lacrosse. Apenas irritado com a presunção do Wickham em achar que, seduzindo a treinadora, conseguiria o posto de capitão – que até o momento me pertence. Isso, somado às provocações do próprio e às cobranças de Bingley, acabou atrapalhando meu desempenho e por um tris não marquei o gol na minha vez.

Bingley me puxou para um canto perto da arquibancada, e eu já sabia o que ele ia dizer.

— Cara, o que está acontecendo com você hoje? Parece que está em outro lugar!

— Primeiro, abaixe esse crosse antes que você me acerte. Segundo, – suspirei exasperado – é o Wickham. Ele me tira do sério e me faz querer abrir a cabeça dele com a bola.

— Relaxa, Darcy, você...

Nesse momento, Wickham surgiu atrás de nós colocando as mãos nos nossos ombros como se fossemos qualquer coisa que não inimigos. Trinquei os dentes e projetei o maxilar para frente, sentindo o olhar de Bingley em mim me pedindo calma.

— As moças já terminaram de fofocar? A treinadora quer vocês de volta ao campo.

— Achei que mulheres velhas e gordas não fizessem seu tipo, George – Chuck provocou.

— Nãão, – Wickham disse daquela maneira arrastada que eu conhecia bem – eu prefiro as morenas novinhas, de cabelos lisos e sedosos e inocentes olhos azuis. Como vai a Georgia, Darcy?

Apertei os punhos e me desvencilhei da mão dele, marchando de volta para o centro do campo, onde a Sra. Hurst avaliava o desempenho dos candidatos à defesa. Segurei firme o metal do taco e trotei na direção do início da fila, aumentando gradualmente a velocidade até capturar a bola no gramado, que estava posicionada para o próximo atacante, e disparar na direção da dupla de zagueiros. Sob os protestos dos outros jogadores, avancei com fúria contra o gol, rompendo a barreira que os dois corpos formavam e saltando no ar para ampliar a força com que a bola seria arremessada. O goleiro se esticou – pernas e braços –, mas a rede balançou com o gol marcado.

Os protestos deram lugar a um breve silêncio de pasmo, quebrado pelo grito uníssono de “Captain, my captain!”, em menção a Walt Whitman.

Éramos os filhos da mãe violentos mais poéticos da história, e eu, o capitão.

Soltei um urro, extravasando todo o furor e alegria que sentia ao mesmo tempo. Bingley correu até mim, passou um braço pelo meu pescoço e entoou o hino da escola. A Sra. Hurst fez soar o apito para que parássemos a baderna e anunciou o que já havia sido anunciado pelos meus colegas: a braçadeira era minha, outra vez.

— Admito que tive minhas dúvidas quanto a sua qualificação para o posto este ano, Darcy. Você não parecia muito comprometido, no começo. Mas depois dessa demonstração, ficou claro que você é a pessoa mais indicada – a balbúrdia recomeçou, e a professora teve que sobrepor sua voz para anunciar que o primeiro jogo treino já havia sido marcado, e que o Badminton Institute era o nosso oponente.

Do canto do campo, Wickham nos encarava com clara frustração, aplaudindo como parte do teatro de “garoto de ouro”. Na verdade, um papel laminado tinha mais valor do que ele, e minha vitória não poderia ser maior do que naquele momento.


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