Blood Royal escrita por jupiter


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, moressss. ♥
E claro, muito obrigada pelos comentários positivos!



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— VOCÊS SABEM QUE A FUNÇÃO DE UMA princesa não é apenas ser mais um rostinho bonito na televisão. — Kaya gesticulava o tempo todo com as mãos enquanto falava. — É preciso que vocês tenham carisma para conquistar não somente o coração do príncipe, mas o povo de Illéa também. Quando estiverem no ar durante suas entrevistas, não tentem forçar algo que vocês não são, deem suas verdadeiras faces a tapa.

O olhar dela demorou um pouco mais sobre mim e me vi na obrigação de sustentá-lo. Ela prosseguiu:

— Amanhã a noite serão exibidos flashes do dia a dia de vocês no palácio, por isso encontrarão mais câmeras do que o habitual. Entretanto, não ajam diferente do que agiriam em um dia normal; e vale lembrar que cada uma será chamada individualmente para dar um... depoimento. É como eu disse, o povo precisa conhecer vocês, adorá-las.

Nós havíamos sido acomodadas em cadeiras confortáveis numa sala vazia. Kaya estava nos dando as instruções sobre o que se sucederia nos próximos nos dias, ainda assim eu não conseguia me concentrar. Depois daquela reportagem as coisas haviam se tornado um pouco mais complicadas.

As meninas que apareciam por último nas colocações estavam dispostas a qualquer coisa para subir, durante o tempo que passávamos juntas era possível sentir a tensão que pairava no ar. Aquilo incomodava até mesmo a mim, já que nem Kaya conseguia evitar as encaradas e por vezes os sarcasmos disfarçados.

Quando fomos dispensadas segui na companhia de Lori para o Salão das Mulheres. Assim que adentramos aquele espaço ocupado apenas pela rainha e nós, fomos surpreendidas pela quantidade de câmeras que haviam sido dispostas em intervalos intercalados.

— Não precisam ficar intimidadas — um homem de sotaque engraçado avançou. — Façam de conta que nem estamos aqui.

— Vai ser meio difícil — murmurei.

Lori riu baixinho.

— Vamos nos sentar.

O fato de estarmos sendo gravadas não mudou em nada a divisão das garotas. Cada qual sentou-se no seu canto, com as pessoas que bem desejava. Sentada numa cadeira ao fundo a rainha parecia entretida em um livro.

Apoiei-me contra o sofá e mantive o olhar fixo no ponto mais alto do teto bem decorado. A sensação de tédio e de monotonia dominava meu peito; eu queria poder sair, caminhar pelos jardins ou apenas me deitar sobre a grama.

— Estou entediada — falei, por fim.

Lori deu um longo suspiro.

— Imaginava que as coisas aqui nunca pudessem chegar a esse ponto — desabafou ela. — Precisamos fazer algo.

— Concordo — disse Brittany, surgindo diante de nós. — Estamos muito paradas, as pessoas que forem nos assistir irão dormir diante de suas televisões.

— E o que sugere? — indaguei.

Brittany jogou os brilhantes cabelos loiros por cima do ombro e apoiou o indicador contra o queixo. Não demorou nem um minuto para que seus olhos se iluminassem e um sorriso empolgado surgisse em seu rosto.

— Podemos dançar! — falou.

— Dançar? — contrapus. — Parece meio loucura.

Mas foi como se ela não ouvisse nenhuma palavra do que eu havia dito; numa tagarelice intensa de que poderíamos ensinar aquelas que não sabiam muito bem, Brittany se afastou confiante e inclinou-se diante da rainha.

— O que ela está fazendo? — divagou Lori.

Depois de gesticular e comentar algo com a rainha America, seguiu-se um momento em que a mesma olhou de Brittany para nós e ponderou.

— Willy? — a voz da rainha ecoou pelo salão, enquanto ela se dirigia a um dos guardas. — Ponha música para as meninas.

Brittany deu pulinhos empolgados e afastou-se olhando para nós como se tivesse acabado de conquistar o melhor dos prêmios.

— Agora, sem mais desculpas — ela puxou Lori e eu pela mão. — Você também Miranda, nos acompanhe.

Por um momento apenas nós nos deslocamos para o meio do salão; Lori e eu nos apoiamos uma na outra e com um dar de ombros começamos a dançar pelo salão. Nós ríamos enquanto girávamos e desviávamos de Brittany e Miranda.

Me virei para as outras.

— Vão mesmo ficar aí apenas olhando?

Elas hesitaram por um minuto.

Brittany me puxou e ficou numa postura ereta, como se dançasse uma valsa com o próprio rei. Oprimi o riso e a acompanhei. Aos poucos mais garotas começaram a chegar e a se dividir em pares, primeiramente aparentando a mais pura tensão e em seguida se soltando.

Aquilo pareceu ser o suficiente para fazer com que os câmeras começassem a nos cercar. Trocávamos de pares aqui e ali, sem a menor restrição, quase como se não houvesse qualquer tipo de barreira entre nós. A única pessoa de quem não me aproximei foi Rowena. Anne parou a alguns passos de onde eu me encontrava, tímida e vermelha; dei-lhe um sorriso apaziguador e a puxei para dançar. Eu sabia e tinha plena consciência de que boa parte do grupo de Rowena era manipulado por ela, com Anne não seria diferente.

Quando realizamos a troca novamente observei por cima do ombro de Miranda o sorriso de satisfação da rainha. Havia em seu rosto uma expressão quase nostálgica, e me vi tentando imaginar como havia sido a Seleção dela em si.

Uma criada baixinha e atarracada passou rapidamente entre nós e interrompeu a dança de Brittany e Lori.

— O príncipe deseja encontrá-la — falou, depositando um papel entre as mãos de Brittany.

— Agora? — ela indagou, passando as mãos pelo rosto e pelos cabelos.

— As informações estão no papel, senhorita.

Brittany o abriu, leu e seguiu a criada para fora do salão. Me desliguei tanto do que estava fazendo que acabei pisando no pé de Miranda mais de uma vez.

— Está dormindo, Alexia? — ela sorriu.

— Desculpe, eu... irei tomar um pouco de ar.

Me afastei a passos largos do grupo de garotas que ainda dançavam e passei pelas portas sem saber ao certo o que eu desejava fazer. Apertei as mãos em torno do meu rosto e olhei em volta procurando por alguma direção, por algum canto onde eu apenas pudesse me enfiar.

— Senhorita Alexia! — exclamou uma voz animada à minha direita.

Virei-me a tempo de me deparar com um rapaz se deslocando em minha direção. Ele possuía um sorriso largo e astuto, e quando estava próximo o suficiente segurou minha mão e depositou um beijo estalado sobre ela.

— Desculpe, mas...

— Ah, peço perdão pela minha indelicadeza — interrompeu-me ele. — Meu nome é Mark Tate, e sou o responsável por recolher o depoimento de cada uma de vez.

Balancei a cabeça demonstrando que compreendia, mas não respondi.

— Eu estava justamente indo buscar uma de vocês para começar, mas já que a encontrei aqui... poderia me acompanhar? — indagou ele.

Curvei os lábios no que deveria aparentar ser um sorriso e o segui pelo mesmo corredor de onde ele havia surgido. Ao adentrarmos a sala me deparei com uma equipe de profissionais pronta para começar o trabalho; uma cadeira com o estofado vermelho havia sido disposta bem no centro e atrás dela uma enorme janela mostrava uma parte do jardim.

— Por aqui — empolgou-se Mark, me conduzindo até a cadeira.

Duas mulheres aproximaram-se rapidamente e começaram a maquiar meu rosto. Senti quando alguém arrumou até mesmo a saia do meu vestido. Comecei a me sentir tensa, como sempre me sentia quando ficava diante das câmeras.

— Muito bem, muito bem — disse Mark, batendo as mãos. — Já é o suficiente. A luz está impecável nesse ângulo. Senhorita Alexia preciso que se concentre aqui, farei algumas perguntas para você e a única coisa que precisa é focar aqui.

Soltei a respiração e encarei o centro da câmera, que me encarava de volta de forma ameaçadora. “Um inimigo a ser abatido”, pensei.

Antes que as perguntas pudessem começar, porém, a porta se abriu com um rangido e a cabeça de Nicholas surgiu no vão. Meu batimento cardíaco se acelerou na hora.

— Já começaram? — ele perguntou.

— Ah, alteza — Mark levantou-se rapidamente. — Estava aguardando apenas sua nobre presença. Todos aqui? Podemos começar?

Encarei Nicholas completamente confusa, já que de alguma forma, a alguns poucos minutos ele havia mandado chamar Brittany. Mark captou esse olhar, mas conseguiu interpretá-lo de maneira errada.

— Desculpe não ter dito que o príncipe participaria das gravações — falou. — Algum problema quanto a isso?

Quase ri na cara dele.

Ter Nicholas presente me tranquilizava de alguma maneira, e enquanto ninguém pareceu perceber, ele fez um gesto que indicava que falaria comigo depois. Fiz um esforço para desviar os olhos e encarei novamente a câmera.

— Estou pronta.

As perguntas consistiram basicamente em como era a vida no palácio, em como era conviver com um punhado de garotas, o que eu achava do príncipe, da nova vida que me havia sido concebida e o que eu esperava dali para o meu futuro. Em uma parte mais pessoal fui questionada sobre a minha família, meus sonhos e meus medos.

— Para finalizar agora, o que tem a dizer para as pessoas que tentaram manchar a sua imagem?

Eu não imaginava que fosse poder dar uma resposta para aquela situação tão rápido, e lutei contra o impulso de dar um sorriso empolgado. Mordi o lábio enquanto tentava organizar minhas palavras e suspirei.

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— Acho que muitas pessoas perdem tempo demais se preocupando com o que acontece ou deixa de acontecer na vida dos outros. Tive problemas com a minha família sim, mas qual família é completamente perfeita? O que eu tenho a dizer para essa tal fonte que divulgou fatos distorcidos da minha vida é: — inclinei-me no meu lugar, fixando o meu olhar o mais firme possível na lente da câmera, eu queria que aquilo pudesse atingir qualquer um que estivesse assistindo. — Quanto mais se deseja o mal na vida de alguém, mais esse mal retorna para si mesmo. Eu estou aqui. Estou ótima. E não irei desistir. Espero que isso possa ser o suficiente para fazer com que deixem de espalhar inverdades.

Me calei e recostei-me contra a cadeira com um sorriso tranquilo. Mark encerrou a gravação e olhou para mim com um maravilhado.

— Impecavelmente perfeita — elogiou. — Estou fascinado.

Ri um pouco, sentindo minhas bochechas esquentarem.

— É apenas isso? — indaguei, me levantando.

— Permita-me acompanhá-la — Nicholas postou-se de pé, rapidamente.

Nos dirigimos para o corredor e Mark passou por nós feito um furacão, indo buscar a próxima Selecionada. Seguimos na direção oposta a qual ele havia ido, pensei em perguntar sobre Brittany, mas decidi manter minha boca fechada quanto aquilo. Observei o rosto de Nicholas e o peguei com as sobrancelhas franzidas.

— Parece preocupado — comentei.

Ele me encarou.

— Você é uma verdadeira caixinha de surpresas, me diga que sabe algo sobre como flanquear inimigos — diante da cara que ele fez senti vontade de tomá-lo para poder cuidar.

Sorri.

— Me desculpe, mas quanto a isso eu não posso ajudar.

Nós paramos no fim da curva que o corredor fazia para a esquerda. Virei-me de frente para ele e avaliei seu rosto, em seguida, num gesto involuntário depositei suavemente minha mão sobre a testa dele.

— O que é isso? Uma tática especial para fazer meu cérebro funcionar? — indagou ele, com os olhos fechados.

— Talvez — respondi.

Deslizei os dedos até sua bochecha e observei sua expressão. Calma, serena.

Nicholas ergueu a mão e segurou meu pulso, seus olhos se abriram e pensei estar encarando um pedaço do céu, de tão azuis que seus olhos eram.

— Desculpe — murmurei.

— Está pedindo desculpa por ter me tocado? — ele arqueou as sobrancelhas. — Meio tarde para isso.

Corei e desviei os olhos.

— É melhor voltar para a sala, haverão dezenas de entrevistas para assistir hoje — falei.

Ele curvou os ombros, como se de repente se sentisse imensamente cansado.

— Você tem razão — suspirou.

Ficamos em silêncio por um momento e ele inclinou-se para beijar minha bochecha; feito isso beijou minha testa e por último ousou dar um beijo rápido contra os meus lábios, fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo.

Uma sensação estranha se apoderou no meu estômago e permaneci ali, encarando-o sem conseguir expulsar o sorriso idiota em meu rosto.

— Até mais, Alexia. — Nicholas despediu-se, sorrindo.

— Até mais, Nicholas.

Depois de correr feito uma louca para o meu quarto, passei direto por Cali, Tessa e Leah, e me sentei na sacada portando papel e caneta. Fitei os belos jardins do palácio e posicionei a caneta contra a folha, as palavras fluíram com a maior facilidade.

Querido Theo,

Acredita em borboletas no estômago?...


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