Na minha memória, todas as pequenas coisas estão

Como punhais em minha mente

Na minha memória, enquanto minha cabeça sangra,

As palavras que eu nunca vou encontrar

Que eu sempre quis dizer a você, mas não posso

~Pov Meg

Acordei e resolvi mexer um pouco no meu notebook. Sem café da manhã pra mim, não quero engordar mais. Minha mãe bateu na porta do meu quarto e entrou, me olhando com raiva.

–O que foi? –Perguntei.

–Me ajude a arrumar a casa, hoje teremos visitas para jantar.

–Quem?

–Seu primo e sua tia.

–Tio Lucius não vem?

–Não, ele tem compromisso.

–Por que não usa magia?

–Sabe que eu não gosto de usar magia perto de trouxas!

–Não há trouxas aqui, estamos em casa.

–TALVEZ EU NÃO QUEIRA MEG! TALVEZ EU TENHA CANSADO DE MAGIA!

–O quê? Como assim?

–NÃO QUERO FALAR DISSO!

–Aconteceu alguma coisa?

–MEG DIANA MALFOY POR FAVOR, POR MERLIN NÃO ME FAÇA PERGUNTAS!

–Okay, okay, calma!

–ENTÃO LEVANTE-SE E ME AJUDE A ARRUMAR AQUI!

–Já estou indo mãe!

–NÃO FAZ NADA NESSA CASA, A ÚNICA COISA QUE SABE FAZER É FICAR NESSE COMPUTADOR, É UMA INÚTIL MESMO! –Dito isso ela bateu a porta do meu quarto.

Bufei e me levantei irritada. Ela não sabe o quanto dói quando ela joga os meus defeitos na minha cara?! Que dói quando eu deixo de fazer alguma coisa e ela diz que eu não presto pra nada?! Dói saber que ela assiste todos os dias na TV adolescentes que se drogam, matam, roubam, engravidam, e só porque eu estou no notebook por alguns minutos sou chamada de inútil!

A ajudei a arrumar a casa e aguentei cada xingamento dela. O que estava acontecendo? Por que tanto nervosismo? Depois de ajudá-la e de não aguentar mais os gritos e reclamações eu resolvi sair. Fui passear pela Londres trouxa. Olhar vitrines, não me importa, eu só queria me distrair.

Comprei alguns CDs das minhas bandas preferidas e depois fui até a praça. Me sentei, coloquei meus fones de ouvido e apenas encarei o nada. Minha mãe me ligou algumas vezes, mas eu simplesmente não atendi. Já ouvi ela me xingar hoje, não quero que ele me ligue pra fazer isso de novo.

Foi quando alguém se sentou ao meu lado. De inicio ignorei, mas senti seus olhos grudados em mim, e resolvi olhar.

Luke.

Me levantei para ir embora antes que ele falasse algo, mas ele me puxou pelo braço, me dando uma dor forte por causa dos cortes. Eu gemi, mas não demonstrei mais que isso. Sacudi meu braço fazendo-o me soltar e tirei um dos fones.

–O que quer? –Falei brava.

–Quero conversar, posso?

–Não, não pode.

–Meg, por favor, eu...

–Luke, vai embora, eu não quero ouvir nada que saia da sua boca.

–Por favor, Meg! Só peço pra me ouvir dessa vez, se não quiser não precisa nunca mais.

–Fala logo. –Cruzei os braços.

–Meg, me desculpe pela Liz.

–Já ouvi isso antes, mais alguma coisa?

–É sério Meg, não queríamos que você ficasse sabendo daquele jeito.

–E como queriam que eu ficasse sabendo?! Pensavam em me mandar uma carta?! Um berrador talvez?! Que tal “Querida Meg, estou pegando sua melhor amiga quando você vira as costas. Beijos do seu namorado, agora ex, Luke”.

–Meg, não faz assim.

–ASSIM COMO?! VOCÊ PODERIA TER ME CONTADO ANTES DE FICAR COM ELA PELAS MINHAS COSTAS! –Todos na rua nos olhavam, mas eu não estava me importando.

–EU SÓ NÃO QUERIA QUE VOCÊ SOFRESSE!

–Tarde demais não é? –Lhe dei as costas, mas ele me puxou novamente. Dessa vez segurando com mais força força me fazendo gritar de dor.

–Meg – Ele me olhou preocupado. – O que foi?

–Não é da sua conta. –Puxei meu braço, mas ele me segurou. –Solte-me! Você não tem nada a ver com a minha vida!

Mas Luke não ligou, simplesmente pegou os meus dois braços e saiu me puxando para um beco enquanto eu me debatia e gemia de dor. Quando estávamos sozinhos ele me subiu as mangas da minha blusa olhando todas as marcas, aterrorizado. Alguns dos cortes de ontem tinham voltado a sangrar.

–Meg o-o quê...? –Desci as mangas novamente.

–Isso não é da sua conta! Agora saia e me deixe passar!!

–MEG ME RESPONDA AGORA!

–EU NÃO DEVO SATISFAÇÕES DA MINHA VIDA A VOCÊ!

–POR QUE FEZ ISSO?!

–ISSO NÃO É NEM METADE DA DOR QUE A VIDA ME CAUSA!

–Fez isso por minha causa e da Liz? –Não, eu não vou chorar na frente dele, não mesmo. –RESPONDA!!

–E do que vai adiantar a minha resposta? As marcas do passado vão sempre permanecer em mim, e nada do que você ou ela fizerem vai mudar o que aconteceu. Ninguém se importa mesmo.

–Meg...

–Adeus Luke, eu cansei!

*-*

Cheguei em casa e fui tomar banho para o jantar. Por que Luke tinha que ser tão imbecil?! Eu sei que ele não se importa e fingir não vai adiantar.

Talvez fingir o deixe melhor porque ele sabe que tem um pouco de culpa pelo que eu me tornei, mas no fundo ele quer mais é que eu morra, assim ele pode ficar com a Liz em paz, sem culpa. É talvez seja por isso que ele está fingindo. Culpa.

Mas ele tem que aceitar que nem a culpa que ele sente pela pequena suicida que me tornei vai me fazer voltar a ser quem eu era. É como uma droga. Uma vez que você se corta não consegue mais parar. Os problemas só aumentam. O julgamento só aumenta.

Não vai adiantar se eu tentar parar, eu já estou perdida. O que todos não sabem é que eu tento todos os dias parar e me tornar uma pessoa melhor, mas eu não consigo. Já perdi essa luta há muito tempo.

E sim, eu desisti.

É tão difícil enfrentar que eu não posso mais te sentir

Difícil de enfrentar que eu não posso mais te ver

Então vá embora, até que você não esteja mais em minha porta

Vire seu rosto, vá embora e fique