P.O.V NARRADORA

Há semanas, Leo não saia de seu chalé. Não comia, não dormia, e praticamente desistira de viver. Reyna não o olhava nos olhos, e, a cada vez que eles conversavam, ela parecia sufocar a vontade de lhe dar um soco. Annabeth jogara cadeiras em suas costas assim que soube o que ele havia feito. E ele entendia. Queria dar em si mesmo uma surra por ter sido corrompido to facilmente. Mas havia uma coisa que incomodava mais do que sua traição.

A questão de Annabeth estar viva.

Se eles foram realmente ligados, como ela ainda estava bem?

Leo se perguntava se ele e Reyna compartilhavam os mesmos sentimentos. Em seus olhos, havia desaprovação, e desapontamento. Porém, alguns pontos, seu olhar forte e corajoso se transformava em um olhar penoso, cheio de compaixão que parecia dizer “eu compreendo”.

Também não falava com Jason, Piper ou Nico. Apesar de Jason não parecer bravo, Leo sabia que ele sentia mais falta de Percy do que queria admitir. E todos parecerem estar em silencio desde o ocorrido. A maré nunca mais foi a mesma, de repente, o pequeno porto que enchia o acampamento de vida e pureza, agora o enchia de lembranças dolorosas de um certo filho do mar. E, depois de alguns dias, o céu ficou nebuloso, assim como o sol e a lua que não ousavam se expor. Depois de um mês, o Olimpo parecia em luto. E aí, ela apareceu. E foi a maior demonstração de trégua entre o céu e o mar.

P.O.V THALIA GRACE

Ártemis me deu a notícia três semanas depois. Estávamos em na costa oeste de São Francisco. E, depois de voltar de uma reunião de emergência no Olimpo, ela parecia abatida.

– Thalia, eu sinto muito pelo o que vou dizer, e sinto mais ainda por não poder dar-lhe as explicações necessárias.

– Senhora?

– Estou deixando você ir, Thalia. – disse a deusa. Parecia engolir o orgulho a cada palavra.

– O que?

– Percy morreu. E, nós deuses tivemos uma visão indesejada sobre você. Achamos melhor deixá-la livre para escolher o melhor para os dois mundos.

– Percy... – lagrimas que a muito estavam sufocadas começaram a jorrar de meus olhos, e meu coração parecia ter sido partido por uma marreta maior do que o próprio raio mestre.

– Sinto muito. Darei a você minha benção para seguir caminho até o acampamento sem interrupções.

– Senhora – chamei-a. – Uma visão do meu futuro?

Ela parecia cautelosa, como se corresse o risco de pisar em território proibido.

– Você irá se apaixonar, Thalia. E essa pode ser a salvação ou a destruição dos Deuses.

Com aquela frase, deixei sua tenda. E, quatro dias depois, eu estava em Long Island. Estava em casa.

Estava tudo diferente. Escuro. Sem vida. E, ao longe, avistei velas, ursos e cartões enormes na frente de um chalé azul com o número 3 implícito em verde escuro no alto da enorme e charmosa construção.

O mar assumiu o tom de azul escuro. E tudo parecia sem vida. E, uma pessoa em particular, eu soube, sempre sentiria a falta de Percy.

Procurou-a com os olhos, e, achou-a exatamente onde havia imaginado.

Annabeth estava sentada na areia da praia, com a água do oceano molhando seus calcanhares. OS cabelos loiros iam e viam soltos ao vento, e seu rosto estava encharcado de lagrimas. A seu lado, havia um moletom enorme. Provavelmente de um garoto. Mas, não de um garoto qualquer. Era o moletom de Percy. Sentei-me a seu lado, mas se ela me viu, não demonstrou.

– Oi. – disse com cuidado. Ela virou o rosto para mim, limpando os olhos e agarrando o blusão.

– Thalia! – ela levantou, e fez um gesto para mim fazer o mesmo. Assim que nos abraçamos, ela começou a chorar mais profundamente. – Acredita no que aconteceu?

– Eu sei. Acalme-se, Annie. Sinto muito. – digo, deixando minhas lágrimas fluírem. Surpreendendo-me com a extrema facilidade que tenho para me lembrar de Percy. – Ele cuidou de você por mim. Eu sempre vou ser grata a ele por isso. – ela não disse nada, mas seus soluços diminuíram, e eu soube que tinha dito a coisa certa para acalmá-la. Ela se deitou na areia, com a cabeça em meu colo, e o grande moletom no nariz. – Ele está no Elísio. – digo, sabendo que se havia alguém capaz de chegar a ilha dos abençoados, esse alguém era Percy. E, com grande calma no coração, durmo na areia da praia, sentindo a tristeza de Poseidon por meio das pequenas ondas que molhavam meus pés.

UM ANO DEPOIS.

P.O.V REYNA

Acabamos de perder o jogo de caça a bandeira para os gregos.

Passaríamos metade do verão com eles, e a outra metade no Acampamento Júpiter. E, por mais que as coisas estivessem quase normais de novo, Annabeth chorava sempre que olhava para o mar. E todos sabíamos que nada que fizéssemos amenizaria a dor. Então, deixamos ela sozinha. Thalia ajudava muito. Por mais que ela não tivesse sido tão útil no final do verão passado, quando Annabeth começara a vomitar, e ficar febril por dias. Mesmo assim, ela continuava do lado da amiga, segurando-lhe o cabelo e murmurando frases de encorajamento, todas do tipo “bota pra fora” e algumas que não encorajavam muito... “mas que droga, Annabeth! Você vomitou nos meus sapatos outra vez!”. E, não importa quanto os meses se estendiam, toda tarde Annabeth ia até a praia, sentava-se perto do mar, e chorava abraçada ao moletom de Percy. Isso durou muitas semanas, e duraria muitas mais se não fosse a chegada de um novo inquilino no chalé de Poseidon.

Flashback on

P.O.V THALIA GRACE

Aquilo sim era uma droga de semana. A chuva não nos deixara fazer alguns dos exercícios principais do acampamento, como escalar a parede de lava, ou praticar canoagem. E seria uma semana muito pior se não fosse a chegada de um novo campista.

O nome dele era Isaac Allen, e pelo o que eu fiquei sabendo, tinha dezenove anos. Indeterminado desde os doze, e morava no Acampamento Júpiter desde então. Poseidon o reclamou algumas horas depois, quando ele explodiu o rio na cara de Jason. Quíron pediu que eu apresentasse para ele as instalações, e andamos a toa por horas, envoltos por uma conversa surpreendentemente livre de timidez.

E, eu soube, quase instantaneamente que era por ele que eu estava destinada a me apaixonar.

Isaac Allen: