P.O.V Sam

Era uma noite chuvosa em Seattle... O clima estava frio, e a janela persistia em se mover levemente diante da insistente brisa torrencial... Deitada sobre a cama da Carls, eu podia ouvir as gotas de chuva caírem desordenamente como numa sinfonia sem maestro, ao se chocarem com as pequenas poças que haviam se formado no parapeito da sacada...

Meus pensamentos se tornaram inquietantes diante de tantas lembranças. Nenhuma chuva era tão forte, quanto a tempestade interna que se formava dentro de mim constantemente... Um relâmpago de saudades precipitava uma enxurrada de emoções. Logo todo aquele mar revolto que se instalava em mim, transbordaria pelos meus olhos...

As vezes eu não entendo por que a vida nos prega tantas peças... Por que ela pega de volta, o que ela mesmo nos deu?... Nessa vida, eu já perdi muitas coisas... Já outras, eu fui capaz de recuperar. Mas existe uma só coisa, que eu deixei que levassem de mim espontaneamente... Meu coração, e junto com ele todo o meu amor, pertencem á um único Nerd... Sim, Fredward Benson, furtou meu coração...

Desde o início eu permiti que ele o roubasse, pois eu não passava de uma vítima voluntária... Eu nunca achei que todo aquele ódio que achávamos sentir um pelo outro, era na verdade amor... Eu nunca achei que ele me quisesse diante de tantos defeitos, pois eu deixei que ele visse partes de mim, que não eram tão atraentes... Uma Sam Puckett frágil... Insegura... Indecisa... Mas para a minha surpresa, ele me consertava ao calor de cada toque seu...

Mas eu o perdi, eu o deixei escapar... As exatas 00:00 no relógio, anunciaram o nosso fim... Será que acabou de vez? Será que temos como voltar atrás?... Mas a pergunta mais importante é: Será que ELE ainda anseia por mais assim como eu, ou já teve o suficiente do nosso amor?...

Com essas dúvidas que carrego á meses, decido a melhor forma de encerrar o dia... Desço as escadas até a sala, e começo a me despedir da minha melhor amiga:

- Carly, eu... já vou indo...

- Mas já? Ainda está chovendo lá fora, e o Spencer nem chegou do mercado... Por que não fica mais um pouco?...

- Eu agradeço Carls, mas eu preciso mesmo ir...

- Está tudo bem Sammy?

- Não se preocupe morena, vai ficar ...

- Acho bom loira, te ver assim sempre me deixa preocupada... Boa Noite, e me ligue se precisar...

Após receber um abraço da morena, continuo seguindo em direção ao meu rumo... Subo as escadas do Bushell, até chegar no meu lugar favorito: A saída de incêndio, lugar aonde um dia, encontrei um certo moreno... Palco do nosso primeiro beijo, cenário do início de nossa paixão...

Me agacho sobre o piso úmido, e fico abraçada ás minhas próprias pernas cruzadas... A chuva e o frio começam a apertar, juntamente com o meu coração, quando me recordo de todas as nossas lembranças... Quem sabe essa chuva não lave a minha saudade, assim como as salgadas lágrimas, persistem em lavar meu rosto...

Enterro minha cabeça entre meus joelhos, e fico ali esperando o tempo passar... Até que de repente, sinto o calor de algo me abraçando: Eram aqueles mesmos braços fortes que envolviam a minha cintura á meses atrás, só eles possuam o poder de derreter o meu gélido coração...

- Está tudo bem Princesa Puckett? - Aquela voz rouca e suave que eu tanto amava, começou a falar... Eu ainda permanecia de cabeça baixa, mas não precisava ver para saber quem era. Seu perfume inebriante, denunciava-o desde o início...

- O que faz assim Nerd? - Indaguei com a voz embargada, porém num tom ríspido

- O mesmo que você... - Respondeu ele de modo suave

- Me deixa sozinha! - Exclamei afundando minha cabeça ainda mais entre meus joelhos...

- Não - Respondeu ele com a voz firme

- Eu estou te avisando manezão... Se você não sair daqui em 5 segundos, eu vou transformar seus dentes em pinos de boliche!

- Faça o que quiser comigo, Puckett! Mas não sairei daqui até ter certeza de que você está bem!

- Por que ainda está aqui Benson? Por ainda se preocupa comigo? Você não tem mais essa obrigação, nem motivos para ainda ser gentil... - Finalmente ergui os olhos, e encarei aquele mar de chocolate... Aqueles olhos castanhos estavam tão brilhantes, tão convidativos... Como no mesmo dia, em que me afoguei neles pela última vez...

- Me desculpe Sam, mas eu simplesmente não entendo... De onde tudo isso está vindo? Achei que estivéssemos bem, achei que estivesse tudo bem pra você... Mas vejo que você está perdendo o controle novamente... - Dizia ele enquanto erguia o meu queixo para que eu pudesse olhá-lo

- Não Freddie, não está tudo bem... Nunca esteve! Acha que é fácil carregar um sorriso falso todos os dias? Acha que é fácil fingir que estar tudo bem por fora, quando seu mundo simplesmente está desabando por dentro?... É difícil sentir falta do que tínhamos, mas nada se compara a dor de saber que tudo aquilo foi deixado para trás... - Pude sentir novamente uma lágrima teimosa e solitária escorrer sem consentimento pelo meu rosto

- Querida, nós ainda temos tudo, basta você querer... - Pronunciava-se ele enquanto enxugava cuidadosamente os vestígios de lágrima que sobraram em meu rosto - Eu sei que várias coisas passam pela sua mente, mas não passam de sonhos ruins... Você costumava se deitar tão perto de mim, me dizia coisas durante o seu sono... Mas do que adianta agora restarem apenas lençóis vazios, se não posso preenchê-los com nosso amor?

- Freddie... Você não entende... Nós nunca iremos dar certo... Já quebramos uma vez, podemos facilmente quebrar de novo... Por que tentaríamos outra vez? Existe alguma razão para continuarmos?

- E existe alguma razão para não? Eu nunca deixei de te amar Sammy, seu nome continua escrito nas cicatrizes do meu coração... Nós podemos recolher a poeira, eu vou consertar isso por nós! - A determinação em sua voz era evidente, era incrível como apenas suas palavras me faziam sentir segura...

- Então me dê apenas um motivo, um pouco já é o suficiente...

Nesse momento, suas mãos começaram a "brincar" com meus cachos, colocando cuidadosamente uma de minhas mechas para trás... Acariciou levemente minha bochecha, e me encarou por alguns segundo em silêncio... Sem mais cerimônia, seus lábios quentes e macios se encaixaram perfeitamente nos meus, despertando em mim sensações que eu achei que estivessem adormecidas, ou que nunca mais sentiria outra vez...

Por fim, o beijo cessou, mas seus olhos castanhos e profundos continuavam em contado com os meus... Aqueles mesmos lábios que haviam me beijado á segundos atrás, proferiram o melhor motivo pelo qual devíamos continuar:

- Nós não estamos quebrados, apenas tortos... Podemos aprender a amar novamente! ...