A Fantástica Fábrica é invadida. escrita por dayane


Capítulo 19
Capítulo 18




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O senhor Bucket ajeitou o jornal e suspirou alegremente. O cheiro do café estava inundando a pequena cabana que um dia ele chamou de casa – mas hoje em dia eles usavam como sala de jantar e cozinha – e sentiu os raios de sol banhando o rosto. Eram raios que imitavam os externos, pois dentro daquela fábrica eram raros os lugares em que o sol conseguia brilhar.

– Willy sempre será uma grande criança. - Comentou o homem de idade avançada. - Uma boa e inocente criança.

De fato, aquela era a melhor forma de descrever Willy Wonka.

– Eu nunca tinha conhecido uma criança violenta.

O sussurro escalou o jornal do senhor Bucket e ele sorriu contra as folhas de baixa qualidade.

– Algumas vezes, quando elas não entendem os termos que a vida usa, elas se tornam agressivas. Os adultos carregam muitas coisas das crianças. As pessoas esquecem que o vinho ainda tem muitas características das uvas que um dia ele foi.

Então, Willy Wonka invadiu a casinha com sua característica espalhafatosidade. Ele devia ter chutado aquela porta, mas demonstrava que só a tinha aberto com muita força. Ele sorria com orgulho de sí mesmo, mas o sorriso morreu logo em seguida.

– Onde está Charlie?

– Talvez dormindo. - Revelou o senhor Bucket. - Se ele foi dormir tarde, só vai acordar depois das oito horas de sono dele.

O rosto de Willy se contorceu quando entendeu o significado simples daquelas palavras – é que Willy tinha dormido pouco e o cérebro ficava mais lento.

– Volto logo. - Anunciou Willy.

E já de costas, mas com a porta aberta, ele fez uns barulhos estranhos com um apito mais estranho ainda. Um Oompa Loompas surgiu de algum lugar e Wonka gesticulou para a pequena criaturinha. Precisava que Charlie acordasse para ontem e o pequeno tinha que acelerar este processo. O chocolateiro largou a criaturinha na primeira bifurcação da fábrica e prometeu voltar para a cabana em trinta minutos.

Charlie estava dormindo como uma pedra. Talvez até mais profundo do que uma pedra. Tinha ido dormir após as três da manhã e demoraria para acordar. O Oompa Loompa soube disse por Wonka, mas um Oompa Loompa nunca recusava um desafio de seu salvador e nem deixava de cumpri-los. A criaturinha tinha pulado na cama, arrancado as cobertas, feito barulhos e até jogado um copo com água sobre o rosto do herdeiro.

Pensou um pouco mais. O que sempre acordava os adultos quando eles dormiam tão profundamente?

Ϣ.Ϣ.

Charlie sonhou com a paz. Estava em um campo florido, carregado com o cheiro fresco das flores e uma pitada de amendoim. Olhou para o lado, ainda dentro do sonho, e sorriu para o relaxado Willy. Percebeu, ainda em sonho, que Willy sempre estava trabalhando e nunca descansou. Devia ser estressante ter tantos anos de trabalho nas costas.

O herdeiro abriu a boca para falar algo que deveria fazer sentido, mas ele não conseguiu lembrar o que era. Em seguida, estava sentindo uma necessidade urgente de ir ao banheiro e se viu dentro de um.

Ah...

O alívio de finalmente descarregar toda a urina que o corpo juntou em oito horas de sono.

O calor impecável daquela água que o corpo quer jogar para longe dele, o barulho das últimas gotas caindo sobre a calça confortável do pijama e sobre o colchão macio. E o prazer de não ter que sair das cobertas para se...

Charlie saltou na cama para se ver ofegante e sentado sobre uma poça que esfriava rapidamente. Ainda atordoado, olhou para o lado e captou uma pequena criaturinha segurando o riso. Os olhos do Oompa Loompa lacrimejavam e o rosto estava avermelhado demais.

– Eu... - O cérebro travou.

Havia tanta vergonha e informação naquele momento, que Charlie sentiu a cabeça latejar.

O Oompa Loompa levantou um copo com um pouco de água e o vidro embaçado. Então, sorrindo, achou ter explicado – mesmo sem dizer uma palavra na língua de Charlie – o que tinha acontecido.

Charlie ofegou um pouco e pensou. Tentou ligar a presença da criaturinha e o copo, com a cama molhada.

– Você jogou água quente nas minhas calças? - O pequenino confirmou. E logo depois riu, - Pra me acordar?

O pequeno confirmou e apontou para a muda de roupa que tinha deixado ao lado da cama. Charlie B. Wonka quis matar o Oompa Loompa.

O herdeiro saiu irritado do quarto, mandando que a criaturinha fosse limpar a cama molhada. Estava irritado, com sono e faminto. Sabia que tinha problemas graves da vida pessoal e profissional para resolver e se encontrasse Willy Wonka, o mataria de verdade.

– Se tornar um assassino não deveria valer a pena, mas acho que o mundo abriu uma exceção. - Murmurou o herdeiro, quando chegou perto da cabana em que sempre comiam.

Talvez fosse a nostalgia ou as lembranças que a falecida senhora Bucket tinha deixado por ali, mas aquela cabana nunca sairia. Charlie sabia disso, pois deixaria claro ao novo herdeiro. Sabia disso, pois Wonka adorava aquele pequeno lugar, onde ele escalava a escada de madeira que levava ao antigo quarto de Charlie e passava horas a fio lendo e ruminando suas futuras ideias.

“Gosto do seu passado, estrelinha. As crianças vivem uma vida doce, mas com pitadas de outros sabores que, mesmo sendo um pouco ruins, fazem com que se torne mais especial.” Willy lhe revelou um dia. E Charlie, ao lembrar daquilo, sentiu que a raiva estava amenizando. “Quando subo neste cafofinho que você chamou de quarto, eu me lembro de um William amargurado e ambicioso, que por amor se tornou o Willy Wonka. Faz bem voltar ao passado, as vezes. Faz bem, pois podemos rever algumas forças que perdemos ao amadurecer.”

– Chocolateiro maldito. - Sussurrou Charlie.

A raiva tinha se esvaído, mas uma nova surgiu quando percebeu que já não sentia mais raiva de Willy. Logo, Charlie estava, agora, com raiva de Willy, por conseguir fazer com que Charlie não sentisse raiva do chocolateiro. Era algo extremamente complexo e que não daria tempo de gerar uma explicação, pois Charlie estava abrindo a porta da cabana.

– Bo... - m dia papai. O herdeiro deveria ter completado.

Mas ele sentiu algo forte demais. Se fossemos tentar explicar com palavras, Charlie passou uma loucura de sensações. A ponta dos dedos da mão formigaram, o calcanhar perdeu a força e todos os ossos da perna tremeram. A pressão sanguínea caiu ao ponto de quase descontrolar os intestinos que, de certa forma, incomodavam. Os pelos dos braços e das pernas e de qualquer outra parte do corpo se arrepiaram pelo frio que atingiu o corpo do herdeiro ao compasso de um coração desesperado que batia com força e, se alguém estivesse ao lado dele, podia ser visto trepidando na camiseta. Os pulmões, para seguir o compasso do coração e tentar manter aquele corpo vivo, já que todos os outros órgãos vitais tinham travado, hiperventilou.

“Quê?” O cérebro do herdeiro formulou com muito custo.

Da boca, que se mexia como a de um peixe que respira num aquário, saía uns gemidos sem sentidos que nenhuma sequência de letras conseguia formular.

Então, em resumo: o herdeiro entrou em pane.

– Bom dia filho. - O senhor Bucket saudou com os olhos escalando o jornal. - Com fome?

Os ouvidos de Charlie ainda funcionavam, devemos esclarecer. Ele só não estava bem ligado ao cérebro.

– Bom dia, senhor Charlie.

“Quê?” O cérebro berrou. Mas da boca, continuou saindo aquelas palavras impossíveis de representar com letras.

Para salvar a situação, o cheiro de amendoim surgiu como num estralar de dedos. Willy Wonka era o único ser que estava impregnado com tal cheiro e até os amendoins sentiam inveja dele. Não era um cheiro que enjoava, mas um que você queria sentir. Seu estômago podia estar embrulhado ao ponto de se virar do avesso quando sentisse o cheiro de grama recém-cortada – grama comuns e não as da fábrica Wonka – que ele vangloriaria ao Wonka quando sentisse o perfume único.

Charlie carregava um leve resquício daquele perfume de amendoim, mas era muito mais concentrado do frescor de uma juventude invejável.

Então, como dito, Willy surgiu naquele exato momento. Sorridente como só ele conseguia ser, o chocolateiro apoiou o braço no batente ao topo da porta aberta e espiou para dentro da casinha. Ele era alto demais para aquela porta que quase era pequena demais para o mundo inteiro, mas adorava passar por ali e tentar não deixar a cartola cair no chão.

– Vejam só, temos uma família bonita tomando café. - A voz de Willy estava aguda pela felicidade que só ele parecia ser capaz de ter. - Vamos estrelinha, o café está esfriando.

Charlie olhou por cima do próprio ombro e tentou falar algo com Willy. No fim das contas, só conseguiu gemer:

– Wi...

Então, como um bom tutor, Willy desencostou do batente e envolveu a cintura do herdeiro. Tinha o objetivo de empurrar o garoto para dentro da casa e colocá-lo à mesa, mas também aproveitou o momento para sussurrar ao pé do ouvido de Charlie:

– Eu não sou um monstro. Por favor, nunca se esqueça disto.

Os dois passaram pela porta e o chocolateiro deixou Charlie sentado ao lado de Lane Kenneth, que timidamente devorava uma gigantesca broa de milho – Willy odiava as broas de milho. “Eles pegam todas as serpentinas amarelas dos confetes que os brasileiros usam no carnaval, para fazer este treco. E aja tinta guache.” Resmungava o chocolateiro. “Nunca tinha reparado, que não há serpentinas amarelas no carnaval do Brasil?”

Então Willy mergulhou para fora da casa, pegou a cartola caída e sentou-se para tomar o café da manhã.

Logo em seguida, o cérebro de Charlie pareceu reiniciar e ele conseguiu dizer:

– Quê?






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