Desiré saiu do castelo em disparada, não conseguia explicar sua crise de raiva e nem sabia direito o que deveria fazer a seguir, ela tinha certeza que devia ter ido até Juan se certificar que ele não havia se machucado, mas a única vontade que ela teve foi de sair correndo e se trancar em seu quarto. Mas aquele era o dia da tarefa e ela não poderia abandonar o plano que havia traçado com Freya para tentar impedir aquela visão de se tornar realidade.

Ela ainda estava tomada por um sentimento estranho, um misto de raiva e vergonha se apoderavam dela mesmo tentando controlar seus pensamentos, ela havia lido no guia de projeção que algumas vezes as pessoas relatavam episódios de terror ou ódio repentino após alguma tentativa mal sucedida de intervenção em ambientes, mas ela gostava de manter o otimismo de que estava tudo sob controle. Ela tinha a obrigação de manter tudo sob controle se quisesse levar Freya consigo e ainda conseguir fazer intervenções que talvez impedissem a visão de ocorrer.

As garotas veelas haviam preparado uma apresentação pré tarefa para encerramento do torneio e também como grito de torcida para Fleur, infelizmente para Desiré e felizmente para Fleur, a querida Desi havia sido designada como atração principal e líder da apresentação só que com a semana tumultuada que antecedeu a prova ela tinha participado raramente dos ensaios e sabia apenas 10% da coreografia principal, então, assim que saiu do castelo Desiré traçou uma rota de fuga para a apresentação que talvez deixaria Fleur chateada, mas que a livraria de mais uma desastrosa aparição pública.

As noticias correm na velocidade da luz e no mundo bruxo você consegue saber quem acaba de terminar um namoro ou o ultimo aluno pego pelo zelador Filch antes que consiga dizer ‘LUMOS MAXIMA’, contando com essa verdade Desiré esperava que as garotas de sua escola já soubessem do ocorrido durante o café da manhã, diminuindo a necessidade dela ter que fingir uma síncope nervosa.

Desí, mon’amour! - Fleur apareceu saltitante no meio da sala da carruagem assim que Desiré entrou, ela parecia ser a única alheia as ultimas notícias, as demais garotas observavam os passos da garota com certo receio.

Olá, Fleur, empolgada como sempre…- Disse Desiré secamente.

Desí, venha cá, conte-me mais sobre seu drama adolescente, estou empolgada em saber sobre seu romance secreto com Victor Krum. - Disse Anne entre risinhos afetados com algumas garotas no canto da sala.

Como suspeitava Desiré a noticia já havia chego até a carruagem e por sorte dela sempre havia uma bitch disposta a falar o que quer e receber em troca o que não quer. Aquela havia sido mais fácil que Desiré imaginara. Passando direto por Fleur e quase derrubando a amiga que continuava no meio da sala com os braços abertos a espera de um aconchegante abraço que não chegaria, Desiré correu em direção a Anne com a varinha em punho e parou a meio centímetro de seu nariz arrebitado.

– Vou te contar nos mínimos detalhes, minha querida, aliás, vou te mostrar o feitiço que eu queria ter aplicado nele. - Disse Desiré sorrindo.

– Acho que alguém esqueceu de tomar os remédios hoje... - Zombou Anne desacreditando da ameaça de Desiré.

– Ah, minha queria, que azar o seu então, porque eu realmente não os tomei. - Disse Desiré largando a varinha no chão e pulando em cima da garota pronta para arrancar os cabelos loiros dela.

– Desi, o que está acontecendo com você?! - Gritou Fleur correndo para apartar a briga - Você é uma lady, deveria se comportar como tal!

Desiré virou em direção a amiga com um olhar fulminante e ameaçador que a fez congelar por alguns instantes, relutando, imaginando seu penteado perfeitamente pronto para o torneio sendo arruinado pela fúria de Desiré.

– Fleur, meu amor, se concentre em ganhar o torneio, eu sei muito bem lidar com essa descontrolada. - Disse Anne reagindo ao ataque de Desiré e conseguindo pegar a varinha na bainha de suas vestes.

Em um movimento rápido Desiré recuperou sua varinha e agora as duas estavam em pé frente a frente com varinhas apontadas uma para a outra, a primeira a atacar foi Anne tentando lançar um feitiço para desarmar a oponente, Desiré se desviou rapidamente e revidou com um feitiço que deveria lançar Anne pelos ares, mas a oponente era rápida e o ataque de Desiré acabou acertando uma poltrona da sala que saiu voando e caiu alguns metros a frente se despedaçando ao atingir o chão.

Anne resolveu mudar o ataque para algo mais pessoal, lançou um feitiço tentando transformar Desiré em um rato, o problema é que Desiré havia tido a mesma ideia que a oponente e lançou um feitiço do mesmo tipo, os feiches de luz que saiam das varinhas se chocaram e acabaram ricocheteando para vários lados, uma garota do grupo de Anne, Pamira, e um abajour da sala comunal não tiveram muita sorte e foram transformados em uma mistura de rato de laboratório e galinha preta.

As veelas soltavam gritos afetados, e muitas das garotas correram para tentar auxiliar Pamira que agora exibia penas pretas saindo de seus cabelos e um rabo rosado de rato.

– Parem com isso agora! - Gritava Fleur.

Apesar de a cena de Pamira ter desviado a atenção de todas na sala as oponentes logo recuperaram a atenção e voltaram a brigar, Desiré sabia que não podia levar aquele show muito a diante e que deveria zelar pelo seu bem estar físico e mental se quisesse conseguir auxiliar Freya no processo de projeção. Quando Anne se preparou para lançar mais um feitiço Desiré teve uma idéia, ela deu uma boa observada no carpete que cobria toda a sala principal e tentou se posicionar o mais próximo possível da saída sem que Anne percebesse seu movimento.

Anne tentou mais uma vez desarmá-la e aproveitando a necessidade de se abaixar para desviar desse ataque Desiré apontou sua varinha para o tapete e gritou:

– Geleca Transformum. - Desiré estava radiante observando a cena a seguir.

Todos na sala pareceram titubear com a mudança repentina de consistência do antigo tapete, ele agora tinha adquirido uma consistencia gosmenta e escorregadia, mas ao mesmo tempo muito pegajosa. Ainda exibia sua linda cor rosa escarlate porém alguns objetos agora começavam a grudar permanentemente em sua base.

– Céus, meus sapatos novos de camurça inglesa! - Choramingava Fleur observando seu par de sapatos de salto azul claro que combinavam perfeitamente com sua roupa minunciosamente escolhida para a ultima prova do torneio.

– Desiré, eu te odeio, la mour is over. - Disse Fleur olhando furiosamente para Desiré que já estava a um passo da porta de saída do navio

Desiré jogou uma piscadinha em direção a amiga e disse:

– Acredite, você deveria me agradecer por isso, esses sapatos eram horríveis, e agora estão um pouco melhores cobertos com meleca rosa escarlate.

Após dizer isso ela saiu em disparada pela porta assim que o caus já estava instaurado no salão comunal da carruagem, ela tinha certeza de apenas duas coisas: Primeiro, que ela devia sérias explicações para a direção da escola, Segundo, era certo que ela provavelmente seria expulsa ou pelo caus já instaurado ou pela sua tentativa seguinte de salvar o torneio. Já conformada com seu terrível destino de veela expulsa e maltrapilha que não poderia mais ser contratada nem por suas próximas gerações para alguma companhia de dança famosa, Desiré rumou ao encontro de Freya para que elas finalmente conseguissem juntar colocar o plano em pratica.

Elas haviam combinado pela manha antes de todo aquele problema ocorrer que se encontrariam atrás das arquibancadas principais que foram construídas em volta do labirinto e foi pra lá que Desiré correu tentando chegar o mais cedo possível para treinar as técnicas de projeção.

Alguns minutos depois ela já estava lá aguardando e resolveu se sentar entre as madeiras dos fundos da arquibancada tentando ficar escondida para que os outros estudantes que passavam pelo local e que começavam a entrar no ambiente da ultima tarefa não a vissem.

De onde estava Desiré conseguia ter uma visão privilegiada da entrada da tarefa, ela estava a poucos metros de distancia do portal que levava as escadas das arquibancadas, conseguia ouvir as conversas e os gritos de torcida e se assustou quando viu um grande número de estudantes de Hogwarts vindo todos juntos, ela conseguiu identificar algumas daquelas pessoas, ela sempre encontrava com eles na sessão de filmes que ia com Juan. E lá estava ele também, assim que Desiré o viu ela congelou, inicialmente envergonhada com o que havia feito com o garoto, mas após alguns segundos ela conseguiu ver mais claramente a situação.

Juan e seus amigos vinham todos juntos caminhando animadamente, ele estava seguido de perto por um grupo de garotinhas mais novas que sempre tietavam os meninos dos últimos anos, uma delas inclusive estava toda preocupada com a cara de sofrimento do garoto e havia colocado os braços ao redor da cintura dele enquanto andavam, ela passava a mão carinhosamente no cabelo do garoto cabisbaxo.

– Eu sempre te alertei Juanzito, aquela garota é desequilibrada! - Disse a pequena notável que vinha abraçada com Juan.

– Eu não sei o que deu nela, ela não é assim. - Disse Juan tentando se justificar.

– Ela sempre foi assim, você que não notava, acho que ela fez uma poção realmente forte para você se apaixonar por ela, já que os poderes de veela dela são tão insignificantes que ela não conseguia influenciar você. - Dizia a garota enquanto o grupo subia as escadas.

– Eu sei, deve ter sido isso mesmo, eu estava agindo fora de mim, desculpem amigos. - Disse Juan mais animado.

– Hey cara, sai dessa! Existem um milhão de peixes nesse aquário da paixão. - Disse Frank o apanhador de quadribol da lufa-lufa.

– Vamos curtir esses últimos dias irmão, temos uma festa de arromba no salão comunal. - Disse Juan parecendo completamente curando de seu momento de melancolia.

Desiré ficou meio paralisada ao ouvir toda aquela conversa, as palavras de Juan haviam tido um efeito contraditório na mente da garota, ela ouvia aquela conversa e achava que não se tratava de seu príncipe encantado falando, ele parecia outra pessoa, um cara desconhecido e desprezível, mas que ironia, era ele sim. A partir daquele momento ela parou de se sentir culpada pelo episódio do café da manhã e até achou que deveria ter usado uma azaração mais forte contra o antigo affair já que era isso que ele havia se tornado a partir daquele momento, apenas um cara que tinha a capacidade de imaginar que ela havia dado uma poção do amor para enfeitiça-lo, sim. Um completo babaca.

– Poção do amor, um milhão de peixes? AAAH faça-me um favor! - Pensou Desiré completamente irritada pelo que havia ouvido - Eles vão ver o um milhão de peixes.

Antes que pudesse tomar qualquer atitude impensada Desiré foi impedida pela chegada de Freya. Ela estava acompanhada de Draco que tinha a feição tomada pela raiva, quando ele estava a poucos passos dela, ela percebeu que a raiva era direcionada a ela.

– O que significa isso? - Perguntou ele balançando o pequeno guia que havia emprestado a Freya.

– Um livro. - Respondeu ela sem emoção - Eu não tenho tempo nem paciência para você agora, Malfoy.

– Você se acha a poderosa, não é?! - Perguntou ele com escarnio - ‘Eu sou a única veela de cabelos escuros, sou tão poderosa’.

– Draco! - brigou Freya.

– Olha, por que não entra logo no assunto? Não temos tempo para rodeios. - Disse Desiré secamente.

– Tudo bem, vou clarear sua memória. - Draco abriu o livro na página que havia marcado com os dedos e começou a ler - “Dentro das artes da telepatia, a projeção é a mais instável e perigosa. Isso se deve ao fato desse tipo de magia consumir muito da mente e do corpo do bruxo sem que ele ao menos se dê conta disso. Uma vez que o bruxo projeta seu corpo para um outro local há vários cuidados que devem ser tomados para garantir um retorno seguro e indolor.”

– E? - Desiré arqueou uma sobrancelha com impaciência.

– ”Apenas e somente apenas quando o bruxo tiver dominado o feitiço de projeção com perfeição é que ele poderá começar a aprender sobre a influência em lugares projetados. Em nossa história há tristes e desastrosos relatos de grandes e poderosos bruxos que tentaram influenciar ambientes sem antes ter se aperfeiçoado em projeção.”

– Não é como se nós tivéssemos muito tempo para aprender. - Respondeu Desiré.

– ”Dentre os efeitos colaterais dessa tentativa estão: dores de cabeça e musculares, queda de pressão, sangramento nasal e/ou ocular, perda de consciência e até morte.” - Draco finalizou a leitura e concluiu - Eu não tenho problemas com a sua morte, mas não envolva Freya em sua busca desesperada por atenção.

– Draco, eu sei dos riscos. - Disse Freya a ele calmamente pegando em sua mão e o puxando para que ele ficasse de frente à ele - Essa é a primeira vez que vou conseguir agir e impedir uma morte. Eu preciso tentar, não vou recuar agora.

– E outra, duvido que a Freya tenha problemas para voltar da projeção, com toda aquela história de descendência de bruxas antigas e o poder da profecia. - disse Desiré sem pensar.

Freya fuzilou a amiga com o olhar, ela havia escolhido não contar para o namorado sobre seus poderes pois temia a reação dele quando descobrisse mais sobre ela, além do mais, nem ela própria ainda conseguia entender sobre esses poderes e tão pouco sabia se a profecia existia de fato. Draco apenas olhava perplexo de Desiré para Freya enquanto nem uma das duas sabia ao certo o que falar naquele momento.

– Que história é essa? - Começou Draco voltando ao seu tom irritado.

– Ai Draco, é uma antiga lenda da minha família. Resumindo muito, existe uma profecia e eu sou a mulher dessa geração que supostamente deveria ter poderes que envolve um dos quatro elementos, mas até agora nenhum poder se manifestou.

– Isso é muito refutável, né?! - Se intrometeu Desiré.

– Você realmente não confia em mim. - Disse Draco.

– Não é isso! - Bufou Freya - Como eu falaria sobre algo que nem ao menos sei se existe?

– Mas você contou a ela e com certeza ao babaca do Krum…

Draco saiu irritado em direção as arquibancadas assim que ouvi a sirene que indicava que faltavam poucos minutos para o inicio da prova, Freya fez menção em segui-lo para tentar explicar e resolver a situação, mas Desiré a segurou pelo braço.

– Vocês terão algum tempo para conversar sobre isso depois da tarefa, agora precisamos nos concentrar no nosso objetivo central, tentar evitar que aquela visão se torne real. Se você quiser eu posso tentar a projeção sozinha, mas ela seria muito mais forte com nós duas juntas. - Disse Desiré com medo de que os temores de Draco sobre os efeitos colaterais da atividade pudessem ter mudado a opinião da amiga.

– Não, nós estamos nisso juntas, formamos um elo que se fortalece, e é assim que devemos continuar para que isso de certo, temos que lutar juntas! - Disse Freya pegando na mão da amiga.

– Ótimo! Devemos nos preparar, não temos muito tempo agora, Veja, lá vem os campeões. - Disse Desiré apontando para os jardins, cada campeão vinha acompanhado do diretor de sua escola.

– Hey, se esconda agora, se nossos diretores ou o Dumbledore nos verem agora nós não teremos chance nenhuma. - Disse Freya puxando a amiga para trás de uma grande bandeira amarela que cobria o fundo daquela arquibancada.

Assim que as garotas sumiram de vista elas se sentaram no gramado uma de frente para a outra, em meio as madeiras, deram as mãos e tentaram se concentrar ao máximo, buscando esvaziar a mente de todo o barulho ao redor. Freya, suspeitando da imensa dificuldade que elas enfrentariam tentando se concentrar em meio aos gritos de torcida e apitos dos alunos, havia treinado um feitiço para isola-las sonoramente, era um feitiço que gerava um tipo de bolha translúcida em volta das garotas, como se elas estivessem dentro de uma bola de sabão gigante.

– Sonora Finatte– Disse Freya agitando levemente sua varinha no ar, elas instantaneamente foram envolvidas por um silêncio tranquilo, enquanto conseguiam perfeitamente observar toda a movimentação ao redor. - Muito melhor assim não é?

– Nossa, isso é muito útil! - Disse Desiré olhando encantada ao redor tentando encontrar o que as envolvera naquele silencio maravilhoso.

– Você acha que só a senhorita tem truques na manga? - Riu Freya

– Tenho certeza que não! Ah, foi mal pelo Draco... - Lamentou Desiré

– Não se preocupe, eu que estava adiando a conversa com ele mesmo. - Disse Freya - Mas agora vamos ao que interessa! - Freya guardou a varinha nas vestes e pegou a mão de Desiré mais uma vez.

– Certo, nesse momento os campeões já devem ter sido apresentados ao público e devem estar aguardando a liberação dos juizes para entrar no labirinto. - Disse Desiré - Vamos testar uma projeção para o gramado para ver se estou certa ou se ainda esta acontecendo aquela apresentação ridícula das veelas.

– Ok ! Concentrando em 3, 2, 1 - Disse Freya fechando os olhos e tentando esvaziar a mente enquanto Desiré, a sua frente, fazia a mesma coisa.