America saiu do salão rapidamente depois da declaração de Maxon, sem nem se preocupar se deveria permanecer ou não durante o resto da cerimônia. Soluços escaparam de seus lábios e uma dor insuportável em seu peito fez com que ela se apoiasse na parede do deserto corredor em que estava, levando a mão à barriga enquanto lentamente caia sobre os joelhos. "Eu não sou forte o suficiente para suportar" o pensamento ecoava em sua mente enquanto o ar lhe faltava nos pulmões. Sentia-se destruída e melancólica.

Mãos tocaram seus ombros e olhando pra cima América viu Celeste, em seu deslumbrante vestido, tentar erguê-la. A ruiva deixou que a morena a colocasse de pé e que limpasse suas bochechas vermelhas de tanto chorar.

Juntas, elas foram em direção ao quarto de América, andando devagar pelos corredores. Ames já não se preocupava em guardar seus soluços ou dores e, assim como no corredor, ela simplesmente deixou que seus sentimentos fluíssem. Celeste abriu as portas do quarto com violência e arrastou a amiga para dentro. América, que antes saíra do salão em busca do conforto de uma cama, agora parecia não ter a menor intenção de retornar para aquele quarto, onde avidamente havia sido de Maxon. Observando a cama agora perfeitamente arrumada, a ruiva retornou a soluçar e sentando-se puxou um travesseiro para abraçar. Chorou e sufocou gritos no tecido. Ela tentou se acalmar e se deixar mergulhar em momentos bons, em feridas que se sarraram e nas novas que se abriram. Logo os soluços que queimavam sua garganta cessaram e ela permitiu-se pensar com mais clareza.

"Fiz o que ele pediu, sorri e fui aquela que aceita bem quando perde. Se aquilo era o que ele queria, a dor que me viria depois de nada seria se fosse por ele. Eu o amava, daria tudo por ele."

Celeste levantou-se da poltrona que antes ocupava e atravessou o quarto para sentar ao lado de América.

—Ames não fique assim, se ele escolheu Kriss é porque o que ele dizia que sentia por você era falso. - Disse Celeste enquanto via a ruiva balançar a cabeça negativamente e limpar o rosto ao mesmo tempo. Não demorou para que Ames fosse rodeada por seus braços e suas mãos alisarem os ruivos cabelos.

—Fui eu quem estragou tudo! - América respondeu se separando dela- Eu que sou tão tola - soluçou - Ontem fui de Maxon e ele pertenceu a mim, mas eu ferrei tudo. Eu o perdi -Balbuciou sem pensar.

— O que você quis dizer com "Ontem fui de Max..."

Com a porta escancarada, foi fácil a intromissão de Mary, Lucy e Anne  que correram até a jovem senhorita de quem cuidavam e não hesitaram ao subir em sua cama e rodeá-la com seus abraços.

— Senhorita America, não se culpe. - Mary a repreendeu enquanto secava as lágrimas- Por favor, não chore.

—Foi dele a escolha, não sua - Lucy sussurrou timidamente.

— Se eu tivesse me decidido logo - América continuou sussurrando coisas e balançando negativamente a cabeça tentando assim afastar as lágrimas. Um riso triste escapou de seus lábios - Pedido menos tempo...- ela olhou para o teto sorrindo amargurada - Talvez agora fosse eu sendo chamada de meu amor - Lágrimas retornaram - Eu devia ter feito tudo diferente! Eu me deixei cega ao achar que ainda poderia existir algum vestígio de amor por Aspen. Me prendi demais a ele e agora Maxon acha que eu quero outro além dele próprio.

—Aspen e você? Eu não imaginava - Anne disse e logo se recompondo completou - Isso explica o por que do príncipe ter escolhido a senhorita Kriss.

—Sim... tudo porque abracei meu ex namorado - caiu em lagrimas, rindo amargurada. "O mundo estava sendo cruel comigo. Sou tão tonta." Não que isso fosse alguma novidade para ela. A questão era que ela talvez pudesse lidar com qualquer outra coisa, menos com isso.

—Vocês ainda se gostam? - perguntou Lucy - Você e Aspen?

—Como irmãos. Ele é um ótimo rapaz, quem se casar com ele terá sorte.

A exclamação de alivio de Lucy chamou, não só a atenção de América, como também a de Celeste que sibilou:

—Alguém nos esconde algo - cantarolou alto. América tentou sorrir, contudo apenas um leve olhar para baixo e um sorriso de lado surgiu - desembucha Lucy, diga logo.

—Nossa prioridade é América - Lucy olhou a ruiva tentando pedir ajuda, mas esta não tinha o menor interesse em retornar ao antigo assunto, por isso forçou um sorriso motivando Celeste a se aproximar perigosamente de Lucy e dizer:

—Diga agora Lucy- Celeste envolveu os braços da pequena com as unhas perfeitamente bem feitas- Diga-nos sua pequena devassa os seus mais pútridos segredos- completou com olhar assassino, Anne ficou brava e virou-se de lado.

—Aspen me quer como namorada...- Lucy disse olhando para baixo e sorriu, provavelmente ao se lembrar do momento em que Aspen a pediu em namoro.

Paralisada com a revelação, um certo calor tomou o peito de America e esta sorriu de felicidade por eles, torcendo por um final feliz para ambos. Divagando pela a felicidade dos dois, a ruiva arfou com o inevitável pensamento de que acabara de ganhar uma nova irmã. Seu sorriso tornou-se mais sincero.

Mas Anne pulou da cadeira com lágrimas nos olhos, olhou primeiro para Lucy, depois para Mary que estava muito assustada e feliz, e com os punhos fechados virou-se para América e Celeste que mantinham um sorrisinho no rosto. As bochechas infladas e vermelhas contrastavam com os olhos claros e úmidos, cheios de cólera.

Ao ver seu transtorno, Ames se levantou e tentou tocá-la no intuito de a acalmar.

— Anne, o que está acontec- disse, mas ela se desviou de seu toque.

— A senhorita se sente triste por não ter sido a escolhida do príncipe Maxon?! Que pena America. Mas eu, mais do que ninguém, sei como é me apaixonar e ser tão facilmente trocada por alguém que eu nem se quer esperava ser uma concorrente. Saiba que a dor do Príncipe deve ser muito maior da que sente agora senhorita- Anne descontou sua fúria na ex-selecionada. As palavras dela a atingiram com força, em cheio em seu peito.

— Anne! - Lucy repreendeu a colega com avidez após sua fala, o que transtornou ainda mais a outra.

—Eu lhe desejo o inferno Lucy- disse Anne, frisando a palavra inferno, e saiu correndo pelas portas.