— Eu falei que ia te ensinar Matemática, não que você podia dormir na minha cama.

— Mas ela é tãããão confortááááveelll...

— Ugh.

— Senpai, a gente tá estudando faz três horas direto. Deixa eu dormir um pouquinho?

— Na minha cama?! Tá folgado, hein, moleque!

— Ai, senpai! Não me bate!

— Unf. Mas só por meia hora, ok? Vou jogar video game.

— Ok, senpai.

Kise abraça o travesseiro com a maior empolgação do mundo e sorri enquanto fecha os olhos. O travesseiro tinha o cheirinho de seu senpai - air salompas e shampoo. Talvez também bola de basquete.

Kise gostava. Gostava pra caramba.

Kasamatsu pegou o controle do video game e sentou no outro lado da cama, apoiando as costas na cabeceira. Kise não conseguiria entender as funções afim nem se o próprio Jesus voltasse à terra e abençoasse o garoto. Mas mesmo assim Kasamatsu continuava pacientemente tentando enfiar as coisas na cabeça oca do garoto loiro.

Ele meio que gostava de ter Kise ali na sua casa, e de passar as tardes livres de treino com ele, e conversar sobre outras coisas além de basquete.

Kasamatsu gostava pra caramba de ouvir Kise falando sobre como o trabalho da semana foi difícil, ou que sempre passavam maquiagem demais na cara dele, ou como ele estava empolgado para jogar na Winter Cup e chutar a bunda de todos os outros times.

A verdade é que os assuntos nem sempre eram os preferidos do capitão baixinho, mas ouvir a voz de Kise contando como estava louco pra ganhar do "Kurokocchi" deixava a conversa mais interessante.

Ele nem sabia como nem porquê tinha começado a gostar de Kise, mas aconteceu, e bom, ele sabia que estava ligeiramente fodido.

Porque não tinha como Kise — Kise, o garoto mais genuíno, feliz, disposto, alegre, dedicado, cabeça oca, péssimo em Matemática, de vez em quando folgado, trabalhador — gostar dele, e isso fazia Yukio se sentir um pedaço de bosta. Oras, parecia óbvio que Kise preferiria alguém com o mesmo tipo de personalidade que ele, e não alguém rabugento e chato como o capitão.

E ver Kise ali deitado na sua cama fazia extremamente mal pro coração de Kasamatsu.

"Porque os olhos dele são bonitos."

"E os cílios dele também."

"Eu gosto do piercing dele; tem a cor do nosso uniforme."

"Eu gosto tanto dele e sou um cocô ambulante."

Quer dizer, Kise era tão bonito, e talentoso, e popular, e honesto e tinha um sorriso que deixava qualquer um — qualquer um — com as pernas meio bambas, e a personalidade dele era de dar inveja, e Kasamatsu se sentia um nada perto dele. Ugh. Isso doía um pouquinho.

Honestamente, Yukio nem sentia mais vontade de jogar video game. Ele largou o controle em cima da mesinha e deitou ao lado de Kise, encarando o teto enquanto pensava o que tinha feito para merecer isso.

"Talvez eu cuspi na santa ceia. É. Só pode ter sido isso."

Era a única explicação que parecia fazer sentido.

Kasamatsu vira um pouquinho a cabeça e encara a nuca loira de Kise. O rapaz mais novo respira lentamente, curvado contra o travesseiro; suas costas movem-se devagar, e o barulho de sua respiração é calmante.

Kasamatsu vira de lado, apoiando a cabeça no braço, e estica um dedo na direção da camisa preta do outro.

Ele traça uma linha reta contra a camisa do mais novo, mas Kise nem se mexe. Yukio sorri para si mesmo levemente. Então ele começa a deslizar o dedo contra o algodão suavemente, traçando algumas palavras.

Interhigh

Kise

Winter Cup

Interhigh

Kise

Interhigh

Ugh, foi bem no Interhigh, né? Kasamatsu meio que ficou a fim dele naquele jogo contra o Aomine. O jeito que Kise jogou como um animal selvagem e desesperado, e confiou nele, e deu seu melhor... Aquilo foi bem legal.

Kasamatsu encara sua unha suja e curta contra a camisa de Kise.

Eu amo você

Eu amo você

Kise

Eu amo você

Eu amo tanto você

Kise

Kise

Kise

"Para com isso."

"Seu merda."

Kasamatsu fecha os olhos e respira fundo.

A cama chacoalha rapidamente, e quando o capitão abre os olhos de novo, os olhos dourados de Kise estão bem de frente pros dele, tão pertinho...

— Eu amo você também, senpai. Muito.

Kasamatsu sente o coração voando na boca e seu primeiro instinto é—

— AI MEU NARIZ! PÔ, SENPAI!