Eu Odeio A Comida Mas Eu Gosto De Você escrita por ohhoney


Capítulo 17
Pão


Notas iniciais do capítulo

Tem um AU legal pra recomendar? Manda no review, por mensagem ou no twitter! Espero que gostem desse capítulo, curti muito escrever.



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É um apartamento legal.

Pequeno, com certeza um pouco sujo. Talvez aquela mancha suspeita no carpete seja os restos de uma das várias pessoas que morreram aqui? Sim, mas não me importo muito com isso.

O aluguel é barato e fica perto da faculdade, então está ótimo.

.

.

A vizinha do andar de baixo disse que conseguia ouvir passos no apartamento, mesmo sabendo que ele estava vazio. Acho que depois de chegar em casa ontem e ver meus livros e cadernos jogados no chão tenho certeza que esse lugar é assombrado.

Bom.

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.

Faz um mês que estou morando aqui e até agora nenhum sinal desse fantasma, exceto as coisas que aparecem jogadas por aí. Nenhuma manifestação ou mensagem escrita com sangue nas paredes, então acho que 'tá tudo certo. Digo, o sangue nas paredes ia dar muito trabalho para tirar, então é bom mesmo que ele (ou ela?) nunca tenha feito algo do tipo.

Já terminei de comer minha comida chinesa e 'tô aqui sentado numa almofada na sala, já que não tive grana para comprar um sofá ainda. Pelo menos a TV que já estava aqui funciona direito e eu consigo assistir ao noticiário. Aparentemente vai ter chuva de meteoros amanhã. Interessante.

Ah, caralho. Sério isso?

Suspiro. Levanto da almofada e olho pela janela; a rua inteira está sem energia, minha casa inclusa. Acendo a lanterna do celular e coloco os restos do jantar no lixo. Não tenho como estudar agora, ugh. Sinto-me tão sozinho. Faz um tempinho que entrei na facul e ainda não fiz nenhum amigo. Quero dizer, tem aqueles caras da sala que eu converso de vez em quando, mas eles não são meus amigos. Sinto falta do pessoal do colégio.

Estou sem internet, a bateria do meu celular 'tá acabando, ainda estou sem sono para dormir e talvez eu esteja ouvindo batidas nas paredes. Passo a mão pelo cabelo e vou procurar algumas velas na gaveta da cozinha. Acho três, então acendo-as e as coloco num pratinho no chão, e sento de frente para elas. O fogo tremelica.

Toc toc toc

Ouço batidas na porta do quarto. Ergo o olhar, mas ela continua fechada. Apuro os ouvidos, tentando ouvir mais alguma coisa.

BAM

Deve ter sido a porta do armário abrindo bruscamente e batendo na parede com força. Não que eu já tivesse feito isso 'pra saber como que soa, óbvio.

Está bem escuro. As três velas só conseguem iluminar um pouquinho, e as luzes dançam pelas paredes brancas. O chão de madeira estala com passos dentro do quarto. Gotas de água pingam da torneira da cozinha.

Diante de meus próprios olhos vejo a maçaneta da porta do quarto virar sozinha.

— Oi? Tem alguém aí? - minha voz ecoa no apartamento vazio. As chamas ameaçam apagar.

Nheeeeeec

A porta do quarto abre para fora vagarosamente, rangindo nas juntas. Apoio-me na mão para conseguir ver melhor, mas não há nada dentro do quarto. Com o canto do olho vejo as páginas do meu livro virando sozinhas, ali em cima do balcão da cozinha.

Quando olho para trás, há um vulto alto e escuro parado no canto do lado da janela.

Olho para ele por vários segundos. Não consigo ver nada exceto uma sombra, mas suas formas estão muito bem definidas. Consigo sentir que essa sombra me olha de volta.

—Nossa, ainda bem que você apareceu. Escuta, eu estava precisando de um conselho amigo. Você acha que um sofá branco ia ficar bem aqui? Também pensei em preto, mas estou na dúvida.

Silêncio.

—Dá pra me responder? Eu te fiz uma pergunta.

—Pra falar a verdade eu acho que cinza ficaria melhor. Combinaria com os armários da cozinha.

—Tem razão.

O vulto começa a vir na minha direção. Quando ele chega perto o suficiente, a luz das velas consegue iluminar um pouco dele.

Meu deus, é só um moleque. Cacete.

Ele olha para mim com a testa franzida e senta no chão à minha frente, e abraça as pernas contra o corpo.

—Você não tá com medo?

—Hm, não.

—Mas eu sou um fantasma.

—Eu sei. Estava esperando você aparecer faz um tempinho já. Disseram que o lugar era assombrado mas você nunca veio...

—Por que diabos você se mudou pra um apartamento assombrado?

O guri olha para mim como se eu fosse uma equação muito difícil. Ele é só um garoto alto e loiro, bem jovem até - deve ter o quê? 17 ou 18 anos? -, e levemente transparente.

Ele tem piercing e tudo, meu Deus.

Limpo a garganta brevemente e tento não parecer patético:

—Eu tava me sentindo sozinho. - coço a bochecha e desvio o olhar - Não conheço ninguém nessa cidade e sou péssimo pra fazer amigos. - olho para ele de novo e estico a mão - Qual seu nome?

— Kise. E o seu?

—Kasamatsu. Prazer.

Ele estica a mão na direção da minha, mas só consigo sentir um ar gelado. Sorrio para ele e ele sorri de volta para mim.

—A energia demora muito tempo pra voltar?

—Ela sempre cai, mas normalmente volta rapidinho... Ah. - as luzes se acendem e a TV volta a fazer barulho - Viu?

—Deve ser por isso que o aluguel é tão barato.

—Isso e também porque, você sabe, o apê é assombrado.

.

.

—Por favor?

—Não!

—Por favorzinho?

—Se você não calar a boca agora eu te dou um soco.

—Você sabe que não consegue. Por favoooooooooooor? Olha só pra ele, é tão pequenininho!

—Você não pode sair por aí pegando todo animal abandonado que encontra!

—Daquela vez foi um passarinho. A asa dele sarou e ele foi embora.

—Mesmo assim.

—Kasamatsucchi, olha só. Olha bem. Como dizer não pra esses olhos azuis? Por favooooooooooooor!

Kise segura o gatinho nos braços e mostra o rostinho dele para mim. Odeio admitir isso, mas ele é mesmo uma gracinha. Merda. Não sabia que ter um roommate era um inferno desses.

E é só um neném. Como puderam abandonar um neném?

—Ele fica até acharmos alguém pra dar. Só isso!

—Ebaaaaa! - Kise segura o gatinho bem alto e olha para ele com um sorriso enorme no rosto - Seu nome vai ser Pão.

Arremesso minha borracha na direção dele, mas ela atravessa direto.

—PÃO? QUEM DÁ O NOME PRUM GATO DE 'PÃO'??

.

.

—Pão, morde ele.

—Aiiiii não usa o Pãozinho contra mim. Só porque ele consegue encostar em mim e você não.

—Ele é minha única arma contra essa sua estupidez.

—Ele gosta mais de mim do que de você.

—Não gosta, não.

Pão vem na minha direção, olhando para mim com aqueles olhos azuis e agitando levemente o rabo comprido atrás de si, e deita no meu colo. Faço carinho na cabeça dele e olho para Kise com uma expressão tipo ‘falei, não falei?’.

—Traidor. - Kise cruza os braços sobre o peito e faz um bico. - Fui eu quem convenceu Kasamatsucchi de te adotar. Seu ingrato.

—Cala a boca.

—Não é justo. O Pão ganha cafuné e eu não.

Suspiro.

—Se eu te fizer cafuné você fica quieto? Quero muito ver esse filme.

Kise solta uma exclamação feliz e vem saltitando até o sofá. Ele se joga nas almofadas e apoia a cabeça no meu colo, olhando para mim e sorrindo até as orelhas.

Não sei explicar como diabos consigo fazer carinho no cabelo dele, mas acontece. É meio gelado, e eu sinto uma leve pressão contra os meus dedos, mas se fizer muita força eles passam direto. Pão é o único que consegue morder e arranhar esse idiota. Kise disse que não só ele em específico, mas os animais no geral.

Faz mais ou menos um ano que estou morando aqui e minha vida com certeza deu algumas piruetas e twists carpados por causa desse fantasma idiota. Não que eu me arrependa; Kise é bem legal e eu não me sinto mais sozinho, e até que é bom ter companhia em casa. Kise também sabe vários jogos e conta umas histórias legais sobre seus superiores. Ainda não entendi o que ele quer dizer com isso, mas tenho certo receio de perguntar.

A moça no filme sai correndo pelada pela rua atrás do cachorro, e eu solto uma risadinha.

—Posso te beijar?

Olho para baixo e vejo Kise me encarando com aqueles grandes olhos dourados. A cara dele é séria, mas suas orelhas estão vermelhas.

Tento dar um soco no nariz dele, mas minha mão atravessa o rosto dele e bate direto na minha perna. Kise nem muda de expressão.

Minhas orelhas esquentam quando vejo que, oras, ele parece estar falando sério. Pão pula do meu colo e sai andando até a cozinha, e sobe no balcão. Coço a bochecha e desvio o olhar para o maldito gato, que começa a empurrar as coisas e derrubar tudo no chão.

Kise levanta e senta do meu lado, muito mais perto do que de costume. Meu coração dispara no peito. Ele ergue a mão e puxa meu rosto, e, olhando no meu olho, encosta a boca na minha suavemente.

É... Hmmmmmmm, frio.

Kise se afasta com um sorrisinho no rosto e vai atrás de Pão, que anda perigosamente perto dos copos de vidro.

Cacete. Não acredito que 'tô apaixonado por um fantasma.




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Notas finais do capítulo

Botei o nome do gato de Pão na zoeira, mas agora esse nome tá me conquistando.............



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