—Mãe, será que dá pra me ouvir?

—MAS ONDE VOCÊ ESTÁ O QUE ACONTECEU VOCÊ TÁ BEM EU VOU TE BUSCAR ME FALA-

—MÃE! - o outro lado da linha fica mudo por um segundo - Eu tô bem. Relaxa. É só apendicite. Já tô aqui no hospital preparado pra cirurgia, pode ficar calma.

—Ryo, você tem certeza? Não quer que eu te acompanhe?

—Tenho certeza. De noite já vou para casa. Tenho que desligar agora, acho que eles vão me apagar - Kise ri um pouquinho e aperta o celular. Não queria demonstrar que estava um pouco mais nervoso do que deveria. Afinal, a enfermeira disse que era uma cirurgia super simples e rápida, e que ele estaria em casa antes que pudesse dizer "apendicite" de novo.

—Ok. Se cuida, filho. Qualquer coisa me liga.

—Pode deixar, mãe.

—Qualquer coisa...

—Eu sei, eu sei... - Kise suspira e sorri para o teto branco - Te ligo. Tenho que ir. Beijo.

—Beijo.

Kise aperta o botão vermelho do celular e o coloca na bandeja de metal ao lado de sua cama. A enfermeira entra no quarto com um sorriso gentil e para do lado da cama dele.

—Pronto?

—Prontíssimo.

Ela pega uma máscara transparente e a aproxima do rosto de Kise.

—Respira aqui e conta até dez.

O gás era gelado e fez cócegas no nariz dele. Não tinha cheiro. Kise respirou e se sentiu imensamente leve.

—Um, dois, três...

Ele parecia estar voando numa nuvem beeeeem acima de qualquer problema no mundo.

—Quatro... Cin... co

.

.

A mente de Kise estava literalmente em outro lugar quando ele abriu os olhos e viu as luzes brancas no teto. Era incrível como ele se sentia leve e meio... tonto, confuso, feliz e falante.

—Acordou? - a enfermeira aparece em seu campo de visão - Fique quietinho aí que o médico já está vindo, ok?

—Você... É tão gatinha...

Ela dá uma risadinha e sai do quarto.

Kise vira a cabeça lentamente e não consegue identificar onde estava. Sua mão formigava levemente e isso parecia ser muito engraçado. Kise move a mão várias vezes rindo consigo mesmo baixinho.

Uma batida na porta soa e um homem de cabelo escuro e avental entra.

—Kise Ryouta? - ele pergunta enquanto olha para uma prancheta, e levanta alguns papéis - Apendicite?

—Uau.

—Como você está se sentindo?

—Qual... o seu nome?

O médico ergue uma das sobrancelhas, e responde:

—Dr. Kasamatsu Yukio.

—Uau.

—Você deve estar se sentindo um pouco confuso agora por causa dos sedativos e-

—Você é mais gato que a enfermeira gatinha e uau. Uau.

O dr. ergue as duas sobrancelhas. Kise estava com um sorriso muito bobo e arregalava os olhos.

—Caraca! - ele põe as mãos na cabeça e ri - Meu médico é muito gatoooooooooooooooooo!!!

—Ahn...

—Me passa seu telefone. Vamo sair. Sai comigo? Você é tããããããããão gato...

Kise agora estendia as mãos procurando pelas do médico, que apertou a prancheta com mais força e segurou a vontade de passar essa tarefa para um dos residentes.

—Enfim. Você está se sentindo bem?

Kise entorta a cabeça e lança um sorriso que deveria ser sexy, mas sai meio idiota.

—Eu ficaria melhor ouvindo você gemendo meu nome lá na minha cama mais tarde... Doutor.

Kasamatsu fecha os olhos por um segundo, sentindo as orelhas pegando fogo.

Esse plantão estava realmente sendo dos infernos.

—Olha, eu só tô aqui pra ver se a cirurgia correu-

—AI MEU DEUS DO CÉU - Kise se apoia nos cotovelos, gritando - ALGUÉM ME AJUDA POR FAVOR

—Calma! O que foi? Eu tô aqui. Me fala o que você tá sentindo. - Kasamatsu larga a prancheta e segura Kise pelos ombros.

—Tesão por você. Me leva pra cama. - Kise até baba um pouco de tão perdido que se sente - Transa comigooooooooooo por favoooooooooooorrrrrrrrrrr

—Olha, senhor - Kasamatsu estava tão envergonhado que mal conseguia olhar nos olhos de Kise -, isso não é uma atitude digna de um hospital...

—Me chama de Kise. - ele pega na gola do avental e só consegue focar nos olhos azuis a sua frente - Geme meu nome. Quero sair pra beber contigo. Me fode doutoooooorrrrrrrrr

—K-Kise, eu...

Kasamatsu estava começando a ficar preocupado. Os olhos de Kise se reviravam para todos os cantos e ele parecia extremamente confuso e alterado... Mas ao mesmo tempo era engraçado.

—Você é tão gato. Tipo, muito gato. Tipo, quero te chupar pra caralho e eu vo te cavalgar ATÉ O AMANHECER E MANOOOOOOOO VOCÊ É TIPO LINDO SEUS OLHOS SÃO DEMAIS EU TO LOCO NO SEDATIVO MAS SEI QUE QUERO TE DAR AQUI E AGORA DOUTOR KASAMATSU ME PASSA SEU TELEFONE

Kasamatsu encara Kise enquanto o loiro revira os olhos várias vezes e parece muito sério. Ele baba um pouco e mal consegue manter os olhos abertos. Dá pra ver o pau duro dele por baixo do lençol e através da camisolinha verde-água.

Kasamatsu solta uma risada tão gostosa que Kise se sente nadando em nuvens de novo. Ele larga a gola do avental e o médico se ergue, enfiando as mãos nos bolsos do jaleco.

—Olha, não sei dessa história sobre você me cavalgar até o amanhecer mas... - ele limpa uma lágrima do olho e ri mais um pouco - Mas eu topo sair contigo, e beber, e quem sabe até transar? Gostei de você.

—QUÊ

—Gostei de você.

—QUÊ

—Eu disse que go-

—ELE DISSE QUE VAI SAIR COMIGOOOOOOOOOOOOOO

Kasamatsu ri mais um pouco e passa a mão na cabeça de Kise, fazendo-o ficar quieto.

—Ok. Olha, acho que você não está em condições de ir para casa. Na verdade, sua mãe está esperando lá fora pra te levar pra casa dela.

—MANHÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ O MÉDICO GATO DISSE QUE IA TRANSAR COMIGOOO

—Claro, claro. - Kasamatsu continua sorrindo quando abre a porta e sinaliza para a enfermeira no corredor.

—Mas ei. Ei. Ei, doutor. - Kise parecia preocupado - Doutor.

—Sim?

A enfermeira entra com uma cadeira de rodas e coloca Kise gentilmente sentado nela.

—Deixa eu te passar meu telefone. Eu quero sair contigo. Você é gato. Sabia, moça, que ele disse que vai sair comigo? Olha, anota aí meu celular. É nove... Cincp... Sete... Três?

—Relaxa, ok? - Kasamatsu dá uns tapinhas nas costas de Kise enquanto a enfermeira empurra a cadeira para fora do quarto - Eu pego da sua ficha.

Kise revira-se na cadeira para continuar olhando o doutor mega gato que fica mais gato ainda com as mãos nos bolsos e um sorriso daora no rosto.

—Te ligo amanhã. - e ele dá uma piscadinha que faz o rosto de Kise parecer um tomate.

—LIGA MESMO?

—Ligo.

—PROMETE?

—Prometo. Já disse que gostei de você.

Kise arregala os olhos e abre a boca, sendo levado para fora do quarto.

.

.

—Alô?

—É o Kise Ryouta quem fala? Aqui é Kasamatsu Yukio.

—Kasamatsu quem?

—Yukio. Do hospital.

Kise coça a cabeça e senta na beirada da cama.

—Do hospital...?

—Sim. Eu sou o "médico gato" que você disse que queria sair e que "ia chupar pra caralho" e "cavalgar até o amanhecer" e também que queria transar comigo. Talvez você tenha mencionado de a gente sair pra beber ou alguma coisa assim? Você pediu pra eu te ligar então aqui estou.

As bochechas de Kise pegam fogo enquanto ele se lembra do episódio no hospital. Ele se dá um tapa na testa.

—A-Ahn...

—Vamos sair hoje. - a voz de Kasamatsu era divertida - Seria muito legal conversar contigo sem o efeito dos sedativos. Vamos transar também.