• Enquanto isso, lá na arca...

Kriss's P.O.V:
Olhei pela janela do quarto e dei de encontro com as estrelas mais uma vez. Falta pouco para o próximo eclipse lunar, e não há nada mais interessante pra fazer do que esperar que ele aconteça.
Minha mãe vive falando que eu tenho que participar dos eventos na arca, porque só assim conhecerei meus pretendentes. Não sei onde eu estava com a cabeça quando concordei em me casar depois da Glass. Oh, é mesmo, eu não concordei. Glass, minha irmã mais velha, vai se mudar pra um apartamento novo com seu namorado e futuro marido Luke, dentro de alguns meses. Mamãe não gosta dele, por vir de uma família pobre, e quando minha irmã apareceu de braços dados dizendo que ia se casar, ela ficou indignada. Papai me convenceu a morar com ele depois que se separaram 2 anos atrás, mas mesmo assim, de alguma maneira, ela ainda me controla.
Fiz algumas anotações em meu caderno e posicionei o telescópio depois de limpar as lentes da câmara fotográfica. Era uma das últimas que sobreviveu a guerra nuclear e permaneceu guardada em um baú por séculos. Felizmente o processo de resfriamento a manteve intacta por todos esses anos. Era uma herança de família, que ganhei de presente quando passei na faculdade de Astrologia. Terminei a escola bem jovem, já que pulei alguns anos, e consegui me livrar daquele inferno. Hoje eu curso Astronomia também, e matemática como curso complementar. Acabei de completar meus 17 anos de idade, e pra comemorar essa data, vou passar a tarde toda em reclusão no meu quarto.
Não é que eu não goste de festejar como todas as garotas da minha idade fazem, é só que não me importo muito com essas frivolidades de festas e etc. Meu namorado, digo; Meu ex-namorado, ainda me liga e manda mensagens pedindo pra nos vermos. Terminamos porque eu queria dar um passo a mais na nossa relação e ele ainda não estava pronto pra isso. Engraçado, não é? geralmente o que acontece é o contrário.
Registrei o eclipse e tirei algumas fotos para revelar depois. Escrevi várias estatísticas e marquei algumas com uma caneta azul cintilante.
Fechei as cortinas , me levantando da cadeira e indo até o guarda-roupa. Decido colocar uma calça preta florida com rasgões nos joelhos, um tênis all-star vermelho de cano médio e uma regata branca com o símbolo dos Rolling Stones. Séculos depois e eles ainda eram tão populares quanto antes. Incrível.
Saio do pequeno apartamento que está em reforma, andando até a biblioteca. É lá que vou imprimir as fotos.
Tiro a câmera de dentro da bolsa e coloco o cartão de memória na máquina, para ler os arquivos e selecionar os que quero baixar. Já que estava demorando mais que o esperado, sentei escorada na parede. Chequei meu relógio no pulso para não perder o horário do meu encontro, com um tal de Aaron que minha mãe conheceu “ por acaso ” em um de seus comitês e logo tratou de falar sobre “ meu ” interesse em encontrar alguém para me casar. Nunca nem sequer cheguei a ver seu rosto. Só estou indo encontra-lo por obrigação. Ela quer que eu tenha um casamento arranjado como o dela e de meu pai. Será que preciso apontar o fato de que o casamento deles foi um total fracasso? Ela quer me ver infeliz como ela? Quer me punir por que não está satisfeita com a escolha de minha irmã? Droga, o quê que eu tenho a ver com isso!?
Bufo irritada e observo uma garota, à alguns metros de distância, passando entre as fileiras de livros, organizados e protegidos do calor. Levanto indo até ela e pergunto seu nome, ainda encarando seus maravilhosos olhos azuis-tempestade.
— Heather. Heather Michaels. E você? – disse ela sorrindo.
— Kriss, Kriss Randall. – respondi sorrindo de volta.
Ela me olhou nos olhos pela primeira vez sem desviar para os pés. Estendi a mão para cumprimentá-la, e ela aceitou dando uma risadinha tímida.
Conversamos sobre literatura, música, esportes, nossos relacionamentos fracassados, e mais música. Ela era uma completa estranha e mesmo assim, senti mais liberdade e confiança em contar à ela sobre minha vida, do que com qualquer pessoa que eu conheça. Me despedi dela com dois beijinhos na bochecha, e um abraço rápido. Gostei dela, parece ser legal. Ouviu atentamente e não me julgou como a maioria tendia a fazer.
Guardei minhas coisas na bolsa, junto com as fotos, e sai dali com um sorriso gigante estampado no rosto; Qualquer um que me visse nos corredores ia achar que era o dia mais feliz da minha vida. E bem, pode se dizer que sim.
Voltei ao apartamento , cuidando pra não escorregar nos jornais sujos de tinta, e entrei direto no chuveiro. Terminei o banho quinze minutos mais tarde, me cobri com um roupão, enfiei um par de meias nos pés e deitei em minha cama lendo um livro, tentando fazer alguma coisa pra passar o tempo até a hora de me arrumar pra encontrar o Aaron.
Tirei um cochilo de trinta minutos, e quando acordei comecei a me vestir. Coloquei uma saia preta de couro, combinando com a bota com salto marrom e a blusa rosa bebê meio transparente, com um top preto por baixo.
Fiz ondas no meu cabelo com o babyliss que peguei emprestado, apenas retoquei a maquiagem com um lápis preto nos olhos e um batom vermelho vinho. E para terminar o look, pus algumas pulseiras e um colar com um pingente de estrela.
Borrifei um pouco do meu perfume favorito e coloquei a mini bolsa pendurada no ombro direito.
Sai novamente, porém dessa vez para a sala de observação. Era onde eu ia quando queria ficar sozinha. Hoje vou ter companhia, mas isso não vem ao caso. Praticamente me joguei em uma das cadeiras na primeira fileira; Esperei poucos minutos até meu acompanhante aparecer.
— Desculpe, eu me atrasei muito? – perguntou preocupado.
— Não, não; Eu que vim mais cedo do que o combinado. – respondi dando um sorrisinho pra ele.
— Ansiosa pra me ver, né? – disse brincando.
—Oh, sim é claro, eu vim correndo, mal conseguia contar as horas pra te ver! – falei com ironia na voz, arqueando uma das sobrancelhas na direção dele.
Rimos um da cara do outro, até ele sentar do meu lado. Parei de rir na hora e mirei sua boca, depois seus olhos e sua boca de novo. Ele pareceu notar e sorriu de lado pra mim. Devo admitir, ele era muito lindo. Tinha uma pele branca que parecia ser tão macia quanto ceda, orbes verdes e um cabelo loiro escuro penteado pra trás, que era de tirar o fôlego.
Desviei o olhar de sua boca, e olhei para seu rosto. Apesar de não querer me casar, ficar amiga dele pode ser divertido...
— Oque você gosta de fazer? Quando não está estudando, é claro. – falou sorrindo.
— Gosto de ler. Livros clássicos, como Harry Potter, o diário de Anne Frank...livros desse tipo.- falei sorridente.
— MEU DEUS DO CÉU NÃO BRINCA COMIGO, VOCÊ É POTTERHEAD?????????????????
— wOoW , calma aí! – exclamei rindo. – Sou sim, e acho que pela sua reação é seguro afirmar que você também. – completei parando de rir e o encarando.
— ... s-sim so-u – ele respondeu por fim.
Que amorzinho! Ele ficou nervoso perto de mim? que kawaii *__*
— Aaron. – ele olhou pra mim. – posso te fazer uma pergunta? – ele assentiu. – Porque aceitou em se encontrar comigo? Você é tão lindo e jovem...porque quer casar agora, tão cedo desse jeito? – indaguei.
Ele suspirou antes de me olhar nos olhos e responder.
— Acho que necessito desse compromisso. Por mais novo e...lindo, – corei violentamente quando percebi que tinha chamado ele de lindo. -...que eu seja. Casamento não é só um pedaço de papel pra mim, ou um contrato se é isso que está pensando. – afirmou. – É sobre encontrar alguém com quem eu possa dividir meus problemas, minhas preocupações e meus deveres, alguém com quem não haja segredos, omissão ou mentiras. Alguém que aprenda a amar junto comigo. Alguém que me ame. Alguém que eu ame. Alguém que eu admire e que me admire também.- finalizou ele.
Fiquei sem palavras. Ele veio até mim, em busca dessas características na minha personalidade, esperando que o sentimento fosse recíproco. E eu aqui, aceitei seu convite, brinquei com seus sentimentos e esperei sair ilesa.
—...nossa, eu....eu nem sei o que dizer. Minha mãe quer que eu me case. – soltei a bomba, e ele me olhou confuso.- Ela acha que um casamento arranjado vai ser bom pra mim. – contei tentando impedir as lagrimas de descerem.- Eu só quero curtir a minha juventude, Aaron. Não quero e não acho que esteja pronta para um compromisso sério e definitivo como esse. Sinto muito mesmo, por fazer você perder seu tempo comigo em vez de estar com alguém com os mesmos objetivos que os seus. – desculpei-me e o abracei.
Ficamos assim por um tempo. Parei de chorar e sequei as lágrimas com uma das mãos. Nos separamos e decidimos dar uma chance à “ nós ” ou seja lá oque tivermos. Sim, foi rápido nosso encontro. Obviamente nós tínhamos química e sentíamos atração um pelo outro. Daí resolvi dar uma oportunidade a ele. Se não der certo, apenas vamos continuar como amigos.

Trocamos nossos números de telefone e caminhamos juntos até meu apartamento, onde nos despedimos.
— Boa noite, Kriss. – ele falou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e em seguida me puxando para um beijo.
Fiquei surpresa, mas já que íamos tentar, me deixei levar e o beijei também.
O beijo começou lento, com ele pedindo passagem com a língua, e eu deixando; mordi seu lábio inferior e o puxei mais pra perto, passando as mãos por entre seus cabelos, os puxando de vez em quando. Ele por outro lado, segurava minha cintura com força usando uma mão e a outra nas minhas costas me trazendo ainda mais pra perto de sí, mesmo que nossos corpos já estivessem colados um com o outro. Ele gemeu em protesto quando fui parando o beijo aos poucos e deixei sua boca.
— Boa noite, Aaron. Durma com os anjos. – respondi, tentando me controlar pra não me jogar em seus braços. – Nos vemos qualquer dia desses? – perguntei recuperando o ar.
— C-claro. Nos vemos por aí. – disse concordando com a cabeça.
— Ótimo. – sorri – Até qualquer dia, então. – falei finalizando a conversa.
Tranquei a porta atrás de mim e me escorei nela. Fechei os olhos e tentei lembrar da sensação de seus lábios sobre os meus. Ah, deus, como era bom...
Levantei e fui ao meu quarto, tirando as roupas e limpando o rosto com demaquilante pra retirar a maquiagem. Joguei uma camisola qualquer por cima do corpo e fui até o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto.
Volto ao quarto de novo, e ligo a televisão procurando alguma coisa decente pra assistir, antes de fazer um coque no meu cabelo e me tapar com o cobertor até o pescoço. Não encontro nada interessante, então desligo o aparelho e apago as luzes indo dormir.
Me reviro na cama diversas vezes, até encontrar a posição perfeita e cair em um sono profundo.