For The First Time escrita por Jessie Austen
Seis semanas depois...
– John! – eu disse após respirar fundo, tomando coragem.
Ele então se virou e sorriu, vindo em minha direção.
Aquela noite sábado estava fria e ele me aguardava em frente do pub com duas cervejas.
– Ei, Sherlock! Finalmente! – disse entregando uma das garrafas enquanto agora descíamos a rua muito movimentada – Tudo bem com você?
– Sim.
– Como foi para pedir para a sua mãe sair hoje?
– Ela quase soltou fogos. Sério mesmo. Quase chorou ao saber que há uma possibilidade de eu ter uma vida social. – respondi.
– Você falou que estava comigo? – John perguntou após se apoiar rapidamente no meu ombro.
– Não. Ela logo presumiu que fosse com você mesmo.
– Legal. Vamos até o James Park? Tem um festival de Blues rolando hoje...fica a uns trinta minutos andando. É bom que a gente se aquece um pouco.
– À noite? A essa hora?
– Sim! São artistas novos...que costumam tocar em metrôs, sabe? Uma vez por mês alguns pubs organizam esses shows para divulgarem seus estabelecimentos.
– Oh. Entendi.
– Você gosta de blues?
– Nunca parei pra prestar atenção. Eu estudo e ouço mais música clássica.
– Que máximo! Toca algum instrumento?
– Sim, violino. Desde os cinco anos. – respondi enquanto observei o jeito que ele bebia sua cerveja.
– Uau...quantos anos você tem mesmo? 14?
– 15. Tenho 15. Vou fazer 16 no final do ano. – respondi rapidamente e isso o fez me olhar e sorrir.
– É mesmo! Bem, eu arranho no violão...eu curto muito Beatles, Cash, Dylan...
– Não conheço muito eles. – respondi fazendo pouco caso e isso o fez rir de novo.
Assim que chegamos fiquei surpreso ao perceber que o parque estava cheio de jovens. Mais ao leste tinha um palco de porte médio. Ali era onde tinha a maior concentração de pessoas.
– Podemos ficar perto daquelas árvores. Está mais tranquilo e o som ainda é bom. – John disse segurando meu braço.
Ao sentarmos embaixo de um pinheiro, vi que ele me encarava, mas por algum motivo não consegui encarar de volta.
– Não vai beber sua cerveja? – me perguntou após um tempo, deitando-se.
– Er...vou sim.
– Você nunca bebeu antes? – me encarou de novo e foi quando eu percebi que a luz que chegava ali pouco nos iluminava, assim como burburinho das pessoas pouco nos atrapalhava.
– Deveria? Só tenho 15 anos. – respondi sentindo meu rosto esquentar imediatamente. Não, eu nunca havia bebido álcool antes, mas por falta de interesse.
– 16 no final do ano. – John respondeu com um meio sorriso – Se quiser, pode me dar sua garrafa.
– Não seja estupido. – respondi abrindo-a e bebendo um gole que quase me fez vomitar ali mesmo. Aquilo era horrível apesar de quase não ter gosto algum.
Neste instante uma cantora subiu ao palco o que fez o público presente vibrar.
– Uau...- John comentou assim que a melodia começou a tocar.
Virando mais um gole, mesmo sem querer, o encarei. Sim, parecia idiota, mas eu estava me sentindo mais corajoso. Seria o álcool?
“At last my love has come along
My lonely days are over
And life is like a song
Ohh yeah yeah
At last
the skies above are blue
My heart was wrapped up in clover
The night I looked at you…”
Eu o encarava, mas ele continuava hipnotizado com a voz aveludada da cantora.
De repente eu percebi o quanto gostava de ficar com ele. Olhando para ele. Sim, isso tudo era tão idiota. Maldita cerveja.
Mas a verdade era que John Watson tinha todas as qualidades que alguém poderia querer ter e que eram ausentes em mim.
E o que eu pensei a seguir foi ainda mais imbecil: John Watson me completava.
O que estava acontecendo?
É claro que eu sabia. E me senti ainda mais idiota. O idiota mais feliz do mundo ao perceber que ele estava ali. E que éramos amigos, que ele não me achava pedante. Ou arrogante e insuportável. Coisas que eu tinha certeza que podia ser com certa facilidade.
Ele me olhou de volta e sorriu ao perceber que eu já o observava, o que me fez tomar mais um grande gole daquele inferno engarrafado.
E ele então disfarçou o riso por conta da careta que eu fiz e começou a cantar:
“I found a dream, that I could speak to
A dream that I can call my own
I found a thrill to press my cheek to
A thrill that I have never known
Ohh yeah yeah…
You smile, you smile
oh And then the spell was cast
And here we are in heaven
For you are mine at last”
Voltei a realidade quando todos começaram a aplaudir, inclusive ele, que bateu na minha perna e disse:
– Uau. Etta James...gostou? Esse é um clássico.
– Achei meloso. E a letra é um tanto quanto pobre. Mas respeito seu gosto, John. – respondi tomando mais um gole, sem conseguir olhá-lo.
–----------------------------------------------------------------------------------
Quando chegamos em frente de casa já eram quase três da manhã.
– ...e o final é sensacional, não achou? – me perguntou, enquanto tentava encontrar minha chave no meu casaco.
– Sim. Definitivamente genial. Não é a toa que é uma das obras primas dele. Gostei bastante.
– Bacana. Sherlock, mudando de assunto...posso fazer uma pergunta? – ele me disse e isso me fez parar de congelar por um segundo.
– Claro, John.
– Por que seis caras bateriam em você? Quero dizer, eu não consigo imaginar o motivo...
– Eu não quis passar a cola da prova de Geometria. É a mesma para todos as salas e eles souberam que eu fui o único a tirar A +. – resumi.
– Só por isso? Eles são uns doentes...- respondeu colocando suas mãos dentro de seus bolsos.
– Sim. E...eu provoquei um pouco além da conta.
– Como assim? Provocou? O que você fez? Aquele dia eu te ajudei...sem te levar para a Diretoria, que era o correto a se fazer. Você me deve isso.
– Eu disse algumas verdades. Apenas o que eles precisam ouvir de vez em quando.
– Como?
– Que eram uns burros. E que muito provavelmente isso era de família. E que eles deveriam procurar ter o mínimo de dignidade já que beleza e dinheiro eles não teriam nessa vida. – resumi mais uma vez.
John me encarou com os olhos muito abertos e depois riu.
– Você falou isso para todos eles. Um grupo de grandalhões. De uma vez só.
– Sim. Me poupou tempo.
– Oh eu imagino. OK, Sherlock. Você precisa ser menos besta com as pessoas.
– Como assim? Por acaso você acha que eu falei alguma mentira? – fiquei indignado.
– Não! Pelo contrário...e é por isso mesmo que você precisa parar de ser besta. Existem pessoas muito ruins. E a não ser que aprenda a lutar muito bem, você não pode simplesmente atirar verdades por aí!
– E por que não?!
– Porque as pessoas têm sentimentos! Ou músculos suficientes para te deixar igual te deixaram aquele dia! Então uma dica que te dou: não seja tão besta. Seja só um pouco. O suficiente para ser ainda você, ok? E para te manter vivo. – ele riu.
– Se não o quê? Vai me bater também? – provoquei mal sabendo a razão pelo qual fazia.
– Eu? Olha bem a minha cara...sou um futuro médico, contra a violência...- sorriu.
– É bom mesmo. Porque eu sou quase do seu tamanho. E eu ainda vou crescer. Você não mais. – zombei.
– Ah é? Agora quer desmerecer o único amigo que tem, é? Você é dois dedos mais baixo que eu! – respondeu se aproximando, enquanto ficávamos um de frente para o outro. - Viu? Dois dedos! Nem vem! – ele comparou o tamanho de nossos ombros.
– Tanto faz. Daqui a algum tempo isso não vai importar...- sorri dando de ombros. A cerveja tinha subido mesmo, pois eu me sentia estranhamente feliz.
– Assim como a nossa idade. – John me disse, fazendo um silêncio repentino pairar sobre nós e meu rosto esquentar de uma maneira que me deixou ainda mais envergonhado.
Fui atrás de minhas chaves de novo e quando tive coragem de olhá-lo de volta este me encarava com aquele meio sorriso.
Mordendo seu lábio inferior, notei que ele fitava os meus sem nem ao menos disfarçar e isso me deixou ansioso, mesmo sem eu entender para quê.
– Então...é isso. Gostei muito de hoje, Sherlock. Obrigado pela companhia. A gente se vê na escola? Se cuida. – John se afastou, após sorrir de volta, me deixando em um estado do qual eu jamais sairia.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Gostaram até aqui? *_* Tive a inspiração dessa fic enquanto escrevia a ainda não terminada One And Only! Espero que gostem...pelo fato dela ser contada em primeira pessoa, seu ritmo é um pouco mais rápido e os capítulos acabam sendo de uma cena, mais curtos. Um beijo e até o próximo!