Bad Heroes escrita por Katreem


Capítulo 19
Everything She Wants


Notas iniciais do capítulo

VOLTEEEEEI. Espero não decepcionar, esse capítulo... Bem... Apenas observem, é uma oportunidade para vocês observarem.



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Hoje ainda é sábado, e eu adoro minhas conclusões sobre que dia é. Estamos todas paradas na calçada na frente do prédio do laboratório de Ezra enquanto ele persegue formigas pela calçada, tentando descobrir qual delas é o Antonny, sua formiga de estimação. Ali estava no telefone, falando com um de seus irmãos, pedindo que algum deles viesse nos buscar, pois Ezra havia ido nos pegar em nossas casas antes da missão, mas agora ele não parecia muito disposto a ir sem antes encontrar Antonny. Alison ficaria para “ajudar” Ezra com Antonny, mas eu sabia que ela queria mesmo era xeretar o laboratório para tentar descobrir o que ele estava mostrando a Harry e Jason naquele dia. E eu apoiava que ela fizesse isso. Emily e Spencer estavam rindo e cochichando enquanto olhavam Ezra deitado na calçada, com a bochecha colada no concreto, olhando as formigas que passavam atentamente. Aria estava olhando Ezra como se ele fosse o príncipe da Inglaterra, um sorrisinho no rosto e os olhos vidrados, como se sua vida dependesse de olhá-lo. E eu estava tentando falar com Caleb a um tempão. Eu ligava e seu celular só chamava e caía na caixa postal, me deixando falar com a voz gravada de Caleb.
— Oi, aqui é o Caleb, nosso atender agora, mas...
— Caleb, abre a droga da porta! — A voz de Melissa interrompeu Caleb na sua gravação.
— Ai que susto, sua capirota! — Ele disse visivelmente irritado e surpreso. Eu ri pela veracidade de suas palavras, pois Melissa era realmente um diabo quando queria. — Não vou abrir porcaria nenhuma.
— Eu vou te matar! — Melissa deu um gritinho irritante. Caleb ignorou-a.
— Aqui é o Caleb, não posso falar agora porque minha irmã é o capeta! Deixe seu recado após o sinal e eu retornarei se não tiver sido preso por matar minha irmã! — Ele disse com falsa felicidade e o telefone ficou mudo.
— Aqui é a Hanna, porque você não me atende? — Falei andando de um lado para o outro na calçada, chutando algumas pedras e pisando em formigas insolentes, eu só desejava que nenhuma delas fosse Antonny. — Desculpe por hoje, é sério. Me ligue quando puder. — Deixei meu milésimo recado e desliguei, pondo o celular de volta no bolso da calça.
Alison também tinha desligado seu telefone, suspirando e recebendo outra ligação em seguida. Xeretei a tela de seu iPhone branco e vi o nome “Dr. Connors” piscar na tela junto com a foto de um cara loiro com rugas visíveis nos olhos, óculos pretos e jaleco branco igual ao que Ezra sempre usava. Ela desligou rapidamente, mandando um torpedo para ele dizendo que não podia falar agora. Estreitei os olhos, puxando na memória quem poderia ser aquele cara, até que uma cena peculiar me veio à mente.
Na semana passada tínhamos feito uma excursão até o prédio da empresa da Hastings, que ficava em Nova Iorque. Kurt Connors estava nos guiando na excursão, ele também era cientista e trabalhava em criar uma fórmula que curaria doenças como câncer e Alzheimer, assim como também trabalhava com algoritmos que dariam formas a membros não desenvolvidos. Eu me lembrava de que um dos braços do Dr. Connors só se desenvolveu até o cotovelo, portanto ele não tinha mão ou coisa parecida. Spencer tinha feito vários apontamentos sobre composições que poderiam ajudar na fórmula dele, mas eu não estava dando a mínima para aquela chatice toda. Enquanto eles falavam coisas que pra mim não faziam sentido, Caleb e eu trocávamos mensagens de texto com piadas toscas, o que parecia bem mais interessante. Alison pareceu bem interessada, dando aquele sorriso arteiro de quando ela tinha alguma ideia maligna.
Me senti meio estranha pela possibilidade de ela estar escondendo algo de mim, pois Ali sempre me contava tudo que ela fazia, desde pregar peças e fazer besteiras a fazer boas ações e ajudar velhinhos a atravessar a rua — o que só aconteceu uma única vez e ela ainda pediu dinheiro ao velhinho por tê-lo ajudado a atravessar a rua.
— Ali, quem era? — Perguntei cutucando seu braço.
— Minha mãe. — Alison disse naturalmente, sem esboçar nenhuma expressão facial. Ela falou tão convicta que eu quase acreditei. Quase.
— Ah, sim. — Falei no mesmo tom calmo e articulado que ela.
Então ouvi o roncar de um motor.
Desviei meus olhos e vi que todas estavam fazendo o mesmo. Eu olhei e não conseguia acreditar. Era o meu carro. Bem, o carro que eu queria, pelo menos. Um Maserati Spyder conversível e vermelho. Era tão bonito que eu quase desmaiei na calçada, até Ezra deixou suas formigas de lado e se levantou do chão para olhar também.
O motorista saltou, sorrindo. Parecia ter mais de vinte e três anos, e por um segundo tive a desconfortável sensação de que se tratava de Jason, um dos irmãos de Ali. Esse cara tinha os mesmos cabelos claros e a beleza esportiva. E espere... Era Jason mesmo! Era alto e sem nenhuma olheira no rosto (o que era comum em Jason, pois passava noites em claro se drogando). Seu sorriso estava mais brilhante e mais divertido. (Ultimamente, Jason não fazia mais do que franzir as sobrancelhas e dar um sorriso de escárnio). Ele usava jeans, sapatos do tipo mocassim e camiseta sem mangas. De repente, ele parecia ter voltado a ser o Jason que era quando conheci Alison há oito anos, divertido e muito brincalhão.
— Ele parece bem... — murmurou Aria.
— Diferente. — completei.
— Irmãzinha! — Chamou Jason. Se seus dentes fossem um pouquinho mais brancos, ele poderia ter nos cegado. — O que aconteceu? Você nunca liga. Nunca escreve. Estava ficando preocupado!
Alison suspirou.
— Estou bem, Jason. E não sou sua irmãzinha.
— Ei, nasci primeiro.
— Mas você não é completamente...
— Então, o que está acontecendo? — ele a interrompeu. — As garotas estão com você, estou vendo. Estão precisando de umas dicas de como manejar o...
Ali rangeu os dentes.
— Preciso de um favor. Tenho que ajudar o Ezzie, sozinha. Preciso que leve as meninas lá para casa.
— Claro, mana! — Então ele ergueu as mãos num gesto de parem tudo. — Estou sentindo a chegada de um haicai.
Eu e Ali gememos aborrecidas enquanto as outras estavam com cara de “haicai?”. Haicai eram os poemas estranhos que Jason havia aprendido no Japão quando viajou para lá com seu pai. Esses poemas esquisitos tinham que ter sempre seis sílabas em cada verso.
Jason limpou a garganta e ergueu uma das mãos dramaticamente.
Grama rompe a neve.
Alison quer ajuda.
Eu que sou leve.
Ele sorriu para nós, esperando os aplausos.
— Esse último verso só tinha cinco sílabas. — Disse Alison.
Jason franziu a testa.
— É?
— É. Que tal “Eu sou tão cabeção”?
— Não, não, esse tem cinco sílabas. Humm. — Ele começou a murmurar consigo mesmo. Era impressão minha ou ele estava mais retardado do que de costume?
Me voltei para as meninas.
— Jason está vivendo essa fase de haicais desde que foi ao Japão. Não é tão ruim quanto da vez que em que ele visitou Limerick. Se eu tivesse de ouvir mais um único poema que começasse com Era uma vez uma deusa de Esparta...
— Já sei! — Anunciou Jason. — Eu sou tão brilhante. Esse tem seis sílabas! — Ele se curvou, parecendo muito satisfeito consigo mesmo. — E agora, mana, é transporte para suas abelhas que você quer? Na hora certa. Estava mesmo indo para casa.
— Você vai ter que ajudá-las com o que for preciso. — Disse Ali, apontando para Aria na cadeira de rodas (que só servia de fachada já que ela estava andando, mas seus pais não podiam nem sonhar com isso, assim como o resto da cidade).
— Sem problema! — Jason nos inspecionou. — Vamos ver... Aria, certo? Ouvi tudo a seu respeito.
Aria enrubesceu. Ezra cruzou os braços atrás de Ali, com uma cara meio... Desconfortável?
— Oi, Jason.
— Filha da Sra. Montgomery, não é? O que faz de você minha chefe também, já que trabalho com a sua mãe. É cadeirante, não é? Ouvi dizer que está progredindo com as pernas, que bom. Odeio quando garotas bonitas...
— Jason. — disse Alison. — É melhor vocês irem.
— Ah, certo. — Então ele olhou para mim, e seus olhos se estreitaram. — Oi, Hanna Marin.
— Oi, Jason.
Jason me examinou, mas não falou nada, o que eu achei um pouco sinistro.
— Bem — disse ele, afinal —, é melhor irmos.
Olhei para o Maserati, que acomodaria duas pessoas, no máximo. Éramos cinco.
— Carro legal. — Disse Spencer.
— Obrigado, vizinha. — replicou Jason.
— Mas como vamos todos caber?
— Ah. — Jason pareceu só então perceber o problema. — Bem, é. Eu detesto agir como Alison, mas suponho...
Ele foi até uma van estacionada no meio fio. Tirou uma espécie de celular de superfino do bolso, o qual reluziu rapidamente em azul. Ezra descruzou os braços no mesmo instante que seus olhos viram aquilo e ele ficou indignado, rangendo entre dentes “então foi ele que pegou”. Jason passou a tela do celular em frente ao puxador do carro e a porta abriu com um clique, ele entrou no assento do motorista e passou o celular na frente do painel de ignição desta vez. O motor roncou e ligou. Ele saiu e foi para perto da gente de novo. Então eu comecei a concluir algumas coisas.
a) O Maserati provavelmente havia sido roubado por Jason com a ajuda daquele treco.
b) Ezra era o criador daquilo, e Jason deve ter pegado da última vez que veio ao laboratório.
c) Caleb, Ezra e Jason tinham bundas maiores do que eu, Spencer e Melissa.
d) Emily era muito alta.
E por último, a conclusão mais dificultosa que já fiz:
e) Aria parecia um duende ajudante de papai Noel quando usava gorros, como agora.
— Certo. — Disse Jason. — Todo mundo para dentro.
Alison ordenou que nós começássemos a carregar nossas mochilas para dentro do carro. Emily pegou sua mochila surrada e Jason disse:
— Aqui, doçura. Deixe que eu levo.
Emily corou, mas os olhos de Ali faiscaram, letais.
— Jason. — Repreendeu-o Alison. — Não cante minhas amigas. Não olhe para elas, não flerte com elas. E não as chame de doçura.
Jason estendeu as mãos abertas.
— Desculpe-me. Esqueci. Ei, mana, para onde você vai, por falar nisso?
— Resolver algumas coisas. — respondeu Alison. — Mas não é da sua conta.
— Vou descobrir. Eu vejo tudo. Sei de tudo.
Ali bufou.
— Apenas leve-as lá para casa, Jason. E nada de confusão!
— Não, não! Eu nunca me meto em confusão.
Alison revirou os olhos, então olhou para nós.
— Vejo vocês daqui a pouco. Spencer você está no comando. Proceda da melhor forma. Faça como eu faria.
Spencer hesitou com a última frase, mas assentiu.
— Sim, Ali.
Ezra se prontificou a colocar Aria na van. Ele pegou-a no colo com todo cuidado que o mundo poderia ver, é claro que não foi tão fácil para ele como era para Em, mas ele conseguiu. Colocou-a no banco e apertou os cintos. Distraído, bateu a cabeça no teto do carro, Aria riu e ele também. Tão lindinhos, Cristinho.
Depois Ezra ficou ao lado de Ali na calçada e os dois entraram no prédio.
Jason riu.
— Então — disse ele. — Quem quer dirigir?
Nos amontoamos na van. Eu, Aria e Spencer atrás e Emily na frente.
— Posso dirigir? — Aria propôs.
— Não. Nova demais.
— Ah! Ah! — Spencer levantou a mão.
— Hum, não. — disse Jason. — Nerd demais. — Seus olhos passaram por mim e fixaram-se em Emily.
— Fields! — disse ele. — Uma garota controlada. Perfeito.
— Ah, não. — Emily sacudiu a cabeça. — Não, obrigada.
— Ora, venha. — chamou Jason. — Quantos anos você tem?
Emily hesitou. E Jason batia o dedo nos lábios.
— Você tem dezessete anos, quase dezoito.
— Como é que você sabe?
— Ei, sou Jason DiLaurentis. Eu sei das coisas. Você vai completar dezesseis daqui a mais ou menos uma semana.
— É o dia do meu aniversário! Vinte e dois de dezembro.
— O que significa que tem idade suficiente para dirigir com licença de aprendiz!
Emily mudou a posição dos pés nervosamente.
— Hã...
— Eu sei o que vai dizer. — interrompeu-a Jason. — Você não merece a honra de dirigir um carro comigo dentro dele.
— Não era isso que ia dizer.
— Não se aflija! É uma viagem muito curta daqui até minha casa, e não se preocupe com acidentes.
Jason riu de modo jovial. O restante de nós não o acompanhou.
Emily tentou protestar, mas Jason definitivamente não ia aceitar um “não” como resposta. Ele pegou o celular superfino e passou em frente ao vidro frontal. Um aviso logo surgiu ao longo do alto do para-brisa. Eu tive de ler de trás para frente (o que, para um disléxico, não é assim tão diferente de ler normalmente). Eu tinha certeza de que dizia AVISO: MOTORISTA APRENDIZ.
— Ande, acelere! — disse Jason a Emily. — Vai ser moleza para você! Velocidade significa calor. — advertiu Jason. — Portanto, comece devagar e certifique-se de que pode acelerar a velocidade com segurança.
Emily foi para o banco do motorista e agarrou o volante com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos. Parecia prestes a vomitar.
— Qual o problema? — perguntei a ela.
— Nenhum. — respondeu trêmula. — N-não tem problema nenhum.
Ela puxou a marcha e pisou no acelerador. A van lançou-se para frente tão rápido que eu caí de costas e fui de encontro a algo macio.
— Ai. — Gemeu Aria.
— Desculpe-me.
— Mais devagar! — disse Jason.
— Desculpe-me! — replicou Emily. — Está tudo sob controle!
Consegui me sentar. Olhando pela janela vi que já estávamos distantes de onde havíamos partido.
— Emily — disse eu —, calma no acelerador!
— Já entendi, Hanna. — disse ela rangendo os dentes. Mas manteve o veículo acelerado.
— Relaxe. — falei.
— Já estou relaxada! — exclamou ela, tão rígida que parecia feita de madeira.
— Vire para a esquerda. — informou Jason.
Emily puxou bruscamente o volante e mais uma vez me atirou de encontro a Aria.
— A outra esquerda. — sugeriu Jason.
Cometi o erro de olhar novamente pela janela. Estávamos agora indo tão rápido quanto carros de corrida — tão rápido que tudo que passava parecia um borrão.
— Ah... — disse Jason, e tive a sensação de que ele estava se forçando a parecer calmo. — Um pouco mais devagar, doçura.
Emily relaxou seu pé no acelerador. Seu rosto estava branco como giz, e a testa gotejava suor. Alguma coisa estava decididamente errada. Eu nunca a tinha visto assim.
A van voltou a ir rápido e alguém gritou. Talvez tenha sido eu mesma. Agora estávamos seguindo direto para o centro da cidade, a mais de trezentos e cinquenta quilômetros por hora. E eu estava começando a ficar quente.
Jason fora atirado para algum lugar no fundo, mas começou a cruzar as fileiras de assentos.
— Assuma o volante! — Implorou-lhe Spencer.
— Não se preocupem. — disse Jason. Mas ele parecia bastante preocupado. — Ela só precisa aprender a... OPA!
Então vi o que ele estava vendo. Uma mulher com uma saia levantada andando pela calçada.
— Venha logo! — gritei. — Safado! — estapeei seu braço no intento de chamar sua atenção.
Havia um brilho selvagem nos olhos de Emily. Ela engatou outra marcha e dessa vez eu me segurei.
— Lá! — apontou Jason. — Minha casa, bem à frente. Vamos reduzir, querida.
Emily ia como um trovão em direção à casa de Alison.
— Estou no controle. — murmurou Emily. — Estou no controle.
Estávamos a apenas algumas centenas de metros agora.
— Freie. — disse Jason.
— Eu posso fazer isso.
— FREIE!
Emily enfiou o pé no acelerador e o carro derrapou de lado num ângulo de 45 graus, no jardim dos DiLaurentis. As flores da Sra. DiLaurentis foram assassinadas com um estilo e tanto.
— Bem — disse Jason com um sorriso corajoso. — Você tinha razão, minha querida. Estava tudo sob controle! Vamos apenas ver se não atropelamos ninguém importante, está bem?

Depois de descermos da van, meu estômago parecia dar leves voltas entorno de si. Aria estava agarrada nas costas de Emily, sussurrando alguma coisa para ela, me pareceu que ela estava perguntando a Em o motivo de tanto nervosismo no controle de um carro. Emily apenas mantinha o olhar levemente baixo, o rosto voltando a sua cor normal. Spencer estava entretida no celular, digitando cuidadosamente enquanto empurrava a cadeira vazia de Aria para perto da varanda dos DiLaurentis.
— Cuidem-se, doçuras! — gritou Jason para as meninas. E piscou para mim. — Cuidado com o calor, Hanna. Vejo você em breve.
— O que quer dizer?
Em vez de responder, ele saltou de volta na van.
— Até mais, Emily. — gritou, — E, hã, comporte-se!
Ele dirigiu-lhe um sorriso travesso, como se soubesse de algo que ela não sabia. Então fechou as portas e ligou o motor. Ele acelerou e sumiu pela rua quase deserta. Spencer parecia irritada.
— Qual é o problema desse maldito atirador? — perguntou ela, arrancando o bracelete prateado do pulso com uma careta. As pequenas veias arroxeadas que ficavam ao redor do acessório ficaram vermelhas, como se o sangue estivesse prestes a espirrar.
Um pouco de água escorreu de dentro no bracelete. Spencer bufou e o guardou dentro do bolso enquanto dobrava a cadeira de Aria e entrava na casa de Ali, sendo seguida por nós. A casa estava vazia, como quase sempre. Apesar de ser sábado, os pais de Alison sempre arranjavam alguma coisa para mantê-los ocupados e fora de casa, como agora. Li um bilhete que estava em cima do piano preto da sala, a letra quase inelegível da Sra. DiLaurentis avisava que ela e Kenneth, o pai de Ali, haviam ido jogar golfe com alguns sócios. Spencer deixou a cadeira de Aria perto do sofá enquanto Emily subia as escadas com Aria em suas costas.
Assim que chegamos ao quarto, desabei na cama macia de Alison, que estava impregnada com seu cheiro de baunilha. Era estranho porque Ali nunca fumava dentro do quarto, o motivo eu não sabia, já que ela gostava e fumava a qualquer momento que a vontade lhe viesse, e não estava dando mínima se era na escola ou em qualquer outro local.
Spencer passou a analisar e abrir seu atirador, puxando seus óculos de grau do bolso do blazer marrom.
— Em. — Spencer chamou-a com os olhos vidrados no pequeno aparelho. — Pode pegar uma cadeira lá em baixo?
Aria desceu das costas de Em e começou a xeretar as coisas que estavam em cima da penteadeira de Ali. Emily assentiu, descendo lá para baixo sem dizer nada. Minha vontade agora era de dormir até Caleb aparecer e me carregar para onde eu quisesse, mas Spencer tinha que estragar tudo.
— Hanna, vê se consegue achar uma pinça. — Ela disse, apertando algum botão do bracelete, que abriu inteiro.
— Porque não pede a Aria? — resmunguei, apontando Aria, que agora estava flutuando pelo quarto como se estivesse na gravidade zero.
— Porque estou pedindo para você! — Ela exclamou, sem tirar os olhos do que estava fazendo.
— Porque estou pedindo para você. — imitei-a com uma vozinha irritante, saindo da cama e me agachando para pegar a “Caixa de Travessuras da Ali” embaixo da cama. Com certeza lá deveria ter alguma pinça.
A Caixa de Travessuras da Ali era um nome que a própria Alison havia inventando para nomear a caixa onde ela guardava as coisas que ela afanava dos outros, inclusive coisas de seus pais e irmãos.
Mais precisamente no início do oitavo ano, Alison começou pegar muitas coisas dos outros e tudo que ela pegava, ela guardava naquela caixa, que ela só me revelou tempos depois.
Enquanto Aria flutuava distraída e Spencer apoiava seu atirador em cima de alguns livros que Ali costumava ler na escrivaninha, peguei a caixa e me sentei com ela na cama. As coisas que vi lá dentro me atingiram como uma enxurrada de lembranças, pois fazia tempo que eu não olhava aquela caixa. A primeira coisa que vi foi uma foto que Ali havia tirado de todas nós com sua Polaroid, onde aparecíamos abraçadas no jardim dos Fields, e isso não fazia muito tempo. “Minhas quatro melhores! Beijos, Ali.” estava escrito com caneta vermelha no verso da foto. Havia também algumas medalhas da equipe de hóquei de Rosewood Day, fotos de Jason com duas batatas fritas enfiadas em cada narina enquanto ele parecia dormir profundamente, fotos de Harry com a cara amassada de sono, como se tivesse sido acordado para tirar aquela foto. Uma fotografia de Jessica e Kenneth na sala de estar. Tudo muito lindo e representando a família feliz que talvez o DiLaurentis já tenham sido.
Logo abaixo das fotos havia algumas coisinhas que me fizeram rir baixinho. Uns óculos pretos e de grau, com as inicias S.H. gravadas na lateral. Alison havia pegado os óculos de Spencer Hastings no meio do oitavo ano, no intervalo da aula de educação física, só para irritá-la. Uma presilha colorida e cheia de poeira estava logo ao lado dos óculos, reconheci como sendo de Mona, visto que Alison adorava provocar a pobre garota. Alguns gabaritos de provas que Alison roubara da sala dos professores, dinheiro, brincos da Sra. D e uma caneta de ouro do Sr. D. Um chapéu de marinheiro de Harry e algumas fitas e jogos de videogame de Jason. Uma foto de Emily rindo junto com Aria e mais um zilhão de coisas pequenas, uma mecha de cabelo queimado meu e fotos minhas ao lado de Ali quando tínhamos doze anos.
Até que achei uma maldita pinça e joguei para Spencer, esperando que acertasse a cabeça dela, já que a mesma estava concentrada em seu serviço e não tinha visto quando atirei o objeto na direção dela.
Spencer pegou a pinça no ar, sem nem olhar, o que fez com que meu queixo caísse levemente.
— Obrigada. — ela disse com os olhos faiscando e analisando o atirador.
Bufei e tampei a caixa, saindo da cama e a colocando de volta em seu lugar. Tive a impressão de ver alguma coisa prateada brilhar lá debaixo, então estiquei mais meu braço para tentar ver o que era.
Até que senti alguma coisa bater na minha cabeça e percebi que era a mãozinha de Aria. Ela riu assim que eu a olhei e saiu correndo já que estava no chão.
— Epa, Montgomery. — Falei, me levantando e a puxando pelo moletom verde que ela usava. — Onde pensa que vai?
Enlacei seu pescoço com um dos braços, enforcando-a de mentira e bagunçando todo seu cabelo. Aria riu baixinho.
— Han. — ela dizia ainda rindo, mas eu não a soltei. — Spence, socorro! — ela ria mais e mais e o rosto, que era tão branco quanto leite, ficando vermelho.
Spencer espanou a mão, como que nos mandando parar.
— Agora não, pequena. — Ela simplesmente disse, não nos olhando uma vez sequer. Eu ri.
— E agora? Quem vai salvar você? — eu perguntei, rindo. Aria poderia ser forte, porém, eu era mais. E por ela ser pequena, eu adorava judiar um pouquinho.
— Emy! Socorro! — Aria não conseguia nem falar direito em meio aos risos. Emily apareceu na porta, que estava aberta, com uma cadeira nas mãos. Ela deu um leve sorriso ao nos ver daquele jeito.
— Hanna, solta ela. — Emily disse trazendo a cadeira e colocando perto de Spencer.
— Não. — Eu disse rindo e pressionando mais meu outro braço ao redor do corpo minúsculo de Aria, para que ela não escapasse.
— Emy. — Disse Aria, fazendo beicinho e voltando a rir novamente.
Emily rolou os olhos com um meio sorriso e antes que eu pudesse sequer fazer alguma coisa, senti suas mãos grandes segurarem meus braços. A sensação era de que um gancho de trator havia se enroscado ao redor dos meus pulsos. Sem fazer quase nenhum esforço, Emily tirou meus braços de pert de Aria enquanto eu fazia cara de indignada. Atrás de Emily, Aria rebolava e me dava língua. Cerrei meus olhos para ela e Emily apenas riu, me soltando depois.
— Sempre defendendo a Aria. — Concluí falsamente ressentida. Fazendo careta ao observar meus braços com a marca das mãos de Emily.
— É porque Aria é pequena e não pode se defender sozinha. — Emily argumentou, soando brincalhona enquanto sentava na beirada da cama de Ali.
— Exato, Em. — Aria concordou, tomando impulso no chão e voltando a flutuar.
— E se eu atacar a Spen? — Sugeri com um sorriso maldoso moldando minhas feições.
Emily olhou para a nerd superconcentrada no concerto do atirador, avaliando-a rapidamente.
— Acho que Spencer consegue se defender sozinha. — Disse por fim, fazendo um biquinho agradável e se deitando na cama.
— Nem vem, Marin. — Spencer disse rigidamente no mesmo segundo em que tentei me mover para ir importuná-la.
— Chata. — Resmunguei.
Ouvi passos no corredor, mas não consegui nem pensar direito antes que Harry aparecesse na porta.
— Alison, você sabe se... — ele mesmo se interrompeu ao nos ver. E eu interrompi todos meus pensamentos para analisá-lo.
Seus músculos pareciam querer explodir para fora da camisa, apertados. Seus ombros eram largos e firmes feito uma rocha enquanto seu rosto parecia mais angular o possível. Dentro de um uniforme de soldado, ele exibia uma expressão envergonhada por ver tantas meninas aglomeradas em um lugar só.
Emily imediatamente sentou-se na cama, pensando que talvez pudesse se tratar dos pais de Ali, pelo menos foi o que pareceu.
— Desculpe, hã... Onde está Alison? — ele pigarreou.
— Ela foi resolver algumas coisas. — respondi, colocando as mãos nos bolsos. — algo errado?
— Não... — ele mantinha os olhos baixos, olhando a cama de Ali. — Só queria saber se alguém viu meu chapéu.
O chapéu de marinheiro que estava na caixa...
— Eu não vi. — fui a primeira a me pronunciar. As outras também murmuravam algo do tipo, porque elas realmente não sabiam.
Logo Harry se foi, já que ele parecia estar prestes a explodir de vergonha da gente. E em seguida Alison apareceu na porta, fechando-a e se jogando na cama, quase em cima de Emily.
— E então? — Aria perguntou. — Alguma coisa?
— Nada muito extravagante. — ela respondeu, olhando suas unhas.
— Como assim? — me escorei na parede.
— Eu vi alguns desenhos estranhos... Tintas vermelhas e azuis. Não consegui fazer Ezra falar muito. Ele estava frenético. — ela soltava com um pouco de confusão no rosto.
— Sério? Você nem tentou descobrir mais? — Emily perguntou, levantando uma sobrancelha.
— Seria mais fácil se você lesse a mente dele, mas é certinha demais, não é mesmo? — Ali proferiu de forma ardilosa e irritada.
Emily ficou calada, mas seus olhos brilharam, muito provavelmente de raiva.
— Achei que seu irmão queria ser advogado. — Aria comentou.
Ali deu um riso debochado.
— Nossos pais querem que ele seja, mas é óbvio que ele não quer isso. — disse Ali. —Harry quer servir seu país como soldado, diz que homens morrem todos os dias lutando pela América e que ele não deve fazer menos que isso. Então ele se alistou em algum lugar na Filadélfia.
— Parece algo bem nobre. — Emily disse, juntando os lábios.
— Talvez.
— Você não acha? — Emily replicou.
— Muito bem, já chega. — Ali se levantou da cama. — Eu tenho algumas coisas para vocês, abelhinhas.
— O que é? — Aria se empolgou.
— Dá para calarem a boca? — Spencer perguntou, completamente incomodada. — Estou tentando resolver isso aqui. — ela disse, se referindo ao atirador.
Alison, que tinha ido até seu guarda-roupa e pegado algo, jogou um vidro médio que continha alguma coisa em minha direção. Apanhei-o no ar enquanto ela ia até Spencer.
Olhei o rótulo que dizia: MECHAS PARA CABELO. COR ROSA.
— O que foi, nerd? — Ali disse se apoiando no ombro de Spencer.
— Só não consigo lembrar as fórmulas de mecânica que se aplicam para isso. Mas estou quase...
— Ah, sim. É fácil, essas eu tenho na ponta da língua. — Ali respondeu e eu, Aria e Emily ficamos apenas assistindo até Alison se virar para nós. — Ah, Hanna, isso é para a Aria. — disse indicando o descolorante em minhas mãos.
— Vamos pintar o cabelo dela? — Emily perguntou, olhando Ali com dúvida.
— Se ela quiser... Você quer, Pequena Grande Aria? — seus olhos azuis voltaram-se para a garota pequena. — Achei que combinava com você.
— Eu quero! — Aria riu, empolgada.
— Ótimo. Em e Hanna, façam isso. — Ela ordenou antes de se voltar para Spencer.
Sorri para Emily, que negou com a cabeça. Ela não devia concordar com aquilo, mas se Alison estava nos dizendo para fazê-lo, quem seríamos nós para dizer não?


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Notas finais do capítulo

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