O Sol forte da manhã batia na minha testa enquanto eu corria a todo o vapor pelas ruas de Olivine. Eu estava totalmente excitado para minha próxima batalha, principalmente por ser com minha tia. Meu pai sempre me dizia que ela era bem forte, e por isso se tornou uma Líder de Ginásio, embora seu sonho sempre fosse estudar Medicina Pokémon. Depois de muito correr, eu chego ao Ginásio. Inflo meus pulmões em busca do fôlego perdido na correria e entro com tudo no local. As paredes e o piso eram enfeitados com placas metálicas distintas e o teto era branco com algumas placas de vidro providenciando iluminação solar, porém, nas paredes ainda havia algumas lâmpadas, para serem ligadas caso chova ou anoiteça. Na passagem para o campo de batalha havia alguns arcos metálicos, com adornos dourados e prateados. Eu então chego ao campo de batalho e logo procuro por minha tia.

— Tia! Cheguei! – Grito, olhando por todos os lados, quando escuto alguns passos e olho para trás, encontrando minha tia, que acabara de chegar.

— Oi! Estou aqui! – Disse ela, vindo até mim e me dando um abraço – Você chegou mais cedo que eu. Parece que alguém aqui está bem excitado não é?

— Sim! Eu mal consegui dormir! – Respondi, animado.

— Espero que você não resolva tirar uma soneca enquanto batalha! – Diz, rindo levemente. Ela então vai até o seu lado do campo de batalha e muda sua expressão para uma face mais desafiadora – Sony, você é meu sobrinho e me ajudou a cuidar do Amphy, mas isto aqui é diferente. Estamos num Ginásio e eu serei imparcial, te tratando como qualquer outro treinador.

— Mas claro! Eu quero mesmo que faça isso! Me ataque com seus melhores golpes! – Falei, emanando determinação.

— É, pelo jeito você herdou a determinação de seu tio! – Falou, sorrindo.

— Acho que sim! Hehe!

— Bem, vamos começar? – Ela perguntou, pondo as mãos na cintura – Dois contra dois, trocas permitidas. Tudo bem por você?

— Sim.

Entreolhamos-nos por breves segundos e então sacamos nossas Pokéballs. Eu gentilmente dei as honras para a minha tia, que logo lançou sua Pokéball, liberando de lá um Pokémon grande, circular e feito de metal. Ele tinha três “cabeças” uma delas maior e central e as outras ficavam nos lados, tendo o mesmo tamanho. A cabeça central tinha uma grande pupila vermelha em seu olho, enquanto as pequenas tinham pupilas pequenas e pretas. O Pokémon tinha uma antena amarela no extremo superior de seu corpo e dos lados estruturas em forma de parafuso. Ele possuía dois grandes imãs, um em cada lado, e outro em suas costas.

— Este é Magnezone. A evolução do Magneton.

— Legal... Magnezone... – Eu refleti um pouco, e logo lancei meu Pokémon – Ghast! É com você!

— HAU HAU HAU!! – Gritou o Pokémon ao sair de sua Pokéball.

— Hmm... Parece uma boa escolha. Vamos ver o que ele pode fazer! – Disse, após brevemente analisar meu Pokémon. Ela move seus cabelos para trás e então finalmente dá sua primeira ordem – Ok, Magnezone! Mirror Shot!

Magnezone então começa a acumular a luz do sol em seu corpo, que ficou cercado por uma aura branca brilhante. Ele então lança essa aura sobre Ghast, que recebe o ataque com tudo, e acaba ficando meio atordoado com todo aquele flash.

— Ghast! Vamos revidar! Shadow Ball! – Falo, cerrando o punho. Ghast, porém acaba errando seu ataque - Mas hein?

— Esqueceu como esse ataque funciona, Sony? – Peguntou Jasmine - O Pokémon lança uma grande quantidade de energia luminosa sobre o oponente. Toda essa luz pode deixar o adversário temporariamente cego.

— Droga... Tenho que pensar...

— Enquanto você pensa, nós atacamos! Magnezone! Discharge!

Magnezone acumulou eletricidade e então disparou tudo em uma grande descarga elétrica pelos seus Ímãs, atingindo tudo pela frente.

— RÁPIDO, GHAST! PROTECT!

Ghast conseguiu rapidamente criar uma barreira em sua frente antes que o ataque o atingisse.

— Hmm... Muito esperto de sua parte... – Comentou.

— Ah, claro, né? Um treinador com Quatro Insígnias não seria derrotado por um simples golpe desses, não? – Falei, enfatizando o “Quatro Insígnias” fazendo o número quatro com as mãos, enquanto inflava meu peito.

— ...

— Ok, minha vez de atacar! – Falei, cerrando o punho e colocando a altura de meu ombro – Ghast! Shadow Punch!

Ghast então focou bem em Magnezone e socou-o rapidamente em sou olho do meio, fazendo-o recuar para trás de dor.

— Magnezone! Thunder Wave! – Ordenou Jasmine. O Pokémon então disparou uma pequena e fraca descarga elétrica em Ghast, que começou a tremer, sem poder se mover direito.

— Ghast? – Chamei pelo Pokémon, que sofria tentando responder – Ah, não... Não me diga que você paralisou...

— Magnezone. Use Magnet Bomb.

Magnezone então puxa vários objetos metálicos que estavam espalhados pelo campo de batalha e lança-os com tudo em Ghast, que começou a gemer, quase sem aguentar mais batalhar.

— Droga! Droga! Ghast, vamos lá, cara você consegue!

— ... Sony, acho que ele está muito cansado para a batalha...

— Não! Ele ainda aguenta! Eu sei disso! – respondo furiosamente, de tal forma que meus óculos começam a cair de minha face. Eu recobro meu equilíbrio e arrumo meus óculos de volta na minha face – Ok, Ghast! Shadow Ball!

O Pokémon tenta juntar toda a sua energia, mesmo com a visão ainda um pouco turva e com movimentos restritos pela paralisia. Após muito esforço, ele consegue criar a esfera de energia obscura e lançá-la sobre o Magnezone, que acaba se descuidando e recebendo o golpe.

— ...Vamos acabar com isso, Magnezone. – Dizia Jasmine, suspirando de olhos fechados, esboçando clara decepção – Use Discharge.

— NÃO! GHAST! PROTECT! – Gritei, em vão, uma vez que Ghast não conseguia mover-se devido a paralisia. Ele recebeu o golpe e acabou inconsciente, flutuando pouco acima do chão – Sigh... Ok, Ghast. Volte. – Falei, retornando o Pokémon e guardando sua Pokéball.

— O que aconteceu com você, Sony?— Perguntou em voz baixa, mas não tão baixa para não poder ser ouvida, enquanto abaixava sua cabeça com um semblante de decepção em sua face.

— Hm?

— Não. Nada. Vamos ter foco aqui. Isto é uma batalha, lembra?

— Sim, senhora! – Respondi, demonstrando o mesmo entusiasmo de antes. Saco uma Pokéball do meu bolso e rapidamente a examino, ainda ponderando em mandar o Pokémon que nela está, mas logo me decido e a lanço – É com você, Owly!

— Um Noctowl?...

— Eu sei que ele está em desvantagem, mas isso não quer dizer que não possamos batalhar.

— Entendo. Neste caso, me surpreenda.

— Pode apostar! – Falei, ajeitando os óculos.

— Ok, Magnezone! Discharge!

O Pokémon então lança uma forte descarga elétrica sobre Owly, que aguenta por muito pouco.

—Aguenta firme, Owly! Vamos tentar “aquilo”!

O Pokémon entende o recado e começa a voar até o teto do Ginásio, sobrevoando o Magnezone. Owly então dá um rasante e olha fixamente sobre seu adversário, ganhando toda sua atenção lançando assim um Hipnosys sem que Magnezone pudesse responder, fazendo-o cair no sono.

— Hmm... Boa estratégia...

— Você acha? Heheh! Obrigado! Vamos aproveitar, Owly! Extrasensory!

O Pokémon então faz seus olhos brilharem em tons dourados e então lança uma onda psíquica sobre Magnezone, lançando-o de um lado para o outro e por fim, jogando-o no chão, com tal força que ele acaba desmaiando.

— É, parece que você treina bem os seus Pokémon...

— Ah, mas é claro, né, tia?

Jasmine dá um pequeno suspiro de olhos fechados. Ela então os abre e cruza seus braços. – Sony eu venho observado você na batalha. Você sempre batalhou dessa forma?

— Que... forma?... – Respondi confuso, coçando a cabeça.

— Esquece... Bem, vamos continuar com isso. – Jasmine retorna seu Pokémon desmaiado, e saca outra Pokéball, lançando-a no campo de batalha - Vá, Steelix!

O Pokémon que saiu de sua Pokéball era uma enorme criatura em forma de cobra. Seu corpo era completamente composto de metal e que tinha certo brilho cinza-prateado. Sua cabeça era achatada, com dentes quadrados separados em sua boca. Seu corpo era composto com seções que tinham forma de rochas, sendo que umas três delas tinham espinhos em sua formação e a ponta de sua cauda era pontuda. Assim que saiu de sua Pokéball, o Pokémon rugiu fortemente, fazendo até mesmo algumas pedras sobre o campo de batalha vibrar.

— Um... Steelix?... – Engoli seco, olhando para o imponente Pokémon. Eu, apesar de estar procurando entender como iria enfrentar o grande Pokémon, me mantinha confiante, e acreditava cegamente que iria derrotar aquele Pokémon com o Owly – Ok, Owly, nosso oponente é grande mas não é dois! Vamos! Extrasensory!

— Screech! - Com a ordem, o Pokémon abriu sua enorme boca e deu um agudo e estridente grito, o que fez Owly se desconcentrar e parar seu ataque – Agora... Iron Tail!

O enorme Pokémon ergueu firmemente sua calda e focalizou todo seu poder nela, de forma a deixá-la brilhando em um branco metálico forte. Ele então golpeia Owly com a calda, usando todo aquele poder. A pancada foi tão forte que mandou lançou Owly contra a parede, desmaiando-o na hora.

— Owly!! – Grito correndo atrás do meu Pokémon, caído no canto da parede – Vamos, Owly! Levanta! Eu sei que você consegue!

— Não, Sony. Ele não consegue. A batalha acabou. – Disse Jasmine, retornando seu Steelix para a sua Pokéball.

— Não... Droga!... Eu não acredito que eu perdi assim...

— Por quê? Por que você tem 4 insígnias?

— Hmm? O que você quer dizer? – Indago, enquanto retorno Owly para sua Pokéball.

— Sony, nesta batalha eu notei que você tem tido certas atitudes completamente deploráveis. Primeiro: Você foi um total convencido e esnobe durante a batalha.

— E-eu?! Eu não!

— Não? Então o que você tem a dizer sobre ter “Quatro Insígnias”? Ou que é “Claro que você sabe treinar bem seus Pokémon”? Huh?

Eu fico sem palavras e simplesmente baixo a cabeça, um tanto decepcionado. Começo a me lembrar da maneira que eu falava na batalha. Eu realmente dei uma de presunçoso. Eu acabo me lembrando que eu também já havia feito isso em uma batalha anterior. Céus, o que houve de errado?

— E não é só, viu? Você também não deu a mínima pra saúde dos seus Pokémon! Poxa, seu Haunter estava lutando pra se manter... flutuando e você nem aí!

— Eu... Eu...

— E pelo amor de Deus, Sony. Você veio aqui sem ter nenhuma estratégia? Achou o que? Que eu fosse te dar a insígnia por peninha?

Eu estava completamente mudo. Minha tia tinha toda razão. Tinha razão sobre tudo. O que eu estava fazendo? Onde estava aquele Sony que batalhava com estratégia e com coração? Aquele que amava os Pokémon e sempre se preocupava com a saúde deles? Todos aqueles pensamentos pairavam sobre minha cabeça. Toda aquela culpa, aquela culpa... Eu então começo a soluçar, enquanto uma lagrima começa a se formar no canto do meu olho.

— Sony... – Jasmine caminhou até mim e deu-me  um abraço, me confortando. Eu tentava segurar cada vez mais e mais minhas lagrimas, mas eles pareciam fortes demais pra segurar, e eu acabava deixando cair uma ou outra do meu rosto. Após o abraço, ela pôs a mão no meu ombro e olhou nos meus olhos – Olha. Eu sei que eu fui dura, mas isso foi necessário. Eu não quero ver um menino como você se tornar um esnobe sem coração.

— Desculpa... Sniff...

— Tudo bem, tudo bem. Mas peça desculpa aos seus Pokémon também. Eles quem sofreram mais com isso.

— Sim...

— Escuta, Sony. Nós Líderes de Ginásio não somos só treinadores aleatórios que estão aqui só pra serem derrotados e darem insígnias. Nós temos a missão de ensinar aos jovens treinadores lições valiosas de batalha. Veja: Eu sou uma Líder do tipo Metálico, certo? Minha missão é repassar a você as fraquezas, resistências e vantagens do tipo Metálico, a importância dos status de defesa, enfim, como enfrentar um tipo Metálico ou um Pokémon com defesa muito elevada.

— Oh... Eu... Nunca percebi...

— Além disso, os desafios que os Ginásios tem também são importantes. Deixe-me ver. Você passou pelo Ginásio do Morty, não?

— Aham...

— Bem, ele ajuda você a ter um pouco de confiança nos seus sentidos e instintos! Pense em quão difícil foi ter que passar por aquele labirinto todo no escuro.

— Pois é... Eu... Notei agora...

— E as insígnias não são só provas de que você derrotou um Líder de Ginásio e só. São provas de que você teve estratégia, garra, força, confiança o suficiente para superar um especialista naquele determinado tipo. E mesmo assim, é errado deixar a quantidade de insígnias lhe subir a cabeça. Afinal, não é só a quantidade que conta. Há treinadores com apenas 2 insígnias que derrotam um de 6. Tudo é questão de estratégia, treino... Enfim...

— Entendi...

— Bem, espero que você pense mais sobre o que conversamos. Tente treinar um pouco mais... Capturar mais um Pokémon, quem sabe... Podemos ter uma revanche.

— Ok...

— Por favor, tire essa expressão feia dessa cara. Quero ver um sorriso estampado nela, entendeu?

— Tudo bem, hehe...

— Bem, até mais ver, querido. Juizo! – Disse Jasmine. Eu faço uma breve reverência e me despeço, saindo do Ginásio e voltando para o Centro Pokémon. O Sol agora estava alto no céu. Deveria ser mais que meio dia, mas eu não sentia fome alguma. Aquela derrota foi uma grande sobrecarga pra mim, e provavelmente, para meus Pokémon também. Eu peço para a Enfermeira do Centro de Olivine curar Owly e Ghast e fazer um check up do resto da minha equipe. Enquanto isso, eu aluguei um dos quartos e me joguei direto na cama. Uma maré de pensamentos cobria minha cabeça. Enquanto eu refletia sobre minhas atitudes, eu acabo adormecendo, acordando uma hora depois, quando fui acordado por um dos funcionários do centro, que me pedia para pegar de volta minhas Pokéballs, uma vez que tudo já havia se resolvido. Aproveito que saí do quarto e procurei a lanchonete para que pudesse repor minhas energias. Enquanto isso, na televisão passava que a tão esperada Zona do Safari seria aberta já neste sábado. Podia ser uma boa oportunidade para eu finalmente capturar um Pokémon novo.