Deslizes escrita por Escritora


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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A lembrança de como tudo havia começado ardia em seu peito. Diante de tantas palavras ferinas e xingamentos já trocados, nada doera tanto quanto ouvir aquela acusação. 
Não sou homem fino, não sou educado... Não tive berço, eu sou só um contrabandista. Mas fique você sabendo que eu não vou ser pra sempre isso não. Quero que as pessoas me olhem, me admirem, quero que as pessoas saibam que eu valho mais que todos os diamantes da terra, todos juntos. Não sou só um zé ninguém que deu sorte na vida não, quero que me tratem como eu mereço. Feito um rei. Eu sei que vou ter que subir e descer daquele monte mil vezes pra então fazer o que eu quero. Mas não duvide nem por um segundo do que eu vou te dizer agora... Eu vou construir um reino. E logo você, paulista quatrocentona cheia de sobrenome diz que tá esperando um filho meu, esse filho pode ser meu herdeiro... O futuro dono do meu reino. E pra isso a mãe dele não podia ser nada menos do que uma rainha.” – Como relembrar aquelas palavram doíam. Foi naquele mesmo instante que ela percebeu que o amava. As promessas foram cumpridas, ele havia construído seu império e ela havia dado a ele mais herdeiros.

“Acabou tudo?”— Ela se perguntava. Aguentaria mais uma humilhação do comendador? Enquanto discutiam na cozinha, na frente daquela franguinha que ele fazia questão de agora trazer para dentro de casa, para a cama que um dia foi dela, Marta, só conseguia enxergar ódio em seus olhos e aquela pequena centelha de esperança de ainda reconquistar seu amor se apagou. “Acabou tudo”— Ela afirmou para si mesma, enxugando as lágrimas e se recompondo.

“Você tá vendo como é que é. Você presta bem atenção, porque um dia ele vai fazer com você exatamente o que tá fazendo comigo. Quando seu viço for embora. Ele vai te trocar por uma amante bem novinha e até da tua fidelidade ele vai duvidar”. As palavras de Marta ecoaram em sua mente a tarde inteira. Isis nunca tinha visto a situação por outro ângulo. Sempre ouvia o comendador falando da esposa se referindo a uma mulher fria, guiada somente pela ambição, mas ela sabia o quanto Marta o amava. E a esposa do seu amente, o amava tanto quanto ela mesma amava o comendador. Seu coração se afligiu. O que Marta não sabia, era que a própria Isis já havia sentido o gosto da ira e do ciúme do comendador. Aquela mentira infeliz que havia contado por puro medo e desespero, deu origem à uma bola de neve que quase acabou com seu romance com Zé. Ela não gostava de lembrar, mas o comportamento dele com Marta hoje, despertou sentimentos que Maria Isis jamais imaginou sentir. A expressão de Marta, derrotada... Humilhada. Ela sempre acreditara no amor e acreditava que Zé era seu verdadeiro amor, sua alma gêmea e que nada poderia abalar esse sentimento tão profundo. Mas esse amor que ela sentia tão desesperadamente causava um sofrimento enorme em alguém. Não, até aquele dia, Maria Isis nunca havia pensado que a sua felicidade colocaria a felicidade de alguém em jogo. Esse sentimento martelava forte em seu peito. “Será que conseguirei viver sabendo a dor que causei?” – Pensou atormentada pelos sentimentos que lhe atacavam a consciência.

A cabeça do comendador José Alfredo era algo que não se podia adivinhar ou deduzir. Um homem astuto que lê entre as linhas, não é fácil de se interpretar. Um controlador nato, um homem ambicioso, que mantém sua palavra, compulsivo, com fome de poder e com pressa de amar, de se saciar. O que habitava no coração de tal homem? O que se esperar de uma alma tão impulsiva e desesperada? Talvez nem ele mesmo tenha a resposta. As palavras de Isis e a expressão de Marta não saíam de sua mente. – Você pegou pesado com a Marta. – Dissera Isis. A expressão de agonia da esposa o deixara perturbado e ele não entendia o porquê, ele mesmo havia iniciado a história do teste de DNA, depois que ficou claro que Marta e Silviano foram casados. Com certeza, José Pedro, era filho de Silviano. Sim, essa era a única razão para aquele filhinho de mamãe se comportar de maneira tão criminosa, Marta sabia que Pedro não era seu filho e armou toda a sabotagem para tomar o poder da empresa enquanto havia tempo, para ficar com o ex marido e o filho preferido e colocá-lo de escanteio. Mas não seria assim tão fácil, ele iria provar que José Pedro não era seu filho e expulsar Marta de vez de sua vida. A lembrança repentina do dia em que Marta anunciara sua gravidez brotou-lhe, lembrou de como eram carinhosos e não paravam de transar. Eram jovens, ela pobre e com contatos, ele rico e ignorante, formavam a dupla perfeita, não só na cama, a ambição combinada dos dois construiu todo o império. O comendador detestava admitir, mas sem Marta talvez ele nunca tivesse conseguido estar em sua cadeira nesse exato momento. Algumas outras lembranças travessas escondidas em sua memória, brotaram sem que ele as pudesse impedir. A suavidade da pele de Marta sobre suas mãos calejadas. O compasso como os seus corpos dançavam um sobre o outro nas muitas noites de amor que viveram, o cheiro inconfundível do perfume dela que sempre impregnava em seu corpo. O calor da sua boca.

— Comendador? – A voz de Valquíria o tirou de seus delírios. Suspirando profundamente afim de acalmar os nervos ele a manda entrar. – Sim, Valquíria eu preciso que você faça uma coisa para mim.

O resultado do exame saíra. Todos seguraram a respiração por um minuto. – O sangue da sr. Maria Clara e do sr. João Lucas é do tipo B. E o sangue do sr. José Pedro, é do tipo AB. – O técnico de laboratório disse e uma comoção de alivio se espalhou pela sala. O comendador passou por um misto de sentimentos, feliz porque todos eram realmente seus filhos e irritado por ter duvidado e ter sido derrotado por Marta. Os filhos eram dele, ela não o havia traído. De repente um sentimento de vergonha se instalou e ele não pode encarar a esposa. Eu lhe devo desculpas, ele pensou, justamente quando ela disse que não havia necessidade. Ele sentia a firmeza daquele olhar sobre seu rosto, mas não podia encará-la, não conseguia. Ela havia sido honesta, ele é que havia sido o errado. Será que ele estava enganado em relação a Marta?

Um sorriso travesso de vitória pairou em seus lábios, porém a imperatriz tratou de esconder quando percebeu que não ganharia um pedido de desculpas. Não importava, ela sabia o quanto ele estava perturbado, confuso e envergonhado. – Nunca mais duvide da minha fidelidade outra vez, José Alfredo Medeiros. – Disse triunfante, saindo da sala e deixando todos para trás. Toda a imponência e confiança voltaram ao passo de Maria Marta. As lágrimas e toda a dor da falsa acusação quase esquecidas. O jogo havia virado em seu favor. Ela não deixaria que ele a humilhasse ainda mais, não, agora seria tudo do seu jeito, ela controlava a situação. Foi ferida demais para simplesmente sair desse casamento à mingua. A ocasião era de comemoração e pensou em ter uma deliciosa refeição no Vicente.

— Não é possível que não tenha nenhuma mesa disponível. – Dizia indignada. – Desculpa dona Marta, mas esse horário é complicado, estamos lotados, eu sinto muito. – A ninfeta dizia temendo a frustração de Marta.

— Se você quiser, pode sentar à mesa comigo. Assim, posso ter o prazer da sua companhia. – A voz era familiar a Marta e quando virou-se a surpresa de ver o rosto sorridente de Maurílio tirou um suspiro e um sorriso dela.

— Como você faz para ficar mais linda, cada vez que eu te encontro? – Ele era muito galanteador e tinha olhos bonitos. Ele a lembrava do comendador quando jovem, mais culto, mais educado, mais atencioso. – Olha Maurílio, se você continuar me elogiando assim, eu vou pensar que você está me cantando.

— Talvez eu esteja mesmo. – Ele deu sorriso atrevido e sorveu um gole do seu vinho, com uma elegância sem tamanho.

O almoço se estendeu para um café no hotel de Maurílio, a conversa entre eles fluía divertida e ele sorria malicioso cada vez que tirava uma gargalhada de Marta. Ela não recordava de ter se divertido tanto. Os dois tinham muitas concepções em comum e a tarde virou noite. – Nossa, olha a hora, eu realmente preciso ir embora agora. – Ela dizia tentando controlar o riso.

— Marta, que tipo de gentleman, seria eu se não a convidasse para jantar depois de te forçar a me aguentar a tarde inteira?

— Bom, então, eu não tenho alternativa a não ser aceitar, não é mesmo? – Ela disse, sem nem mesmo acreditar no que havia dito. – Afinal, não foi um esforço tão grande aguentar você a tarde inteira. Eu diria que foi até um prazer. – Sorriu divertida.

Marta chegou em casa por volta das 23h. O dia fora tão divertido ao lado de Maurílio, que ela havia esquecido todos os problemas em casa. O apartamento estava escuro, todos deveriam já estar na cama. Ela ia satisfeita em direção ao quarto.

— Onde você esteve toda a noite Marta? – O tom do comendador era acusatório, autoritário e o coração da imperatriz gelou de susto.

— E você, o que tá fazendo aqui sentado no escuro? Me esperando é que não é. A franguinha te pôs pra correr foi? - Marta disse debochada.

— Não ponha Isis nessa história. Nem toque no nome dela que você não é digna de falar o nome dela. Eu lhe fiz uma pergunta. – Ele parecia irado.

— Por que é que você não pergunta logo o que quer saber? Você quer saber se eu estive com alguém, com algum homem. Sim, José Alfredo. Eu estive com um homem e já vou te adiantando que não era o Silviano, caso você fique desconfiado. Era um rapaz, jovem, bonito, culto... Um cavalheiro. Passamos uma tarde incrível. – Ela dizia triunfante.

— Você quer saber Marta? Shit pra você. Eu até ia me desculpar com você, mas você é tão... – Ele foi cortado por Marta. – Agora você quer me pedir desculpas? Já criou coragem pra me olhar na cara? Eu que não quero as suas desculpas, salva elas para a sua ninfeta ruiva, você não vai estragar o meu humor. – Ela foi caminhando em direção a escada e virou de repente completando: “E quer saber de uma coisa Zé? SHIT, pra você meu querido.”

O comendador bufou enquanto alinhava os bigodes. Quem será esse aproveitador que anda rondando a Marta? Com certeza algum garotão de olho na fortuna dele. Mas ele não ia deixar isso barato. Subiu a escada pulando os degraus, guiado por uma raiva cega. Nenhum gigolô ia meter as mãos no seu dinheiro.

— Você vai me dizer agora com quem é que você anda se espojando, Marta. – Ele entrou no quarto da esposa, batendo a porta e gritando aos quatro ventos. – Se você pensa que vai se espojar com um moleque qualquer e depois pegar o meu dinheiro você tá muito enganada.

— Mas é mesmo um grosseirão. Fala baixo! Vai querer acordar todo mundo? Eu não devo satisfações para você. Da minha vida cuido eu. E pra sua informação, eu não estou me espojando com ele... Ainda. Mas posso te adiantar que ele beija, ah, ele beija muito bem. – Completou maliciosa. – E me dá licença que eu quero me arrumar para dormir.

— Pois eu não arredo o pé desse quarto enquanto você não me disser o nome desse gigolô com quem você vem se encontrando. – Disse ele emburrado.

Marta bufou.

— Ah não vai sair? Pois muito bem. – A imperatriz tirou os brincos, desfez-se das joias e dos sapatos. – Já que você vai ficar aí, faça alguma coisa de útil e me ajuda a tirar esse vestido. – Disse a imperatriz virando-se de costas para o comendador deixando em evidencia o zíper de seu vestido.

Ele ficou atordoado. – Marta, eu não vou... Eu não... Você é inacreditável, está louca se você acha que eu vou... – Anda logo Zé Alfredo. – Ela o cortou impaciente, revirando os olhos.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura!



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