A primeira vez que você a viu foi enquanto perambulava pelo campus da Universidade, procurando alguma atividade extracurricular decente na qual se matricular. Seu hobbie preferido sempre foi música. Você não se lembra ao certo quando ela se tornou uma parte tão essencial de sua vida — talvez quando seus pais se divorciaram, e ela foi sua rota de escape —, mas o fato é que agora música faz tanta parte de você quantos seus braços, pernas, pulmões e coração.

Você viu duas garotas paradas uma ao lado da outra, cochichando e olhando ao redor, ambas com expressões preocupadas estampadas em seus rostos. Uma delas chamou sua atenção. Ruiva, olhos azuis, extremamente bonita. Você mordeu os lábios, o que sempre faz quando está indecisa, e ficou se debatendo mentalmente se deveria ou não se aproximar para descobrir de qual grupo ela participava. Por fim, resolveu andar por perto, tentando prestar um pouco de atenção e, ao mesmo tempo, manter sua distância.

O que teria sido um plano perfeito, se ela não a tivesse visto e lhe entregado um panfleto, incentivando-a a participar de um grupo de coral. Tipo, sério?, você pensou para si mesma, tentando não deixar uma expressão de deboche surgir em seu rosto. Isso é realmente uma coisa?, você se perguntou. Pensei que esse tipo de baboseira só acontecia em séries de televisão. Não que você fosse admitir que assistia secretamente Glee quando ninguém estava por perto… Mas isso era algo que nenhuma alma viva precisava tomar conhecimento, e seus prazeres ocultos poderiam permanecer trancados no fundo do baú.

Você disse a garota que não cantava — o que era uma mentira, mas e daí? —, e se afastou, olhando por cima do ombro para pegar um último vislumbre daqueles olhos azuis. Ela estava fora de sua liga, ou, ao menos, foi o que você disse a si mesma. Você sempre teve essa coisa de gostar de garotas que possivelmente nunca gostariam de você.

A segunda vez que vocês se encontraram, constrangimento não é sequer uma palavra forte o suficiente para descrever como você se sentiu. Ela invadiu seu banho. Tipo, como em literalmente. Um minuto você estava lá, preocupando-se em tirar sua roupa e tomar uma ducha, e no segundo ela apareceu, totalmente nua, encarando-a de cima a baixo. Você nunca teve vergonha de seu corpo antes, mas sentiu vontade de escondê-lo mesmo assim, porque você não era nada mal, mas ela? Ela era fodidamente incrível — e você não pode se contar de dar umas olhadinhas, só para corar bastante todas as vezes que era pega. E então vocês começaram a cantar juntas, e houve aquele momento constrangedor que o cara apareceu do nada, e você se sentiu derrotada.

Você nem sequer entende porque realmente compareceu à maldita audição. Você poderia ter entrado em qualquer outro grupo para deixar seu pai feliz, mas, por algum motivo, você se viu sendo arrastada de volta à garota ruiva e seu sorriso cativante. Você disse a si mesma que foi por causa da música. Talvez fazer cover de artistas famosos não fosse lá tão ruim. Talvez você gostasse mesmo disso. E talvez Aubrey não fosse uma vadia tão grande quanto aparentava.

E talvez todas as vezes que Chloe fosse lhe ensinar uma coreografia, ela passasse os braços ao redor de seu corpo e ficasse tão próxima que você poderia sentir seus seios tocando em suas costas. Você disse a si mesma que não era nada demais. Ela estava apenas sendo amigável. Mas sua memória ainda te levava de volta ao dia em que ela quase te beijou — embora você estivesse certa de que essa nunca foi a intenção dela —, e você sentiu o hálito quente dela em seu rosto. Foi desesperador se manter parada, sem poder se mexer para acabar com os poucos centímetros que separavam seus lábios. Todavia, você não era desse tipo de garota. Sequer sabia se Chloe jogava para o seu time, e não faria nada que pudesse deixá-la desconfortável. Você prometeu a si mesma que não daria o primeiro passo.

Felizmente, Chloe não fez a si mesma essa promessa. Você a visitou quando ela retirou os nódulos, e segurou sua mão a noite inteira enquanto ela chorava. Nenhuma das outras garotas sabia disso (nem mesmo Aubrey), assim como não sabiam como Chloe havia dormido em seus braços, ou em como ela acordou no meio da noite e, do nada, acabou com a distância que as separava e a beijou pela primeira vez.

Você pensou que morreria por falta de ar. Os lábios dela se encaixaram no seu como se tivessem sido moldados para se completarem. Os toques dela eram ora suaves, ora urgentes, e faziam com que seu corpo todo formigasse. Você a segurou o mais perto de si possível, absorvendo o momento, aproveitando cada segundo imaginando que isso nunca se repetiria — mas quando ela se afastou, foi apenas para buscar ar. Logo em seguida, ela estava debruçada sobre você, e você sentiu que poderia explodir.

Vocês não se falaram muito depois disso. Afinal de contas, havia toda aquela situação tensa com as outras garotas do grupo, e você não queria admitir para ninguém (nem a si mesma) que precisava delas mais do que elas precisavam de você. Além disso, admitir que gostava de estar lá era o mesmo que admitir uma fraqueza, e você sempre escondeu por trás do sarcasmo e das piadas afiadas, então mostrar qualquer tipo de emoção verdadeira era uma ideia simplesmente aterrorizante.

Mas então, havia Chloe. Chloe e seu sorriso; Chloe e o jeito como ela fazia você se sentir; Chloe e seus olhos azuis; Chloe e seus lábios que te faziam lembrar o beijo, e a deixava maluca todas as vezes que vocês se encontravam porque você estava louca para beijá-la novamente. Porém, no final das contas, foi novamente ela quem deu o primeiro passo. Foi antes de se apresentarem na final, enquanto estavam se arrumando nos bastidores. Ela te puxou para a parte mais escura, atrás de alguns objetos que as escondiam completamente, e se inclinou em sua direção, beijando-a com força.

“Para dar sorte”, ela sussurrou em seu ouvido, e você suspirou quando ela se afastou, deixando-a sozinha e desesperada por mais.

Essa garota ainda vai me enlouquecer, você pensou, observando-a de longe e sentindo um aperto no peito. Você nunca quis ninguém tanto quanto a queria. Você nunca se sentiu assim antes — tão vulnerável, tão dependente. Você nunca imaginou que alguém a faria se sentir desse jeito. Não passou pela sua cabeça, na primeira vez que a viu, que aquela garota linda se tornaria sua ruína (no bom sentido).

Você subiu no palco, e cantou com o coração.

Observando-a discretamente durante a apresentação, roçando seu braço no dela tentando fingir ser um acidente, sentindo sua respiração falhar em alguns momentos — e isso em nada tinha a ver com o esforço de cantar e dançar ao mesmo tempo —, você soube que nunca esteve tão viva. E quando você terminou de cantar, você sorriu.

Chloe estava sorrindo, também. Os olhos azuis dela encontraram os seus. Nenhuma das duas disse uma palavra, mas ela discretamente segurou sua mão, e não a largou quando vocês saíram do palco.

E você gostou muito disso.

~~~

“No que você está pensando?”, Chloe pergunta, abraçando-a por trás.

Você não consegue controlar o sorriso que surge em seu rosto ao sentir o corpo dela pressionado contra o seu. O hálito dela bate em sua nuca, e faz você ficar arrepiada, e você se pergunta se Chloe tem a menor ideia do efeito que os menores de seus atos têm sobre você. Talvez saiba. Talvez ela saiba exatamente como você come nas palmas de suas mãos.

“Em como eu quero te beijar”, você responde, virando-se, ficando de frente para ela e esticando a mão para tocar seu rosto. Ela fecha os olhos e sorri com a sua carícia.

“Bem”, ela sussurra, ainda de olhos fechados, “o que você está esperando?”

Então você se inclina e acaba com a distância que resta entre vocês. Seu coração bate mais rápido no peito, as borboletas voam em seu estômago, e é estupidamente meloso e clichê, mas você o faz mesmo assim. Você sussurra nos lábios dela que a ama.

E ela diz que te ama de volta, colocando a mão esquerda em sua nuca e a beijando com suavidade.

Talvez finais felizes sejam um pouco brega, mas você está extremamente satisfeita por ter conquistado sua própria cota de breguice.