Evolution: Parte 2 escrita por Hairo


Capítulo 19
Cupido


Notas iniciais do capítulo

Para aliviar o clima, vamos para um capítulo mais divertido e em um tom (bem) mais leve do que os anteriores. Espero que curtam, pois a medida que a história avança, fica cada vez mais difícil de achar espaço para capítulos assim...

Boa leitura!



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Capítulo 19 – Cupido

Dave, Mindy, Jake e Eevee acordaram felizes depois de uma noite curta, porém confortável de sono. Os mais velhos saíram de seus sacos de dormir sem pressa, ainda se esticando e bocejando enquanto Jake logo ficou de pé, indo até o pequeno monte de lenha queimada que havia lhes servido de fogueira na fria noite anterior. O sol da manhã ainda estava baixo, sem trazer muito calor e o menino estremeceu com a brisa levemente gelada. Somente aos poucos ele se acostumou com a temperatura.

– Gente, – disse ainda bocejando – Acho que vou dar caminhada para procurar algumas frutas. Querem mais lenha para fazer outra fogueira ou não vamos esquentar nada para o café?

Dave olhou para Mindy sem saber o que responder. Na verdade ele não se importava muito com um café da manha elaborado. Desde que fosse farto, o menino estaria satisfeito. A morena, por sua vez, pareceu raciocinar com dificuldade, ainda tentando fazer com que os mecanismos de sua cabeça voltassem a funcionar de maneira normal depois das horas que haviam passado desligados.

– Ah, Jake, tanto faz – disse ela, desistindo. Ainda sentia seus olhos pesarem e coçou-os com as mãos fechadas – Você decide.

– Apenas frutas hoje, então. Estou com preguiça – disse o menino mais novo. Dando as costas para os amigos, ele sacou uma de suas Pokebolas e liberou sua Butterfree verde – Vamos Butterfree, me faça companhia.

Com isso, ele se distanciou do grupo em direção a um pequeno espaço que continha algumas árvores espaçadas, um pouco mais a frente. Não chegava a ser uma floresta e nem mesmo um bosque, mas parecia ser capaz de prover o necessário para a primeira refeição do dia.

A paisagem que os envolvia era agradável. Uma vasta planície gramada, grupos de arvores como o que Jake estava agora se aproximando se espalhavam até onde a vista alcançava. A estrada cortava a alguma distancia do ponto de onde o grupo havia parado e era a única coisa a distorcer o tom intocado daquele lugar. O toque suave da grama definitivamente significava uma grande melhora, quando comparado ao ambiente árido da viagem até Russet.

Dave e Mindy ficaram para trás e começaram a recolher seus sacos de dormir, alem dos pequenos objetos que eles haviam tirado da mochila na noite anterior. Já havia alguns dias que eles tinham saído de Russet, mas nenhum centro Pokémon fora encontrado. Dave, principalmente pela manhã, ainda sentia falta de suas corridas matinais com Machop, mas tentava afastar esse pensamento cada vez mais, substituindo-os pela idéia de ver o amigo, um dia, com um dos cinturões de campeão presos à cintura.

Outro fator que contribuía, e muito, para que o menino não se sentisse tão mal era a companhia que Mindy havia lhe fazendo. Assim como via em Eevee, o rapaz começou a perceber que a menina parecia conseguir saber quando ele estava se sentindo abalado, e sempre conseguia fazer alguma coisa para fazê-lo se sentir melhor. Fosse uma pequena piada, uma provocação ou um olhar carinhoso e reconfortante, ela sempre parecia saber o que fazer para animá-lo e distraí-lo.

De repente, Dave sentiu uma pequena pedra acertando-o nas costas. Ela não batera com força o suficiente para machucá-lo, mas chamou sua atenção de modo que ele se virou rapidamente, assustado.

– Ai!

– Acordou? – disse a menina, rindo. Seus longos cabelos negros estavam soltos e balançavam suavemente com o vento. Charmeleon, e os dois Nidorans estavam fora das Pokebolas, aproveitando a manhã de sol e temperatura agradável.

– Eu já estava acordado!

– Não parece, ainda nem liberou seus Pokemons... Eles também precisam do café da manhã. –A menina se abaixou para mexer em sua bolsa, tirando de lá um pacote de ingredientes e sentando-se para começar a preparar a refeição Pokémon.

Dave sacou imediatamente as Pokebolas e liberou seu Sandslash e Pidgeotto para que se juntassem ao resto do grupo.

– Bom dia, pessoal. Hora do café!

–Slash!

– Pidgeoo!

Os dois cumprimentaram o garoto, se aproximando para receber a breve caricia de seu treinador. Logo depois foram se juntar a Eevee e aos Pokemons de Mindy, que já estavam entretidos em algum tipo de brincadeira entre eles. O menino observou e ficou feliz ao ver que seus Pokemons estavam se dando tão bem juntos. Esse era um sentimento que ele não esperava ter quando saiu em jornada. Sempre pensando em batalhas, capturas e vitórias, agora ele via o verdadeiro significado que um grupo de amigos como aquele possuía e de repente as insígnias que carregava consigo perderam um pouco do valor. Naquele momento ele sentiu mais uma pontada de saudades de Machoke.

Vendo o amigo perdido em pensamentos Mindy pegou os preparativos da ração e se sentou ao lado dele, cruzando as pernas e apoiando um pequeno pote de barro em formato de cuia entre as elas, enquanto amassava algum tipo de erva contra o fundo. O que quer que fosse, cheirava agradavelmente bem.

– Bom esse cheiro não é? – disse ela, quando seu amigo se virou para vê-la ao seu lado.

– Muito... – respondeu Dave, ainda pensativo.

– Isso é só para dar um gostinho especial na ração. Ela não é muito saborosa, então eu gosto de dar uma incrementada. – explicou sorrindo a menina, fixando seu olhar em seus dois Nidorans, sempre um ao lado do outro – pessoalmente, se eu fosse um dos Pokemons, estaria morrendo de inveja do Machoke. A comida do ginásio deve ser bem melhor...

Dave olhou para a amiga pego de surpresa pelo comentário e não conseguiu responder. Ainda tentava entender como ela sempre parecia ler o que se passava em sua cabeça.

– Ele está bem Dave – completou ela, ainda sorrindo.

– Eu sei – disse ele, apoiando levemente a cabeça nos ombros da menina, que subitamente se concentrou profundamente na árdua atividade de amassar uma erva.

De repente Pidgeotto passou voando perto da cabeça dos dois em alta velocidade, e logo em seguida eles atentaram para Charmeleon, que vinha correndo atrás do pássaro. Com pressa, os dois treinadores se levantaram de um pulo e Mindy deixou cair o pote com as ervas, na tentativa de sair do caminho de seu Pokémon de fogo, que passara exatamente entre eles. Os outros Pokemons riam enquanto observavam Pidgeotto fugindo de Charmeleon. Aparentemente aquilo fora causado por alguma provocação entre os dois Pokemons mais atrevidos do grupo.

– Charmeleon! – exclamou a menina, enraivecida – Olha só o que você fez!

O Pokémon de fogo parou de correr instantaneamente. Ele tinha um talento natural para confusões, mas era capaz de ser incrivelmente obediente quando Mindy se alterava um pouco. Dave não culpava o Pokémon, uma vez que ele também conhecia em primeira mão os efeitos de provocar aquela morena.

– Você não consegue ficar quieto? Olha só todo mundo ali no canto, rindo e conversando! Será que aquilo não ta bom para você não? Tem que estragar a comida?! – pelo visto Mindy havia se estressado um pouco alem do normal, o que Dave estranhou. Derrubar a erva não era motivo para tanto.

– Calma Mindy... - começou ele, mas silenciou-se com o olhar ameaçador que ela lhe lançara. Virando-se então para o assustado Charmeleon, Dave levantou os ombros, como se pedisse desculpas e ao mesmo tempo dissesse que não entendera a reação da garota.

– Meleeon... – disse o Pokémon de fogo, em tom de desculpas.

Um pouco mais atrás Pidgeotto ria, vendo os apuros em que Charmeleon se metera por causa dele. Dave não deixou o detalhe passar despercebido e rapidamente sacou a Pokebola.

– Não pense que vai se safar passarinho abusado. Pode voltar! – disse ele, retornando seu Pokémon, que se assustou com a rápida e inesperada reação de seu treinador. O menino virou-se de costas para a amiga, que ainda praguejava pela erva derramada, e aproximou a Pokebola da boca. – Desculpa parceiro, mas é melhor você ficar ai um pouco. Assim ela não briga nem com você pela confusão e nem comigo por não ter feito nada...

Eevee e Sandslash observavam sorridentes de longe conversando de modo animado. Sendo os dois primeiros Pokemons do grupo, eles tinham desenvolvido um relacionamento mais forte, ajudados também pelo temperamento mais calmo e centrado do Pokémon terrestre.

– Ei, será que da para alguém ai me ajudar?

A voz de Jake havia chegado pelas costas dos amigos e eles se viraram rapidamente, encontrando-o tentando trazer o maior numero de frutas que suas duas pequenas mãos lhe permitiam, utilizando até mesmo a camisa esticada como bolsa. Butterfree vinha trazendo algumas também, enquanto Squirtle andava atrás do menino fazendo malabarismo com duas maçãs e duas peras.

– Tem muita fruta lá atrás! Nós demos muita sorte! – dizia o menino sorridente, enquanto Mindy e Dave corriam para ajudá-lo.

– Ótimo, por que “alguém” estragou o café que eu estava preparando para os Pokemons, e eles também vão ter que ficar na base das frutas... – a menina olhou de soslaio para Charmeleon, que havia voltado cabisbaixo para se juntar a seus companheiros.

– Mas então eu vou ter que voltar lá e pegar mais! Não contei com frutas para todo mundo... – Jake parecia desanimado – Não que o lugar seja chato, tem até um lago pequeninho sabe, bem bonito e tudo. E tem umas flores também. Talvez a gente devesse ter acampado lá, teria sido uma noite muito agradável. Tem uma macieira enorme e repleta de maças bem vermelhas. Olha ai, eu trouxe umas cinco para comer, mas eu não queria ter que voltar lá de novo sabe, eu preferiria... blup!

Cansada de ouvir o longo discurso de seu treinador, Squirtle havia desistido do malabarismo e atingira um forte jato de água no rosto do menino, que havia sido pego de surpresa e caíra sentado no chão, com o rosto encharcado. Mindy, Dave e todos os Pokemons caíram instantaneamente na gargalhada, o que fez com que Jake ficasse vermelho de raiva.

– Squirtle! Você sabe que eu não gosto de ficar molhado assim! Eu vou acabar doente como a minha mãe sempre fala! – disse o garoto mais novo, sacando a Pokebola de Squirtle. Antes que ele pudesse apontá-la para a tartaruga, porém, ela atingiu-o mais uma vez, fazendo com o garoto deixasse a esfera vermelha e branca cair de suas mãos molhadas. Rapidamente, ela correu e catou o objeto da grama, enquanto o menino ainda secava os olhos.

Ainda rindo, Mindy estendeu a mão para o amigo caído, que aceitou a ajuda da menina de bom grado. Seu rosto ainda estava vermelho, parcialmente pela raiva de sua Pokémon atrevida que agora ria com os outros Pokemons, fazendo malabarismo com sua Pokebola, e parte por estar segurando a mão da menina morena que o visitava em sonhos desde de a fatídica noite em que ele acidentalmente a vira sair do banho.

– Pode ficar ai Jake. Só me mostra onde é, que eu vou lá com o Dave... – disse ela, sorrindo. Dave, por um momento, arregalou os olhos assustado pelo que a menina havia dito, e seu coração disparou. Já o menino mais novo parou de sorrir ao ouvir a sugestão.

– É logo ali na frente – disse, apontando para um pequeno conjunto de arvores – mas eu não queria ficar aqui sozinho...

– Mas todos os Pokemons vão ficar com você – disse Mindy, sem entender a súbita necessidade de companhia do garoto.

Ainda com o coração acelerado, Dave olhava para a conversa dos dois sem saber o que fazer. Por que subitamente ficara tão nervoso com a possibilidade de ficar sozinho de novo com Mindy? A gente tava aqui ainda há pouco e eu não estava assim...

– Mas Jake... – tentou continuar Mindy.

– Poxa sou sempre eu que saio sozinho de manha. Quando chego vocês já arrumaram tudo e já estão dando comida para os Pokemons. Eu nunca fico aqui conversando com vocês sabe, eu...

– Tá bom, tá bom! – apressou-se a dizer a menina, prevendo mais um dos longos discursos do amigo – sem esse discurso sentimental ok? Então eu vou e o Dave fica ai não é Dave?

Ouvindo a menção de seu nome, o menino de Grené acordou de seus próprios pensamentos e se deparou com o rosto da menina revirando os olhos para ele. Os seus cabelos estavam soltos e caiam por cima dos ombros contrastando com a jaqueta vermelha e a pele pálida. Ele reparou então nos olhos da menina que tinham um tom castanho claro que lhe lembrava um pouco o mel, só que um pouco mais escuros. Ele a achou surpreendentemente estonteante e, de repente, se viu admirando a amiga como não costumava fazer.

– Ei, Dave! – disse ela, estalando os dedos – Acorda!

– Ãh?! O que? – disse ele, assustado.

– O seu Pidgeotto! Me empresta?

– O meu Pidgeotto? Para que?

– Ora, eu até poderia subir nas arvores para pegar as frutas, mas acho que um Pokémon voador seria bem mais prático – disse a menina em um tom irônico.

– Ah, sim... As frutas – disse o rapaz, finalmente revivendo em sua mente toda a conversa que ele havia presenciado, mesmo sem prestar atenção – Fique tranqüila, eu posso ir lá.

– Ué, não quer me emprestar o Pidgeotto? Por quê? – perguntou intrigada a menina.

– Depois do jeito que você falou com o Charmeleon, acho que não sou que não quero emprestar o Pidgeotto. Ele que não ia gostar de ser emprestado... – respondeu ele, provocativo, enquanto a menina olhava-o em tom de brincadeira– Deixa comigo, pode ficar aqui.

Mindy sorriu reconhecendo a solicitude e a gentileza inesperada do rapaz, sempre tão acomodado. Por um momento o seu coração também acelerou, mas ela rapidamente se controlou.

– Só não demora muito ok? Todo mundo está com fome... – disse ela em tom forte, enquanto o menino se afastava lentamente em direção ás arvores mais a frente.

******

Já mais distante dos amigos, Dave liberou seu Pidgeotto da Pokebola para lhe fazer companhia.

– Desculpe por ter te recolhido, mas eu te salvei daquela lá...

– Pidge! – disse o Pokémon, voando em volta do treinador e sorrindo.

– Agora a gente vai até ali na frente, pega umas frutas e pronto. Você é o herói da manhã e ela nem vai lembrar do que aconteceu...

– Uee – disse uma voz conhecida atrás do rapaz.

Ele rapidamente se virou e se deparou com seu Eevee, que o seguia correndo. Mindy e Jake já estavam a mais de 200 metros de distancia e Dave já se aproximava do pequeno conjunto de árvores. O Pokémon marrom chegou mais perto e o menino reparou que ele arrastava a bolsa preta de Mindy vazia pelo cão.

– Eevee? O que você ta fazendo aqui? Isso é a bolsa da Mindy?

– Uee – O Pokémon largou a bolsa ao pé do treinador e pulou para seu ombro, acenando positivamente com a cabeça.

– Mas por que você trouxe isso? E onde estão as coisas dela?

Eevee olhou para o rosto de Dave incrédulo e balançou negativamente a cabeça, como se não acreditasse no que o rapaz estava lhe perguntando. Pidgeotto dava breves risadas no ar, enquanto observava o rosto perplexo do menino olhando para a bolsa vazia. Aproveitando que o zíper estava aberto, o pássaro resolveu dar uma pequena dica para seu treinador. Pousou no chão, pegou uma pequena pedra com o bico e voou por cima do garoto, deixando a pedra cair dentro da mochila.

– Claro! – exclamou o garoto, entendendo o que seus Pokemons lhe diziam – a gente pode carregar mais frutas na bolsa!

Ainda rindo Pidgeotto pousou no outro ombro de Dave e lhe deu uma fraca bicada na cabeça do menino, provocando-o. Eevee também ria abertamente.

– Ai! - Ele coçou a cabeça no local onde seu Pokémon o havia bicado - Eu devia ter deixado você vir com a Mindy sabia – Pidgeotto parou de rir assim que ouviu a ameaça do menino. Eevee riu ainda mais.

O trio de amigos seguiu caminhando por mais alguns minutos até que entrou no pequeno amontoado de arvores onde que Jake havia colhido as frutas. Realmente era um lugar incrivelmente bonito para estar tão próximo de uma estrada. Sob o céu azul anil daquele dia, o cheiro de grama recém orvalhada pelo sereno da noite anterior era hipnotizante. As poucas árvores espaçadas cresciam altas, quase em um circulo perfeito que envolvia quem ali entrasse de tal modo que era possível acreditar estar no meio de uma singela clareira de uma silenciosa floresta. Pelo espaço entre os troncos podia-se ver a imensidão verde que se estendia na grande planície gramada que era cortada pela estrada pouco movimentada. No centro do circulo, como um atrativo especial, um pequeno lago circular de água límpida parecia surgir do fundo da terra. Não muito largo, ele mais parecia uma grande poça funda. Algumas poucas flores de colorações variadas cresciam aos pés dos grandes troncos e davam um toque de acabamento a uma paisagem que parecia sair diretamente sonhos.

Eevee pulou do ombro de seu treinador, sorrindo com o ambiente agradável que encontrou e correu para beber a água límpida do lago, enquanto Dave deixava-se cair sentado aos pés de uma grande macieira. Tomou cuidado para não amassar uma das flores que crescia ali e virou seu rosto instintivamente para o local onde os seus amigos estavam ao longe.

De repente, uma maçã lhe acertou com força na cabeça.

– Ai! – exclamou ele, olhando para cima e vendo seu Pidgeotto fitando o vazio a sua frente, pousado no galho imediatamente acima de onde Dave sentara – Até parece que eu vou acreditar que foi o vento que derrubou isso! – Pidgeotto permaneceu imóvel, como se não soubesse que Dave estava falando com ele, mas não conseguiu segurar um breve sorriso. Dave riu do amigo, ainda coçando a cabeça e abriu a mochila vazia ao seu lado – Veja se faz alguma coisa de útil e acerte as maçãs na mochila. E se uma delas cair na minha cabeça de novo você vai ver quantas vão sobrar para você comer.

Ainda com a mão na cabeça, o menino voltou a olhar para o grupo de amigos ao longe. Mais especificamente, ele se focou na silhueta vermelha de longos cabelos pretos que estava sentada fazendo carinho em um Pokémon azul, que ele deduzia ser sua Nidoran. De longe, ele conseguiu distinguir o pequeno Jake deitado do lado da amiga, mas ela não parecia prestar atenção nele. Provavelmente está falando de mais... Concluiu o menino. Eevee voltou do lado e pulou para o colo de seu treinador, se aninhando. O menino pegou da grama a mesma maçã que acabara de cair em sua cabeça e deu uma mordida, em seguida abaixando-a para seu Pokémon.

– Uee – agradeceu ele, mas o olhar do rapaz ainda estava preso na menina ao longe.

– Sabe Eevee, teria sido legal se a Mindy tivesse vindo comigo – lamentou-se ele – Esse lugar é lindo.

O Pokémon em seu colo sorriu apreensivo, mas evitou olhar para o menino e se focou na maça que segurava com as duas patas dianteiras, enquanto comia. Ele esperava ansioso pela conclusão do pensamento.

– Eu dei muita sorte de esbarra com ela não acha? Quer dizer, ela é neta do Professor Noah, é uma ótima treinadora e ainda por cima é linda... – A ultima palavra fez com que ele segurasse a respiração, como se tivesse deixado escapar uma coisa que não pretendia. Linda? Pensou ele. Linda sim, realmente...

Eevee sorriu em seu colo e propositalmente deixou escorregar a maçã de suas mãos, fazendo-a cair no chão e rolar, parando ao lado de uma pequena flor. Dave pareceu nem perceber, ainda perdido no espanto de sua ultima conclusão, e então Eevee rolou os olhos e o cutucou com uma das patas.

– Uee – disse ele apontando para a maçã, que estava ao alcance da mão do menino.

Quando o rapaz olhou para a fruta, já comida até a metade, ele percebeu a peculiaridade da flor que crescia ao seu lado. Em um fino porem firme caule verde escuro, as pétalas vermelhas da flor se levantavam em um formato que lembrava a mistura entre uma rosa e uma tulipa. O tom de vermelho era forte como o do casaco de sua amiga, mas, no topo das pétalas, com uma delineação irregular, uma borda amarelo-vibrante fazia com que a pequena flor lembrasse uma pequena chama, ardendo com força no topo do caule.

Dave nunca havia visto uma flor como aquelas e ficou encantando por alguns segundos, admirando-a. Sem pensar duas vezes, o rapaz esticou a mão e pegou a pequena planta, destacando-a do chão levemente, sem danificar o caule, e levantou os olhos de volta para a amiga. Linda, de verdade... concluiu ele, com um sorriso.

Eevee se levantou de seu colo e deu dois pequenos passos, para se deitar novamente ao lado da maçã e continuar a comê-la. Seu treinador, percebendo o movimento, voltou a olhar para ele. O Pokémon marrom continuou deitado, mastigando a última mordida da maça, mas tinha um pequeno sorriso de satisfação no rosto que Dave imediatamente entendeu. Sem mais, o rapaz apenas guardou a flor cuidadosamente no compartimento lateral da bolsa da menina, e, sorrindo, disse:

– Obrigado, amigo.

Assim que disse isso, o menino sentiu Pidgeotto pousando em seu ombro e bicando de leve sua orelha.

– Ai o que foi dessa vez?! – exclamou ele, mas o pássaro rapidamente abriu uma das asas e a pressionou contra a boca do menino, abafando o som alto que ele produzira.

Sem entender, Dave encolheu os ombros, como se perguntasse por que deveria ficar quieto. Pidgeotto então tirou a asa da frente da boca de seu treinador a apontou para a outra margem do pequeno lago. Ali, caminhando em cima de seus dois pequenos pés pela borda e aparentemente observando a água, o garoto viu uma pequena criatura arredonda e azul que tinha uma cauda que lembrava um pequeno girino. Sua pele parecia bastante úmida e ele tinha uma pequena boca rosa, bem acima de uma estrutura em espiral na sua barriga. Arregalando os olhos com a oportunidade que se apresentava para ele, Dave arrependeu-se de ter deixado sua Pokedex em sua mochila no acampamento enquanto se levantava sem fazer muito barulho.

Pelo que o garoto lembrava aquilo era um Poliwag e eles eram Pokemons que se assustavam facilmente. O pássaro continuava no ombro de seu treinador, que fez um sinal mandando que Eevee continuasse parado onde estava. O Pidgeotto vai ser mais útil nessa luta pensou ele.

– Comece com um ataque rápido forçando ele para longe do lago. Se ele conseguir mergulhar, não vamos mais consegui achá-lo – ordenou Dave, quase em um sussurro para o amigo em seu ombro.

Pidgeotto então bateu as asas com suavidade e partiu em alta velocidade, em um vôo rasante por cima do lago, quase encostando com uma das patas na água. Quando o pequeno Pokémon aquático percebera o que estava acontecendo, já era tarde de mais. Ele foi atingido pelo ataque do pássaro e caiu alguns metros para trás, enquanto Pidgeotto ganhava altura novamente.

– Se posicione bem acima da borda do lago, Pidgeotto! – gritou Dave, enquanto corria em volta do lago para se aproximar da batalha.

Poliwag rapidamente se levantou ainda atordoado pelo que lhe ocorrera, e correu em direção à água, tentando fugir da luta. Mas Dave tinha outras idéias.

– Agora, ventania!

Quando o Pokémon azul se preparava para saltar na água, foi pego de surpresa pela forte rajada de vento que seu adversário produzia e sentiu-se jogado para trás, batendo de costas em uma das arvores e caindo no chão.

– Poli! – exclamou ele assustado, enquanto se levantava com dificuldades. Dave ainda completava a volta pelo lago, que agora lhe parecia mais largo do que antes. Pidgeotto mantinha sua posição acima da margem, o que deixava claro que se Poliwag quisesse fugir por ali, teria que lutar.

Se aprumando, o pequeno Pokémon de água encarou longamente seu oponente voador e lançou um ataque de bolhas, enquanto corria em sua direção.

– Pidgeotto, evasiva e ataque de asas! – ordenou Dave. O pássaro obedeceu e se desviou das bolhas lançadas pelo seu oponente, partindo em seguida a uma grande velocidade de encontro a seu adversário. Com os olhos arregalados, o pequeno girino pulou para o lado, mas fora atingido de raspão em sua pele frágil, sendo derrubado novamente e rolando duas vezes no chão. Dave sacou imediatamente uma Pokebola, mas o Pokémon azul rapidamente voltou a ficar de pé, aparentemente decidido a continuar na batalha. O menino de Grené não pôde deixar de admirar a valentia daquela criaturinha.

Pidgeotto havia voltado a sua posição original, guardando a borda do lago e Poliwag observa-o cuidadosamente, estudando seu próximo movimento. De repente, o pequeno se concentrou e seus olhos brilharam com um leve tom de azul, enquanto de sua barriga espiralada ondas circulares começaram a ser emanadas na direção de seu oponente. Dave precisou de alguns segundos para reconhecer o que estava acontecendo. Ele está usando a hipnose!

– Pidgeotto, rápido, se afaste do alcance dessas ondas! – ordenou o treinador, sendo pego de surpresa pela primeira vez. Estava cada vez mais impressionado pelo Pokémon aquático. Pidgeotto ganhou altura rapidamente, fugindo do movimento do oponente.

Tendo atingido o seu objetivo e finalmente liberado o caminho até a água, Poliwag interrompeu o ataque e resumiu sua corrida para mergulhar no lago. Dave voltou a ordenar um ataque rápido, mas não estava certo de que iria dar tempo, uma vez que Pidgeotto estava agora a uma distancia relativamente grande do pequeno Pokémon, que corria em direção ao lago. A ave mergulhou dos céus a máxima velocidade que conseguia atingir, mas ainda restavam duvidas se ele conseguiria, pois Poliwag já se preparava para saltar na água. Quando, porém, o Pokémon girino pegou impulso contra o chão, o ataque do adversário o atingiu pelas costas, lançando-o alto em direção à superfície límpida e intocada do lago.

O alvo foi jogado mais a frente e estava prestes a cair na área central do lago, supostamente a mais funda, quando Dave, com um movimento de puro reflexo, lançou sua Pokebola. Ela bateu em Poliwag e o sugou para dentro em um raio vermelho, mas em seguida caiu na superfície da água e, lentamente, afundou.

– Rápido, não a deixe sumir! – ordenou Dave, e seu Pidgeotto rapidamente deu um breve mergulho, como uma águia que caça um peixe. Não chegou a afundar todo o corpo, imergindo apenas a parte de baixo de seu dorso e as suas patas esticadas, buscando a Pokebola que ainda vibrava. A calmaria daquele pequeno e bonito refúgio parecia ter sumido e agora o barulho da água agitada ecoava no grande círculo de árvores enquanto Dave e Eevee, do outro lado do lago, observavam apreensivamente o pássaro que mais uma vez fazia esforço para levantar vôo.

O breve segundo que Pidgeotto passou na água parecia não acabar até que finalmente Dave viu nas patas de seu Pokémon uma Pokebola sendo carregada com dificuldades. Ela ainda tremia muito e ele não acreditava como a ave estava conseguindo segura-la em suas patas. Com um imenso suspiro de alivio e gratidão ao seu amigo, ele correu para a borda em que Pidgeotto se aproximava, pingando.

Quando estava quase chegando à terra firme, porém, com uma forte agitação da Pokebola, o pássaro arregalou os olhos enquanto sentia a superfície lisa e esférica escorregar mais uma vez de suas garras. Vendo enquanto a bola se soltava das garras de seu Pokémon e se projetava mais uma vez para a água, Dave, agora bem no limite que separava a grama da superfície do lago, deu um salto e pegou a Pokebola vibrante no ar, com um dos braços esticados.

Apenas depois de ter a esfera segura nas mãos ele percebeu o que fizera e se preparou para a queda. Com um grande estardalhaço, ele afundou no lago com um firme aperto na Pokebola em suas mãos. Para sua surpresa e felicidade, entretanto, ele encontrou o chão sem dificuldades e, quando ficou de pé, viu que a água batia apenas em seu peito. Felizmente, ele estava na borda do lago e a profundidade não era tão grande.

Encharcado e com as roupas completamente molhadas ele sentiu a bola que prendia Poliwag finalmente se aquietar em sua mão, emitindo o som característico que indicava a captura. Olhando incrédulo do seu estado molhado, para a Pokebola em sua mão e, em seguida para seus dois Pokemons, que pareciam ter prendido a respiração quando o menino pulara na água, Dave não conseguiu evitar a gargalhada de felicidade que lhe ocorrera e, rindo e pingando, ele saiu do lago com um novo amigo em suas mãos.

******

Mindy tinha ambas as mãos na cintura enquanto olhava impaciente para o amigo que voltava com sua bolsa preta nos ombros, conversando feliz com Eevee e Pidgeotto. Quando o menino finalmente chegou próximo o suficiente para ouvi-la, ela se apressou em ralhar com ele.

– Qual foi a parte de “não demora que está todo mundo com fome” que você não entendeu?! – perguntou a menina, já de cabelos presos em seu costumeiro rabo de cavalo, visivelmente irritada – se você não tivesse enrolado lá nós já podíamos estar na estrada!

– Calma, Mindy. Eu não demorei tanto assim vai... – disse Dave, se aproximando mais da menina e lhe estendendo a bolsa pesada, cheia de maçãs. Só então ela percebeu que as roupas do amigo estavam encharcadas.

– O que aconteceu com você? O que você estava fazendo lá? – perguntou intrigada.

Com um enorme sorriso, Dave sacou uma Pokebola do cinto e mostrou para a amiga – Eu estava fazendo isso aqui – e liberou seu Poliwag.

– Poli, poli!

– Nossa um Poliwag! – exclamou Jake, se levantando do lugar onde estivera deitado na grama e vindo de encontro ao mais novo membro do grupo. Poliwag, assustado com a atitude do menino mais novo, correu para as pernas de seu treinador, que se abaixou para acariciar-lhe a cabeça.

– Calma – disse Dave – ele é bem tímido sabe. Tive que ficar um bom tempo conversando com ele para se acostumar comigo.

Mindy não esperava pela noticia de uma nova captura, mas olhava com carinho e admiração para a cena de Dave acariciando o pequeno Pokémon. Vendo o cuidado que o menino demonstrava, seus olhos chegaram a brilhar. Sacudindo a cabeça como se para acordar de um transe ela tentou disfarçar o momento e voltou a ralhar com o grupo.

– Bom, chama o Charmeleon para te ajudar a se secar. Mas cuidado em, se eu fosse ele eu te queimava por ter me deixado com fome por tanto tempo.

Dave sorriu e se encaminhou para o Pokémon de fogo, que agora estava deitado relaxado, aparentemente conversando com seu Sandslash.

– Venha Poliwag. Deixa eu te apresentar para o resto do pessoal... –E, com isso, ele se afastou, sendo seguido por seu Poliwag e por Jake, ansioso por conhecer melhor o novo Pokémon do grupo.

Eevee por outro lado se aproximou da menina, que agora se sentava sozinha abrindo a bolsa cheia de maças e sacando uma para comer, sentindo sua barriga roncar. Ele se aconchegou inocentemente ao lado dela e puxou o zíper, abrindo um dos bolsos laterais da mochila preta da amiga e sacando uma das maçãs de lá, dando mais uma mordida.

– Muito bem! – exclamou a menina, ainda mastigando a última mordida da maçã – Fiquei aqui pensando se o Dave ia ser inteligente o suficiente para usar os bolsos laterais e trazer ainda mais frutas. Parece que ele não é tão inútil assim não é?

Ela então pegou a bolsa para chegar e viu que apenas o bolso que Eevee abrira estava cheio. Estava bom de mais para ser verdade... Pensou ela. Como pode ele encher só um dos bolsos?! A menina puxou o zíper e abriu o compartimento aparentemente vazio, apenas para confirmar o que ela julgava já saber, mas quando olhou para o que estava ali dentro, engasgou com o vestígio de maçã em sua boca.

Ali, intocada e perfeita, descansava a flor que Dave colhera pensando na menina. Ela a pegou nas mãos, extasiada pela surpresa, e ainda sem respirar olhou para o menino que agora sentava próximo a cauda flamejante de Charmeleon. Observou então com cuidado as pétalas que pareciam ardem em chamas da flor inacreditavelmente bela em suas mão e sorriu, sentindo-se corar como nunca. Ela segurou a lágrima de emoção que fazia força para cair e levou a flor ao nariz, inspirando para sentir o aroma forte e agradável que ela emanava, ainda sem saber o que pensar. Ela nem ao menos percebia, mas o sorriso em seu rosto era o maior que ela já dera na vida.

Enquanto isso, Eevee também sorria feliz deitado ao lado da menina, enquanto saboreava cada mordida de sua maçã. O Pokémon estava incrivelmente satisfeito consigo mesmo. Finalmente, tudo estava ocorrendo como ele planejara.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Tomara que tenham curtido.

Espero vocês nos cometários



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