Marlene finalmente olhou pelo que deveria ser a centésima vez para o relógio e suspirou aliviada, faltavam cinco minutos para o final de expediente.

Pegou suas roupas e foi trocar o uniforme da galeria. Normalmente enrolaria até o último segundo para sair do trabalho, simplesmente amava ficar ali, Mas hoje tudo o que queria era voltar pra casa e se esconder debaixo das cobertas (não que fosse admitir isso em voz alta)

Fechou a galeria e seguiu em direção ao carro, com a cabeça a quinze milhas de distância.

Será que conseguiria terminar sua vingança? Querendo ou não Sirius Black ainda a afetava, teria força pra continuar?

Sua mente estava tão longe que sequer notou a aproximação de Black, até que ele estava a um passo de distância

—Pensando em mim doçura?- ele murmurou perto de seu ouvido, abraçando-a por trás

Apesar do susto Marlene conseguiu dar uma risada de escárnio

—Sonhe meu querido, sonhe...- se debateu, tentando livrar-se, mas o garoto era muito mais forte que ela

—Pode deixar que eu vou sonhar- ele encostou a boca em seu ouvido- Admita que me quer baby, podemos acabar logo com essa brincadeira de gato e rato aqui mesmo. Basta dizer

Seus hormônios tomaram o controle, e toda sua ele se arrepiou. A parte racional de seu cérebro gritava para ela deixar de agir como uma adolescente estúpida e fazer alguma coisa. uma ideia se formou. Se fosse um desenho animado teria uma lâmpada sobre a cabeça dela

—Black.- disse com a voz controlada- Me solte. AGORA.

—Ou o que baby?- ele desafiou, apertando ainda mais seus braços na cintura dela

Ela tomou fôlego

—SOCORRO! SOCORRO! TARADO! ALGUÉM ME AJUDE!!- várias pessoas na rua se viraram para olhar, uma mulher pegou o celular rapidamente e fez uma ligação. Um adolescente de skate começou a gravar

—Você é louca garota?! Pare de gritar!

—Ei cara! solte ela!- um homem de terno gritou e começou a correr na direção deles

—ALGUÉM!! SOCORRO! ELE ESTÁ TENTANDO ME AGARRAR!!

Completamente em choque Sirius soltou a garota. O homem de terno segurou os braços de Sirius nas costas.

—Você tá bem moça?- ele perguntou

—S-sim... acho que sim- Marlene fez cara de vítima. Mas gargalhava por dentro- Ele... ele veio do nada e tentou me agarrar. E entrei em pânico e...

Sirius finalmente saiu do estado de choque e tentou se livrar do homem que o segurava

—VOCÊ É LOUCA GAROTA?? ME SOLTA CARA! EU NÃO FIZ NADA!!

—Não até a polícia chegar mocinho- o homem de terno o segurou firme

Como que esperando a deixa, um carro da polícia parou ao lado deles no estacionamento

—O que está acontecendo aqui?- um policial saiu da viatura e andou até eles, Marlene se encolheu atrás dele, como se estivesse com medo de Sirius

O cara de terno que segurava Sirius foi o primeiro a falar

—Ao que parece a mocinha estava vindo pro carro e ele tentou agarrá-la

—NÃO FOI BEM ASSIM!- Sirius respirou tentando se acalmar- olha, foi tudo um tremendo engano, eu conheço ela, estudamos juntos. Eu só... quis dar um susto nela.- forçou uma risada e olhou desesperado para a morena, ainda meio escondida atrás do policial- Funcionou até demais não é?

Todos olharam para Marlene, esperando a resposta. Marlene queria gargalhar, mas manteve a expressão assustada no rosto, nunca achou que as aulas de teatro na sétima série seriam úteis até aquele momento

Ela arregalou os olhos numa perfeita expressão de medo e balançou a cabeça

—Não, eu nunca o vi antes na minha vida

...

—Droga, droga, droga!- Remo repetia e se deixava levar pelos pés, sem pensar aonde ia. Passava a mão nos cabelos e ajeitava o óculos compulsivamente- Óbvio que ela tinha um namorado! Que burro! Até parece que uma garota daquelas iria estar sozinha!

Uma senhora segurando um poodle o olhou de cara feia, ele forçou um sorriso para ela

A cena não parava de se repetir na sua cabeça. Logo após praticamente despachá-lo e correr dele, Remo (ainda com o queixo no chão, tanto pela dispensa quanto por descobrir que sua atual paixonite é irmã da sua ex-paixonite) viu a garota entrar correndo e abraçar um cara em idade de faculdade que rodou ela pela sala. Óbvio que ele era o namorado dela

—Burro!- repetiu para si mesmo pela centésima vez- Burro! Por que ela iria querer algo com você? Sua fama é a única coisa que atrai garotas, é só isso que elas querem....

Tropeçou em uma falha na calçada e caiu no chão, ralando os joelhos da calça de uniforme que ainda vestia e rasgando o tecido no antebraço esquerdo, o corte extenso porém não muito fundo começou a sangrar imediatamente

—Porcaria. Nem andar direito eu...- Parou abruptamente de falar. Uma pequena mão no cimento estava exatamente ao lado de sua mão direita. A palavra "REMO" estava escrita com letras desiguais e infantis. Levantou-se e olhou para trás, apenas para obter a confirmação: estava em frente a sua antiga casa. Deu alguns passos para frente sem pensar. Era realmente sua casa

—O que está fazendo aí garoto? Saia da frente da minha casa!

Uma mulher saiu da casa, vestindo um roupão cor-de-rosa, segurando um cigarro com os lábios e uma vassoura nas mãos, como se estivesse prestes a varrê-lo de sua calçada. Reconheceu os cabelos cor de palha desgrenhados imediatamente.

—Não ouviu? Saia daí garoto, antes que eu ligue pra polícia!- Ela ameaçou novamente, erguendo a vassoura- Você não é o primeiro que...

Remo evitou contato visual. Talvez ela não o reconhecesse, mudara muito nesses anos todos

—Ok, desculpa, já estou indo embora...

—Remo?- o cigarro caiu da boca dela

Remo lhe lançou um sorriso amarelo

—Oi mãe.

...

Ainda meio atordoado James desceu as escadas. A imagem dos seios fartos e da cinturinha fina da ruiva não saiam de sua mente. Não pode deixar de imaginar aquelas pernas tornedas ao redor de sua cintura, os seios nus em sua boca, enquanto ele...

Balançou a cabeça para afastar o pensamento. "Droga!O que estou fazendo? Ela nunca sequer beijou um cara!"

—Encontrou ela?- Helena esperava na base da escada

—Não

Ela juntou as sobrancelhas

—Ué? Mas eu disse exatamente aonde ficava seu quarto...

—Digo, achei o quarto- engoliu em seco, se sentindo mau pela mentira- Mas ela não estava lá

—Que estranho... Vou procurá-la. Pode ir indo pra cozinha querido, eu já desço com a Lili

James assentiu e foi para a cozinha.

—Jay-Jay!

Segurou-se para não franzir o nariz diante da voz aguda da irmã de Lilian. Begônia? Margarida? Por que as duas tinham nome de flor?

— Que demora! Achei que tinha esquecido de mim...- ela disse com voz melosa e fez um biquinho

James forçou um sorriso, ela que apontou para uma cadeira praticamente grudada com a dela

—Sente-se!

Ele se dirigiu a cadeira, a imagem de Lili semi-nua parecia estar grudada na parte interior de suas pálpebras, pois a via cada vez que piscava.

—E aí? Como vai a banda? Sabe, eu sou a maior fã d' Os Marotos por aqui. Conhece as Marotas?

Acenou positivamente. Sim, ele conhecia, foi o primeiro fã clube da banda, era o maior e o mais histérico. De longe seu menos favorito, as garotas de lá eram loucas.

—Eu sou a presidente! Fui eu quem fundei!

Ela olhou para James e sorriu, como se esperasse que ele fosse bater palmas e fazer uma reverência para ela ou algo assim. Ele apenas a encarou, sem saber se dizia obrigada ou se saia correndo

Felizmente Helena escolheu aquele momento para chegar, sendo seguida por uma Lilian completamente vestida, mas parecendo meio contrariada, como se não quisesse descer

—A Lilian tinha ido ao banheiro quando você foi buscar ela, por isso você não a achou James

James encarou Lilian, que corou feito um pimentão. Aparentemente não gostava de mentir para a mãe

Petúnia olhou de James para Lilian, desconfiada. Helena notando o clima tenso bateu palma, chamando a atenção de todos

—Vamos comer antes que esfrie! Ninguém merece comida fria!

Sentou-se de frente para Petúnia e Lilian sentou no último lugar restante, de frente de James

Serviram-se e durante uns cinco minutos tudo o que se ouvia era o barulho dos talheres batendo nos pratos

—Então... James, como você e Lilian viraram amigos?- Helena olhou para o rapaz e estreitou os olhos

—Somos parceiros na aula de biologia

—Eles não são amigos!- Petúnia disse com voz estridente

Lilian murmurou para o próprio prato algo que soou como "Somos sim"

Petúnia fulminou a ruiva com o olhar

—Fico realmente feliz que Lilian esteja fazendo novos amigos- Helena continuou, feliz, sem notar o clima tenso que se instalara- ela costuma ser muito tímida, é dificílimo ela fazer amigos, ainda mais trazê-los para jantar...

—Tecnicamente eu não o trouxe. Você que o convidou- Lilian murmurou, mas foi ignorada pela mãe

—... Na verdade ela só tem amigAs- Helena destacou o "a" para enfatizar que era só mulheres- E são só duas, garotas adoráveis, elas são. Mas vamos combinar, uma mulher precisa de homens, se é que você me entende...

Piscou cúmplice para James, que riu e concordou com a cabeça

—Você só fala de Lilian mamãe, também sou sua filha- Petúnia fez biquinho, como uma criança mimada- e posso ser considerada mais amiga de James do que essa ruiva aí, conheço mais do Jay-Jay que ela... Você está fazendo de novo mamãe! Falando bem só de Lilian! Só por que ela é a caçula da família... Viu Jay-Jay? Minha mãe gosta mais de Lilian, você é mais meu amigo do que dela não é?

Ela agarrou-se ao braço dele, e James conteve o impulso de afastá-la. Que garota mimada! O modo como chamou Lilian de "essa ruiva aí", como se lamentasse o fato dela ser sua irmã o causou nojo. Como alguém poderia tratar tão mau uma garota tão delicada como Lilian?

—Claro que não Túnia, você sabe que é a minha favorita...

Lilian apenas abaixou a cabeça e respirou fundo, como se isso fosse uma cena recorrente, e já estivesse acostumada. Ao ver aquela cena James não se aguentou e saiu em defesa da ruiva

—Na verdade, eu me considero mais amigo de Lilian.- James soltou Petúnia de seu braço delicadamente- Ela foi a primeira garota em Hogwarts com quem eu realmente conversei. Não é Red?

Abaixou-se um pouco para capturar o olhar da ruiva a sua frente. Ela arregalou os olhos para ele, como se não acreditasse nas palavras do garoto. Ele lançou um sorriso carinhoso para ela, que sorriu timidamente e acenou positivamente

—Argh!- Petúnia levantou da mesa bruscamente, quase derrubando a cadeira- VOCÊ ESTRAGOU A MINHA VIDA LILIAN! QUERIA QUE NÃO TIVESSE NASCIDO!

Petúnia saiu correndo e subiu as escadas, com as mãos em frente ao rosto, como se chorasse

—Petúnia! Espere! Tenho certeza que James disse isso só pra não deixar sua irmã triste. Que tal nós comprar aquela camiseta dos Marotos que você viu semana passada, um passeio mãe e filha, só nós duas...

James assistiu boquiaberto Helena seguir a filha mais velha e deixar Lilian sozinha.

—Que garota mimada! Ela é sempre assim?- James olhou para Lilian, que tinha os olhos verdes excessivamente brilhantes, como se estivesse prestes a chorar. Mas ela apenas deu de ombros e encarou a lasanha já fria em seu prato.

Estava prestes a levantar-se e abraçar a ruiva quando seu celular tocou. Franziu a testa, eram poucas as pessoas que tinham seu número pessoal, apenas seus pais, seu agente, Remo e Sirius, e eles quase nunca ligavam.

Pegou o aparelho e "Número Desconhecido" brilhou na tela. Olhou para Lilian ainda concentrada na lasanha em seu prato

—Vou atender, só um instante

Ela acenou para a comida e ele tomou isso como um sim

—... Ele é meu irmão. Meu pai deve estar numa reunião ou algo assim

—Alô?

—James? Cara, graças a Merlin você atendeu! Acho que não iam me deixar fazer uma terceira ligação...

—Sirius?- saiu da cozinha- Onde você tá? Cadê o seu celular?

—Os guardas pegaram, Prongs, acredita nisso?

—Guardas? Onde você está Sirius?

—Na delegacia

—Delegacia? O que está fazendo aí?

—Vim tomar um chá- respondeu, a voz escorrendo ironia— Liguei pra convidar você

—Você foi Preso?!

—Injustamente, se quer saber

—Por que?

—Eu... Isso não vem ao caso. Ligue pro papai, diga para ele trazer uns advogados. Antes que a mídia descubra. Tenho que ir. Venha logo!

—Sirius!

TU TU TU TU TU...