O Reflexo escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que eu não posto há séculos. Talvez pela falta de tempo? Talvez. Talvez pela falta de comentários. Talvez. Mas, o que interessa, é mais esse capítulo, que marca o fim da primeira fase.



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Eu não vi Reflexo durante o restante do dia. Fui acordado cedo por meus pais para ir ao tal psicólogo. Eu pensei em protestar minha insatisfação, mas sabia que isso só pioraria as coisas. Então eu fiquei quieto, mas sem aceitar a injustiça que estavam me fazendo. Que raiva dos meus pais...

E que raiva de Reflexo! Por que ele havia sumido? Ele havia feito eu parecer um louco, uma criança problemática. Mas eu era muito normal. Reflexo tinha estragado tudo simplesmente por ter vergonha de conhecer meus pais. Eu nunca o perdoaria.

Meus pais entraram na sala do psicólogo, que na verdade era uma mulher. Dra. Marisa Castro. Eu esperei aflito enquanto eles estavam dentro da sala, provavelmente falando sobre como eu tinha enlouquecido. Eu tinha vontade de gritar e de correr dali. Mas eu me controlei, porque as coisas não seriam mais fáceis desse jeito.

Finalmente, eles saíram, e a tal Dra. Marisa me chamou.

Eu entrei na sala e sentei de braços cruzados, completamente impaciente. Ela sentou e ficou algum tempo me encarando.

– Então você tem um amigo imaginário?

– Eu não tenho amigo imaginário! - Explodi. - Ele é de verdade!

– Ah, sim. Um amigo de verdade. Wes, seus pais já viram seu amigo?

– Você sabe que não. Conversou com eles. Eles disseram que eu sou louco, mas eu não sou.

– Seus pais não acham que você é louco, Wes. Ninguém acha. Você só precisa de ajuda.

– Pessoas normais não precisam de ajuda. Eu não sou burro. Se me trouxeram aqui é porque acham que eu tenho algum problema. Mas ter um amigo não é problema!

– Claro que não é problema, querido. Seus pais só estão preocupados porque não foram apresentados ao seu amigo.

– Ele não quer ser apresentado. Eu tentei e ele foi embora.

– Foi embora? Onde ele estava?

– No meu quarto.

– E o que ele estava fazendo no seu quarto?

– Estávamos brincando, ora.

– Sim, mas... Como ele tem acesso ao seu quarto sem conhecer os seus pais?

– Ele entra pela janela.

– Pela janela? Wesley... O que você sabe sobre esse garoto.

Eu pensei muito em uma resposta. O que eu sabia sobre ele? Qual era seu nome, quem eram seus pais, onde era sua casa. Nada.

– Ele se parece comigo – eu disse.

– Só isso? Você não sabe nada sobre ele?

Pensei um pouco mais.

– Fotos! Ele gosta de tirar fotos. Tem até uma câmera.

– Qual é o nome dele?

– Eu o chamo de Reflexo.

– Porque ele se parece com você.

– Isso.

– Mas ele não tem nome de verdade?

– Não.

– Como ele não tem nome? Ele deve ter um nome, todo mundo tem.

– Ele simplesmente não tem nome.

– Wes, tente entender seus pais. Como eles podem acreditar em um garoto sem nome que eles nunca viram?

– Eles precisam confiar em mim. - Uma ideia me ocorreu. - Espere... Está duvidando que meus pais possam acreditar nele porque você não acredita! Como eu posso confiar em você? Como posso saber que não acha que sou louco.

– Você também tem que confiar em mim. Eu só quero ajudar, Wes.

– Se quer tanto ajudar, diga a eles para me deixar em paz com meu amigo. Não nos interessa que acreditem em nós, só que nos permitam ficar juntos.

– Tudo bem. Vamos tentar de novo. Eu quero saber por que permitiu que um garoto desconhecido entrasse no seu quarto.

– Porque ele se parece comigo.

– Só por isso? Ele pode ser qualquer um, Wes.

– Ele não é qualquer um! - Gritei. Depois, comecei a ficar nervoso, e desesperadamente tentei me lembrar de tudo o que eu sabia sobre ele. - Ele gosta de tirar fotos. Tem uma câmera. Ele... É tímido, ele... - Comecei a ficar com medo de que ela achasse que Reflexo era ruim, então comecei a mentir. - Ele mora a algumas quadras da minha casa. Tem um cachorro chamado Bob, e às vezes ele brinca com meu gato. Ele tem a minha idade e gosta de sorvete de morango...

– Está inventando isso, Wes?

– O quê? Não, é verdade!

– Entendo. Quer falar mais alguma coisa?

Engoli em seco.

– Não.

– Tudo bem. Bom, vou conversar com seus pais agora.

Dra. Marisa se levantou e me disse para esperar. Felizmente, ela deixou a porta entreaberta, e pude ouvir.

– Ele é um garoto bem complicado. A cada momento que ouço ele falar fico em dúvida sobre esse amigo. Cheguei a achar que ele realmente existia, e que é uma pessoa ameaçadora para seu filho. Mas percebi que ele começou a inventar coisas sobre esse garoto, começou a mentir. Antes ele não sabia nada, e de repente, sabia tudo sobre o outro. Acho que isso é coisa da cabeça dele, o que é normal na idade, isso de ter amigo imaginário. Mas precisamos conversar mais. Tragam-no aqui amanhã, no mesmo horário.


A primeira consulta foi curta, mas eu tinha certeza de que a próxima não seria. Cheguei em casa e me tranquei no quarto. Eu mal conseguia conter a minha raiva. Depois de alguns minutos, notei a sombra na janela. Alguns fiapos louros escondiam olhos acinzentados. Assim que ele percebeu que eu o tinha visto, se levantou e se colocou numa postura mais adequada. Sua expressão era indecifrável.

Com a raiva que eu sentia, quase rebentei a janela tentando abrí-la. Assim que consegui, dei as costas para ele, e ele entrou.

– Wes, me desculpe.

– Agora você pede desculpas? Você sabe o que aconteceu? Você estragou a minha vida! Eu tive que ir a um lugar horrível, onde acham que eu sou maluco, e por sua causa. Não quero mais ver você aqui! Some! E não volta nunca mais!

Reflexo não tentou falar de novo. Ele estava triste, mas eu também estava mal.Virei de costas e quase não ouvi quando ele foi embora.

Eu poderia dizer a você que Reflexo nunca voltou. Mas não é a verdade.

Ele voltou uma única vez.

À noite, quando eu não conseguia dormir, estava escuro. Pouca luz entrava pela janela, e isso me fez lembrar que eu a esqueci destrancada. Mas eu não ousaria me levantar, pois o monstro poderia sair de baixo da minha cama. Meu medo só piorou quando ouvi a janela se abrindo. A silhueta esguia certamente pertencia a Reflexo. Eu fechei os olhos, pois ainda não queria falar com ele. Ainda estava chateado. Mas Reflexo se moveu lentamente até mim, e se inclinou.

E beijou a minha boca.


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Notas finais do capítulo

Que final, hein? Merece um comentário. :X
Diz o que você achou, o que acha que vai acontecer, e tals. Postarei de novo assim que der. Beijos!



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