Ter almoçado com Maura foi bom, em algumas horas descobri que a modelo é formada em medicina, e que aprendeu a ser modelo por força dos pais. Acho que na verdade, Maura tem o sangue de modelo, se porta como uma, se veste como uma… Deve ser muito ruim fazer aquilo que não gosta. Eu gosto de escrever e aqui eu escrevo, já comecei bem. Eu fui contratada para ser colunista, e diga-se de passagem, eu gosto e muito de escrever, já disse isso, e eu não sou ligada a essas coisas de moda, vocês bem sabem… Voltamos para a empresa e terminei de redigir o meu rascunho, e comecei a pensar em como seria se Maura fosse realmente médica, será que ela seria tão competente quanto à empresa, a vida de modelo que ela tinha, e eu cheguei a conclusão que sim. Se ela – Maura – era competente com relação à sua profissão que não amava tanto assim, porque na medicina seria diferente? Afinal, ela cuidaria de vidas, e fazer isso não é como colocar um salto alto e desfilar numa passarela, e não é tão simples colocar uma roupa e posar para as fotos. Com certeza Maura seria uma ótima médica, senão, a melhor. Terminei algumas coisas mais e arrumei minha mesa, porque sim, sou muito bagunceira, então resolvi deixar tudo arrumado, cada coisa em seu lugar.


Eu estava no último semestre da faculdade, melhor dizendo nas últimas aulas da faculdade, e eu já havia passado em todas as matérias, não havia mais provas a serem feitas, então assim que fechei a porta da minha sala, vi que Maura estava com um olhar distante, preocupando, bati em sua porta até que a ouvi dizendo para que eu entrasse.

– Oi, está tudo bem?

– Sim. - sorriu – Você já vai?

– Sim, e você?

– Acho que sim.

– Então vamos. Não há mais nada a fazer. Estamos cansada, e eu estou com fome.

– Nossa, eu queria saber para onde vai toda essa comida que você come, Jane.

– Ah sim, é que aqui tem uma solitária, sabe? Eu como, e a comida simplesmente evapora, fora que aquela comida daquele restaurante mimimi não me encheu não… Um lanche daquele foi pouco, sabe? - ela me olhou com uma cara como se eu tivesse falado um absurdo. – Que? - eu ri.

– Você come muita besteira, Jane.


– Mas ainda estou magra, isso é o que importa. - abri a porta – vamos?

Maura me acompanhou até o estacionamento, e fomos conversando até lá, aonde nos despedimos com um simples aceno de mão e um “até amanhã” fui para minha casa, mas antes, vou contar a vocês porque Maura estava com aquele olhar de “e agora?” lembram que ela havia dito que tinha terminado seu namoro ou noivado há alguns dias? O que ninguém da mídia sabia era que esse tal ex namorado não estava aceitando muito bem o término do relacionamento, o que para mim é normal de todo homem, ou quase todo, principalmente dos que têm transtorno mental, e esse cara com certeza tinha; fiquem ligadas que mais pra frente, euzinha, Jane a gostosa, falarei para vocês o rolo que deu isso tudo, mas por hora… Então, Maura estava recebendo chantagens do ex, que queria porque queria que eles voltassem para manter a fachada de super casal. E Maura é uma mulher de fibra, não cede fácil, nunca cede. Então, só por esse detalhe, já prevejo altas confusões, mas espero que essas “previsões” deem errado. Maura não merece que nada de ruim aconteça a ela.


***

Eu estava tão cansada quando cheguei em casa, que fui direto para o banho e fiquei um bom tempo sentindo a água quente massageando meu corpo cansado. O sono bateu e eu nem tive coragem de comer, coloquei uma calcinha e uma blusa d dormir e cai na cama, e literalmente apaguei.


Já havia passado duas semanas que eu estava trabalhando na Império da Moda, e Maura e eu estávamos cada vez mais amigas. Nesse dia, cheguei cedo à empresa, e senti as pessoas olhando para mim com certa estranheza e elas sussurravam, eu não entendia o porquê. Olhei para mim mesma e eu estava devidamente vestida, meus sapatos eram de pares certos, e as cores também. Minha calça jeans não estava ao avesso, e nem era rasgada. Minha blusa social de seda na cor preta também estava abotoada, fui ao banheiro e verifiquei tudo, eu estava ok. Então, porque diabos as pessoas estavam olhando para mim com cara de quem estava toda borrada? Aquilo me irritou profundamente. Fechei a cara e subi até o meu andar. Não dei bom dia pra ninguém, meu humor já estava péssimo mesmo. Dar bom dia seria muita cara de pau da minha parte. Maura ainda não havia chegado, então eu comecei a fazer o meu trabalho, seria mais um fechamento da revista, e eu tinha que revisar a coluna, e ver se eu comentaria mais alguma coisa sobre o tema daquela semana. Senti o meu celular vibrando e vi que era uma mensagem de Maura.

“Você já leu alguma notícia hoje?”

“Não, Maur. Que notícia?”

“Entra em algum site de fofoca, primeira mão, Jane. Por Deus, aonde você vive?”

“Hey, calma ai. Really, fofoca? Vou ver, já te falo.”

Abri qualquer site de fofoca e o que eu me deparo? Se o dia não estava bom, então ficou pior ainda. Fotos minha com Maura nos restaurantes que fomos almoçar àquele dia. O fotografo soube vender as fotos, porque havia uma matéria completa, com especulações sobre o término do namoro de Maura.

“Agora sabemos o real motivo da modelo Maura Isles terminar o seu relacionamento com o ator Adam Curts. Seu novo affair, ou melhor, nova affair é uma mulher, que é nova contratada da empresa na qual é a presidente e dona. Veja as fotos a seguir do novo casal da passarela de Nova York. Mas quem será a nova namorada da modelo? Maura se dando bem como sempre.”

E la estava o verdadeiro motivo para que as pessoas me olhassem como se eu fosse a ganhadora do bolão de um milhão de dólares. Eu não queria nem ver o que minha mãe iria falar para mim caso ela visse isso, mas que bobeira, é claro que ela iria ver, nem que fosse cedo ou tarde.

“Pelo menos você tem bom gosto em namorar comigo” - mandei essa mensagem, não tinha muito o que falar, boatos eram boatos, mas bem que…

“Não acredito que você tá fazendo piada disso, Jane.”

“Caso fosse verdade, o que iriamos fazer?”

“Não sei...”

“Calma, Maura. As pessoas pensam o que quiser, mas nós sabemos da verdade.”

“Sim, e digo mais, você não faz o meu tipo (risos)”

Quando eu li aquela mensagem eu fiquei indignada, como assim eu não faço o tipo dela? Ela estava blefando. Só pode.

“Que pena, faço o tipo de muitas outras mulheres...”

“Hm, que bom Jane”

“Maur?”

“Oi.”

“Não precisa ficar com ciúmes, tem Jane Rizzoli pra todas”

“Vai à merda, Jane!”


“Vai vir pra cá hoje?”

“Não. Até logo!”


“beijos?”

“Pede para as outras. Tchau.”


Sorri. Maura evidentemente ficou com ciúmes de mim. Cruzei as mãos atrás da cabeça e até que aquilo deixou o dia mais leve.


***

Mais um dia de trabalho e eu cheguei na empresa e estava todo mundo correndo. Estranhei. Lá sempre está calmo demais, ou tudo sob controle. Fui interceptada no meio do corredor de acesso aos elevadores.

– Graças à Deus você chegou, Jane.


– Ué, o que aconteceu, Carla? - Carla era responsável pelas modelos e fotos para a revista,


– Nossa modelo principal não está muito bem de saúde, e temos que fazer uma season de fotos para a revista.

– E o que eu tenho a ver com isso? - ela já estava me puxando para o terraço.


– Estão todos te esperando em LA, e isso inclui a chefe. Ela disse que você seria ótima para isso.

– WHAT? Maura está doida? Eu não sou modelo.

– Aparentemente isso não importa agora. Você é a mais adequada, visto que tem o porte que a empresa de bíquinis quer.


– Vou matar a Maura.