Eu, uma simples mulher, todo dia saía de casa lá pelas 18 horas. Iria trabalhar no turno da noite. Pegava o mesmo ônibus todo santo dia, o motorista já até me conhecia e me cumprimentava.

Como de costume sentei em meu lugar de sempre. Por sorte era sempre uma das primeiras a pegar o ônibus e poderia escolher o lugar.

A viagem foi chata, entediante como sempre. Eu repousava a cabeça contra o vidro da janela. Havíamos pego um leve engarrafamento na curva, coisa que todo dia acontecia, mas esse dia algo diferente aconteceu.

Olhando pela janela avistei um homem. Ele tinha o semblante triste como o meu. Nunca o via por aquele ponto. Ele era um rosto novo para mim, já que conhecia praticamente todas as pessoas que ficavam na rua naquela hora. Fazia esse trajeto há anos.

Ele olhou para a janela, diretamente em minha direção. Meu sembrante triste converteu-se em um sorriso. Com ele não foi diferente, ele me sorriu de volta. Ficamos assim alguns poucos segundos até meu ônibus se afastar e me levar para longe daquele rosto tão acalentador. Maldito engarrafamento que se desfizera!

E assim meu sembrante se voltou triste e eu segui sem ânimo para meu trabalho, minha tortura diária. Foram poucos segundos, mas senti que ele afastou-me de minha tristeza assim como, acredito, eu afastei a dele. Nunca me esquecerei daquele sorriso.

Pode ser que eu nunca mais o veja e nem ele a mim, nem sequer sei seu nome, mas espero o ver novamente, nem que seja para lhe sorrir por detrás de uma janela de um lotado ônibus.

Fim.